Naqueles dias parecia tudo pior. Andava pensando demais nela. Sofria cada vez que lembrava que nunca poderia tê-la mais junto de si, nunca poderia nem ao menos vê-la ou tocá-la.
Talvez ele até poderia aceitar mais facilmente a idéia de que ela estivesse morta, do que aceitar a certeza de que estava viva, mas longe de seus olhos.
Tudo o que fazia, tudo o que pensava ou até o que sentia, parecia tão vazio, parecia tão inútil, sem a presença sempre alegre, sem o sorriso sempre contagiante de Gina.
Passava horas sozinho pensando em alguma possibilidade, pensando em algum erro que cometera e que desencadeara tudo o que estava vivendo naquele momento: solidão.
Brigava diversas vezes consigo mesmo por não ter tomado uma atitude mais determinada quando a encontrou. Deveria tê-la raptado, fugido para algum lugar muito distante e ignorado a idéia de que suas famílias os achariam. Talvez essa fosse a coisa certa a fazer...
Famílias. Eles tanto fizeram para separá-los, um do outro, que acabaram afastando-os dos seus familiares. Pois há muito que Draco não vivia com seus pais na mansão de seus ancestrais. Tinha se mudado para Hogsmead, tão logo voltara do último encontro com Gina. Se ele não podia ficar perto da garota que amava, daria o mesmo troco aos pais: ficariam longe do filho protegido.
Now I still wonder why did you say goodbye
Agora eu ainda gostaria de saber porque você disse
Adeus
You let me stand here all alone
Você me deixou aqui todo sozinho
The pain inside my heart, it's tearing me apart
A dor dentro do meu coração, está me separando
Cause now I stand here on my own
Porque agora eu fico aqui comigo mesmo
Gina não se lembrava de quanto tempo fazia desde que Draco havia lhe visitado. Já não ligava para dias ou meses, quase não distinguia semanas. Afinal, o que importava se amanhã seria domingo, se ela não poderia encontrar a pessoa amada para um passeio?
Perto de Carlinhos, a jovem era sorrisos vazios e frases desligadas, mas o irmão nem percebia. Às vezes, ria de si mesma por conseguir disfarçar tão bem a tristeza que tinha dentro de si.
Quase todas as noites, quando não conseguia dormir, chorava. Lembrava de cada momento que havia passado junto de Draco, cada sorriso, cada sentimento feliz que sentira. Tudo o que não podia ter agora.
Por mais que tivesse dito a Draco que não conseguiriam fugir, ela gostaria que ele tivesse tentado. Gostaria que tivesse tomado uma atitude e abandonado tudo para que os dois pudessem viver longe dos preconceitos inúteis dos pais. Mas do mesmo modo que ela se sentia fraca demais para enfrentar o mundo, Draco também parecia se sentir assim. E ela não o culpava.
Passou alguns dias imaginando como poderia continuar a levar sua vida, pois não sabia mais o que fazer. Acabou chegando a uma decisão. Uma decisão triste, mas ainda sim conseguiu tomar algum caminho.
But now I cry myself to sleep
Mas agora eu mesmo choro para dormir
Only you are what I need
Só você é o que eu preciso
We can make it if we try
Nós podemos fazer isso se tentarmos
I am nowhere without you
Eu estou em lugar algum sem você
I don't know what I should do
Eu não sei o que deveria fazer
Cause my tears will never dry
Porque minhas lágrimas não vão nunca secar
And I still wonder why
E eu ainda gostaria de saber porquê
Draco assustou-se quando recebeu aquela coruja. Em um pergaminho rapidamente dobrado, ele leu algumas palavras diretas, escritas por Gina. Era um bilhete por demais estranho, já que pedia para que ele fosse até ela.
Ele ignorou o leve pressentimento que sentiu, e deixou a alegria da idéia de um encontro lhe tomar conta da mente. Iria ver Virginia de novo! Aquilo era um ânimo para todas as horas até que chegasse o momento do seu encontro. Era como se o ar, que antes se mantivera seco, ficasse fresco e puro para ele pudesse respirar aliviado novamente.
Desta vez não perderia a chance, fugiria. Iria levá-la consigo para onde quer que fosse, para um lugar onde pudessem se manter juntos. Iria lhe mostrar o quanto a amava, largando tudo.
