CAPÍTULO 4 – A Revolução toma o país

Cornélio Fudge achou que havia tido o pior dia de sua vida após ver o Torneio Tri-Bruxo, um esforço gigantesco de seu Ministério em melhorar a opinião do público sobre seu governo, terminar em um imenso fiasco, uma verdadeira farsa com um empate entre todos os competidores, seguido pela nova fuga de seu maior adversário atualmente, Harry Potter, e pelo desaparecimento de mais crianças, filhas de prestigiosos membros da sociedade, bem debaixo dos olhos de toda comunidade mágica.

Ele teve que gastar horas para tentar minimizar os fatos junto à imprensa local e internacional, e para tentar acalmar os irados pais com garantias de que seu governo não iria descansar até encontrar e libertar as crianças raptadas. Quando toda sua energia e paciência já estavam há muito esgotadas, foi a vez daquele velho em roupas aberrantes querer tomar seu tempo com espúrias alegações de que Voldemort, devidamente morto há tanto tempo, poderia estar retornando! E ele queria encontrar Harry Potter para lutar contra Voldemort! O mesmo Harry Potter que conseguira esquivar-se dele, Umbridge, vários professores e vinte aurores por 9 meses, sem que ninguém conseguisse captura-lo! Que aquele velho fizesse seus próprios milagres! Afinal, não era ele considerado o maior bruxo vivo? O maior de todos desde Merlin? Pois que usasse sua tão impressionante mágica e o deixasse em paz!

Mas não, depois do péssimo dia que tivera, ao invés de algum descanso, o que ele conseguia? Um dia ainda pior!

E ele nem precisou sair de casa para o mundo desabar sobre sua cabeça. Bastou abrir o Profeta Diário para que isso acontecesse. Três manchetes, apenas três manchetes na primeira página, mas o suficiente para por seu emprego em perigo!

COMENSAL FOGE DE AZKABAN E LECIONA EM HOGWARTS SEM NINGUÉM NOTAR!

TRAIDOR DOS POTTERS RECEBEU ORDEM DE MERLIN POR FINGIR A PRÓPRIA MORTE!

QUEM É O MAIOR CULPADO DOS DESASTRES RECENTES: DUMBLEDORE OU FUDGE?

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Amélia Bones cumprira sua palavra à risca. Enquanto Fudge desperdiçava seu tempo tentando aplacar pais irados e um público revoltado, ela despejara veritaserum em Pettigrew e Crouch Jr., tomara os depoimentos de ambos, registrara tudo perante o Wizengamot e só não estava mais feliz por não ter encontrado Crouch Sr. para compartilhar da sorte do filho. Infelizmente, Junior confessara ter assassinado o pai e enterrado o corpo transfigurado em Hogwarts, pelo que Amélia teve prazer em fazê-lo receber um beijinho de dementador.

O caso de Pettigrew era um pouco mais complexo, e ela infelizmente teria que aguardar por um julgamento perante o Wizengamot antes de poder puni-lo merecidamente. Mas sua confissão já fora o suficiente para cancelar as buscas por Sirius Black, e naquele mesmo dia, se tudo corresse bem, Sirius seria liberado de todas as acusações e Pettigrew estaria, no mínimo, ocupando uma cela em Azkaban, mas Amélia queria mais, ela queria aquele verme liquidado de uma vez por todas.

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Enquanto Sirius, agora um homem livre, se recupera de sua prolongada estadia em Azkaban com a ajuda de Remus, as crianças e os élfos estão bastante ocupados. Usando o livro de registros de Hogwarts, estão contatando todos os nascido-trouxas que conseguem: não só os que iriam começar no próximo ano mas também os ainda muito jovens e os de anos anteriores que haviam recusado Hogwarts ou nem foram contatados, e mesmo aqueles que cursaram Hogwarts e voltaram ao mundo não-mágico. A ideia por trás de tudo isso é a de que a magia é um dom por demais raro e poderoso para ser tão facilmente desperdiçado como vinha deixando o Ministério.

Quando o governo descobre já é tarde demais: as crianças já foram incorporadas ao grupo, seus pais mudaram-se e os mágicos não sabem como localizá-los, além de que Amélia faz greve branca na tarefa e, se consegue localizar alguém, acaba ajudando-os a esconderem-se melhor do governo mágico.

