Nota: Naruto não me pertence e sim a Masashi Kishimoto, no entanto o enredo dessa fanfic é de minha total autoria.

Essa two-shot foi criada para o amigo oculto das Najas. Tssss... sz

Em alguns momentos da história será citado o conteúdo do Icha Icha, para esclarecimentos gerais, eu desconheço as histórias que possuem e toda e qualquer coisa relacionada é fruto da minha cabecinha, no more.

LUAAAAAAAAAA

Não aguento mais, no meio da madrugada, pensei e refleti e como não terminei de revisar, nada mais justo que liberar um pouco para você, um pequeno tira gosto.

Carinhosamente apelida de rola do Fassy, começou as preliminares da minha amiga oculta, Lua. Essa fanfic é dela toda dela, sem tirar nem por. sz

Não posso dizer como fiquei feliz em ver que tinha sido você a pessoa que eu tirei. Um sorriso de ponta a ponta, não podia ser melhor, ou alguém que eu ame mais. E na hora veio na cabeça: preciso fazer KakaSaku. kkkkkkk Aventurar-me por essas águas nunca antes navegadas, eu faço uns triângulos nas minhas histórias, mas uma fanfic TODA sendo crack, é a primeira vez, valha'me cristo, surtei muito, mas por você tudo vale a pena, Lua.

Bateu e ainda bate aquela insegurança, ainda mais sendo para alguém tão querido, o medo de desapontar é demais e eu espero de todo coração não faze-lo. .

Como já é de conhecimento geral da nação sou péssima em discursos, só falo besteiras e tinha escrito essas besteiras para ti:

Segunda a ciência não tem luz própria, mas eu duvido porque para mim ela é o ser mais iluminado de todos. A propósito pelo Kakashi e Fassy, até eu trairia a Joelma. "Não consigo te esquecer. Aaahh Aaahh, apaixonada por você" kkkkkkkkkkkkkk Só corre do Luan Santana porque aquela vesguice não dá!

Mana Lua, só vem que a festa é tua sz sz sz


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Caro Naruto

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Uma brisa morna sacudia as cortinas de cetim pela janela entreaberta, um raio-de-sol faceiro estendeu-se pelo cômodo sossegado, passando pelo chão acarpetado, pelas peças de roupa, pergaminhos e sandálias largadas a esmo e, como se o seu único intuito fosse perturbar quem ali residia, espichou-se até o travesseiro onde uma jovem descansava. Sakura remexeu-se, apertando os olhos e puxando a coberta para cima da cabeça, tentando, a todo custo, fugir da claridade incômoda.

Provavelmente já passava das 10h da manhã, mas não estava ligando, era preferível ficar enfurnada no quarto morrendo de tédio do que ter que sair e ficar no tédio e na saudade lá fora. Arrastou-se para o meio da cama, fugindo do Sol, que parecia tão decidido a despertá-la de uma vez.

Konoha continuava como sempre. Um lugar agradável e harmônico, ainda tinham muitas missões a serem cumpridas, mais até que a encomenda, a Vila, em geral, ninjas indo e vindo, o comércio crescendo, apenas Sakura tinha mudado. Apesar de dizerem a ela que o time 7 não tinha acabado e que nunca iria acabar e dela também acreditar nisso, ele tinha entrado em recesso e isso ninguém poderia negar. Naruto estava treinando e Sasuke... Bem, Sasuke tinha partido.

E pensar nele era deveras doloroso. Sofria a dias seguidos por algo que não podia remediar, nem concertar. Estava tentando seguir os insistentes conselhos de Ino de afastar essa carga extra, pegar todo o sentimento que ainda nutria e enterra-lo bem fundo de si. Não tinha como mudar essa situação, por agora, pensar nele só traria mais dor e dor ela andava dispensando com prazer. Porém, obviamente, a teoria era melhor que a prática.

Quanto a Naruto, ela se esforçava em não ser egoísta, porque em partes ele tinha partido pela promessa feita a ela e, mesmo ciente de que ele nunca desistiria de Sasuke independente do que lhe disse, ainda carregava esse fardo silencioso. Agora o idiota estava em algum lugar, aprimorando suas técnicas, conhecendo novos lugares, jutsus e histórias e ela tinha ficado para trás.

Mesmo treinando e dando o máximo de si para aprender tudo que Tsunade estava mais do que disposta a lhe ensinar, era quase impossível não se sentir solitária e ligeiramente abandonada tendo que encarar o rombo que tinha ficado em sua vida. Ainda mais em dias como aquele, em que nem o Hospital era uma opção para lhe distrair a cabeça.

Abriu seus grandes olhos verdes, fitando a bagunça que estava em seu quarto, em outros tempos aquilo não ocorreria, mas agora a zona era confortável e acolhedora, como se seu amigo tagarela tivesse estado em seu quarto e feito tudo aquilo por ela.

Jogou a coberta para o lado quando seu corpo começou a pinicar, de qualquer maneira o quarto estava ficando quente depressa demais, não poderia continuar embaixo do edredom por mais tempo. Sentou-se na cama fitando a foto do time 7 repousada em seu criado-mudo ao lado de um livro Icha Icha de capa verde. Às vezes tinha impressão que todos riam da cara dela naquela foto. Principalmente o ser mais velho pairando sobre suas cabeças.

