Crescendo com a Dor

"No verão seguinte à morte de Sirius, Harry é submetido a um terrível abuso por parte dos Dursley, o que o deixa quebrado. Snape tentará ajudá-lo e descobrirá que a chave para fazê-lo é Draco Malfoy."

Fanfiction de SensiblyTainted. Tradução autorizada pela autora.

Nota da Tradutora em português, Madas.

Bem, cá estou com mais uma tradução autorizada para vocês.

Dessa vez, é uma Drarry muito bem escrita e finalizada em 34 capítulos.

Preciso agradecer aqui à Dulzura Letal, pois foi ela quem traduziu a original em inglês para o espanhol e, muito gentilmente, permitiu que eu usasse sua tradução para fazer a minha. Caso queiram ler em espanhol, procurem pela fanfiction "Creciendo com dolor".

Confesso que não sou do tipo que derruba lágrimas lendo histórias, mas essa daqui conseguiu essa façanha! Foi a primeira vez que li um enredo onde o estupro tem consequências inimagináveis para um mago. Enfim, sem mais spoilers, recomendo a leitura!

No mais, sugestões, críticas e afins serão aceitos.

Espero que gostem.

Boa leitura!

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Capítulo I

Draco estava em seu quarto em Malfoy Manor. O verão veio e se foi; e em algumas horas pegaria o trem para Hogwarts. Parado sozinho, na varanda conectada à sua sala de estar, enclinou-se pesadamente sobre a grade de pedra. Estava exausto. Sua realidade havia sido destruída completamente, destroçada em milhões de pedaços. Ele havia tentado por todo o verão reunir alguns e agora estava relativamente inteiro.

Jogou sua cabeça para trás, seus cansados olhos cinzas examinaram o céu nebuloso. Seu cabelo loiro, quase branco, agitou-se ao seu redor, uma mecha sedosa lhe acariciando a bochecha. Seu corpo ficou tenso; até mesmo seu cabelo que lhe lembrava de tudo. Não podia fugir.

Draco suspirou e deixou que sua cabeça voltasse a sua posição normal, seu olhar passeou por sua propriedade mais uma vez. Não. Não podia fugir. Ele era o Senhor Malfoy, herdeiro da maior fortuna do Mundo Mágico, diretor de todas os investimentos e ativos dos Malfoy; e logo seria um estudante do sexto ano de Hogwarts, detentor de uma das mais obsuras reputações (excetuando-se a do Senhor das Trevas).

Desde que seu pai fora preso no Departamento de Mistérios e enviado à Azkaban, o sobrenome Malfoy havia caído sobre seus ombros como uma tonelada de tijolos. Ele havia ficado furioso, queria seu pai de volta. Não queria tomar para si as responsabilidades da família, ainda não; não queria perder o respeito e o amor que tinha por seu pai, aceitando que ele estava numa das piores prisões do planeta. Queria culpar ao maldito Harry Potter, queria maté-lo por destruir sua família. Mas, então sua mãe, aquela mulher estúpida e dócil, despertou rugindo e triturando todas suas reações infantis.

Lembrava-se de sua mãe como a bela e amorosa mulher de quando era pequeno. Em seus joelhos aprendeu a ler e a escrever, aprendeu sobre costumes aristocráticos, política e correções; havia celebrado sua magia como criança.

Seu pai havia estado ausente. Quando Draco o via, seu pai se mostrava sério, quase mal-humorado – agora que se via forçado a encarar a verdade, podia reconhecê-lo. Mas ele havia sido feliz com sua mãe.

Tudo mudou quando ele completou dez anos. O homes que havia admirado desde sempre se meteu em sua vida. Lucius lhe dava sorrisos elogiosos quando defendia os valores dos Malfoy e lhe mostrava uma mão pesada quando lhe decepcionava. Sua mãe foi deixada de lado. Se retirou e se converteu em uma boneca silenciosa, como demandava Lucius, o aristocráta, sangue puro.

