Olá, nova história, que deve ter uns cinco ou seis capítulos, vai ser rápida como O Verdadeiro Trio de Ouro.

E para os leitores de Um Novo Caminho, não se preocupem, já estou terminando o novo capítulo.
Boa leitura!

Lucius Malfoy nunca imaginou que seria um avô daquele tipo. Isso era coisa de Weasleys, ou qualquer Hufflepuff, mas ele? Ele era um temido e odiado ex-comensal da morte, então, como explicar a maneira com que se derretia cada vez que seu netinho lhe dedicava sorrisos lindos? Era a beleza Malfoy influindo em seus sentidos, ele tinha certeza, isso e o fato de que sua biologia ômega o fazia adorar bebês, essa era a única explicação. Scorpius tinha roubado seu coração no momento em que um orgulhoso e sorridente Draco o tinha colocado em seu colo três anos atrás. E agora, ele estava bastante irritado com a possibilidade de perder horas preciosas com seu pimpolho, que segurava firmemente em seu colo.

- Isso é absurdo, Draco. Não seja tolo, meu neto não precisa ir para uma escolinha. - Lucius teimou, acariciando os cabelos macios de Scorpius, que suspirou feliz.

- Papai. - Draco disse em tom de advertência, ainda que tivesse um brilho de divertimento nos olhos por ver seu pai, o tão tradicional e estrito Lucius Malfoy, segurando um menino de três anos como a coisa mais preciosa do mundo. - Scorpius precisa socializar com outras crianças... além disso, sabe que é melhor não esperar uma convite do Ministério.

Lucius fungou, ciente de que se o Ministério enviasse uma carta "convidando" Scorpius para a iniciativa de inclusão e aprendizado antes de Hogwarts, era porque era praticamente uma exigência.

- Mas eu posso ensiná-lo perfeitamente bem. - Lucius retrucou, infantilmente, ele sabia. - Muito melhor do que aquela Luna Lunática, só Merlin sabe que tipo de loucura fará com o seu filho.

Draco não teve mais remédio que sorrir ao ver seu pai abraçar o menino com ar protetor.

- Vamos lá, pai. Você mesmo disse que os artigos dela sobre desenvolvimento infantil eram brilhantes.

- Ela era uma Ravenclaw, claro que é brilhante com teorias. Isso não quer dizer que vá saber cuidar de vinte crianças ao mesmo tempo. - Ele olhou para Draco com divertimento. - Você sabe melhor que eu como seu filho pode ser... enérgico.

Draco riu, pegando seu pequeno furacão loiro do colo de seu pai e jogando-o para o alto e fazendo-o rir.

- Seu avô não quer dizer a verdade, Scorpius, mas nós dois sabemos que ele não quer passar as manhãs sozinho, sem seu pequeno troll para tentar demolir a casa.

Scorpius riu, mas se defendeu.

- Eu não sou um troll, sou um menino bonito e cheiroso, trolls não são cheirosos, vovô me disse.

- Claro que ele te ensinou isso. - Draco disse, deixando de jogar o filho para o alto, ele estava ficando pesado para o jogo, encaixando-o ao lado de seu quadril. - O que mais aprenderam hoje de manhã?

- Que preciso tomar banho depois de brincar para não cheirar como um troll. - O menino disse, repetindo o que o avô lhe dissera. - E que vovô pode desaparecer minhas bolinhas verdes, mas é segredo, vovó não pode saber.

Draco deu um olhar afiado para seu pai, que fingiu que não era com ele.

- Ele precisa comer as verduras, papai.

- Couve de Bruxelas é um atentado ao paladar, e você sobreviveu muito bem sem elas.

Draco corou, seu pai também desaparecia aquelas coisas de seu prato, era uma briga tola, já que por via de regra Scorpius comia muito bem.

- Tudo bem, vocês vencem essa. Mas, o assunto da escola não terminou, tenho uma visita marcada para amanhã com o diretor. - Draco disse, colocando Scorpius no chão, e o menino correu para brincar com seu amasso, que tinha entrado na sala depois de um banho de sol.

- Quem é? - Lucius perguntou, ciente da derrota.

- Percy Weasley. - Draco disse, esperando uma reação muito ruim, que não veio.

- De longe é o mais sensato e menos desagradável do bando. - Lucius disse. - Ainda acho que o Ministério perdeu um excelente burocrata ao colocá-lo nessa posição.