Ergueu-se em um pulo, espreguiçando-se e ajeitando a blusa larga que usava com displicência. Sem olhar, foi abrindo caminho entre as diversas coisas espalhadas no chão, chutando para o canto uma coisa ou outra.

Ino dizia que ela estava desenvolvendo hábitos estranhos e desagradáveis, mas não ligava, a saudade fazia isso. Kakashi ainda estava na Vila, mas era como se não estivesse. Encaixava uma missão atrás da outra, há quase dois anos não o via direito, apenas esporadicamente no escritório da Hokage ou em alguma viela, andando sempre muito apressado para lhe dignar algo a mais que um comprimento banal e um aceno estúpido. Dele tinha raiva, muita raiva.

Mas não era uma raiva comum, era uma raiva confusa e perdida entre todos os outros sentimentos que a invadiam. Quando os outros partiram, tinha certeza que ao menos ele teria para recorrer, não precisava conversar, só precisava saber que ele estava ali. Tê-lo por perto já seria mais do que suficiente e isso até aconteceu durante o começo, mas então ele passou a evitá-la, a única pessoa que a entendia não queria vê-la. Por quê? Não tinha explicação a não ser egoísmo, tinha se cansado da menininha, os garotos eram mais interessantes e não estavam mais por perto. Por que se importar com Sakura?

A cada aceno a vontade que tinha era de soca-lo, quebrar todos os ossos, mas isso chegava a ser contraditório, porque quando ele despontava em algum lugar seu coração doía e se em algum momento Kakashi a chamasse para conversar, ela sabia perfeitamente que iria com um sorriso no rosto de tão sedenta que estava pela companhia dos seus "garotos e homem amados".

Pegou o livro em cima do móvel e o guardou na sua bolsa de armas, saiu de casa como quem ia treinar, mas não era bem isso que Sakura tinha em mente. Por hora, precisava encontrar um lugar calmo e sossegado, bem longe de Ino de preferência, ou entrariam em assuntos infindáveis e ela atrapalharia sua leitura, ou voltaria a falar sobre seus maus hábitos.

Cruzou o portão da zona de treinamento, tamborilando os dedos sobre a bolsa em sua perna, observando a movimentação em cada área distinta, por sorte o que seu antigo time usava estava vazio. Caminhou pela orla da pequena floresta que tinha ali, procurando por uma raiz confortável que apontasse para o interior da mata. Encontrou uma sem muito esforço, escorou-se no tronco, protegida pela sombra alta puxou o livro que tinha surrupiado das coisas de seu sensei e começou sua leitura despreocupada.

Icha Icha não era um dos melhores livros que já tinha lido, na verdade era bem bobo, quer dizer, não tinha como levar aquelas histórias a sério ou acreditar que pudessem acontecer em um mundo que não fosse a mente de Jiraya. No entanto, não podia negar que lhe arrancava algumas boas risadas e, às vezes, em alguns momentos, só poderia ler sozinha, porque ficava tão embaraçada com o conteúdo que sentia suas bochechas em brasa.

Até o momento aquele era o seu segundo livro, cada um possuía ao todo três contos eróticos, todos dentro do tema central que era estipulado pelo título da coletânea. Na estante de Kakashi tinha um Icha Icha Violence* e a capa era uma menina batendo em um cara, não queria nem imaginar como era o seu conteúdo.

Abriu na página que tinha deixado marcada, Sakura já tinha passado pelo conto do marujo bêbado que acabou desmaiando em um onsen* feminino e agora estava lendo sobre um desbravador que tinha desembarcado em uma terra nova e exótica.

O ponto que Sakura tinha parado foi quando o homem invadira a mata em busca de comida e no caminho ouviu um canto e agora ela sabia que seguindo a música ele tinha avistado uma nativa que se banhava em um lago cristalino. Estava nua, os seios eram fartos e quando afundou na água suas nádegas em forma de coração ficaram visíveis. Entortou a boca, sem entender o porquê daquela descrição ser necessária.

Ele tentou se aventurar para espioná-la um pouco melhor, mas acabou caindo em uma armadilha e agora estavam em um diálogo bastante intenso, Sakura engoliu em seco, ela estava nua empunhando um punhal. Como alguém lutaria nua? Apertou a capa do livro entre seus dedos, aproximando-o de seu rosto. Por um mero deslize ele conseguiu se aproveitar das pedras lisas que circundavam a lagoa e agora seus corpos tinham se chocado, ela fez uma investida e ele a prendeu contra si, a túnica que usava foi molhada e ela tinha acabado de ofegar.

Ele era um sacana, sorria e cortejava, Sakura tinha a estranha percepção que a maioria dos protagonistas do Icha Icha eram baseados no próprio Jiraya e em como ele se definia, revirou os olhos, porque era sempre bem boboca como todos conseguiam as garotas. Manteve sua atenção no desenrolar entre o casal, por um descuido os dois tinham perdido as armas e caído, um novo punhal surgiu, estava preso na perna dele, mas quem o segurava era ela. Estava por cima, com a peça firmemente prensada contra o pescoço dele e então...

Corou, afundando a cabeça no encadernado. A coloração rubra já parecia mais forte em volta do pescoço de Sakura ao terminar de ler o que aquele homem conseguia fazer com o quadril. Um calor começava a subir, suas maçãs do rosto começavam a queimar, mantinha os joelhos tão juntos que eles poderiam se fundir a qualquer instante.

