Encontros

Notas da história
Todas as personagens da série "Sir Arthur Conan Doyle's The Lost World" são propriedade de John Landis, Telescene, Coote/Hayes, DirecTV, New Line Television, Space, Action Adventure Network, Goodman/Rosen Productions, e Richmel Productions. Elas não me pertencem e como tal não farei uso comercial delas.

(Cap. 15) Capítulo 15 - Finalmente.

Os primeiros raios de sol invadiram o quarto e aos poucos ela foi despertando até que sentiu o calor do corpo que a envolvia de forma protetora, a mão forte sobre a sua barriga, a respiração quente que podia sentir sobre a nuca fazia todo o seu corpo se arrepiar. Devagar, Marguerite, foi virando o corpo e ficou frente a frente com o belo rosto do caçador, ainda que um pouco machucado pela briga que tivera a noite com o aventureiro.

A morena levou a mão sobre os lábios do Lorde, havia um pequeno corte no lábio inferior, em seguida, o acariciou no rosto, na curva do pescoço, um olho estava levemente roxo. O caçador estava em um sono profundo, exausto por tantos acontecimentos que lhe tiravam a paz de espírito.

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Logo após o desmaio, John saiu de cima do pobre Jacob, que levou a pior nessa briga, e correu para o amparo da herdeira. Roxton se ajoelhou ao lado dela e a tomou nos braços com cuidado. Challenger logo foi dando instruções a todos.

— Cuidado, Roxton. Vamos, ponha ela na cama. Harrison e Diana, ajudem o Jacob a se levantar e o levem para o quarto. Já vou cuidar de você, meu jovem.

O homem da ciência olhou para o estado devastado do aventureiro quase inconveniente sendo levado com dificuldades pelos irmãos Connelly.

Diana estava feliz da vida com todo o reboliço que causou, mas não queria se sujar com o sangue daquele homem, mais um admirador de sua rival, mas não teve jeito.

— Vamos, Diana, me ajude. Temos que subir a escada com cuidado. - disse Harrison.

— Ah está bem! Está bem! Vamos logo com isso. Nossa, como ele é pesado! Segure ele direito, Harrison...

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De volta ao quarto:

Roxton estava desesperado novamente; não queria que o pesadelo se repetisse outra vez. Ele não poderia suportar e muito menos perdoar Marguerite se ela perdesse o bebê de verdade em consequência dessa mentira.

John e Verônica se entreolharam, ambos muito preocupados, enquanto o cientista examinava a herdeira.

A loira ainda estava confusa com a revelação e não entendia o porquê de toda essa farsa, mas sabia, bem no fundo, que a herdeira com certeza tinha um motivo muito forte para isso.

John segurava a mão de sua amada. O nobre ainda estava atônito com as palavras da herdeira se repetindo em sua mente. "Por que você mentiu para mim? Tem ideia do quanto me fez sofrer?". Com os olhos cheios de súplicas, John se dirigiu ao amigo fiel.

— Challenger, você ouviu? Ela ainda está grávida! Me diz, por favor, que eles vão ficar bem... Por favor, George?

— Calma, meu velho, ela está bem, não está com febre, os batimentos estão voltando ao normal. Foi a tensão do momento mais, provavelmente, uma queda de pressão. Ela irá dormir. Fique tranquilo, vocês agora precisam conversar e se acertarem de uma vez por todas.

— Challenger tem razão, John. Que bom que ela está bem e melhor ainda que o bebê ainda está vivo, isso é mesmo um milagre. Estou muito feliz e ansiosa por explicações. Bem, vou ver como está o Jacob, não confio naqueles dois.

— Está bem, Verônica, eu já estou indo. - disse o cientista, e rapidamente a garota da selva deixou o quarto.

John nada respondeu aos amigos; os sentimentos de amor e ódio, a decepção profunda, todos juntos, era difícil demais pensar naquele momento.

— Vamos, John, deixe-a descansar. Preciso limpar esses ferimentos e preciso ver o Jacob. Você quase o matou.

— Eu vou ficar aqui com ela. Não se preocupe, eu só vou lavar o rosto, eu estou bem...

— Tem certeza, John? - Challenger não tinha certeza se era uma boa ideia que o caçador permanece no quarto da herdeira, ainda havia muito o que acertar entre aqueles dois e o homem ruivo temia uma nova discussão caso a morena acordasse em instantes.