Draco percebeu, mas não se importou; tinha a atenção de seu pai, que estava fazendo dele um homem. Não importava que Lucius contradissesse tudo o que sua mãe lhe havia ensinado; Draco estava orgulhoso de seguir os passos de seu pai. Se sentia importante quando lhe era permitido assistir as reuniões de negócios; via a servidão de todos com seu pai e inflava o peito. Luciu o fez sentir talentoso e especial quando lhe ensinou magia antes de ele ir ao colégio. E depois de um ano sob seus cuidados, foi a Hogwarts como um valentão arrogante, vomitando orgulhoso as palavras de seu pai, o Comensal da Morte.

Um sorriso amargo apareceu em seus lábios. Tinha sido tão inocente. Tão criança. Havi continuado sendo uma criança até quatro meses depois de seu aniversário de dezesseis anos, quando lhe informaram que seu endeusado pai estava preso. Podia lembrar-se claramente da incredulidades, da ira. Havia deixado a escola estando irado, sem nem esperar o trem. Havia chegado em sua casa gritando à sua mãe que lhe trouxesse seus advogados, para que seu pai regressasse. Lembrava-se de ter chutado o elfo que lhe perguntou se precisava de algo; lembrava-se de sua justificada irritação e o orgulho de saber que estava manejando bem as coisas. Então, sua mãe desceu.

Estava vestida esplendidamente, em um simples vestido de seda branca e seus olhos cintilavam. Havia acordado, outra vez. Ele sorriu, sentindo um grande alívia ao vê-la; havia relaxado, pensando que ela se encarregaria de tudo, consertaria tudo. Nunca suspeitou que sua bela e tão cuidada mão iria dar-lhe semelhante tapa. Em choque, a olhou fixamente nos olhos. Ela lhe devolveu o olhar, com seus olhos cinzas, aqueles que ele havia herdado, mas calmos e determinados. Lembrava-se perfeitamente do que ela lhe havia dito.

- Está na hora de crescer, pequeno dragão. Está na hora de deixar de mentir para si mesmo, seguindo cegamente o que os outros te dizem. Você tem que tomar decisões, agora. Sua vida é frágil e está em suas mãos, somente em suas mãos. Ninguém pode fazer isso por você. Mas primeiro você deve entender a realidade das coisas. Venha comigo. Há coisas que você deve ver.

Ele não entendia, mas sentiu que ela falava sério. O medo se instalou em seu estômago, dizendo-lhe que nada seria mais o mesmo a partir dali. Poderia tê-la ignorado, dar a volta e sair em busca dos advogados, mas não o fez. Caminhou atrás de sua mãe, até o sótão, até as masmorras. Ele sabia que seu pai descia ali, as vezes, para fazer negócios, mas ele nunca o havia deixado fazê-lo. Seguiu sua mãr, e ele reproduziu para ele as lembranças do lugar, gravados magicamente.

Viu seu pai torturando seres humanos de todos os sexos e idades, centenas de vítimas sofrendo sob sua mão divertida. As vezes para conseguir coisas, as vezes para castigar aqueles que o injustiçaram, as vezes por prazer. Algumas vezes a vítima morria, algumas vezes não; mas sempre gritava, sempre sangrava. Draco sabia que seu pai usava magia negra, sabia que infringia medo no coração de muitos, mas nunca havia entendido o motivo. Não havia se permitido conhecer a verdade, não havia se permitido passar além do que ele lhe apresentava. Sua mãe o forçou a ver a verdade nua e crua sobre seu pai.

Draco vomitou e chorou. Sua mãe não disse nada; nem o confortou nem o fez sentir-se fraco ou estúpido. Só o olhou com olhos compreensivos, enquanto ele se queimava na vergonha e na confusão. Mal podia suportar o que estava experimentando, havia sido formçado a entrar em um problema mental.

Sua mãe o pegou pela mão e o tirou daquele lugar. Com a esfera de cristal das lembranças de Lucius firmemente segura por ela; o levou até o Ministério e até o Departamente de Aurores. Lá, entregou a esfera como prova contra seu marido. Pediu garantias de que ele nunca sairia da prisão. Draco esteve ali, sem reação enquanto sua mãe condenava seu pai, e não disse nada, nem para apoiá-la e nem para defendê-la.