— Essa tática que ele usou é realmente infalível. — Ao ouvir aquela voz, Sakura deu um gritinho engasgado, meio gemido, meio espanto, acompanhado de um salto. O livro foi fechado às pressas, seu rosto completamente em chamas, o coração batendo tão forte e rápido em seu peito que tinha certeza que dava para ser visto e ouvido, não duvidaria se quisesse fugir de sua caixa torácica, pois fugir também era tudo o que ela mais queria naquele momento.

Manteve-se de costas para ele, tentando a todo custo controlar o seu embaraço e a sua respiração. Apertou o livro contra o peito, mas ele pareceu queima-la, involuntariamente ergueu a mão para jogá-lo longe.

— Espero que não seja o meu exemplar que você está prestes a arremessar. — Estremeceu, desistindo de jogá-lo. Deu um meio giro, ficando de lado e observando Kakashi, de esguelha, descascar uma laranja, sentado nas raízes que minutos antes ela ocupava. Seu olhar displicente fixo em Sakura que ainda estava tão vermelha quanto era humanamente possível.

— Como pode saber que a tática funciona? — Entre todas as dúvidas que poderia ter aquela era a mais imbecil, a última que deveria verbalizar. Ralhou consigo mesmo logo depois de proferir tal pergunta. Ele não respondeu, apenas ergueu a sobrancelha visível. Apertou ainda mais o livro entre seus dedos, as juntas já esbranquiçadas pela força utilizada. — Se é tão infalível por que não...

Deus! Ela ia mesmo seguir essa linha? Estava prestes a dizer essas palavras? Não podia ser, tinha ficado completamente louca. O medo deve liberar alguma química para que ela tenha ficado assim, meio zonza, ou burra, era a única explicação plausível que conseguia achar. Uma risadinha ecoou pelo local, Kakashi movia a boca debaixo da máscara, parecia ter posto em prática sua surreal habilidade de enfiar a comida na boca sem ninguém ver. Dos mistérios que o envolviam, esse talvez fosse o mais difícil de explicar.

— Não é o tipo de coisa que eu ensinaria a você, talvez a se defender... — levou a mão no queixo, o ar indolente, fingindo refletir sobre a questão, Sakura revirou os olhos. — Quem sabe algum dia eu ensine ao... Ao Naruto. — Sabia bem que a quebra não foi falha, um 's' deveria ter entrado naquela preposição, mas não o recriminou, fazia isso o tempo inteiro. Esforçou-se para não se abater, não permitir que aquela já conhecida agonia e pesar a invadisse com força, porém não conseguiu.

O constrangimento deu lugar a um sentimento que ela só compartilhava de verdade com outras duas pessoas e, para seu alívio, uma delas estava ali e ao fitá-lo teve a certeza que Kakashi também tentava sufocar a dor. De um certo ângulo isso foi reconfortante, um conforto estranho, mas ainda assim conforto.

Umedeceu os lábios, buscando de alguma forma de desviá-los do que seria sofrimento e apatia em dupla.

— É provável que ele já esteja aprendendo, afinal, está viajando com o próprio Jiraya.

— Alguma notícia dele? — Kakashi pegou a deixa, no entanto entrou em outra zona de conflito. Suspirou, virando-se completamente em direção ao seu sensei, um sorriso triste surgindo em seus lábios rosados.

— Não. Deve estar ocupado demais parar mandar cartas. — Ergueu os olhos, fixando-os nele, mordeu o canto do lábio inferior, jogando seu peso de uma perna para outra. — Kakashi-sensei, você... hum... não deveria, sei lá..., estar correndo para torre em busca de uma nova missão?

— Acredito que depois de tanto serviço prestado ando merecendo um pouco de descanso, não concorda? — Deu de ombros, focando a atenção em um casal de andorinhas a duas árvores de distância. — Não pretendo pegar missões por um tempo.

— Certo. Certo. Bem... — procurou algo para dizer, mas nada parecia vir. O que era frustrante, pois precisava manter o assunto, queria desesperadamente, mas nada saía. Tamborilou os dedos na capa do livro e se aprumou — vou indo, hum, fique bem... é! Fique... — virou-se antes que continuasse a se embaraçar, já tinha estourado a cota do mês em menos de uma hora perto dele. No entanto, não chegou a ir longe, pois logo após ter se virado e dado dois passos um pigarro audível ecoou, acompanhado daquela voz que tanto tinha sentido falta.

— Meu livro.

— Nã... — corou, as bochechas se tornaram rubras depressa, até sua testa parecia queimar. Pensou em dizer que não era o que ele imaginava, mas a explicação seguinte seria tão idiota quanto dizer essa frase. Morta de vergonha apenas entregou o livro e desapareceu pela folhagem o mais depressa que pode.

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Gemeu assim que seus pulmões foram comprimidos. Girou para a esquerda, escapando da cama e dos apertos de Ino. Fitou a amiga que tinha se apossado de seu colchão macio com desagrado.

— Por que não foi lá em casa ontem? — Chutou um livro velho sobre ervas medicinais para baixo da cômoda, jogou no chão tudo que tinha largado em cima da poltrona próxima à janela e largou-se no encosto, coçando os olhos com os punhos cerrados. — E então? — Ino ainda a fitava a espera de sua resposta, deu de ombros, certificando-se de não voltar sua atenção para a parte do quarto que sua amiga ocupava.

