Capítulo 4 - Pó

-Não vejo o papai, George - comentou Fred, tentando desviar sua atenção da cena horrível que se desenrolava a sua frente.

-Ele foi naquela direção - afirmou George, enxugando as lágrimas que teimavam em escorrer pelo seu rosto - Vamos - completou.

-Pense nisso, Lúcio - disse uma mulher de cabelos dourados com uma voz insinuante ao se afastar.

-Eu conheço aquela baranga - murmurou Fred entre dentes ao ver a mulher já longe.

-Você está bem, Luc? - perguntou Artur preocupado ao se aproximar do amigo.

-O que você acha? Acabei de enterrar minha filha - respondeu rudemente - Não poderia estar melhor - completou sarcasticamente - Sinto muito - desculpou-se.

-Você tem todo direito de ficar irritado - disse Artur.

-Eles vão pagar -murmurou Lúcio entre dentes - Nem que seja a última coisa que eu faça.

-Do que você está falando, Luc?

-Dos malditos sangue-ruins que invadiram a minha casa - respondeu ainda de costas.

-Você não pode tá falando sério - comentou Artur -Foi a Bellatrix que colocou essas idéias loucas na sua cabeça não foi?

-Eu sabia que a conhecia -alterou-se Fred ao ver a cena.

-Não sei do que você está falando - desconversou Lúcio, virando-se para o amigo.

-Você não pode simplesmente sair tacando fogo nas casas de trouxas, Lúcio - alterou-se Artur.

-Você diz isso porque não foi a sua filha que morreu num incêndio! - gritou Lúcio - Você não tem idéia do que é ouvi-la me chamando e gritando por socorro cada vez que eu encosto a cabeça no travesseiro - disse num tom quase inaudível.

-Faça o que quiser, Luc. Só não espere que eu dê minha benção - disse Artur derrotado.

E mais uma vez Fred e George foram banhados pela imensa luz amarelada que tomava conta do ambiente.

-Voltamos pra casa - constatou Fred ao olhar em volta.

-Papai - disse George, apontando o homem sentado à mesa.

-Você precisa tentar se animar, querido. Já faz semanas que você está com essa cara - pediu Molly, extremamente preocupada.

-Sinto muito - desculpou-se Artur - Eu sou estou preocupado, é só - completou dando um sorriso forçado.

-Ainda preocupado com Lúcio? - perguntou com ar bondoso.

-Não posso evitar. Já faz semanas que não nos falamos. Tenho medo que ele faça alguma bobeira - respondeu fracamente.

-Você não acha que ele seria capaz de se machucar, não é? - inquiriu Molly alarmada.

-Não, ele não seria capaz de se machucar - disse olhando a esposa - Mas seria capaz de machucar outras pessoas - pensou.

E mais uma vez Fred e George sentiram-se sendo puxados para uma lembrança, porém desta vez não foram cobertos pela luz ofuscante com a qual estavam acostumados, e sim por uma enorme escuridão, que trazia consigo sentimentos de desespero e frio.

-Dementadores? - perguntou Fred tremendo ao procurar algum em meio as pessoas que corriam pela rua gritando.

-Pior. A Marca Negra - respondeu George apontando a enorme marca que pairava sobre várias casas -Vem -chamou George, arrastando o irmão pelo braço em direção a casa onde vira um homem de cabelos vermelhos como o fogo entrar.

-Incendio! - berrou o homem loiro de capa preta para o sangue-ruim que estava no chão com as roupas encharcadas de álcool.

-Por Merlin! - disse Fred ao ver o homem ser consumindo em chamas, enquanto George virava o rosto.

-Expelliarmus! - gritou Artur fazendo o comensal bater contra a parede com o impacto, desarmando-o - Accio Varinha - murmurou fazendo a varinha do comensal voar para sua mão - Por quê, Luc? - perguntou Artur ao olhar o corpo incinerado a sua frente.

-Esse era o último deles - respondeu Lúcio ao se aproximar do monte de cinzas - Ninguém mais vai chegar perto da nossa família de novo.

-Nossa? - inquiriu Artur, com a cabeça baixa.

-Você é minha família também. Assim como a Cisa e o bebê. Nunca deixaria que nada acontecesse com vocês - disse Lúcio, ainda olhando as cinzas.

-Você nos protegeria de tudo, não é? - perguntou numa voz fraca.

-Tudo e todos - respondeu Lúcio olhando para Artur.

-Eu também - afirmou olhando o amigo nos olhos, abraçando-o em seguida - Mesmo que isso signifique proteger você de você mesmo, Luc - murmurou no ouvido de Lúcio - Petrificus Totalus - disse ao apontar a varinha para as costas do loiro - Lúcio Malfoy, em nome do Ministério da Magia você está preso por assassinar um trouxa de nascença.

Uma névoa espessa e sombria invadiu o ambiente, e mais uma vez Fred e George sentiram-se sendo sugados para outra lembrança.

-Isso está ficando cada vez mais macabro, George - comentou Fred tremendo de frio com o rosto extremamente abatido.