— Tenho sim. Chega de deixar que ela se me afaste de mim. Vamos ter um filho, George! Marguerite vai ter que aceitar que isso nos une para sempre.

— Bem, você tem uma certa razão, mas procure não alterá-la, você ainda está com os nervos à flor da pele. Só peço que a escute. Lembre-se: Marguerite não faz nada sem ter uma razão. Infelizmente, ela tem a péssima mania de não pedir ajuda quando está com problemas que envolvem o seu passado.

— Eu já não sei o que pensar.

O cientista saiu em silêncio, aquele não era o momento para sermões.

John se limpou e caminhou pelo quarto vendo a bagunça que causou, antes mesmo que percebesse parou ao lado da cama observando a amada por alguns minutos até que a vontade de sentir a pele macia da bela o tomou por completo, ele não podia resistir, sempre adorava vê-la dormindo. O nobre caçador acariciou o rosto e o cabelo sedoso da herdeira, deitou-se ao lado dela bem próximo e a abraçou pela cintura. Quando pôs a mão sobre a barriga da herdeira a emoção falou mais alto; o bebê estava vivo e crescendo. Roxton sentiu um alívio tão grande, não havia mais culpa, era como se um t-rex tivesse saído de cima de seus ombros. Ele apertou um pouquinho mais para sentir o bebê e com a voz baixa para não perturbar a herdeira o caçador falou com o coração.

— Sua mãe me pregou uma peça e tanto, meu filho ou filha, mas quero que saiba que nada vai me afastar de vocês. Então, fique aqui conosco, cresça forte como os seus pais e quando você nascer será o dia mais feliz da minha vida e da sua mãe também, com certeza. Até lá, vou tentar por juízo na cabeça da sua mãe, o que não será uma tarefa fácil. – Ele riu - Agora vamos dormir porque amanhã minha conversa com ela será longa.

Ainda dando leves carícias na barriga da herdeira, o caçador aos poucos foi sendo derrotado pelo cansaço até que, finalmente, caiu no sono profundo.

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Marguerite, aos poucos, foi se recordando dos acontecimentos da noite anterior. Os flashes vieram a sua mente até o momento em que revelou a verdade, em meio a fúria do caçador sendo descarregada no aventureiro. Mas apesar da descoberta da farsa John estava ali, dormiu abraçado como fazia antes, fato que confundiu ainda mais a cabeça da herdeira. "Por que está aqui, John? Você deve me odiar e só está aqui para ficar de olho em mim. Acho que agora nossa desconfiança um pelo outro será recíproca. Ah, eu me sinto tão perdida, como há muito tempo não me sentia. Não sei o que será de nós agora, mas já estou cansada de ter que mentir e manipular o tempo o todo. Agora tudo o que eu mais quero é poder viver a minha vida em paz, longe de todas essas coisas ruins que me cercam e me condenam sempre que estou perto de encontrar a minha felicidade."

A morena fechou os olhos enquanto lágrimas desciam vagarosamente pela lateral do rosto caindo sobre o travesseiro. Ainda com a mão um pouco trêmula sobre o rosto do caçador, Marguerite respirou fundo e abriu os olhos para continuar a observar o homem dormir, ele estava tão tranquilo e bonito. Por um instante, era como se nada de ruim tivesse acontecido entre eles, mas a herdeira logo se tocou que nada seria como antes.

Com um semblante carregado de tristeza no olhar, tentava ao máximo segurar o choro mais intenso, daqueles que te faz soluçar como uma criança a beira do desespero. A morena estava se sentindo sufocada com toda a pressão do que ainda estava por vir. Então, lhe surgiu uma ideia. Com muito cuidado para não acordar o nobre, a morena pegou o braço forte que a envolvia e tirou de cima da curva de sua silhueta; bem devagar, pousou o braço do caçador sobre o travesseiro.

Agora de pé, ela ficou uns instantes parada olhando a bagunça que estava em seu quarto: o biombo estava quebrado e caído no chão, roupas espalhadas, o pano que cobria a porta estava rasgado e jogado pelo chão, tudo que havia sobre a penteadeira estava espalhado, inclusive a bandeja em que Challenger havia lhe trazido o jantar. A herdeira voltou o olhar para Roxton. "Ah, a minha vontade é de te sufocar com esse travesseiro, seu arruaceiro de uma figa! Mas por que diabos não foi brigar lá fora ou no seu próprio quarto? Que o derrubasse se quisesse, mas não tinha que vir aqui destruir o meu. Agora vou ter que arrumar toda essa bagunça", pensava a herdeira, furiosa, até que seus pensamentos se voltaram para o aventureiro. "Jacob... Eu espero que você ainda esteja vivo. Já tenho remorsos mais do que o suficiente para tirar o meu sono."