Depois disso, ela o conduziu a uma luxuosa pousada perto do Beco Diagonal e Knockturn, alugou um quarto e chamou todos os representantes e mediadores de negócios dos Malfoy, para que lhe explicassem em detalhe o que significava cada investimento e cada negócio. Draco passou dias ali, aprendendo muito. Seu pai tinha investido quase todo o dinheiro; até em negócios trouxas. Comerciava com escrevos, drogas, empréstimos, contratava gente para conseguir elementos estranhos que vendia com benefícios substanciais. Alguns negócios eram legítimos, outros eram sujos e alguns eram negros. Sua mãe lhe deu completo poder de decisão.

- Me assegurei de tirar Lucius do meio. O que acontecerá agora é sua decisão, meu dragão, você terá de manejar – lhe disse.

Ele passou quase uma senana pensando, fazendo frente a tudo, crescendo. Logo decidiu continuar com os negócios legais, e um pouco dos suspeitos; mas deixou as atividades ilegais.

Fez cópias de todos os documentos dos negócios obscuros e os entregou como evidencia às Forças Mágicas Legais Especiais, como provas de reforço para manter Lucius em Azkaban.

Sua mãe baixou a cabeça para ele, reconhecendo a batalha que havia ganhado; e esteve ao seu lado para ajudá-lo a brigar, mantendo o Ministério longe de sua herança. Soube que enquanto ele travava sua batalha interna com seu pai e com ele mesmo, sua mãe ganhava tempo demorando as tentativas do Ministério de contabilizar os ativos dos Malfoy.

Fou uma batalha dura que lhe tomou quase todo o verão. Foi interrogado por Aurores várias vezes para deixar claro que ele não tinha culpa dos crimes de seu pai; ele era inocente. Não havia feito nada imperdoável. Potter havia mandado seu pai para a prisão antes de que Draco cruzasse a linha para passar de valentão à Comensal da Morte.

Se não passava as noites nas mãos do Ministério, as passava sozinho no quarto principal, aquele que havia sido de seus pais.

Sua mãe esteve lá, mas nunca se ofereceu para fazer alguma coisa em seu lugar. Seu padrinho também esteve com ele. Severus respondeu muitas perguntas sobre ser um Comensal da Morte e sobre o Senhor das Trevas.

Sverus não suavizou a verdade, lhe disse tudo, de todos os ângulos, se fez claro, completo, agudo, doloroso. Passaram madrugadas a fio discutindo a guerra e a política, passadas e presentes.

Nem tudo foi amadurecimento e crescimento. Houveram noites em que Dracco se embebedou, gritou e desvairou; noites em que se sentou sem reação, em silêncio. Passou por ataques onde dormiu durante dias ou foi incapaz de dormir por toda a semana. Foi forçado a ver o mundo como ele realmente era, com os jogos, manipulações, sofrimentos e prazeres. Teve que crescer, teve que tomar decisões. E o fez. Escolheu não abraçar a escuridão; mas tampouco escolheu ignorá-la. Decidiu batalhar contra o Senhor das Trevas, mas ignorou a oferta de Dumbledore de entrar para a Ordem em troca de ser um espião.

Não podia aceitar esse cargo; no lugar disso, lutaria contra o Senhor das Trevas com seus próprios meios, sob o comando de ninguém. Escolheu saber suas crenças, mostrar no colégio e na sociedade mágica que há uma melhor melhor maneira de se conseguir metas, sem assassinatos, sem torturar, nem escravidão. Decidiu tomar a longa e difícil tarefa de limpar o nome da família Malfoy.

O verão não o havia suavizado, o havia endurecido; era mais frio, mais sério. Seus sorrisos eram amargos, cínicos.