— Ontem não foi um bom dia. Eu, bem, tive um momento... hum, meio (totalmente, pensou) constrangedor com o Kakashi-sensei. — Ino puxou o travesseiro de Sakura para o seu colo, inclinando o corpo para frente, fitou as bochechas rubras da amiga com demasiado interesse.

— Que tipo de momento constrangedor? — Sakura desejou que as imagens sumissem de sua cabeça. Aquela cena, fechou os olhos, ninguém deveria ser visto lendo aquilo, não aquela página.

— Do tipo muito constrangedor, ele me viu lendo Icha Icha. — Uma expressão de triunfo surgiu nas feições delicadas de Ino junto com um sorriso desdenhoso.

— Eu disse que não deveria sair por ai lendo aquele livro. Só tê-lo em mãos já é razão para ficar constrangida. — Puxou o rabo de cavalo para frente, passando os dedos pelas madeixas claras. — Porém eu não sei se em escala isso se enquadra em "muito constrangedor" — Sakura soltou um suspiro exasperado.

— Você não tá entendendo, ele me viu lendo! Não de longe, de perto. Ele sabe linha por linha do que eu lia! — A risada de Ino ecoou pelo ambiente e só pode se afundar ainda mais em sua poltrona. Deveriam escrever um livro sobre como se livrar de situações embaraçosas por causa daqueles contos eróticos. — E era uma daquelas partes de... "seu grande membro pulsante"... — um travesseiro voou em direção ao seu rosto.

— Testuda! O Jiraya escreve isso? Ele escreve "seu grande membro pulsante"?

— Bem...

— Ai, meu deus! Esses livros... — Ino fez uma careta de desagrado e por alguma razão se remexeu, sentindo-se incumbida em defendê-lo.

— Não é desse jeito, são meio que engraçadas e o problema é só que... são livros para serem lidos sozinhos, só isso. — As sobrancelhas loiras se uniram e a expressão de Ino era de clara e obvia reprovação, engoliu em seco, esforçando-se para desamarrotar uma blusa largada na escrivaninha. — O problema não foi só a leitura, eu também acabei falando umas coisas estupidas, sobre as táticas do livro sabe...

— Bem, bem... — Ino pulou para fora da cama, ajeitando o seu top lilás e fazendo careta para bagunça ao redor — se o Kakashi fosse o meu sensei, eu estaria pedindo por aulas particulares sobre essas tais táticas. — Devolveu a travesseirada, mas a garota se desviou com apenas um movimento suave.

— Porca!?

Deu de ombros sem se preocupar com o tom assustado que lhe foi direcionado, remexendo no guarda roupas de Sakura displicentemente.

— Só pare de fingir que nunca reparou que você tem um sensei — fez alguns gestos curvilíneos com as mãos — tentador. O meu também é. — Revirou os olhos com a expressão estupefata de Sakura. — O que? Realmente quer que eu acredite que você nunca parou para reparar neles?

— Você não pode estar falando sério. — Ino largou as peças que analisava e se virou para a amiga, com uma das mãos descansando em sua cintura fina.

— Por que não?

— Por que... não?! Ora, porque... porque... — as rosetas que surgiram no rosto de Sakura fizeram com que Ino desse uma risada abafada e desdenhosa. — Porque não! Onde já se viu... É o meu sensei e o seu sensei! O mínimo que merecem é respei...

— Enxergar o óbvio não é falta de respeito! É apreciar o que eles tem de melhor para oferecer. — Sakura revirou os olhos enquanto a Yamanaka apenas sacudia os ombros. — Enquanto você fica aí fingindo que não enxerga o mundo a sua volta tá perdendo muita coisa.

— Depende do ponto de vista. — Contrapôs resoluta.

— Não, não depende. Metade das mulheres dessa Vila fazem fila pelo sensei que você finge não ver e a outra metade joga pragas na Kurenai por ter o Asuma só para si. — Sakura mordeu o canto do lábio segurando a vontade de perguntar em que ponta essa desmiolada estava, mas aparentemente seus pensamentos foram bem óbvios para a amiga. — Em nenhuma delas. Eu fiquei com o Genma um dia desses e... não me olhe assim! Enfim homens mais velhos são interessantes, experientes... — Corou, tentando bloquear imagens mentais que não deveria ter. — Kakashi e a Asuma tem mãos grandes... — a olhada sugestiva apenas a constrangeu um pouco mais.

Jogou-se na cama, focando seus pensamentos na "missão" boba que tinham planejado aos 12 anos de tentar ver o rosto do Kakashi-sensei, todas as vezes que sua mente pensava no que tinha debaixo do colete, dentes grandes e proeminentes surgiam em sua cabeça.

— Sabe o que dizem, não sabe? — Mas estava ficando difícil crer que ele tivesse dentões, talvez verrugas, ou marcas na pele, imperfeições. Isso! Foco nas imperfeições... talvez descessem pelo corpo. Talvez... nas mãos não tinham nada e nas pernas... teve aquela vez no lago...

Grr... Você está sendo uma inútil, sabia?

— O que? — Fitou a expressão de desaprovação e fúria de Ino. — Eu? Inútil?