- O rumor na época foi que ele queria um trabalho menos exigente para cuidar da filha. - Draco disse, sombrio. Ele se identificava com esse Weasley, sua esposa tinha morrido depois de uma doença longa, alguma coisa muggle, diferente de Astória, que teve complicações no parto, mas era igualmente triste.

- Espero que ele seja mais competente que sua antecessora, e menos preconceituoso. - Lucius disse, endurecendo o olhar. A antiga diretora da escola tinha sido afastada por perseguir os filhos de ex-comensais ou simpatizantes de Voldemort.

- Se eu não estiver seguro sobre isso me mudo para Paris. - Draco disse, resoluto.

- O solar na Riviera é muito mais aconchegante e adequado para uma criança, além disso, a comunidade bruxa ali é muito animada. - Lucius disse, pensativo. - Mas eu não gostaria do meu neto sendo criado longe de Malfoy Manor, Draco, é o nosso lar. A magia ancestral nos protege aqui.

- Eu sei, estava pensando em mudar nossa residência oficial para lá, mas continuar com nossa rotina aqui. - Draco explicou.

- Scorpius iria ficar exausto por viajar de flú internacional duas vezes por dia, uma chave de portal todos os dias está fora de cogitação para um menino tão novo. - Lucius descartou a possibilidade.

- Vamos encontrar uma maneira, mas, talvez estejamos nos preocupando à toa, se de uma coisa podemos ter certeza é que esse Weasley sabe trabalhar.

- Não vou apostar dinheiro nisso, mas é melhor do que lidar com um dos seus irmãos... pode imaginar Ginny Weasley tratando Scorpius bem?

Draco fez uma careta descontente, claro que não, graças a Merlin, a mulher do salvador estava longe do novo sistema educacional do mundo mágico.

- Graças a Merlin pelas pequenas bençãos. - Draco resmungou, olhando o relógio. - Agora, onde vamos nos esconder das convidadas da sua esposa para o chá?

Lucius sorriu ao ver Draco fazer um beicinho que Scorpius tinha herdado.

- Sua mãe só quer te apresentar a moças agradáveis, e está organizando tudo desde o almoço, não seja rude com ela. - Advertiu.

- Claro que não... mas, se eu vou, você vai também. Nada de fugir das garras da velha McNair.

Lucius fez sua melhor cara de desentendido.

- Infelizmente, meu filho, tenho um compromisso no clube...

- Se não for, mamãe vai descobrir sobre as verduras, e não vai estar feliz. – Draco disse, sabendo muito bem que Lucius não gostava de enfrentar sua esposa irritada.

Lucius fez uma careta.

- Cobra traiçoeira. - O patriarca resmungou.

- Obrigado. - Foi a resposta orgulhosa de Draco.

X~x~X

A primeira coisa que Draco notou quando chegou na escola, era que o lugar era extremamente agradável e convidativo. O Ministério havia reformado a antiga mansão dos Waterby, o local tinha dois andares e um amplo jardim, tudo parecia limpo, luminoso... e silencioso demais para uma escola, Draco pensou, mas logo percebeu que estavam no período de férias, e que por isso o local não estava cheio do burburinho das crianças. Ele foi recebido por um elfo doméstico que o guiou pelo local até a sala do diretor, que ficava no térreo, e não escondida no segundo andar, como ele tinha imaginado. Quando o elfo o anunciou, Draco entrou munido de toda a formalidade que tinha aprendido a vida toda, só para se deparar com Percy Weasley sentado no chão empilhando blocos mágicos com uma menina ruiva, que devia ter a idade de Scorpius.

- Senhor Malfoy, eu sinto muito. – Percy disse, se levantando e arrumando suas vestes, o homem parecia verdadeiramente envergonhado. – Eu fiquei distraído, como pôde ver. Essa é minha filha, Lucy. Lucy, diga olá para o senhor Malfoy.

A menina, uma coisinha bonita de cabelos vermelhos e olhos cor-de-mel se levantou, arrumou sua saia e fez uma mesura delicada para ele.

- Olá, senhor Malfoy, muito prazer em conhecê-lo. – Ela disse, pausadamente, como Scorpius fazia quando tentava soar formal e educado.

Draco não costumava ser aberto com as pessoas, mas era uma criança, e uma que, como seu filho não tinha uma mãe, ele não poderia quebrar aquele sorriso sendo frio, podia? Sua mãe ficaria horrorizada se ele tratasse mal uma pequena dama, seu pai teria um ataque apoplético. Por isso, ele dobrou um joelho e beijou-lhe a mãozinha pequena.