Com cuidado para não fazer nenhum barulho, a herdeira pegou algumas coisas para sua higiene pessoal e enrolou em um hobby lilás feito de seda; pôs em cima da cama enquanto se vestia, em silêncio e sem tirar o Lorde de vista, mas em nenhum momento Roxton pareceu querer despertar, o que revelava o quanto o caçador estava esgotado - até porque, naquele horário o homem já estava de pé para ir caçar, ou estaria preparando o café, ou até mesmo limpando suas armas. Sempre fazendo alguma coisa.

A morena estava terminando de abotoar a camisa quando John, para sua surpresa pronunciou algo:

— Marguerite...

Ela parou e ficou quase sem ar, desejando que John estivesse tendo um bom sonho. A vontade de ir se aconchegar nos braços dele era tão forte, mas antes que deixasse se levar pelo coração, a bela pegou o embrulho, pôs dentro de uma mochila e saiu do quarto sem olhar para atrás para não fraquejar. Com calma, subiu as escadas com medo de se deparar com a garota da selva, que também tinha o hábito de se levantar bem cedo. Ao chegar, não havia ninguém, tudo estava bem quieto; aliviada por não ter que dar explicações logo cedo, a herdeira pegou uma arma, encaixou no coldre em sua cintura e seguiu rapidamente em direção ao elevador e desceu.

A bela torceu para que ninguém escutasse o barulho do elevador subindo vazio e se apressou para sair do perímetro da cerca elétrica sem ser vista, seguindo selva adentro.

O dia estava mesmo lindo, isso ela tinha que admitir. Desde o acidente a morena não pisava fora da casa da árvore, mas hoje a necessidade de ter privacidade e de se desligar de tudo, nem que por um curto período de tempo, tinha que acontecer ou a bela iria sucumbir.

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Vinte minutos depois da saída de Marguerite, Verônica se levantou, cedo como de costume, fez sua higiene pessoal e, já pronta, passou pelo quarto onde dormia o aventureiro para verificar se ele estava bem. Após constatar que o homem dormia tranquilamente e sem febre, a loira caminhou para a cozinha, para preparar o café. Ao chegar no cômodo, apenas o silêncio. A jovem sabia que Roxton estava dormindo no quarto da herdeira e que, pela briga do dia anterior, não iria acordar assim tão cedo. Verônica, então, acendeu o fogo, pegou o bule para o chá quando, por um descuido, derrubou algumas panelas no chão. O estrondo ecoou por toda a casa da árvore.

Lorde Roxton acordou com o barulho e ficou surpreso quando se viu sozinho na cama.

— Marguerite?

Ele logo se levantou, vestiu a calça, pegou a camisa e saiu à procura da herdeira, com medo que ela estivesse aprontando mais uma. "Essa mulher quer me deixar louco!", pensou o nobre já impaciente, pois seus instintos de caçador lhe diziam que Marguerite poderia ter fugido.

Verônica recolheu as panelas e continuou a preparar o café da manhã, até que ouviu passos. Virou-se e viu Roxton chegando com o rosto inchado, o cabelo bagunçado, ainda abotoando a camisa. O caçador a encarou e a garota da selva logo percebeu a preocupação do amigo.

— Verônica, você viu Marguerite?

A jovem fitou o caçador, confusa pela pergunta inesperada.

— Não... Roxton, o que houve?

— Ela não está no quarto. Já chamei e nada... Maldição! Ah, ela deve estar com o Jacob.

— Não, eu acabei de ir vê-lo e ela não estava lá.

O nobre, nervoso, deixou a garota da selva e rapidamente foi em direção ao laboratório na esperança de que ela estivesse lá, mas nada da herdeira. Verônica também começou a procurar por ela, vendo angústia do caçador. Challenger também havia acordado com toda aquela movimentação na casa; alguns minutos depois adentrou no cômodo principal somente a tempo de ver Lorde Roxton pegar o rifle e pular no elevador.

— JOHN, ESPEREEE! - disse o cientista, temendo que tivesse acontecido outro conflito entre o casal.