— Sim! Deveria estar me ajudando a lidar com essa situação do livro sem ficar constrangida, mas você só está me dando mais razões para parecer um tomate todas as vezes que encontrá-lo.

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Caminhava apressada pelas ruas abarrotadas de gente, desviando-se dos transeuntes e tentando terminar seu sanduíche o mais depressa possível. Geralmente era uma das pessoas mais pontuais, no entanto, sem razão aparente, naquela tarde tinha ficado zanzando por Konoha perdida em pensamentos loucos e quando percebeu, seu horário de almoço já tinha ido quase todo embora e ela ainda não havia feito o que precisava: almoçar.

— Droga!

Fitou o grande relógio no centro da Vila, daqui a cinco minutos seu plantão se reiniciava. Enfiou o resto do lanche na boca de uma vez só, jogando na lixeira mais próxima o papel e o resto do suco que tinha em mãos. A essa altura já estava praticamente correndo e carregando as pessoas junto com ela, seu braço chegou a enganchar em uma bolsa e ela quase arrastou uma pobre senhora pelo caminho. Por que todo mundo resolveu sair para bater perna logo hoje?

— Olá, Sakura. — Havia se distraído com o porquê de tantas pessoas estarem fora de casa que nem percebeu o caminho a sua frente e por muito pouco não foi de encontro com Kakashi. Na verdade, se ele não a tivesse cumprimentado era possível que naquele momento estivesse sobre seu corpo.

Deu um salto para trás, tentando parecer imperturbável, mas não era bem assim que se sentia. O mico e Ino ressoavam em sua cabeça, desviou o olhar, preparando-se para passar direto e evitar ainda mais constrangimento para o seu lado. No entanto, fingir-se de surda e muda não era uma opção. Sem pedir, o ninja a puxou pelo braço, arrastando-a com ele para uma das vielas transversais à avenida principal.

Kakashi a segurava firmemente pelo antebraço e, após passar por uma calçada relativamente cheia de barraquinhas, a largou em um ponto um pouco mais sossegado. Fitou o caminho, sabendo que poderia chegar ao Hospital por ali sem problemas aparentes. Aprumou-se para voltar a sua caminhada, porém se deparou com o olhar circunspecto dele, engoliu em seco.

— Olá, sensei. — A frase pareceu ter soado incomoda a ele, mas não tinha como ter certeza.

As bochechas de Sakura ganharam cor ao notar o livro que ele segurava, marcando o ponto onde tinha parado com um dos dedos. Da coleção inteira que possuía, era óbvio que ele tinha que decidir reler aquele, claro, claro, não poderia ser diferente, afinal, a sorte sempre apontava para a estrela da Sakura.

Não demorou para que Kakashi percebesse para o que Sakura direcionava olhares carrancudos e amuados. Um sorriso de puro divertimento surgiu em seu rosto, mas ela, certamente, não poderia ver. Remexeu os ombros, balançando o exemplar com deliberação entre eles.

— Já tinha me esquecido como é memorável esse exem...

— Eu preciso ir, estou atrasada, — Cortou-o antes que pudesse continuar a falar do maldito livro e não mentia, precisava mesmo ir, seu atraso já tinha ultrapassado todos os limites. — bem, tchau.

Deu as costas a Kakashi e voltou para a sua caminhada apressada, mas agora por uma razão completamente diferente da anterior. Era o cúmulo ele ficar com aquele ar insolente, se divertindo à custa dela. Ridículo! Um sensei não deveria ficar tirando sarro dos próprios alunos, isso era muito cruel. Em meio a sua cólera, não percebeu que estava sendo seguida até que ele fez ser notado:

— Eu gostaria de tirar uma dúvida. — Sakura quase deu um gritinho de espanto, girou a cabeça em direção ao Hatake lhe direcionando um dos seus olhares mais hostis, no entanto de nada adiantou. Kakashi não ficou nada abalado pela demonstração de desagrado e raiva que recebeu, manteve sua costumeira expressão desinteressada.

Vencida, Sakura se viu diminuindo as passadas, Kakashi rapidamente entendeu o recado e emparelhou com a aluna. Juntou ambas as mãos atrás do corpo e manteve seu olhar no caminho à frente, esperou um assentimento verbal que não veio, mas não se importou e prosseguiu assim mesmo com o assunto:

— Como invadiu o meu apartamento? — Seu pescoço esquentou e um leve comichão surgiu, era embaraçoso demais, porém fez o possível para manter a dignidade perante a situação.

— O basculante da sua cozinha perdeu a trava. Ele não é... hum... confiável, sabe? — Falava devagar e pausadamente, tentando de todas as maneiras desdenhar de sua pequena transgressão e culpá-lo por não manter sua casa plenamente segura. — Bem fácil de ser aberto por fora.

— O que fica em cima da pia? Hum, ela é relativamente pequena. — Fitou um ponto qualquer no lado oposto ao que Kakashi estava. Não iria explicar que teve que se contorcer toda para invadir aquele lugar. Pensando bem, chegava a ser bizarro, bizarro demais ter tentado tanto pegar esse livro e ter lido mais de um de sua coleção, o que a fez retornar e fazer todo o percurso de novo. — Enfim, — esticou o livro em direção a ela — seria muito rude se eu não permitisse que terminasse a leitura que estava apreciando tanto. — Na mesma hora se virou, empurrando a mão estendida para longe de si.