- É meu prazer, senhorita Weasley. – Ele disse, dando seu melhor sorriso.

Ela deu um risinho contente.

- Viu, papai? Eu não fui uma pequena troll e o senhor bonito gostou de mim. – Ela disse, orgulhosa, fazendo seu pai sorrir e corar ao mesmo tempo.

- Sinceridade infantil. – O diretor disse, dando de ombros e lutando para se recompor.

- Eu sofro do mesmo mal em casa. – Draco disse, se levantando e se sentindo mais à vontade.

- Dipsy, por favor, leve Lucy para brincar no parque, e fique de olho para que nada aconteça. – Percy pediu.

O elfo obedeceu e a menina acenou-lhes animadamente à guisa de despedida.

- Por favor, sente-se, senhor Malfoy. – Percy pediu, sentando-se ele também atrás da pesada mesa de madeira que era o móvel mais chamativo do escritório sóbrio, as paredes tinham apenas prateleiras de livros e quadros das primeiras turmas a entrarem na escola.

- Obrigado por me receber. – Draco disse, formalmente.

- É o meu prazer, como eu disse na minha carta, seria de grande interesse para a escola que seu filho se juntasse a nós. – Percy disse.

- Por quê? – Draco perguntou, com a expressão impassível.

- Sinceramente? Precisamos de crianças de famílias puro-sangue por aqui, sabe que minha antecessora foi hostil com os alunos desse tipo, até mesmo aqueles cujas famílias não tinham nada a ver com Voldemort. – O homem ajeitou seus óculos. – Os mais prejudicados foram os órfãos, como deve saber, eles estão com medo de voltar, e se eu mostrar que posso trazer um Malfoy sem problemas, vou acalmar as coisas.

- Não era só a diretora que era hostil, soube de fonte fidedigna que seu corpo docente e a maior parte dos alunos não tinham problemas em maltratar essas crianças. – Draco disse, incisivo.

- Isso foi antes da minha gestão, posso garantir que nenhum professor que encorajou, ou ignorou alunos sofrendo agressões verbais ou físicas estão na nossa atual planta de funcionários. – Percy disse, fungando com ar ofendido.

- E os alunos, como pretende combater isso? – Draco perguntou, mais hostil do que tinha pretendido.

- Bem, chama-se iniciativa de integração por um motivo, senhor Malfoy. – Percy disse de maneira afiada, quase fazendo o loiro sorrir, o homem tinha uma língua rápida, ele gostava disso.

- Bem, desculpe-me se não quero expor meu filho de três anos de idade a hostilidade gratuita. – Draco disse, num tom mordaz.

Percy suspirou.

- Ele vai estar numa turma do maternal, Luna é a professora e ela é excepcionalmente boa em fazer as crianças se divertirem e aprenderem ao mesmo tempo. Caso algum incidente ocorra, tem minha palavra de que vou lidar rigorosamente com os envolvidos.

- Mesmo que sejam seus sobrinhos? – Draco espetou, sabendo perfeitamente que Albus Potter e Rose Weasley estariam juntos com seu filho.

- Nesse caso ainda mais. – Percy garantiu, com voz plana. – E sejamos francos, senhor Malfoy, se não aceitar meu convite amigavelmente pode acabar lidando com o Ministério alegando que ainda mantém seus costumes anti trouxas, não vai ser bom para seus negócios ou para sua imagem.

- Não duvide que pelo bem-estar do meu filho eu deixaria a Inglaterra. Se o Ministério me acossar o suficiente vou levar meu filho e todo meu patrimônio para outro país, te garanto que nem todo o mundo age com desprezo ao nome Malfoy.

Percy fez um grande esforço para não aparentar o quanto a ameaça do jovem alfa a sua frente o tinha afetado. Era novo para ele, se sentir afetado pela aura poderosa e ameaçadora do alfa, ele não tinha se sentido assim por um longo tempo… sua vida com Audrey tinha sido tão confortável, ela era uma beta adorável e pacífica, nada como o petulante, ainda que protetor alfa a sua frente.

- Tenho certeza de que isso não será necessário, eu posso garantir que vou cuidar bem do seu filho. – Percy disse, da forma mais imparcial possível.