Foi em vão. O elevador desceu e o caçador lançou um olhar enigmático para o amigo sem dizer nada. Verônica veio correndo quando ouviu o barulho das engrenagens, logo pensou que se tratava da herdeira retornando, já que não a encontrou em lugar nenhum da casa. Mas ao chegar só avistou o homem ruivo, coçando a barba, com um semblante pensativo e preocupado, por sinal.

— Oh Verônica, aí está você. O que houve? Ouvi Roxton chamando por Marguerite e agora ele saiu às pressas, sem me dar ouvidos.

— Ah, problemas, para variar... Marguerite saiu e ele foi atrás dela.

— Marguerite se levantar tão cedo assim?! E sem o seu café?! Bem, isso é mesmo intrigante. -

disse o cientista, ainda mais preocupado.

— Ela não fugiu, Challenger, não fique com essa cara. Faz muito tempo que ela não sai de casa, talvez esteja lá em baixo no perímetro da cerca ou no lago.

— Sim, você tem razão, mas, de qualquer forma, Marguerite não deveria ter saído sozinha. Isso só vai aumentar a fúria de Roxton.

— É, você tem razão. Vamos esperar. Agora é só o que podemos fazer. Quem sabe sozinhos possam conversar e, enfim, dar um basta nessa situação.

— Assim espero, Verônica.

— Hum... Enquanto isso, o café está quase pronto...

— Pelo cheiro parece algo delicioso. Mas antes vou ver como está o Miller.

— Ah, ele estava dormindo quando fui vê-lo.

— Menos mau.

Para a surpresa de ambos, o aventureiro apareceu caminhando com um pouco de dificuldade. Uma das mãos estava sobre o estômago, perto das costelas, por causa da dor que estava sentindo em consequência dos socos e chutes dados pelo caçador; um olho estava completamente inchado e havia vários hematomas pelo rosto e no corpo, a grande maioria coberto pela roupa.

— Meu jovem, você deveria estar na cama. - disse o cientista, preocupado.

— Ah não, Professor, ficar na cama não faz o meu feitio. E, além dos mais, eu preciso esclarecer as coisas com Lorde Roxton e ver se Marguerite está bem.

Verônica se aproximou e ajudou Jacob a se sentar no sofá ali próximo.

— Você só pode estar maluco! Se quer um conselho, fique longe do Roxton e, principalmente, da Marguerite, pelo menos por um tempo. Aliás, você deveria ter nos contado que a Marguerite ainda estava grávida. Bem feito por essa surra que levou! - disse a garota da selva, com tom de chateação em sua voz.

— Verônica está certa, isso foi uma tolice.

— Escutem, vocês dois, eu soube disso há pouco tempo e juro que tentei convence-la a contar tudo, mas ela estava com medo e eu entendi os motivos dela e não podia traí-la.

— Bem, quando ela voltar espero que nos esclareça esses "motivos."

— Voltar? Como assim, Verônica? Onde ela está?

O cientista e a loira trocaram olhares. As coisas ainda pareciam estar longe de se acalmarem na casa da árvore.

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Na selva:

Lorde Roxton seguia os rastros da herdeira, extremamente irritado por ela ter saído sozinha; sem falar na decepção profunda que ele estava sentindo por causa da farsa. Conforme foi seguindo os rastros, o caçador já sabia para onde ela estava indo. Para o lago.

Com a rapidez de seus passos, não demorou muito para o caçador chegar até o lago. Devagar, ele caminhou cuidadosamente entre as folhagens com a intenção de pegar Marguerite de surpresa e aproveitar o momento de privacidade para despejar tudo o que estava sentindo e colocar um fim em todas as malditas dúvidas para poderem se acertar, em nome grande amor que sentiam um pelo outro e pelo bebê a caminho. Porém, quando chegou mais perto, Roxton ficou imóvel observando a bela morena sentada em uma pedra na margem do lago, os cabelos negros soltos dançavam com o vento, estava sem as botas e com as pontas dos pés tocando a água, parecia tão triste, olhando para o vazio na direção do lago, completamente desatenta dos perigos ao seu redor.

A herdeira suspirou como se estivesse se sentindo um pouco mais leve, levou as mãos ao rosto, enxugou as lágrimas e se levantou.