I hope that you will see how much you mean to me
Eu espero que você veja o quanto significa para mim
I don't understand why you have gone
Eu não entendo porque você partiu
The pain inside my heart, it's tearing me apart
A dor dentro do meu coração está me separando
Cause now I stand here on my own
Porque agora eu fico aqui comigo mesmo
-Gina! – ela mal tinha aberto a porta e Draco já lhe abraçara, temendo que a jovem à sua frente fosse apenas uma ilusão. Ele nem ao menos a deixou falar, juntando seus lábios aos dela, num beijo desesperado.
Lágrimas salgadas escorriam dos olhos dela, e um misto de emoções invadiam seu ser. Não sabia se ficava feliz pelo encontro ou triste por sua decisão, já tomada há alguns dias.
Por meio segundo, quando viu os olhos cinzentos do louro, antes que ele a abraçasse, Gina vacilou. Talvez tivesse tomado a decisão errada, sido precipitada demais. Não era algo nobre desistir das coisas facilmente, principalmente quando isso significava a coisa mais importante de sua vida.
-Eu... eu estava com medo que você... Não viesse... – ela disse entre os beijos ansiosos.
-Você achou? – ele disse a abraçando. Sua alegria era tanta que não podia exprimir em palavras, ou gestos.
-Venha aqui.
Ela o puxou para uma mesa no canto da sala, onde duas garrafas de líquidos indefinidos estavam abertas. Ele notou que ela já devia ter tomado alguns goles da bebida, pois um dos cálices se encontrava com um restinho de uma bebida levemente roxa. Fosse outro dia ou outra hora, Draco rapidamente teria percebido qual era a essência daquele líquido, mas seus sentidos estavam por demais zonzos com o encontro.
-Eu decidi, Gina. Nós vamos...
-Não, Draco... – ela respondeu triste – Não vai dar certo.
-Virginia Weasley, você nem ao mesmo me deixará falar?
Ela deu um sorriso triste.
-Temos pouco tempo antes que Carlinhos chegue. Acho que poderíamos evitar conversas que não chegarão a lugar nenhum, entende?
Ela, com movimentos delicados, encheu os cálices com a primeira garrafa, contendo um líquido azulado e espesso. Draco só a encarava confuso, não notando o que a jovem fazia. Logo depois, tornou a encher, mas desta vez somente seu cálice, com o líquido da outra garrafa, que continha uma bebida de um tom avermelhado sangue.
-Você não parece feliz com nosso encontro, eu não sei... – ele murmurou, enquanto pegava distraído o cálice que ela estendia.
-Estou, sim. – em alguns goles, a bebida misturada já havia terminado. – Apenas fico triste com a idéia de que este é nosso último encontro.
-Gina – ele disse apertando suas mãos nas dela, que estranhamente se mantinham geladas – Eu já disse que podemos ficar juntos e...
-Draco – ela o interrompeu – eu te amo. Sei que esse amor nunca iria se extinguir, nunca iria suportar a distância que fora imposta entre nós. Eu não poderia viver longe de você.
-E não vai! – ele falou rápido – Nós podemos ir para longe!
-Draco, eu... – ela começara a chorar.
-Não fique assim... Nós vamos conseguir, eu sei. Vamos nos manter unidos. – ele disse, a abraçando.
-Eu tomei... Tomei vinho de semente de lamiho... – disse indicando a garrafa azul.
-O que tem demais nisso? – ele perguntou irritado – Eu também tomei e... – até que ele viu.
Gina derramava o restante do líquido vermelho da outra garrafa no chão, as lágrimas escorrendo pelo rosto.
-Entende? – ela disse.
-Gina, por favor – disse desesperado – diga-me que você não misturou. Não é sangue isso, é?
-Carlinhos trabalha com dragões, ele cuida deles, é normal que tenha algum sangue de dragão em casa. Eu sinto por ter desperdiçado a única garrafa.
Draco levantou-se, num movimento brusco, agarrando Gina pelos braços, levantando-a da cadeira.
-Por quê? – perguntou – Por que você fez isso? Por que me chamou aqui para presenciar sua morte, por quê, Gina? – um leve tom de desespero começava a surgir em sua voz.
Gina começou a chorar mais, apertando seus braços ao redor de Draco.
-Me desculpe... – ela murmurava repetidamente – Me desculpe, mas eu... Eu não conseguia mais agüentar... Precisava te ver uma última vez e...
Draco a apertou mais, dando-lhe um beijo apressado e cheio de desespero, angústia e medo. Sempre conseguira controlar ao máximo seus sentimentos, até mesmo na frente de Gina, mas naquela hora, sabendo que perderia a coisa que mais lhe importava, não conseguia controlar nada, não sentia nada a não ser algo se rasgando dentro de si, como se uma parte estivesse sendo arrancada.