Draco franziu o cenho ao ver como Percy expunha seu pescoço sem perceber, e uma suspeita surgiu em sua mente.

- Eu peço desculpas pela minha rudeza, não era minha intenção te intimidar, ômega Weasley. – O loiro disse sinceramente, abaixando a cabeça ligeiramente e se perguntando se a falta de aroma do ruivo era devido a algum supressor.

Percy arregalou os olhos, assustado. Poucas pessoas fora da sua família sabiam de seu status.

- Como?! Eu não… isso…

Draco franziu o cenho.

- Há algum problema? Eu não quis ofender, sei que os progressistas acham que é preconceito chamar alguém por seu status, mas para nós é sinal de respeito.

- Eu sei disso, senhor Malfoy. Não sou um analfabeto social em etiqueta puro sangue. – Percy admoestou. – Mas eu não estou acostumado com pessoas sabendo do meu status, geralmente só supõe que sou um beta, já que não temos ômegas entre os Weasley por vários anos.

Draco assentiu, não ia dizer que tinha só jogado verde com ele, o homem era sincero e se queria deixar alguns idiotas pensando que era um beta e se fazendo de idiotas, ele não tinha problemas com isso.

- Não se preocupe, não tenho o costume de sair por ai falando da vida alheia. - Draco garantiu.

- Eu imaginava isso, já que sua própria família manteve certos status bem escondidos por mais de duas décadas, foi só uma surpresa que percebesse isso. - Percy disse, com um sorriso sincero. - Oh, a cara que fizeram no Quartel de Aurores quando souberam que Lucius Malfoy é um ômega foi impagável.

Draco se permitiu sorrir também, aquele bando de estúpidos, alfas sem educação em sua maioria, deveria ter desejado a morte ao saber que um ômega era mais forte que a maioria deles.

- Eu posso imaginar. - Draco disse. - Acho que dado a essas novas informações, não tenho problemas em deixar Scorpius nas suas mãos.

- Senhor Malfoy, isso é absolutamente sexista. - Percy disse, inflando as bochechas. - Não pode achar que vou cuidar melhor dele só porque sou ômega, é como a maior parte dos trouxas pensa sobre as mulheres, ou como aqueles que dizem que não pode cuidar sozinho do seu filho por ser alfa. É insano.

Draco sorriu de novo, o que era estranho pra ele.

- Não é por isso, bem... se sou sincero, em parte é sim, mas eu já estava praticamente decidido a deixá-lo vir aqui. Além disso, não é como se fosse um internato, são só cinco horas por dia.

Percy voltou ao modo profissional, sabendo que tinha sido testado e aprovado. Estaria muito contente de apresentar seu modelo educativo.

- Temos o horário integral também, é mais cansativo para as crianças, mas é uma opção mais barata que uma babá, e temos um cronograma bastante recreativo. Luna até configura a sala para os momentos de soneca com sons calmantes.

- Acredito que é uma opção interessante, mas, teria que entrar num duelo com meus pais para tirar Scorpius deles por tanto tempo. Só trabalho até a hora do almoço a maior parte dos dias para poder cuidar dele, então, não é um problema.

Percy pensou que ajudava muito ser extremamente rico, ele queria poder se dar ao luxo de cuidar de sua filha com um trabalho de meio período.

- Ele deve adorar isso, imagino. - Percy comentou, se levantando. - Se me acompanhar, vou mostrar as instalações da escola e a sala onde ficará seu filho.

- Eu agradeceria isso. - Draco respondeu, seguindo o diretor.

X~x~X

Narcissa sorriu ao ver Draco chegar em casa claramente relaxado.

- Olá, querido. Suponho que a visita correu bem.

- Supõe corretamente, mãe. - Draco disse, beijando-lhe a testa e sentando-se numa poltrona, claramente feliz. - Scorpius vai adorar o lugar, é lindo e está totalmente restaurado.

- Meus receios nunca foram com o prédio, Draco. - Ela disse. - Como Weasley se comportou, ele é confiável ou só está tentando fazer politicagem?

- As duas coisas. - Draco disse. - Eu ficaria preocupado se não fosse assim, prefiro lidar com a sinceridade crua do homem. Ele quer usar Scorpius para acalmar a comunidade puro-sangue, mas é sincero quando diz que vai cuidar dele. E... bem, sua filha é muito simpática, e não se assustou ou foi rude quando soube quem eu era.

Narcissa ergueu uma sobrancelha, intrigada.