Três meses haviam se convertido em uma vida. Mas nem todas as mudanças foram puramente internas; também havia crescido fisicamente. Media uns seis pés (N/T: mais ou menos 1.80m), seu cabelo loiro alcançava seus ombros. A tradição dizia que o senhor de uma família de sangue-puro deveria ter seu cabelo até a metade das costar, e o seu lentamente ia alcançando esse estilo.

Seus traços haviam perdido completamente a redondez da infância, eram mais finos e definidos. As pessoas ainda o confundiam com Lucius, mas se olhassem além do óbvio, veriam que ele havia herdado os traços de sua mãe. Sua estrutura de Apanhador havia engrossado, continuava sendo magro, mas seus ombros era mais largos. Usava em sua mão direita o anel com o escudo Malfoy.

Olhando-o agora, Draco via o anel de prata com um diamante encrustrado no centro, com pequenas runas rodeando a jóia e dois escudos Malfoy talhados, um em cada lado. Os Aurores o haviam tirado do dedo de Lucius antes de mandá-lo para Azkaban e haviam dado para ele, há uma semana, quando o haviam reconhecido como o herdeiro legal da Casa Malfoy; livre de acusações, com o direito natural de dirigir sua família.

Draco estava orgulhoso de sua ascendência, acreditava que era parte de uma elite, pelos feitos de seus ancestrais e, agora, pelos próprios. Ainda defendia os valores morais da Sonserina, os que não haviam sido manchados pela corrupção.

Chamaram à porta. Draco deixou a varanda e cruzou a sala de estar, prendendo o cabelo à nuca, enquanto caminhava. Usava calças negras, uma camisa de seda negra por fora, caindo mais abaixo da cintura; as mangas enroladas casualmente até os cotovelos. Em seu pescoço se via um cordão negro, com um pingente prateado do tamanho de um polegar sobre o pé de sua garganta. Parecia uma runa celta, mas olhando de perto se distinguiam a forma de um dragão.

Abriu a porta e viu um elfo doméstico.

- Senhor Amo, sua mãe está esperando para te ver partir para o colégio.

- Obrigado. Já vou descer.

O elfo desapareceu e Draco fechou a porta. Em seu quarto, arrumou as mangas da camisa e as abotoou; vestiu a túnica negra do colégio, deixando-a aberta; se assegurou de que tinha tudo em seu malão; as três corujas em suas gaiolas. Satisfeito e com tudo pronto, desceu.

- Mãe – se inclinou ante ela e se adiantou, oferencendo-lhe um abraço -. Está de saída?

- Sim – ela assentiu -. Tenho compromissos sociais com várias das mães de seus companheiros de classe.

Draco concordou com um movimento; sua mãe havia estado falando com muitos pais dos Sonserinos, tentando recrutar as mulheres da alta sociedade do Mundo Mágico, levando-as a um terreno neutro. A maior parte do verão havia sido dedicada a ter certeza que Draco se recuperara; e esta semana havia se voltado à sua paixão original, tralhando para o periódico "Coração de Bruxa".

- Boa sorte, vou lhe escrever– Draco sorriu, conduzindo-a pela mão até a lareira.

- Eu também irei lhe escrever. Adeus, meu dragão. Se precisar de alguma coisa...

- Eu sei – lhe deu um beijo na bochecha.

- Tome cuidado, querido.

Ele assentiu e ela desapareceu. Já sem motivos para alongar o assunto, Draco pegou Pó de Flu e viajou até a taverna perto da estação de King's Cross.

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Hermione e Ron correram para subir ao trem; iam de mãos daadas, mas sua atenção estava em outra direção: ansiosos por ver seu amigo. Dumbledore lhe havia proibido de escrever para Harry e eles estavam preocupados. Sabiam quanto Sirius havia significado para ele e que perdê-lo havia sido um golpe muito duro, piorando a situação o fato de que ele havia visto Sirius cair através do véu. Eles haviam feito o possível para ajjudá-lo, mas Harry havia estado irritado e aflito demais para aceitar o que lhe ofereciam.