O caçador, atento a cada movimento dela, logo pensou que ela iria embora dali e, nesse momento, ele ameaçou dar um passo à frente do arbustos que o camuflavam para, finalmente, confronta-la. Mas Roxton não conseguiu se mexer quando viu que a herdeira começara a ser despir. O nobre ficou parado, olhando, lutando internamente contra seus próprios instintos. Apesar de tudo, o desejo por ela ainda o fazia perder a cabeça. O coração do caçador disparou e a respiração ficou pesada, deixando-o quase ofegante.

Peça por peça, a morena dobrou com zelo e pôs em cima da pedra; em seguida, se virou e foi caminhando tranquilamente para dentro do lago.

O dia só estava começando, mas seria daqueles de calor intenso. Por esse motivo, a herdeira decidiu entrar e encarar a água gelada, pois sentiu a necessidade de um banho - mesmo que fosse rápido, só para se sentir um pouco mais relaxada, logo ela iria enfrentar a decepção e o questionamento de seus amigos e o mais difícil: resolver a situação com o caçador. Por mais que ela o amasse havia muitos impedimentos os cercando e ainda mais depois da reação cega e violenta do nobre na noite anterior, em consequência das manipulações de sua rival; tudo só demonstrando o quanto o caçador era instável a comentários e fofocas, o que em Londres seria muito pior, então, o que seria dela se algo assim voltasse a acontecer, sem que ela pudesse se explicar? Pensava. Ali no meio daquele lago tranquilo de água escura, a cabeça de Marguerite parecia não querer parar de toturá-la com tantos problemas que a ameaçavam.

A morena pegou fôlego e mergulhou fundo, submersa os pensamentos vieram todos à tona como uma pedra pesada amarrada ao seu pé a levando cada vez mais para fundo.

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— Onde diabos essa mulher se meteu? - disse o caçador, já agoniado.

Os segundos se passaram como horas e a apreensão foi só aumentando.

No fundo do lago a água estava muito mais gelada, a herdeira tentou nadar o mais depressa que conseguia para a superfície quando, de repente, uma forte cãibra na perna direita a desestabilizou. O desespero foi de imediato, a herdeira lutava para sobreviver, movimentando os braços, tentando subir a todo custo, os pulmões já ardiam de tanto segurar o ar; até que não pôde mais e água lhe invadiu pela boca. A herdeira se debatia violentamente, desesperada, sufocando, já quase perdendo a consciência enquanto sua vida ia se esvaindo. Ela foi afundando cada vez mais e antes de fechar os olhos a bela sorriu ao ver o que o seu coração tanto desejou. O rosto do caçador. E então a escuridão a abraçou.

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— VAMOS, RESPIRE! MARGUERITE! Não faça isso comigo... Por favor... RESPIRE! DROGAAA! RESPIREEE! EU NÃO VOU DEIXAR VOCÊ MORRER! Não posso te perder, meu amor... Não posso...

Desesperado, o Lorde tentava reanimar a morena lhe fazendo respiração boca a boca uma... duas... três... e ela não reagia. Mais uma vez ele tentou reanima-la, mas ela continuou inconsciente. Estava tão pálida... John já não sabia mais o que fazer. Completamente consternado, pegou a herdeira nos braços e a abraçou contra o seu peito e com toda a sua fé implorou a Deus para que não a levasse. Ele a sacudia em seus braços, desesperado. O nobre entrelaçou os dedos no cabelo da herdeira, encostou seu rosto no dela e as lágrimas caíram em meio a angústia e a tristeza de perde-la.

Determinado a não desistir de salvar a vida da herdeira, Roxton mais uma vez tomou Marguerite nos braços e fez respiração boca a boca, seguida de uma massagem cardíaca.

— Não me deixe, meu amor, não pode me deixar. - disse o caçador, tentando trazer a morena de volta, pelo seu amor.

Segundos se passaram e, para a felicidade do nobre, a herdeira deu um sobressalto tossindo forte, jogando para fora a água que estava em seus pulmões.

— Ah, graças a Deus! Eu não perdi você. Calma, calma... Respire devagar... Você vai ficar bem. Isso, assim... fique tranquila.

Ele a abraçou novamente, agora aliviado e muito feliz com Marguerite viva em seus braços.

A bela herdeira estava muito assustada pelo enorme susto, com os olhos arregalados, olhando para o nada. John, comovido, acariciou o rosto da morena e a consolou com um beijo na testa.

— Eu estou aqui, fique tranquila, o pior já passou.