— Eu não quero, obrigada.

— Não há problema algum em ter lido, curiosidade é completamente normal e aceitável na sua idade. — Grunhiu, voltando a caminhar rápido. Não precisava ouvir aquilo, só faltava Kakashi cismar em ter aquele tipo de conversa com ela... — Você cresceu, é... perceptível. Vamos, Sakura, para alguém que se esforçou tanto você parece estar fazendo muito pouco...

— Não me esforcei por ele! — O comentário a irritou e desconcertou, mas ao se virar e encara-lo, parte do que a impulsionava oscilou. Juntou ambas as mãos em frente ao corpo pressionando a cutícula de seu dedo indicador nervosamente. — Foi só uma maneira que eu encontrei de estar e sentir... — não terminou sua frase, sabia que ele tinha compreendido com exatidão o que ela queria dizer.

Remexeu-se, desconfortável, desviando o olhar apressada, não precisava que sentissem pena dela, por se sentir sozinha. Tomou mais uma vez o caminho para o Hospital, mas dessa vez não foi seguida e realmente chegou ao trabalho mais atrasada do que nunca, com um estranho comichão queimando em seu interior.

O fato é que Sakura deveria ter olhado para trás.

Os dias foram passando, uma semana transcorreu sem grandes novidades. Ia ao hospital, treinava com Tsunade, visitava Ino e fugia de Kakashi. Escondia-se dele com tanta perícia que poderia ganhar diversos pontos em camuflagem por isso. Não se sentia pronta para voltar a encará-lo, ainda estava estranhamente inquieta com relação a ele e tendo pensamentos que não lhe cabiam. Ino só fazia rir disso tudo e chamá-la de idiota. E de fato, não podia negar que estava se comportando como uma.

Afinal era Kakashi, ela tinha invadido um apartamento por sentir tanta saudade que precisava ter uma parte dele com ela e, agora que podia tê-lo por inteiro, se esgueirava pelos cantos para não ser vista.

Fechou o livro sobre ervas medicinais e seus usos, precisava arranjar um jeito de remediar, de conversar com Kakashi sem pensar no livro e em seu corpo. Ergueu-se em um pulo, correndo para frente do espelho. Observou seu próprio reflexo que sustentava um olhar de pura determinação.

— Olá, Kakashi-sensei, como está? — Forçou uma risada que deveria descontraída, mas pareceu asmática. Pigarreou, balançando a cabeça. — É mesmo? Você visitou a Aldeia da Nuvem? Nossa. Queria saber mais sobre as missões que você fez. — Tentou com muito esforço parecer interessada e animada, mas seus olhos estavam abertos demais e seu sorriso travado.

Deu uns pulinhos sacudindo os braços, estalando o pescoço.

Foco! Foco! Foco!

— Oi, sensei. E ai? Meus treinos estão na mesma, mas ontem eu consegui recuperar todas as espinhas de um peixe com jutsu medicinal. — Sacudiu os ombros tentando parecer espontânea, mas seu movimento foi muito brusco e ela quase derrubou o abajur. — Kakashi-sensei! Nossa, você tá... Hurf! — Jogou o corpo para frente, escorando a cabeça na porta do armário ao lado do espelho, estava péssimo. Por que não conseguia soar natural? Até parece que estava fazendo algo demais, algo fora do normal.

— Gostei mais do segundo, parecia alguém que eu manteria uma boa relação e gosto de saber como anda o seu treinamento. — Ao ouvir aquela voz todos os seus sentidos ficaram alertas. Como? Quando? Onde? — Imagino que seja bem difícil, elas são tão fininhas, as espinhas de peixe. — Girou nos calcanhares, mas na pressa acabou escorregando em uma pasta largada no meio do caos que era o seu quarto.

Não chegou a cair, apenas se desiquilibrar. Recuperou-se com uma maestria descomunal, passou os dedos pelos cabelos, arrumando-os da melhor forma possível, lembrando-se na mesma hora que usava apenas uma regata branca sem protetores para os seios ou sutiã. Tossiu, cruzando os braços em frente ao corpo.

Kakashi não prestaria atenção nisso, não é mesmo? Ou prestaria? E se prestasse o que tem? Será que veria algo? Ela tem algo para ver? Abriu um pouco o cerco sobre seus seios para fitar o próprio colo.

— Então, por que da prática? — Kakashi estava sentado na poltrona ao lado da janela, totalmente confortável. Fechou o muro em frente ao corpo.

— O que você está fazendo no meu quarto? — Acomodou-se com mais gosto na poltrona, sem desviar o olhar. Sakura tinha certeza que por embaixo da mascara estava dando um sorrisinho bem matreiro.

Retribuindo a visita. — Tamborilou os dedos na lateral de sua costela, ainda com os braços cruzados em frente ao corpo, se sentia estupida em pé, parada no meio do quarto, mas mesmo assim não quis mudar sua posição.

— Você não estava em casa quando eu o visitei.

— Ok. Lembrar-me-ei disso na próxima vez. — Estava pronta para refutar a fala dele, mas naquele instante Kakashi pareceu perceber, junto com ela, o que havia em cima de sua cômoda, ao lado dele. Era o casaco laranja berrante de Naruto que ela tinha surrupiado assim como o livro.