Viver com os Dursley era difícil a maior parte do tempo, e tinham certeza de que Harry se encontraria em um estado lamentável. Haviam dito isso a Dumbledore, e sem se importar com o quanto eles o suplicavam, ele não cedeu. Hermione só esperava que, quando contasse a Harry que ela e Ron estavam namorando, ele não se sentisse machucado. Já havia feito Ron lhe prometer que não iam afastar seu amigo ou ignorá-lo; estavam de acordo.

- Vamos, Ron – ela apressou seu namorado.

- Estou indo, Hermione – disse ele, abrindo caminho entre os estudantes que enchiam o trem.

Ele puxou Hermione até chegarem ao último compartimento, aquele que haviam tomado como seus desde o primeiro ano em Hogwarts. A porta estava fechada. Ron olhou para Hermione, viu preocupação e emoção em seus olhos castanhos.

- Deixe-me entrar primeiro – ela pediu e ele concordou.

Hermione desliou a porta e entrou, Ron em seu encalço. Harry estava sentado em um canto, olhando pela janela. Ela deu um grito afogado e cobriu a boca com as mãos. Ron ficou paralizado ao seu lado.

As roupas de Harry estavam desgarradas, sujas e eram dez vezes maiores que ele. As mangas de sua camiseta alcançavam os cotovelos, o que expunham dos braços os hematomas dispersos e seus pulsos estavam avermelhados como se tivessem estado presos com cordas. Seu pescolo estava coberto de hematomas e marcas.

- Harry – chamou Hermione, com a voz trêmula e os olhos cheios de lágrimas.

Seu amigo girou a cabeça e ela afogou um soluço em sua garganta. Havia cortes em suas sobrancelhas e mais abaixo – supôs que se deviam aos óculos, que ele não usava. Uma bochecha estava inchada e machucada, seu lábio inferior com uma ferida seca. Seu cabelo grasoso e mustio; mas foram seus olhos, vazios e apagados os que a golpearam com força. Não havia nada neles; no lugar do verde esmeralda, vivaz, estava uma cor parecida com um limão; e não mostravam que havia reconhecido eles.

- Merlin! – Rom afogou a exclamação. – Vou buscar ajuda.

Hermione não disse nada, mas quando Ron se retirou, teve que se recompor para manter o equilíbrio. Acercou-se dele e lhe tomou a mão, chamando pelo seu nome, com doçura. Harry parpadeó, seus olhos a seguindo com certa demora, mas não lhe respondeu. Quando a mão dela o tocou, ele reagiu violentamente. Lhe deu um empurrão, se encolheu no assento, abrindo muito seus olhos.

- Não me toque! - gritou roucamente.

Hermione se retirou rapidamente, chorando, murmurou palavras doces, assegurando que ele ficaria bem, que agora estava a salvo. Lentamente ele relaxou, mas seus olhos permaneceram vazios. Não respondeu nenhuma de suas perguntas, não disse nada. Ela nem sequer tinha certeza de que ele a estava entendendo.

- Harry, o que fizeram com você? – ela mordeu seu lábio com força.

Ron voltou, parecendo furioso, mas teve o cuidado de não levantar a voz para não assustar seu amigo. Ajudou Hermione a ficar em pé e sentou em frente a Harry, com ela a seu lado, quase em colo.

- O que te falaram? – perguntou ela, debilmente.

- Não há ninguém a bordo que possa Aparatar em Hogwarts, então vamos ter que esperar chegarmos lá. Dumbledore subirá a bordo com uma chave de portal para levá-lo a enfermaria – disse, o mais calmo que conseguiu. – Então, terá que esperar por horar até que seja atendido.

- Nunca devíamos tê-lo deixado com os Dursley – gemeu Hermione -. Sabíamos que são uns bastardos. Devíamos ter contado para alguém, explicar que estavam maltratando o Harry.

- Dumbledore sabia – espetou Ron, mas se suavizou quando Harry sobressaltou. – Quando Harry foi para nossa casa no verão, depois que o resgatamos, mamãe viu o quão mal alimentado ele estava, o quão machucado, e brigou com o Diretor. Mas ele insistiu que aquele era o único lugar onde Harry estava a salvo.