-Frio...muito frio - pensou George em voz alta olhando ao redor tentando identificar o local onde estavam - Mas isso é... - começou a falar quando foi interrompido pela chegada do pai.

-Cinco minutos, Sr. Weasley. Qualquer problema, é só chamar - disse um senhor de meia idade com uma aparência assustadora -Mas não se preocupe, temos dementadores suficientes pra manter essa escória longe de pessoas de bem.

-Askaban - afirmou Fred - O inferno na terra - falou mais para si mesmo do que para o irmão.

-Luc? - murmurou Artur para o homem de cabelos loiros acocorado no canto da escura cela murmurando palavras inteligíveis - Luc? - tentou com a voz um pouco mais alta, também sem resultado - Por Merlin, Luc. Sou eu Artie - disse em meio a lágrimas.

-Artie? - perguntou Lúcio com uma voz fraca e o olhar fixo no nada.

-Sim, Artie - respondeu Artur com um sorriso fraco.

-Onde está ela? - inquiriu Lúcio se aproximando das barras de ferro onde Artur estava encostado - Ela estava aqui agora pouco.

-Não tinha ninguém aqui - disse Artur extremamente confuso.

-Impossível! Ela estava aqui. Ela disse que veio me esperar - balbuciou Lúcio totalmente perturbado.

-Ela quem, Luc? - perguntou Artur com urgência ao segurar o rosto do amigo por entre as grades.

-Julie - respondeu Lúcio - Eu preciso voltar, Artie. Ela deve estar lá. Ela deve estar me esperando. Ela, a Cisa e o bebê. É... é isso. Você precisa me ajudar - desesperou-se Lúcio enquanto puxava Artur pela gola da camiseta - Me tira daqui - murmurou no ouvido do ruivo.

-Sinto muito, mas não posso - disse Artur com um ar grave enquanto tentava se afastar das grades .

-Você não pode me deixar aqui - murmurou Lúcio com os olhos marejados - Eu preciso voltar pra casa, não entende? - completou exasperado.

-A Cisa e o bebê podem te visitar no lugar onde você vai estar depois do julgamento - retrucou Artur fracamente olhando pro chão.

-Do que você está falando? - perguntou o loiro, temeroso.

-Você não está bem, Luc. Você fala coisas sem nexo e vê coisas que não existe.

-Você quer me mandem pro St. Mungos - constatou Lúcio horrorizado.

-Eles vão tratar você bem lá, eu tenho certeza - respondeu tristemente olhando para o amigo enquanto levantava-se para ir embora.

-EU NÃO ESTOU LOUCO! - vociferou Lúcio avançando contra a grade ao ver Artur saindo - VOCÊ NÃO PODE ME ABANDONAR AQUI, SEU TRAIDOR - gritava a plenos pulmões - Você tinha que ficar do meu lado, não do deles. Odeio você, seu traidor de uma figa - disse chorando copiosamente - EU ODEIO VOCÊ - gritou antes de cair no chão em prantos enquanto Artur seguia rumo a saída secando o rosto com as mãos, tentando conter as lágrimas que teimavam ainda em rolar.

O ambiente frio da prisão foi inundado pela luz amarelada e ofuscante, a qual Fred e George já tão bem conheciam e ansiavam, consumindo tudo que tocava e sugando os gêmeos, expulsando-os para sua realidade.

De volta ao quarto, Fred e George foram praticamente arremessados ao chão, devida a violência com que o pequeno diário surrado de capa verde os devolveu. Ainda atordoados pela queda, não perceberam que o diário virava suas páginas com extrema velocidade, fechando-se em seguida.

-George? - chamou Fred, ao passar a mão na nuca, procurando o irmão.

-De novo não! - reclamou George tentando tirar Fred de cima de si.

-Foi mal - desculpou-se Fred saindo de cima do irmão e levantando-o.

-Você tinha razão...acho que era melhor nunca termos aberto esse diário - comentou George tristemente olhando pro chão - Foi você quem fez esse barulho? - perguntou para o irmão.

-Não - respondeu Fred hesitante - Foi ele - disse apontando para o pai que acabara de aparatar no quarto dos dois.

-Por que essas caras, garotos? - perguntou Artur preocupado - O que vocês aprontaram agora? - inquiriu desconfiado.

-Nada, papai - apressou-se Fred em dizer, enquanto olhava fixamente para o diário surrado de capa verde em cima da escrivaninha.

-Nada que não tenhamos boas desculpas - emendou George ao ver o pai pegar o diário nas mãos.

-Sei - afirmou Artur com um sorriso triste enquanto passava os dedos pelas letras em relevo na capa - Acho melhor descermos, garotos - disse com um sorriso sincero ao olhar os dois filhos, enquanto colocava o diário de volta na escrivaninha - Estão nos esperando para o jantar - completou enquanto se dirigia para fora a porta, sendo seguido pelos filhos.

-Você se arrependeu de algo, papai? - perguntou George vacilante.

-É papai, com relação as coisas do seu diário - emendou Fred fazendo Artur virar-se para encará-los.

-Somente das coisas que não fiz - respondeu com sinceridade - Agora vamos, estou faminto - completou piscando um olho e saindo para o corredor.

Fim