- Sério? A menina estava lá?

- Sim, muito bonita, mesmo que ruiva. - Draco brincou. - E teve o bom gosto de me achar bonito.

Sua mãe sorriu ao ouvir isso.

- Bom gosto, de fato, mas vai deixar Scorpius ir só porque a pequena Weasley é uma senhorita adorável?

- Sim, e porque seu pai é um ômega, tão inteligente quanto o meu pai... ainda que não tão refinado e astuto. - Draco disse, adorando ver como sua mãe ficava de boca aberta.

- Os Weasley raramente têm ômegas, eu pensei que eles alardeariam o nascimento de um. - Ela disse, intrigada.

- Bem, acho que eles não queriam chamar a atenção, principalmente com os sequestros de ômegas que o Lorde promovia. - Draco disse. - Meu avô também não divulgava o status do papai e isso antes do Lorde.

- Isso porque não queria um monte de alfas idiotizados tentando seduzir seu herdeiro, e mais tarde, porque não queria nem pensar em Voldemort olhando para ele. - Narcissa disse, se lembrando de como os dois tinham se tornado peritos em enganar o mundo sobre o status de seu marido. - Seu padrinho ajudou muito, o supressor que ele fabricava era o melhor do mundo, mas devo admitir que o melhor do fim da guerra, nas duas ocasiões, era poder voltar a sentir o cheiro do meu companheiro.

- Weasley usa algum tipo de supressor também, mas seu comportamento... vários sinais para quem quiser ler.

- Isso me faz pensar. - Narcissa disse, batendo o indicador no braço da poltrona onde estava. - Não foi ele que saiu de casa por discordar dos pais?

- Sim. - Draco disse, se lembrando disso e sentindo sua admiração pelo diretor crescer.

- Pobre rapaz, deve ter sido um momento difícil. - Narcissa disse, incapaz de imaginar a sensação de ser excluída do clã familiar, para um ômega sem companheiro deve ter sido um inferno.

- Ele parece bastante bem. - Draco disse, olhando em volta e aguçando seu ouvido. - E onde está meu filho?

- Tirando uma soneca com seu pai, os dois estavam cansados. - Ela disse, tentando parecer despreocupada, mas Draco viu a apreensão em seu rosto.

- Papai está bem? - O loiro perguntou, vendo como sua mãe suspirava.

- Ele teve um ataque de tosse depois de passar algum tempo correndo com Scorpius. - Ela disse. - O tempo que ficou em Azkaban não fez bem aos seus pulmões, ele tenta esconder, mas estou ficando preocupada.

- Quando Scorpius for para a escola, tem que levá-lo a um hospital na França. - Draco disse. - Os medimagos de lá não vão ter problemas em tratar um ex-comensal.

- Precisamos de autorização do Ministério para tirá-lo do país, você, e eu ficamos livres e sem restrições, mas sabe que seu pai precisa pedir autorização para movimentações internacionais.

- A essa altura isso é só uma formalidade. - Draco disse, seguro de si, só para hesitar quando viu a cara de sua mãe escurecer de novo. - E agora, o que houve?

- Eu tentei pedir uma autorização mês passado, estava esperando que fosse a antiga senhorita Granger, mas ela foi promovida e em seu lugar está Katie Bell.

Draco quase gemeu audivelmente.

- Ela ainda guarda rancor, eu imagino.

- Não foi um encontro agradável. - Narcissa admitiu. - Seu pai não sabe, por favor, não diga nada, não quero chateá-lo.

- Eu não vou, mas ele ficaria irritadíssimo se soubesse que está agindo como se ele fosse uma coisinha frágil. - Draco disse, com um sorriso malicioso.

Narcissa deu de ombros, com um olhar maligno.

- Não pretendo te dizer o quão resistente e flexível seu pai é.

Draco fez uma careta pela óbvia insinuação sexual.

- Mamãe! - Ele protestou, escandalizado.

- Se não gosta das consequências, não provoque sua mãe. - Ela disse, sorrindo e se levantando. - Agora, se me desculpa, vou me juntar ao meu doce marido e meu neto.

Draco riu, seu pai teria um ataque se ouvisse sua mãe chamando-o de doce, mas ele também pensava nele assim, principalmente quando se lembrava de como era seu pai quem o abraçava e consolava quando pequeno. Foi por isso que o Lorde tinha tido tanta facilidade para manipular a ele e sua mãe. Com seu pai retido em Azkaban, os dois fariam qualquer coisa para protegê-lo, mesmo que a essa altura o idiota pensasse que era devoção para seu pai alfa.