Mas não só as crianças estão sendo sondadas. Sirius e Harry utilizaram as propriedades ociosas de Blacks e Potters para fundar duas novas vilas mágicas, totalmente protegidas e fora do alcance do governo mágico, cada um deles depositário do segredo do charme Fidélio usado para escondê-las totalmente dos indesejáveis. Entregues a preço de custo e com financiamentos confortáveis, as casas, lojas e oficinas começaram a ser rapidamente ocupadas pelos nascidos no mundo normal, fossem mágicos ou pais de crianças mágicas, e mesmo alguns de origem mista ou puramente mágica, descontentes com o governo atual.

O mundo mágico britânico sofre uma verdadeira evasão de nascidos-trouxas e meio-sangues, e não sabe como lidar com isso. Faltam trabalhadores para as funções mais simples e de menor prestígio e salário. Também há escassez de élfos. Aos poucos governos locais democráticos são instituídos pelas próprias comunidades para tratar da organização básica de cada uma e dos relacionamentos entre elas, com uma distribuição justa de direitos e deveres. Vendo como até mesmo os élfos domésticos tinham direito a participar do governo, os duendes de Gringotts não demoram em abrir filiais nas novas comunidades e, depois de seis séculos, alguns chegam mesmo a voltar a morar sobre a superfície, adquirindo algumas das casas ofertadas a condições tão favoráveis!

Quando começa o novo ano letivo, Alvo não sabe que as crianças ainda estão por lá. Tudo o que vê é uma escola ainda semivazia, as novas matrículas ao nível mínimo de toda sua história. Está desesperado, sem saber que Voldemort era um problema já resolvido e, em seu desespero, revela em reunião do Wizengamot a existência da profecia e de que Harry Potter está destinado a enfrentar e derrotar um futuro renascido Voldemort, exigindo que todos os esforços do governo sejam destinados à sua procura.

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Enquanto isso, a busca pelos horcruxes de Voldemort ganha impulsos inesperados. As crianças encontram um na Sala Precisa, quando resolvem usar os recursos da sala para pesquisar o assunto. Um segundo horcrux é encontrado no casebre dos Gaunts pelos inomináveis enquanto pesquisavam as origens do Senhor das Trevas. E um terceiro acaba sendo encontrado pelo élfos que Sirius pedira emprestado a Harry para limpar o antigo lar dos Blacks.

Apesar desses sucessos, o grupo ainda não sabe quantos mais restam, e progressos para arrancar esse conhecimento do homúnculo tinham andado lentamente. Apesar de fisicamente fraco, Voldemort ainda era mentalmente e magicamente poderoso, e mesmo as semanas de privação sensorial sob efeito da Poção da Morte em Vida diminuíram esse poder o suficiente.

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A situação do governo e do mundo mágico britânico tradicional começa a ficar insustentável quando o Beco Diagonal começa a perder seus lojistas mais tradicionais, incluindo Ollivander, Malkins e Fortescue, e a vila de Hogsmeade simplesmente desaparece. Ficaram muitos querendo mandar, e ninguém querendo obedecer, de forma que o governo praticamente tornou-se uma ficção só existente no papel. Inúmeros decretos foram propostos, votados e aceitos tentando remediar a extrema situação, mas não havia ninguém disposto a cumprir esses éditos ou a forçar seu cumprimento. O que não importava muito, porque ninguém era capaz de encontrar as pessoas que deveriam obedece-los.

Alvo está tão preocupado quanto o Ministro. Ele tentara reformular a Ordem da Fênix, mas não só recebera mais negativas que ingressantes; como parte desses ingressantes acabou se desligando e sumindo em poucos dias. E Hogwarts estava funcionando agora com apenas um quarto dos alunos esperados, mal conseguindo pagar suas contas e consumindo rapidamente as poucas reservas.

Aos poucos, a falta de manutenção começa a se fazer notar: o próprio prédio do Ministério começa a ter problemas, bem como a rede floo e várias outras funcionalidades. Amélia tenta uma última vez salvar ao menos um pouco da antiga sociedade ao sugerir que o governo se abra à participação de todos, dando justa representação a cada uma das classes e espécies mágicas. Ela não esperava muito dessa tentativa, servindo mais como pretexto para sua demissão, logo acompanhada por dois terços da corporação. O golpe fatal ocorreu dois dias depois, quando Saint Mungos acaba também desaparecendo para a população mágica não revolucionária.