- Como pode fazer isso? – perguntou Hermione com impotencia.

- Não sei, Mione – Ron suspirou e a abraçou. – Não sei.

- Acha que Harry ficará bem? Ele não deixou que eu o tocasse, se encolheu para trás e gritou comigo.

Ron ponderou, seu abraço se endureceu al redor de sua namorada antes de responder.

- Claro que sim. É o Harry. Além disso, nós estaremos ao seu lado para apoiá-lo.

O restante da viajem passou em silêncio. Ocasionalmente, Hermione começava a chorar outra vez e Ron a trazia para ele. Harry olhava fixamente através da janela com seus olhos mustios, sem dizer nada. Quando lhe falavam, girava a cabeça para olhá-los, mas nunca respondia. Finalmente chegaram em Hogsmead e o trem começou a se esvaziar. Hermione se levantou, escondendo suas lágrimas, enquanto o rosto de Ron se endureceu com a ira. Os minutos passaram, o trem ficou em silêncio. Escutaram quando alguém subia a bordo e caminhava até seu compartimento, então os dois se colocaram de pé. Dumbledore entrou. Seu rosto envelhecido, seus olhos cheios de pena.

- Querido Harry, está em sua casa. Venha comigo para a enfermaria.

Hermione e Ron não disseram nada, Harry se ajeitou, mas não se aproximou. O Diretor quis tocá-lo, mas ele lhe deu um empurrão e se afastou.

- Ele não deixa que ninguém o toque – explicou Hermione.

- Não acho que ele goste que os outros o vejam nesse estado – disse Dumbledore com tristeza -. Tentarei ser rápido.

Se adiantou e ignorou Harry quando este tentou se libertar, gritando aterrorizado. Hermione e Ron não pensaram, reagiram. Pegaram o Diretor pela parte de trás de sua túnica, para que soltasse seu amigo, mas ao invés disso, a chava do portal foi ativada e os quatro caíram na ala da enfermaria. Harry continuava lutando, mesmo que não tão violentamente. A chave de portal havia exigido muito dele; soluçava, suplicando para que o soltassem.

- Não me toquem... Deixe-me! Por favor... Não! – gritava e lutava.

- Pomfrey, me ajude a controlá-lo – Dumbledore ordenou forcejando-o até uma cama.

- Não! – Hermione gritou aterrorizada – Ele ficará calmo se o soltarem!

- Deixem ele! – Ron gritou furioso, puxando o velho mago.

Dumbledore olhou os dois Grifinórios consternados e fez o que lhe pediam. Soltou Harry e se afastou; o garoto ficou em silêncio. Sua figura magra tremia e sacudia enquanto tentava recuperar a respiração. Eventualmente se acalmou e o tremor amenizou. Pomfrey estava anonadada, olhando Harry enquanto se recompunha.

- Harry, pode ir até a cama que está atrás de você? – Hermione perguntou gentilmente.

Ele girou e obdeceu sem hesitar, Pomfrey saiu de seu estupor e começou a examiná-lo sem que Harry reagisse. Com um suspiro, pediu que ele se deitasse e ele o fez.

- Ele faz o que lhe pedem? – Dumbledore perguntou com o cenho franzido.

- Creio que nos escuta de qualquer forma – disse Hermione -, acho que está em choque, fechado em sua própria mente. Não fala com ninguém, mas faz o que lhe pedem. Quanto mais tempo ficar assim é pior. Devemos tirá-lo desse estado!

- Faremos isso, senhorita Granger – lhe assegurou o Diretor.

- Como pode deixá-lo com os Dursley? – Ron gritou. – Você sabia que eles eram abusivos, nós dissemos e você insistiu em enviá-lo para lá outr vez! Você sabia o quão vulnerável ele estava depois da morte do Sirius, nos proibiu de falar com ele e ainda o mandou para lá e deixou que os machucassem!

- Sou só um homem, senhor Weasley – disse um quebrado Dumbledore -, não tinha ideia que o abuso era dessa natureza. Pensei que era negligência e violência verbal. Esse ambiente era preferível comparado com a morte.