X~x~X

Narcissa sorriu ao ver seu neto esperando obedientemente enquanto Madame Malkin o media com giros hábeis de varinha. A escola começaria em uma quinzena e eles estavam fazendo compras.

- Isso traz lembranças, madame Malfoy? - A bruxa perguntou, com um sorriso sincero.

- Muitas. - Ela respondeu, sempre tinha gostado da mulher, que cuidava de seus assuntos e era muito amável. - Já teve muitos alunos aqui?

- Alguns, mas já estou me preparando para a corrida que haverá na última semana. - A mulher disse, fazendo um som de desaprovação. - Não entendo porque deixam tudo para a última hora.

Narcissa ia dizer o mesmo quando ouviram o sino que anunciava outra entrada na loja, ela gemeu internamente quando viu Ginny Weasley segurando uma menina de colo, trazendo um menino da idade de Scorpius pela mão.

- Oh, olá, senhora Potter, vou atendê-la em um momento. - Disse Madame Malkin, terminando as medições de Scorpius.

- Olá, madame, está bem. - Disse a ruiva, olhando como a dona da loja ia para os fundos, deixando-a sozinha com Narcissa Malfoy, que a olhava com expressão neutra. - Olá, senhora Malfoy.

- Senhora Potter. - Narcissa saudou com um aceno de cabeça, respondido com um leve assentimento e uma cara fechada.

A tensão no local era tão palpável, que Scorpius se sentiu intimidado por tanta hostilidade, ele sabia que não era muito elegante, mas choramingou de leve, estendendo os braços para sua avó, sua magia alfa o fazia sentir seguro. Narcissa o pegou, e olhou para a jovem ajudante de Madame Malkin.

- Avise a Madame que enviarei um elfo para recolher as roupas. – Ela disse, com sua elegância habitual.

- Eu não me importo que esteja aqui. – Ginny disse, com o que achava que era um tom agradável. – O menino não tem culpa.

Narcissa escolheu por não responder, ela preferia evitar dizer que não precisava de permissão da esposa de Harry Potter para fazer alguma coisa, precisava engolir o orgulho se queria deixar as coisas mais fáceis para seu neto.

- Meu neto não se sente bem, como pode ver. – Disse e saiu rapidamente, disposta a ir para casa.

- Por que a senhora não gosta da gente? – Scorpius perguntou, ele não estava acostumado a ser tratado com hostilidade por ninguém.

- É coisa de adultos.

X~x~X

Draco não sabia se ia conseguir. Era uma tortura, era inumano. Ele não poderia fazer isso.

- Por favor, papai, por favor, não. – Scorpius pediu com os olhos cheios de lágrimas.

O loiro olhou para as crianças entrando na escola se debatendo e chorando alto, mães saindo sem olhar para trás, pais subornando os filhos… menos Potter, claro que seu filho seria a epítome do bom comportamento e estava ao lado do pai esperando alguma coisa, provavelmente ver seu filhinho chorar desconsolado para poder humilha-lo depois, mas não, ele não deixaria isso acontecer.

- Scorpius, meu amor, já tínhamos falado sobre isso, você vai se divertir.

- Eu quero ir pra casa com o vovô. – Scorpius pediu. – Por que quer me deixar sozinho aqui? Eu vou ser bonzinho, eu prometo.

Draco sabia que estava perdido quando o menino disse isso e começou a chorar. Seu filhinho achava que a escola era um castigo, com um suspiro, pegou-o no colo, disposto a voltar para casa.

- Malfoy. – Era a voz de Potter, que tinha se aproximado, puxando seu pequeno clone com ele.

- Potter. – Ele disse, com um aceno de cabeça ligeiro, já dando um passo para sair dali.

- Vamos lá, Malfoy, se levá-lo agora não vai ter coragem de trazê-lo de novo. – Potter disse, com voz séria. – Todas as crianças fazem isso no primeiro dia… e Percy vai ficar muito chateado.

Draco olhou com contundência para o pequeno Potter, calado e comportado.

- Oh, ele está calmo porque sabe que as primas vão estar com ele. – O auror disse, sacudindo as mãos. – Já tive bastante choro ontem, meu mais velho fez a mesma coisa quando começou também, agora já fica ansioso para voltar.