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Em uma terça-feira de outubro dois inomináveis comparecem à Azkaban. Pouco depois os irmãos Lestranges são declarados mortos. No dia seguinte, eles estão lá novamente, Bellatrix assina documentos tomando posse dos bens deixados por ambos e, à tarde, é declarada morta. No dia seguinte Sirius Black e os inomináveis estão em Gringotts reclamando posse dos bens, mas levando apenas uma pequena taça de lá.

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No esvaziado Wizengamot, Dumbledore e seus poucos aliados foram forçados a se retirarem, banidos pela agora majoritária ala ultraconservadora liderada por Lúcio Malfoy. Com o governo agora em suas mãos, Lúcio elegeu-se Ministro, colocou Norbert Nott como chefe do Wizengamot, instituiu o 'Estado de Emergência' e rapidamente aprovou leis decretando a imediata absolvição e soltura de todos os aliados da causa purista retidos em Azkaban. Todos os nascidos-trouxas e meio-sangues foram declarados traidores da sociedade mágica, sujeitos à execução imediata e confisco total de bens e propriedades. Se o preconceito contra os seres mágicos menos puros de sangue atingiu seu máximo, nada se comparava ao que queriam fazer contra os desprovidos de magia: declará-los como não humanos, e considera-los uma espécie invasora a ser caçada e exterminada livremente devido sua alta taxa de reprodução estar causando danos ao ambiente e ao equilíbrio natural das espécies.

Esse (antes) polêmico assunto estava entrando em pauta quando a sessão foi interrompida pelo que, para eles, pareceu ser o mais forte terremoto já registrado na região de Londres. No entanto, o fenômeno não era natural como pensaram a princípio, mas provocado um andar abaixo pelos inomináveis, que sequer se preocupavam com a farsa que se tornara o Legislativo mágico.

De posse de todos os horcrux de Voldemort e do homúnculo que ele agora habitava, os inomináveis haviam marcado coincidentemente para o mesmo dia a remoção final daquelas aberrações de nosso mundo.

Na sala destinada ao estudo daquele que talvez fosse o mais misterioso dos artefatos mágicos, o Véu da Morte, a quase totalidade dos membros do Departamento de Mistérios realizava um poderoso ritual visando enfraquecer a ligação entre o fragmento de alma habitando a cicatriz de Harry Potter e o corpo do menino, que se encontrava preso deitado sobre uma grande rocha colocada no meio da sala.

A etapa final do ritual consistiu em os inomináveis deixarem algumas das amigas do garoto conversar rapidamente com ele, visando fortalecer os laços entre o menino e este mundo para que o fragmento de alma de Voldemort o abandonasse sem leva-lo junto. Algumas promessas foram rapidamente trocadas, e os inomináveis fizeram o possível para garantir a privacidade dos jovens, mas o rubor geral que acometeu o grupo e o sorriso pateta que o menino mostrava após a rápida conversa deixavam poucas dúvidas sobre o teor da mesma.

Assim que as meninas se afastaram do pequeno herói, os inomináveis flutuaram o homúnculo e seus horcruxes inanimados, dirigindo-os em direção ao véu. À medida que os objetos aproximavam-se do véu, era cada vez mais visível a dor e o sofrimento pelo qual passava o garoto.

A cicatriz em forma de raio, que já estava bastante vermelha e nítida, começou a sangrar profusamente. Flutuar o homúnculo e os horcruxes em direção ao véu, inicialmente uma tarefa fácil, começou a exigir cada vez mais poder dos inomináveis, mostrando por parte dos objetos uma resistência crescente ao iminente perigo.

Foi então, quando os magos e bruxas estavam chegando ao limite de suas forças, que Harry voltou sua cabeça para a direção em que suas amigas abraçavam-se umas às outras, desesperadas com o extremo da situação pela qual o garoto passava. Após aquele último olhar para elas, Harry soltou um grito lancinante e usou de toda sua afeição, amor até, por aquelas meninas para expulsar o fragmento de Voldemort contido em seu corpo.