- Às vezes as palavras podem ser mais prejudiciais para a saúde que a violência física – disse uma voz sedosa vinda de trás do grupo. Todos se voltaram para ver o professor Snape parado perto da porta da enfermaria. Havia estado ali desde que chegaram, e ainda estado processando tudo o que havia ouvido e presenciado.

Seu rosto não refletia nada e os dois Grifinórios o olhavam assombrados. Eles estavam acostumados a vê-lo com expressões irritadas, de mofa e desgosto. Olhando-o agora, sem sua máscara, era perturbador. Dumbledore não parecia surpreendido e suspirou com algo parecido com alívio.

- Severus, meu garoto...

- Você nos reportava sobre Potter dizendo que o mal-criavam. Que o serviam.

- O Ministério o teria tirado de lá – explicou Dumbledore.

- Talvez tivessem razão para isso – disse Severus, caminhando até eles. Olhou o garoto que jazia silencioso na cama. As feridas se fechando enquanto Pomfrey trabalhava nelas. – Deveria ter dito a verdade para a Ordem. Poderíamos tê-lo apoiado, tê-lo ajudado e apagado todo o dano a que ele era submetido, ao invés de nos deixar na ignorância, causando mais danos sem saber.

- Sem saber! – Ron deu uma risada, com ira nos olhos. – Você sabia muito bem que estava ferindo Harry, e nunca se deteve, sempre o machucou!

- Ron – Hermione colocou uma mão em seu braço e ele se tranquilizou, ainda furioso.

- Minhas ações não fizeram outra coisa que não irritar um garoto arrogante. Como fazem com vocês. Nunca tive intenção de provocar-lhe danos emocionais. Sou um espião. Devo ser aspero com o salvador do Mundo Mágico. Em minha Casa há filhos de Comensais da Morte que informam seus pais. Tinha que manter minha posição se minha posição era a de salvar vidas. Mas eu teria dito isso ao senhor Potter. Haveria me aproximado e as coisas tinham sido diferentes se eu soubesse a profundidade dos abusos. E você sabia, Albus.

- Eu pensei que estava tudo bem, que era forte, nunca disse uma só palavra de queixa, nem mostrou nem um sinal de dificuldades sérias.

Hermione suspirou.

- Não, sem sequer nós sabíamos que estava tão mal. Não sabíamos o quão perto estava de se romper, quão frágil estava. A gente supunha algo, mas Harry é muito bom ator e é muito bom escondendo suas debilidades.

Severus a olhava fixamente, com incredulidade. Ron suspirou amargamente.

- Assim é Snape – disse com um sorriso obscuro – ele não é realmente um Grifinório. É um Sonserino.

- Expliquem – Snape ordenou.

- Nem sequer sei se foi de propósito ou não, mas quando Hagrid foi buscá-lo no primeiro ano, contou a Harry sobre seus pai e lhe disse que era um bruxo – começou Hermione. – Harry não sabia de nada disso, pensava que seus pais haviam morrido em um acidente. Pensava que era um fenômeno que fazia acontecer coisas estranhas. Estava feliz porque, por fim, poderia deixar os Dursley e ir para um lugar onde poderia ser normal. Quando ficou sabendo que um feiticeiro obscuro havia assassinado seus pais, e que ele havia destruído o Senhor das Trevas, ficou mudo. Então soube que os magos obscuros haviam saído da Sonserina.

- E conheceu Malfoy – Ron agregou. – Bom, aí suplicou ao Chapéu que o colocasse na Grifinória, quando quis colocá-lo na Sonserina. Não queria desonrar seus pais pertencendo à Casa de seu assassino. Não queria que pensassem que ele era mau, queria ser bom... Queria ser aceito.

- Enfrentou a fama, as manipulações – murmurou Severus – lutava porque estava desesperado.