No caso de Naruto, a invasão foi mais do que benéfica. A sujeira que encontrou naquele apartamento era tremenda, bem capaz de uma superbactéria nascesse naquele ambiente e infectasse toda a Vila. Seu amigo ficaria surpreso quando voltasse e se deparasse com tudo limpo e arrumado.

Kakashi pegou a peça, girando-a entre seus dedos, observando com certa nostalgia o antigo casaco de um dos seus alunos. Provavelmente não cabia mais nele, mas talvez ainda servisse em Sakura e o cheiro dela era claro e cristalino naquela roupa.

— Talvez seja mais fácil e menos doloroso enviar uma carta do que ficar apenas esperando por notícias. Sabe que Naruto não tem cabeça para essas coisas. — Deu de ombros, deixando os braços caírem molemente junto a lateral de seu corpo e então jogou-se na cama fitando os pontos luminosos no teto.

— Como eu enviaria uma carta para alguém que eu não sei onde está, Kakashi-sensei? — Ouviu o ranger da velha poltrona quando ele se ergueu e logo em seguida um corpo caia ao lado do seu. As pernas de Kakashi estavam na direção de seu rosto, ambos observavam o teto pintado de azul escuro e cheio de pontinhos que pareciam estrelas desregulares.

— Primeiro pare de me chamar de sensei, não o sou mais. E segundo, você não sabe, mas tem quem saiba. Escreva e me entregue que eu faço o resto. — Após essas palavras, caíram em um silêncio confortável: Kakashi focado nas estrelas, Sakura no que escreveria para o seu melhor amigo.

A mão enluvada de Kakashi estava próxima a de Sakura e às vezes, por breves instantes, elas se esbarravam e por alguma razão uma vontade nova e inesperada surgia. Um desejo insano de estender seus dedos e sentir a textura da pele dele.

— Por que tem um céu no teto do seu quarto?

— Eu gosto da noite. É escura, é sombria, é... — sufocou o resto do que iria dizer, remexendo-se desconcertada. — As estrelas me acalmam. — Kakashi pareceu incomodado por algo também e se ergueu, dando um leve tapinha na capa de seu livro, fitando o rosto alvo de sua aluna. Ela tinha arranjado um jeito de guardar todos em seu quarto.

— Bem, pense no que eu disse e escreva. — Virou o rosto deparando-se com o olhar de Kakashi tão intenso que mesmo coberta se sentiu nua, e para sua surpresa não desejou se cobrir. — Até a próxima.

— Não invada mais meu quarto! — Demorou demais para responder e quando o fez já estava sozinha outra vez.

Puxou um bloco de anotações e uma caneta de seu criado mudo, apoiou-se no travesseiro, deitando de bruços e fitou o papel em branco por um tempo. Não tinha pensado em fazer isso antes e agora parecia que tinha tanta coisa a dizer que não conseguia escolher uma.

Querido Naruto,

Adorado Naruto,

Prezado Naruto,

Peste dos Infernos nominada Naruto,

Olá, Naruto,

Naruto,

O dia está bom. Meu treino vai bem. O que tem feito? Eu

Fitou as palavras vazias e anuiu, deitando a cabeça ao lado do bloco. Duvidava que Naruto se interessasse em saber o que tinha praticado de ninjutsu médico, ou quais as últimas novidades no meio dos antídotos. Poderia contar sobre as pessoas da Vila, mas parecia bobo e ele não ligaria para isso também.

Estava morrendo de saudades e isso deveria servir de inspiração, mas ao que tudo indicava, não era bem assim que funcionava. Talvez fossem os três anos que criaram uma barreira ou receio, mas parecia que nada era bom o suficiente para ser compartilhado.

Eu peguei o Icha Icha e, Kakashi-sensei me pegou no meio da leitura. Agora não consigo mais olhar para ele sem me sentir estranha. E acho que ele também está me olhando estranho...

Riscou a frase antes de terminá-la. As palavras saíram sem ela perceber, mas assim que percebeu o que estava escrevendo, descartou. Não poderia enviar aquilo a Naruto, de forma alguma. Fitou a poltrona que há poucos minutos tinha abrigado seu ex-sensei.

E acho que ele também está me olhando estranho.

Amassou o papel, jogando-o em cima da cômoda. Tirou tudo que estava largado em cima da cama, puxou a coberta e se cobriu por inteiro, desejando que o sono viesse assim que fechasse os olhos e nenhum pensamento impróprio a tomasse.

.


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Era curioso como a intimidade funcionava.

Entre uma invasão e outra em seu quarto, onde por vezes Kakashi apenas ocupava uma poltrona e lia seus contos infames, Sakura tomou coragem para fazer a mesma coisa. Sua primeira invadida, com ele presente, foi usando a janela da sala, ele estava na cozinha preparando um chá, apenas a olhou e pegou outro saquinho de chá de no pote. A segunda vez ocorreu depois de um exaustivo treino com Tsunade, lhe ocorreu a ideia de que não seria ruim ficar por lá um tempo, no entanto todas as janelas estavam muito bem fechadas.

Chegou a cogitar que ele podia não estar em casa, mas isso não era impedimento, um dia tinha voltado do hospital e tinha um bilhete dele dizendo que tinha comido sua caixa de biscoitos. Correu para a escada de incêndios, escorando-se em seu corrimão para alcançar o basculante. Enfiou primeiro uma das pernas, abaixando o tronco e passando pela estreita abertura; quando estava com metade do corpo para dentro o notou parado ao lado da pilastra na cozinha.