Gina, pôde sentir o gosto das lágrimas de Draco escorrendo por entre o beijo. Ela nunca o havia visto chorar, nunca havia presenciado um momento tão explícito de fraqueza dele. E era por sua culpa, que sofria...
-Diga que você fez isso sem saber... Diga que você não desistiu tão fácil assim.... – ele murmurou, encarando-a com os olhos encharcados.
A visão dos olhos marejados de Draco, fez Gina tremer e se arrepender de estar trazendo tanto sofrimento à pessoa que mais amava. Pensou que talvez não devia tê-lo chamado ali, talvez não devia ter tomado uma decisão tão grande assim, de uma hora para outra.
-Eu... eu já havia planejado... Eu decidi há algum tempo... Desculpe-me, mas eu já não podia mais, eu não conseguia, Draco...
Ele ainda conseguiu dar-lhe um beijo, antes que Gina perdesse a consciência e tivesse o corpo mole e sem vida nos seus braços.
Não soube dizer quanto tempo ficou ali, debruçado sobre o corpo levemente gelado de Gina, mas sabia o que deveria fazer, melhor, o que resolvera fazer.
Foi até à mesa, com movimentos automáticos, como se seu próprio corpo também não tivesse mais vida nenhuma, como se nada mais restasse. Pegou a garrafa com líquido azul, despejando o que restava em seu cálice, desajeitadamente. Em nenhum momento passou por sua cabeça que talvez estivesse fazendo a coisa errada. Só sabia que queria estar perto de Gina, e se não pudesse fazer isso, era preferível não viver também.
Debilmente tentou derramar alguma gota do sangue contido na outra garrafa, mas Gina fora eficiente quando derramara o restante do líquido, para que Draco não repetisse o que ela havia feito. Mas ela julgou mal as determinações de Draco, pois ele estava disposto a tudo, agora que não tinha nada.
Procurou lentamente por alguma faca, punhal, qualquer coisa que pudesse fazer um corte necessário para que seu sangue escorresse. Não queria usar magia para se machucar, queria sentir na pele a lamina afiada cortando, trazendo gotas de sangue.
Com a mão sangrando, e o cálice nas mãos, Draco foi até perto de Gina. Acariciou seu rosto com a mão machucada, manchando a pele pálida da jovem com vermelho, vermelho sangue. Tomou lentamente, o líquido, agora roxo, do cálice, e deitou sobre ela, esperando o veneno fazer o efeito esperado...
It's like the flowers and the bees
É como as flores e as abelhas
Like the mountains and the trees
Como as montanhas e as árvores
The love I feel for you baby
O amor que eu sinto por você baby
Like the desert needs the rain
Como o deserto que precisa de chuva
It will always feel the same
Ele
será sempre o mesmo
The love I feel for you baby
O amor que
eu sinto por você baby
Ironicamente, naquele dia, Weasley's e Malfoy's estavam unidos. Tragicamente, estavam unidos na cerimônia de enterro de um dos integrantes de cada família. Desta vez, sem nenhuma briga ou discórdia, decidiram que pelo menos uma vez, permitiriam a junção das duas famílias: Draco e Gina jazeriam em uma mesma sepultura.
Ninguém comentou a causa do suicido do casal, mas no fundo, todos sabiam serem culpados, todos sabiam serem ignorantes.
Lágrimas de dor escorriam por vários rostos, que só agora compreendiam o tamanho do amor dos dois jovens, que só agora entendiam o quão tola fora a decisão de tentar separá-los.
Por mais que ninguém entenda o sentido disso, é certo dizer que este fora um final feliz. Pois o maior desejo dos dois era permanecerem unidos, e de uma forma ou de outra, quando finalizaram com suas vidas, acabaram juntos...
Fim
"N/A: Obrigada por todas as reviews!".
"N/A 2:Eu não sei realmente quem pediu a continuação da fic "Não Sabia", mas é justamente para estes que pediram que eu dedico este capítulo final, e que, provavelmente, sabem disso.
Vai também para Diana, por ter gostado e me dado mais confiança para publicá-lo.
E também para Vanilla, pq betou (Mto Obrigada!), e pela ironia do 'título' do capítulo, q não foi nada propício para o fim...rs".
"N/A 3: Um final a la Romeu e Julieta. Não sei se ficou exagerado, não sei se ficou trágico demais. Há muito eu queria fazer uma fic com um final ao modo de Shakespeare, igual a uma de suas peças mais lindas. Mas é claro, esta fic não se iguala a ela, nada se iguala".