Capítulo 1 – Na cama, com uma garota

Harry Potter acordou e rapidamente percebeu que ainda era noite e ele estava, mais uma vez, na ala hospitalar de Hogwarts. Logo sua memória estava ativa, e ele recordava o motivo de estar mais uma vez ali nos domínios de madame Pomfrey: seu padrinho, o notório fugitivo Sirius Black, era de fato inocente, e Harry acabara de auxilia-lo a fugir mais uma vez dos dementadores.

Mas agora não era hora de se entregar a lamentações. Ele podia ouvir passos caminhando em sua direção e voltou-se para ver quem estaria ali àquela hora. Seus dois melhores amigos por certo não eram, já que ele podia vê-los ocupando as duas camas seguintes do seu lado oposto à porta.

A figura que se aproximava era pequena. Seria um élfo? Não, élfos não tinham cabelo longo. Uma menina nova então, talvez do primeiro ano. Gina era maior que a figura que se aproximava, e ele não conseguiu se lembrar de nenhuma outra garota mais nova que ele. A fraca luz lunar que entrava pelas janelas e o fato de estar sem óculos pouco o ajudavam a distinguir mais que uma silhueta imprecisa.

Antes que ele pudesse pensar em qualquer ação, a silhueta moveu-se, atingindo-o com um feitiço. Harry nada percebeu após ser atingido, até que tentou perguntar à sua visitante quem ela era, e descobrir que fora silenciado. Ele esticou seu braço até a mesinha de cabeceira e apanhou seus óculos e os colocou, agindo lentamente para não assustar sua visitante. A menina não interferiu em sua ação, preferindo colocar um feitiço silenciador ao redor de sua cama e livrar-se de seu robe, que ela deixou cair ao chão despreocupadamente.

De fato, tratava-se de uma menina mais jovem em pijamas, já que Harry pôde perceber a ausência das curvas características que as meninas de seu ano começavam a exibir, para o contínuo embaraço do garoto, que começava a ser influenciado por essas curvas sem exatamente entender o motivo.

"Dê-me algum espaço, Potter" disse ela em uma voz que ele não se lembrava de ter ouvido antes e, para seu espanto, a menina começou a subir em sua cama. Harry apressou-se a obedecer.

"Algum espaço, Potter, não todo o espaço. Não seja tão puritano! Não tenho piolhos, se é o que está pensando, nem estou aqui para molestá-lo sexualmente, embora eu bem poderia concordar com alguma experimentação, sabe? Estou começando a ficar curiosa com o assunto..."

Harry ficou feliz com a escuridão, já que assim a menina não veria o quão enrubescido ele estava. 'Ou será que estou corando tanto que chego a brilhar no escuro?' pensou ele preocupado.

"Quem é você?" perguntou ele curioso... e mais uma vez sentiu-se corar ao perceber que sua voz havia falhado e saíra mais aguda do que ele gostaria.

A menina deu uma risadinha ligeira antes de responder: "Por enquanto, apenas uma garota com uma proposta. Você só vai saber quem eu sou se aceitar a proposta."

"E que proposta seria essa?" perguntou o menino desconfiado.

"Primeiro deixe-me explicar por que escolhi você" respondeu ela, tomando controle da conversa. "Você já tem considerável fama no mundo mágico, e eu descobri que você é também um mago poderoso. Se eu tinha qualquer dúvida sobre isso, o patrono corporal que você usou contra aquele aborto da natureza que se diz o 'príncipe de Sonserina' foi prova mais do que suficiente. Você não conhecia o feitiço quando jogou contra Lufa-Lufa, e aprendeu antes do jogo contra Corvinal. Nada mal, sabe?"

"Uh... bem, eu tive ajuda..."

"É claro que teve. Não tente minimizar seu feito, Potter. Gosto de sua humildade, mas você tem que aprender a dosá-la. E esse é um dos pontos onde eu posso ajuda-lo."

"E por que você me ajudaria?"

"Por que quero que você me ajude em troca, é óbvio" disse a garota sem titubear.

"Uh... pelo menos você é sincera" considerou ele.

"Eu estudei você o ano inteiro, Potter. Sei muito bem que minha única chance com você é ser totalmente honesta com meus objetivos."

"E quais são seus objetivos?" perguntou Harry.

"Ser dona de mim mesma, e poder viver minha vida como achar melhor" respondeu ela.

"Como assim?" perguntou o menino, realmente confuso. "Você não pode fazer o que quiser?"

A menina soltou um longo suspiro antes de continuar: "Sou uma puro-sangue de uma família tradicional, Potter. Não percebe como é a vida para nós? Somos propriedades de nossos pais até que eles nos dê em casamento a um novo dono, em troca de certas vantagens para a família, ou seja, para eles mesmos. Veja as mulheres de puro-sangue que conseguiram fazer o que gostam: são todas solteiras e desvinculadas de suas famílias. As professoras aqui, por exemplo. Nenhuma delas casada, nenhuma delas em contato com o pai. Ou ficaram órfãs ou abandonaram totalmente a família."

"Puxa... eu... eu não havia notado isso. Mas os professores, os homens quero dizer, também não são casados.

"Casaram com a profissão, por vontade própria, mas essa foi uma escolha deles, que as mulheres não tem."

"Mas... então... você quer casar comigo, é isso?" perguntou Harry espantado.

Para surpresa do menino, a garota riu, e riu muito.

"Oh, Potter, você é uma figura!" respondeu ela finalmente. "Você ainda nem sabe quem sou e já fala em casamento! Estou comovida! Mas não, não precisamos de algo tão radical, senão eu não teria tanta certeza de que minha proposta te interessaria. Por mais que você quisesse me ajudar, seria demais eu esperar de você um comprometimento tão sério tão rápido, ainda mais na nossa idade."

