N/A.: Minha intenção inicial era fazer uma Hugo/Roxane, porque eu tenho muita dificuldade em vê-lo com a Lily. Mas a medida que eu fui escrevendo, eu vi que tinha que ser com ela, apesar de continuar não torcendo para esse ship.

A história é um pouquinho autobiográfica, embora não tenha havido nenhum guarda-roupa e eu nunca tenha ido à Toca.

E, não, eu não fiquei com meu primo depois dessa.


Hugo suspirou desanimado.

Seu primeiro final de semana na Toca depois daquele fatídico 1º de setembro não estava sendo como ele imaginara. Se por um lado ele não precisava aturar mais os sermões intermináveis de Rosa, nem os seus discursos sobre Hogwarts, uma História; por outro não tinha ninguém para azucrinar.

Nenhum dos seus primos iria se importar se ele subisse nos galhos mais altos da macieira-brava, ou faria um escândalo se ele roubasse pudim da cozinha; e nenhum deles sabia contar histórias como Rosa, e ela era a única que não ria do seu medo de voar.

Como se não bastasse, chovera o dia inteiro, e ele acabou preso no antigo quarto do seu pai, olhando para os pôsteres descascados das paredes.

Foi bem ali que Lilian e Roxane o encontraram, depois de fugirem das pegadinhas que Fred estava pregando nos adultos lá em baixo.

— É ai que você está! — Ralhou Lily com a voz esganiçada, colocando as mãos nos quadris ameaçadoramente. — Nós passamos o dia inteiro te procurando.

Ele resmungou, virando o rosto.

— Deixa pra lá, Lily — acrescentou Roxane, revirando os olhos. — Ele só está com saudade da Rosa.

As orelhas do garoto coraram enquanto ele dirigia sua melhor cara de malvado à prima mais nova.

— Isso não é verdade!

— É sim! — Retorquiu a garotinha.

— Não importa! — Interrompeu Lily, ignorando solenemente o palavrão lançado por Hugo, e sentando-se ao seu lado na cama. — Nós viemos aqui saber se você quer brincar de esconde-esconde com a gente.

— O que?! Só nós três?

— Tem mais alguém aqui, Hugo? — respondeu mal-humorada. — É claro que somos só nós três.

O garoto fechou a cara novamente, soltando um muxoxo.

— Você podia pelo menos chamar o Fred e a Lucy.

— Fred disse que brincar de esconde-esconde é coisa de criancinha — disse Roxane com a voz enjoada. — Agora que só falta um ano pra ele ir para Hogwarts.

— E Tio Percy já foi embora! — Encerrou Lily de cara amarrada. — Anda Hugo, deixa de ser estraga prazeres!

A contra gosto ele se levantou. Sabia que, quando se tratava de Lily, era melhor aceitar as coisas de uma vez antes que ela ficasse brava. Mas ele se aproveitou das garotas, pedindo para ser o primeiro a procurar.

Assim que elas desapareceram, ele voltou a se jogar na cama, puxando uma velha edição de "Martin Miggs - O trouxa pirado"de uma pilha empoeirada no canto do quarto. Meia hora depois as garotas voltaram a aparecer.

— Achei vocês! — Gritou, ficando de pé num salto.

— Assim não vale. Você nem procurou a gente! — Ralhou Roxane com mau humor.

— Esquece, Rox. Minha vez de procurar — declarou Lily, com os olhos faiscando perigosamente.

Hugo não teve alternativa que não aceitar de vez a brincadeira e, quando a prima encostou-se ao batente da porta para contar, ele resolver se esconder pra valer.

Em menos de cinco minutos Lily o achou no sótão onde antigamente morava um vampiro muito fedorento.

— Achei você!

— Ei! Não vale! Você me viu escondendo aqui! — Reclamou.

A garota se limitou a dar de ombros.

— Você sempre se esconde aqui, Hugo. Ou na cozinha! Você é muito previsível.

Ele fechou a cara, inconformado com a sinceridade da garota.

— Agora é a vez da Rox. Anda logo!

Quando a prima mais nova começou a contar, Hugo sabia que precisava surpreendê-la. Repassou mentalmente todos os seus esconderijos de costume, e decidiu por fim esconder-se em um lugar que nunca se permitiu nem entrar: o quarto da Tia Gina.

Ele sabia muito bem que o quarto de uma garota não era um lugar normal. Era até assustador. Todas as vezes que suas primas dormiam na sua casa, elas saiam do quarto de Rosa dando risadinhas cheias de segredinhos que não pareciam naturais. Por isso ele sempre evitou tais lugares.

Mas agora era questão de honra! Precisava encontrar um lugar tão escondido que as garotas iriam passar dias até achá-lo.

Respirou fundo e entrou no quarto, tentando ignorar os babados nas cortinas e os pôsteres de menina colados às paredes.

Nunca estivera naquele cômodo antes, por isso não sabia que havia tão poucos lugares para escolher. Tentou entrar debaixo da cama, mas não havia espaço. O banheiro contíguo não oferecia muita segurança. Só restava um esconderijo: um imenso guarda-roupa que, não fosse a cor rosa berrante, teria sido a primeira opção de Hugo.

Ele tentou não pensar nas coisas que Tiago e Fred diriam se soubessem que ele estava prestes a se esconder em um lugar como aquele e, apressadamente, abriu a porta, entrando desajeitadamente no móvel. Como resultado, acabou tropeçando e caindo em cima de algo muito macio e perfumado que, ele percebeu meio atrasado, tratava-se da sua prima Lily. Seus lábios se tocaram por uma fração de segundo e Hugo sentiu corar até a raiz dos cabelos, se afastando rapidamente.

O barulho atraiu Roxane, que chegou um minuto depois.

— Vocês estão bem? — Perguntou preocupada.

— Claro — respondeu Lily, sem constrangimento, desviando de Hugo e saindo do guarda-roupa.

— Então, tá com você! — gritou Rox, antes de sair correndo para a escada.

Hugo limpou as vestes, ainda muito corado, saindo com cuidado do imenso móvel cor-de-rosa.

— Lily...

A garota balançou a cabeça com firmeza, interrompendo o primo.

— Esquece isso, Hugo. Eu sei que foi sem querer.

Ele assentiu devagar, evitando olhar para a garota enquanto ela voltava às escadas. O perfume dela permaneceu no quarto, e ele voltou a corar pensando que nunca tinha reparado como ele era tão bom.

É claro, o beijo podia ter sido sem querer, mas, com certeza, ia ser bem difícil de esquecer.