Marguerite despertou do susto e encarou o homem que a segurava com tanto cuidado, e agora podia ver quem a salvou. A herdeira não ficou surpresa ao se deparar com o rosto do caçador com um semblante preocupado e até mesmo emocionado. "Meu cavaleiro de armadura prateada", pensou ela.

...

Eles ainda estavam na beira do lago. Marguerite cobriu o corpo com os braços, podia sentir a água fria sobre o seu corpo nu. O caçador também estava todo ensopado, pois havia pulado no lago de roupas, botas e tudo. Com cuidado, ele a pegou no colo e caminhou para perto da pedra onde estavam as roupas e a mochila dela.

Naquele momento a bela morena se sentia segura nos braços fortes daquele homem. Ela podia ver todo o amor dele refletindo sobre ela através do brilho intenso do olhar de Lorde Roxton.

Alguns passos à frente, chegando perto da grande pedra, Marguerite pediu para que ele a soltasse.

— John, me deixa pegar as minhas coisas.

— Você consegue ficar de pé? E melh...

— Não, não... Eu já estou bem. Como você mesmo disse, "o pior já passou".

Ele lançou um olhar interrogativo e depositou a herdeira sobre a pedra ao lado de seus pertences. Marguerite pegou a mochila, retirou o hobby e o vestiu rapidamente. John a observou ainda em silêncio, confuso com seus sentimentos.

A herdeira abraçou o próprio corpo, agora coberto pela seda; apreensiva, lançou um olhar para o caçador de canto de olho. Roxton percebeu e levou a mão até o rosto da bela, segurando o seu queixo. Ela inclinou a cabeça para encara-lo.

— Marguerite.

— John, eu...

Uma voz (ou seria mais uma lembrança? Ela não soube diferenciar ao certo) veio à mente da herdeira. "Não me deixe meu amor eu te amo", era a voz do caçador chamando-a de volta da escuridão.

A morena se levantou, fechou os olhos e uma fina lágrima atravessou suas longas pestanas e desenhou o rosto até chegar a boca. A morena abriu os olhos e encarou o Lorde novamente. Antes que John pudesse perceber, a mulher se jogou em seus braços, o abraçando forte, se aninhando em seu peito largo. Roxton correspondeu o carinho da herdeira e a abraçou firme, em silêncio agradecendo a Deus internamente por lhe dar mais essa chance de viver o seu amor e formar uma família.

Marguerite levou a mão até o rosto do nobre e deixou escapar algo que precisava ser dito para lhe dar paz e tirar de vez a sensação de estar sufocando.

— Eu te amo. Te amo muito.

— Eu também te amo. Eu sei que temos muito o que conversar, mas olhe nos meus olhos, Marguerite, e escute bem: eu não vou permitir que mentiras, intrigas, segredos malditos... nada me separe de você ou do nosso filho.

— John, eu sei que eu te fiz sofrer muito. Me perdoe, mas tudo o que eu vi foi aquela miserável tramando contra mim e você completamente cego. Você sabe que fora desse platô eu tenho tudo contra mim, contra nós!

— Sim, eu sei, mas em nenhum momento eu disse que iria abandona-la. Eu vou estar do seu lado, já disse que se for necessário ficaremos aqui.

— Você diz isso agora. Não posso pedir para que sacrifique sua vida por mim.

— Eu não tenho vida sem você. Mas, me diga, o que diabos pensou que eu faria? Eu nunca iria troca-la por Diana. Ela é parte do meu passado, eu tenho consideração e um... certo remorso por tê-la iludido.

— Ah, por favor, ela não é nenhuma ingênua. E você caiu direitinho na conversa dela, então não me venha com "Marguerite minha vida é você". Frases bonitas não mudam as coisas...

— Marguerite, me deixe falar e esclarecer as coisas para que você pare de uma vez por todas de tirar conclusões baseadas no seu ciúme.

— CIÚMES?! EU? Ah, eu tenho que te lembrar da sua atitude selvagem de ontem à noite? Você quase matou o coitado do Jacob e destruiu o meu quarto e TUDO POR CIÚMES! Então não me venha com essa.

— ISSO TUDO FOI CULPA SUA, MARGUERITE.

Ela ficou em silêncio e se afastou do abraço; virou-se de costas para o caçador, com os braços cruzados sobre o peito.

— A culpa é minha, não é? É sempre culpa da Marguerite. Típico.