"Então o que você quer?" respondeu o menino um tanto indignado.

"Um contrato de casamento bastaria..."

"Como assim? Um contrato de casamento? Mas..."

"Um contrato que deixe opção para desistirmos! Entenda bem, um contrato desses impediria que meu pai me negociasse com algum outro. Se colocarmos uma data de casamento para quando eu já for maior de idade, algo como depois de terminar Hogwarts, e então desistimos de nos casar, eu estarei livre, meu pai já não terá mais direito de negociar-me!" explicou ela rapidamente, percebendo o quanto o menino ficara nervoso com a ideia de casamento.

Harry pensou um pouco sobre o assunto, pesando os prós e os contras. Por fim retomou o assunto, mais calmo e mais racional.

"Primeiro ponto, eu ainda sou menor de idade. Quem assinaria esse contrato por mim?"

"Potter, para responder isso eu precisaria de alguma garantia... Você realmente faria o possível por mim se eu me comprometer a fazer tudo que me for possível por você?"

"Um pouco vago demais isso, não acha?" retrucou ele. "O que exatamente você espera de mim, além de um contrato de casamento, e o que eu posso esperar de você?" perguntou ele apoiando-se sobre um cotovelo, tentando ver melhor a menina a seu lado.

"O que eu realmente preciso de você é o contrato. O que eu gostaria, se possível, é ser sua amiga, mesmo que secreta, e alguma proteção, se eu vier a precisar. O que eu posso oferecer é minha ajuda para você realizar todo esse potencial que eu vejo em você, Potter. O quanto essa ajuda poderá fazer por você dependerá de quanto você se empenhar em seguir minhas recomendações e o quanto você confiar em mim e me deixar ajuda-lo. Para sua segurança, eu estou disposta a fazer um juramento mágico de que guardarei seus segredos e não farei nada que possa prejudica-lo... Uh, precisaremos pensar bem como colocar isso em palavras, para que você fique satisfeito mas eu não corra riscos de perder minha magia por algum equívoco ou esquecimento..."

"Sua parte nesse acordo ainda parece um pouco vaga demais. Não quero ser rude, mas você ainda está no primeiro ano, não é? O que você pode saber que possa ser tão importante para mim?"

A menina ficou visivelmente agitada e irritada com o comentário de Harry, mas logo se acalmou e perguntou: "Promete que toda essa nossa conversa ficará apenas entre nós?"

Recebendo confirmação do menino ela passou a esclarecer: "Ninguém dá muita atenção aos alunos do primeiro ano. Com isso, consegui descobrir muitas coisas. Você não foi o único aluno que andei estudando, embora tenha sido o que estudei com mais afinco. Sei de pessoas que podem ser grandes aliados para você, como de outras que lhe são inimigos muito mais perigosos que aquele tolo do Malfoy. O final das aulas está chegando. Você não está muito feliz em ter que retornar para a casa de seus parentes, está?"

"Como?" perguntou o menino estarrecido. "O que você sabe sobre isso?"

"Você tem cicatrizes por todo o corpo, Potter, e nem todas são de quadribol ou de suas aventuras aqui."

"Ei! Como você descobriu isso!"

"Eu disse que ando curiosa sobre meninos, não disse? E o vestuário do campo de quadribol não é assim tão protegido!"

"Você... sua... como pôde?"

A garota respondeu com uma risadinha marota antes de prosseguir: "Eu tenho muitos recursos, Potter, e posso ajuda-lo muito. Você está pelo menos propenso a me ajudar também?"

Harry pensou longamente na pergunta. O tom da menina deixara claro que havia algo importante dependendo de sua resposta.

"Esse contrato de casamento... O que ocorre se algum de nós vier a se interessar por alguém... mais tarde, claro... mas..."

"O contrato pode ficar em segredo, Harry, ninguém precisa saber sobre ele. É apenas uma garantia de que meu pai não vai me leiloar sem meu consentimento. Você estará livre para satisfazer sua legião de fãs."

"Ha, ha, muito engraçado" respondeu ele, um pouco magoado pela brincadeira dela. "Mas quem assinaria o contrato por mim? Dumbledore?"

"Jamais! Mas você tem um guardião mágico, Potter, que não só pode assinar o contrato como lhe dar um lugar melhor para viver do que com esses parentes que te maltratam!"

"Sirius? Como você sabe?" perguntou ele preocupado. "Ei, quem é seu pai, James Bond ou algum espião da KGB?"

"Ah, não... não sei quem são esses... Mas eu segui vocês ontem, sério que deram um vira-tempo para Granger? Vi vocês dois quase interferindo com seus 'eus' prévios. Isso é um perigo, Potter!"

"Você nos seguiu o tempo todo? Até a cabana dos gritos também?"

"Cabana dos gritos? É lá que acaba o túnel debaixo do salgueiro lutador? Não, eu não fui até lá, esperei perto do lago até que retornassem... Mas o importante é que achei isso..."

Com isso a menina desceu da cama, pegou algo em um bolso do robe que descartara no chão e mostrou ao menino. O sol devia já estar nascendo, já que a luminosidade na enfermaria melhorara um pouco. Harry pôde perceber que a menina tinha longos cabelos claros, que iam até além da metade de suas costas. Mas o importante é o que ela segurava para que ele pudesse ver: uma pequena gaiola, com um rato gordo e meio maltratado no interior. Um rato que não tinha um dos dedos em uma pata dianteira.