— Não sabia que era tão elástica. Bom. — Tentou parecer impassível, mas sabia que seu rosto corado a entregava, continuou a sua invasão e ele saiu da sala. Ao pisar no chão parou, perguntando-se se as janelas teriam permanecido fechadas desde a última vez que tinha entrado ali.

A semana do basculante foi seguida de diversos comentários sobre a sua elasticidade. Da terceira em diante não houve mais obstáculos ou comentários mordazes, as janelas permaneceram abertas e ela não conseguia usar a porta, que de alguma forma parecia quebrar o encanto. Entre só entrar, sentar e conversar, começaram a ocorrer lanches, e algumas vezes até mesmo almoços, que ela trazia. Às vezes até comia sozinha, deixando a porção dele guardada.

Kakashi sempre levava empanados quando retribuía as visitas e teve uma vez que estava bebendo algo de coco dado por Genma que tinha forte cheiro de álcool. Ela provou só um pouco, mas que fora o suficiente para queimar sua garganta e deixar sua boca com aquele gosto por horas.

A necessidade de conversar sempre era inexistente entre eles, pois apreciavam apenas a companhia um do outro. Por vocês a conversa morria em algum tópico e nenhum dos dois se dava ao trabalho em puxar outro assunto, ou ver necessidade nisso. Em outros tempos morreria de vergonha de estar ali, agora parecia quase um absurdo não ter feito tudo isso antes.

— Por que você quase não tem móveis e itens decorativos? — A sala era bem austera, tinha a estante dos livros, uma mesa de centro, um sofá de dois acentos que eles ocupavam e mais duas poltronas. Tinha uma luminária no espaço atrás deles e uma mesa de jantar para quatro pessoas, com um quadro de um cachorro solitário na parede.

— Tem o essencial, é só o que basta. — Ela descordava, mas ficou quieta. Seu antebraço estava colado ao dele e isso era outra coisa que tinha mudado. Eles viviam se tocando, não se tocando propriamente dizendo, mas se esbarrando e relaxando.

Joelho contra joelho em baixo da mesa, uma mão que escorava em outra mão, um ombro, um braço e uma vez uma cabeça repousada sobre um ombro largo. Uma tarde ela ficou contando os calos que ele tinha na mão e ele não se importou que os dedos dela ficassem deslizando de uma ponta a outra e ela só o largou quando sua mente viajou de encontro a um desejo de querer ser tocada também.

Kakashi se mexeu e ela desencostou levando a mão à tigela, pegando uma das rodelas de laranja que tinha ali. Com maestria, ele tinha cortado em gomos, mas ela ainda preferia chupar a comê-la por inteiro. Levou o pedaço de fruta a boca, sugando o sumo e fitando com atenção a estante om os vários exemplas de Icha Icha. Laranja lhe pareceu uma fruta erótica, girou o novo gomo entre seus dedos.

Morder, chupar e puxar.

Olha o que ela andava pensando. Será que era assim que Jiraya buscava inspiração? Em tudo e qualquer coisa? Encostou o novo gomo a boca, não tinha como ver a forma que Kakashi chupava uma laranja, ele poderia só deslizar e sugar, como poderia morder... Por um momento pensou ter sentido uma respiração próxima ao seu ouvido, mordeu a fruta e o suco escorreu pelo seu queixo.

Virou a cabeça abruptamente, o rosto dele não estava próximo, não tinha como ter sentido algo e ele tampouco parecia ter mudado de posição para disfarçar. Deparou-se com seu olhar meticuloso sobre si, a mão dele se ergueu em sua direção e com tamanha deliberação limpou o queixo delicado, subindo o polegar para os lábios rosados arrastando-o por toda a sua extremidade.

O coração de Sakura pula em seu peito e cai sobre o ponto onde a boca dele deveria estar e estava, porém coberta.

Coberta.

Se ela pedisse que ele tirasse, será que o faria? Mas por que faria? Pensamento bobo, não tinha razão para ele tomar tal atitude. Não tinha com o que barganhar, ou... Manteve seu olhar fixo no ponto entre o queixo e o nariz tentando reconhecer qualquer mínimo contorno que pudesse ter. Sua mão cravada no braço do sofá. Desviou o olhar quando pareceu que de alguma forma seu olhar era indecente, tão indecente quanto seus pensamentos. Afundou em seu canto, não deveria pensar essas coisas.

— Como vai a carta para Naruto? — Deu de ombros.

— Bem, ela vai indo...

.

.

Continua..


Glossário:

Icha Icha Violence* é um dos livros escritos pelo Jiraya mesmo, ele é real e existe dentro do universo de Naruto é o "Amassos Violentos", no entanto o conteúdo não é conhecido e qualquer outro titulo citado na história foi de minha criação.

onsen*são as águas termais japonesas, lugares calmos e pacatos, para os japoneses constantemente relacionados a um recanto, uma fuga da civilização.

Nota:

Na configuração do word todas aquelas vezes que ela tentava escrever a carta, a maneira de nomea-lo ela riscava o nome, só que na formatação do não tem essa opção, sorry...

E então, Lua, como estamos? Pronta para mais? kkkk