- Sim, e pela culpa – Hermione começou a chorar outra vez -, nunca falou dessas coisas, nós adivinhamos, juntamos muitas peças dentre as poucas coisas que eles nos contou, mas sabemos que ele pensa que tudo o que aconteceu é sua culpa: cada pessoa que morre nas mãos de Voldemort é por sua culpa, seu padrinho, seus pais, especialmente Cedrico. Acho que teria pensado em suicídio se não fosse pelo sentimento esmagador que DEVE deter Voldemort.

- Eu costumava pensar que lhe agradava a atenção e a fama, - disse Ron lugubremente – mas depois do Torneio me dei conta do que Hermione sempre viu, ele odiava isso. A atenção o incomodava, não tem autoestima, e se sente mais culpado fazendo os demais acreditarem que vale algo que nem ele mesmo acredita que vale.

- Sempre esteve na borda de se quebrar – concordou ela, passando a mão em suas bochechas – mas sempre tem sido forte ao mesmo tempo. Realmente foi feliz aqui, principalmente. Para ele Hogwarts é sua casa. Ele gosta de nós, e de Remus, mas perder o Sirius...

- Nós dissemos para você, dissemos que ele iria precisar de nós – Ron acusou o Diretor.

- Devia tê-los escutado – Dumbledore o olhou nos olhos, atormentado – o Mundo Mágico agora é consciente do regresso de Voldemort, e vão querer colocar as mãos sobre Harry. Os Comensais da Morte o procuram para maté-lo. Não via outra maneira, me dou conta agora de que deveria ter procurado outra opção. Severus, o que podemos fazer?

- Por que está perguntando para ele? – Ron demandou. – Harry não quer nenhuma ajuda que venha dele.

- Severus estudou psicologia extensivamente, em seu treinamento como espião. Ajuda as vítimas dos Comensais da Morte. Sabe como cuidar vítimas de abuso, e o único que conheço que pode curar feridas da mente – disse o Diretor.

Hermione e Ron o olharam boquiabertos.

- Preciso ver o que aconteceu – Severus falou finalmente -, não posso fazer nada sem saber exatamente o que aconteceu, temo agravar a situação se não sei como está mentalmente.

- Posso te substituir... – começou Dumbledore.

- Não, não posso perder aulas ou deixar de dar as boas-vindas aos novos Sonserinos da Casa – interrompeu. – Me assegurarei de viajar a Surrey enquanto todos dormem e vasculharei as memórias da casa.

- Muito bem – assentiu Dumbledore.

- O colocarei para dormir até que estejamos prontos para ajudá-lo – disse Pomfrey e moveu sua varinha. Os olhos de Harry piscaram e se fecharam. – Suas feridas são extensas; será melhor que se curem enquanto ele dorme.

- Ele vai se recuperar? – o Diretor perguntou, temeroso.

- Fisicamente – ela lhe assegurou.

- Faça tudo o que puder – ordenou, e se voltou para os Grifinórios. – Não podemos permitir que o colégio saiba o quão vulnerável é seu estado. Digam em sua Casa que ele está treinando em segredo.

- Seus amigos precisam saber a verdade – argumentou Ron -, ele precisa da gente, e eles têm que saber.

Dumbledore suspirou.

- Contem somente aos que se podem confiar a vida de Harry. Entendem? Aos demais, digam que está em treinamento.

- Sim, senhor – respondeu Hermione, pegando Ron pelo braço.

- Não posso consertar meus erros do passado, mas posso protegê-lo agora.

- Devo ir agora – disse Severus. – Senhorita Granger, Senhor Weasley.

Viram ele indo embora. Dumbledore o seguiu sem dizer mais nada. Hermione e Ron foram até a cama de seu amigo, estiveram ao seu lado por uns minutos, lhe deram um beijo na bochecha, prometendo para ele que voltariam logo e saíram em caminho ao seu Salão Comunal. Harry nem se mexeu, dormindo profundamente, nem nos sonhos conseguiriam chegar até ele.

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N/T:

Bem, é isso! O que acharam? Devo continuar?

Lembrem-se: Review é muito amor!

Até o próximo!

Abraços!