- Escute Potter, ele está com medo, vou levá-lo para casa e…

- Eu cuido dele, moço bonito. – Disse uma voz feminina e infantil. – Eu vou ser uma boa amiga, podemos dividir o lanche e brincar juntos.

Draco suspirou ao ver a pequena Lucy Weasley segurando sua calça.

- O que acha, Scorpius? Essa adorável senhorita quer ser sua amiga.

- Eu também, podemos ser amigos. – Disse o pequeno clone, dando pulinhos.

Scorpius, que tinha escondido o rosto na curva do pescoço do pai deu algumas fungadas e olhou para as duas crianças no chão. Draco se ajoelhou, sabendo que se o soltasse, seu filho ia voltar a se desesperar.

- Não chore, tia Luna é muito legal. – Lucy disse. – Ela vai cuidar da gente.

- Ela tem várias histórias legais! – O mini Potter disse.

- Diga seu nome. – Potter disse a seu filho, sorrindo pela animação demonstrada.

- Sou Albus Severus Potter. – O menino disse, estendendo a mão.

- Sou Scorpius Hyperion Malfoy, muito prazer. – O loirinho disse, apertando a mão do novo amiguinho e saindo do colo do pai.

- Eu sou Lucy Weasley, ele é meu primo. – Ela disse, sem oferecer a mão, já que estava ocupada usando um lenço de renda para limpar as lágrimas do rosto de seu filho.

Um sinal tocou no interior da escola e a menina estendeu a mão para a de Scorpius, agarrando em seguida a de seu primo.

- Vamos, meninos, tia Luna está esperando. – Ela disse, decidida.

- Se comporte, Albus, seja bonzinho com a Luna e faça muitos amiguinhos. – Potter disse, beijando a cabeça do filho e da sobrinha. – Você também, Lucy, não faça seu papai ter cabelos brancos.

- Tudo bem, tio Harry.

- E você, Scorp, não se preocupe, vai adorar a escola. – Disse, tendo a audácia de acariciar os cabelos de seu bebê.

Draco quase sacou a varinha para enfeitiçar o atrevido, mas se controlou e beijou a bochecha gorducha do seu filho.

- Divirta-se, querido, sei que vai gostar da escola. Vovó vem te buscar daqui a pouco.

- Promete? Não vai me esquecer aqui? – Scorpius perguntou, parecendo que ia chorar de novo.

- Claro que não, e se eu ou vovó fizéssemos isso, vovô ficaria muito bravo e viria correndo te buscar. – Draco disse.

O menino sorriu, isso sim fazia sentido, ele nem resistiu quando Lucy o puxou em direção a escola. Draco se endireitou e viu como seu filho se afastava com um aperto no coração.

- Diabos, isso é horrível de se fazer. – Potter disse a seu lado.

- Weasley te disse para me vigiar, não é?

- Ele pode ter dado uma bronca na irmã quando a ouviu contar sobre o encontro com a sua mãe. – Harry disse, sabendo que se referia a Percy. – Sinto muito por isso, Ginny pode ser brusca mesmo quando não quer. – Disse com um sorriso de idiota apaixonado.

Draco revirou os olhos, só Potter se casaria com uma fêmea alfa e acharia lindo que tivesse maneiras de troll.

- Adeus, Potter.

- Oh, Malfoy, se os três se grudarem como parece que vão, temo que vai ter que me aguentar muito mais. – Disse o moreno, parecendo se divertir com a perspectiva.

Draco rilhou os dentes. Potter continuava irritante.

- Não pense que vou ser o cara mau e proibir a amizade pra você não ter que fazer isso, faça seu próprio trabalho sujo.

Potter revirou os olhos.

- Percy me castraria, então, não obrigado. Além disso, ele é muito mais simpático que você. Adeus, Malfoy, nos vemos amanhã. – Disse e desapareceu.

Draco olhou para o céu, se perguntando o que viria desse primeiro dia. Nada fácil, com certeza. Seu filho tinha ficado amigo de uma Weasley e um Potter, quais eram a possibilidades?

X~x~X

De uma janela do terceiro andar da escola, Percy sorriu ao ver seu cunhado cumprir a promessa e ser civilizado com Malfoy, Harry era o elo fraco da família. Ele não conseguia guardar rancor como Ginny ou Ron, e agora, só podia esperar para ver se a integração que ele pretendia realmente daria certo.