Sua cicatriz abriu completamente, e aquele fragmento, junto com o homúnculo e todos os demais horcruxes, subitamente cessaram toda resistência e dispararam para o Véu a grande velocidade. Voldemort estava finalmente liquidado! Mas a energia acumulada durante o processo e repentinamente liberada naquele ato final causou uma enorme repercussão mágica que colocou o exausto garoto e muitos outros que o acompanhavam inconscientes, estremecendo as próprias bases do edifício.

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Mesmo com todo o caos causado pela eliminação completa de Voldemort, ainda assim madame Bones recebeu de um dos inomináveis o sinal pelo qual tanto aguardava. Em poucos minutos suas forças haviam tomado conta de todas as entradas e saídas do prédio do Ministério, subjugando todos que encontravam pelo caminho que não pertencessem ao grupo que se reunira no Departamento de Mistérios. A mais rápida e radical revolução mágica de todos os tempos estava concluída, e era agora hora de colocar a casa em ordem.

Dois dias depois Harry Potter estava recuperado de todo trauma pelo qual passara, e com a companhia de madame Bones, a nova Ministra da Magia, e seus aurores, tomou posse completa do controle sobre Hogwarts de um desanimado e debilitado Dumbledore que, após descobrir a extensão plena dos acontecimentos e como tudo havia acontecido sem (ou apesar de) seus esforços, resolveu que era tempo de se aposentar e viver o tempo que lhe restava em relativo isolamento.

Harry e seu grupo iniciaram reformas imediatas na escola com tamanha naturalidade e eficiência que, para espanto do menino, ele se viu inesperadamente na posição de reitor efetivo da milenária instituição de ensino quando até mesmo professores e membros da Comissão de Avaliação do Ensino passaram a pedir sua opinião sobre tudo. E seu desempenho foi tão positivo que ele acabou sendo formalmente instituído como reitor pouco depois. Consultando alunos e seus pais, professores, Conselho Diretor (o novo, reorganizado após a exclusão dos membros condenados) e a Comissão de Avaliação, o grupo reformulou toda a escola: currículo, regras e diretivas, sistema de punição e premiação, matrículas, mensalidades, apoio a nascidos-trouxas, tudo passou por uma completa revisão para tornar a escola apta a receber todos os seres mágicos, mesmo os não humanos, e dar-lhes a educação mais abrangente e completa possível. Desnecessário dizer que Binns, Trelawney e Snape foram imediatamente considerados inúteis à nova instituição que as mudanças criavam.

Mudanças semelhantes foram efetuadas no governo mágico, com grandes resultados. Uma meritocracia foi instituída para os cargos de carreira no Ministério, no lugar do nepotismo e elitismo até então vigente, enquanto que a liderança do Executivo e os cargos Legislativos (Wizengamot) passaram a ser eletivos, sem nenhuma restrição quanto à origem ou riqueza dos candidatos.

Mais do que uma mera vitória contra as forças do mal, dessa vez a sociedade mágica como um todo sentia a energia de uma completa revitalização e renovação, com direitos e liberdades garantidos para todos.

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Harry James Potter acabara se tornando o mais novo diretor de Hogwarts de todos os tempos, aos 15 anos de idade e, ao final, também o de mais longa duração, permanecendo no cargo até seu 165º aniversário, quando se retirou para curtir as quase quatro centenas de penta e hexa-netos, passando a se dedicar a escrever livros para crianças e jovens a partir das estórias que contava e recontava aos pequeninos, que muito o auxiliaram no processo.

Nunca se casou, tendo sido incapaz de decidir por uma única dentre tantas garotas sensacionais que conhecera, mas teve relacionamentos abertos com muitas delas, e muitos filhos desses relacionamentos, e não cansava de dizer a todos que se considerava um dos mais felizes seres humanos de todos os tempos.

Nota do Autor: Obrigado a todos por terem lido esta pequena história. Espero que tenha sido divertido. Se puder, deixe um comentário dizendo o que você achou. Estou tentando melhorar minhas habilidades de escrita e apreciarei qualquer crítica ou incentivo. Desculpe se a falta de casamento o frustrou alguém, eu simplesmente não consegui escolher uma das meninas acima dos outras.