John se aproximou e envolveu o braço na cintura fina da herdeira, enquanto a outra mão acariciava a barriga da bela.

— John, não...

— Shhhhh! – sussurrou com os lábios ao pé do ouvido da herdeira.

Com a voz calma e serena o caçador tranquilizou a bela morena.

— Ei, não vamos brigar. Estamos perdendo tempo com discussões tolas... O importante agora é cuidar bem do nosso filho que está crescendo dentro de você e que não tem culpa das confusões em que os pais se metem. Principalmente por causa da cabeça dura e teimosa da mãe dele. – brincou.

Ela sorriu... E acariciou o braço do Lorde, que a envolvia.

— Oh, John... Como se você fosse um santo.

— Ah, estou longe de ser um...

Ele deu leves beijos na têmpora e no pescoço e continuou a falar:

— Eu te amo, Marguerite. Vamos deixar esses desentendimentos para trás e você vai me prometer que nunca mais vai mentir para mim. Hum!?

Marguerite sorriu; mal podia conter a emoção. Mas não podia deixar sua personalidade de lado.

— Eu posso fazer um esforço. - respondeu ironicamente.

John a puxou e a virou de frente para ele. Marguerite respirou fundo, podia sentir aquele frio lhe subindo a espinha, os pelos do corpo se arrepiando em sinal da saudade do toque e do calor do corpo do caçador. E Lorde Roxton sentia o mesmo. Agora, ali, apreciando o lábios da mulher de fogo e aço.

— Um esforço? - com aquele olhar típico.

— Por agora é tudo o que posso te oferecer.

— Ah, mas depois te tudo o que você aprontou confesso que esperava mais...

— Oh, John... É claro que tem mais...

Ela ficou séria, de repente, e apoiou a cabeça no peito do caçador, que logo notou a mudança de humor da morena.

— O que foi, Marguerite? Não está se sentindo bem? Foi algo que eu disse?

Ela inclinou a cabeça para olhar bem nos olhos dele.

— John é que.. É que eu pensei que você não ia me perdoar e agora está aqui sendo tão carinhoso. Se um dia eu achei que não merecia você, hoje eu tenho certeza.

Ele sorriu e depositou um beijo leve no lábio inferior da bela herdeira.

— Você se lembra quando o veneno de um escorpião te salvou do meu questionamento sobre os seus sentimentos?

— Sim, eu lembro. Escorpião bem oportuno... Mas o que isso tem a ver?

— Eu cheguei aqui e fiquei te observando. A melhor parte foi quando você tirou a roupa...

— John...

— Bem, eu estava muito nervoso, com raiva, provavelmente diria um monte de coisas das quais me arrependeria mais tarde.

— Hum... Não seria a primeira vez. - disse a herdeira, se lembrando das palavras de raiva que o caçador disse quando ficaram presos em uma caverna.

— É, eu sei... Enfim, quando eu te tirei da água e você não reagiu eu pensei que tinha te perdido, mas você está aqui... Eu não vou desperdiçar essa chance.

Marguerite ficou emocionada. Ambos ficaram se olhando e, antes mesmo que dessem conta, já estavam completamente entregues um ao outro, não havia mais necessidade de palavras; o beijo foi doce, delicado, de puro amor. Tudo o que eles queriam naquele momento era matar a saudade de sentir o corpo um do outro.

Ela se sentia totalmente presa a ele. O caçador sentiu o desejo ficando cada vez mais difícil de controlar. Ele levou o calor dos seus lábios da boca até pescoço comprido da bela morena em seus braços e voltou de novo para seus lábios, agora com um beijo mais intenso. Ela segurava rosto dele entre suas mãos e dava o máximo de si naquele beijo.

Nessa hora, nenhum sentia mágoa ou ódio, nada de ruim que pudesse acabar com aquele momento. Os beijos, as carícias, os olhares... só demonstravam as coisas boas que sentiam, o amor selvagem e puro ao mesmo tempo e a paixão cega e sem limites. Ele a abraçava, implorando o calor de seu corpo.

— Eu te amo. Você é linda.

Emocionada, Marguerite abriu um sorriso sincero de ponta a ponta. A bela morena retribuiu as palavras de amor de Lorde Roxton com um beijo e ali, às margens do lago, o lugar favorito de ambos, ficaram se amando sem se preocupar com mais nada a não ser viver aquele momento.

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