Meet Vanellope

Christopher acordou poucas horas mais tarde, sentindo dores no flanco. Ele estava deitado em algo macio e que exalava um forte cheiro doce. Sua visão não havia se recuperado totalmente e sua cabeça zunia, fazendo-o gemer.

'-Uhn... '

Uma voz feminina pareceu ecoar de uma grande distância:

'-Oh! Olha só quem acordou!'

O lugar era escuro e fazia calor, se parecendo com uma caverna. Ele ouvia borbulhas estourando logo adiante e uma estrutura branca gigantesca era visível, despontando do teto.

'-Hum. ' - fez o agente, pousando a mão na testa de cansaço.

A pessoa caminhou até ele e sentou-se ao seu lado, ajoelhada em uma perna só.

'-Não se preocupe. Este é meu antigo esconderijo. A polícia não tem como nos encontrar aqui.'

Christopher fitou o rosto de seu salvador e viu que se tratava da mesma mulher que o atropelou mais cedo naquele dia. Ela trajava um longo blazer negro que chegava até os joelhos, contendo um cinto muito elegante. Por baixo dele havia um short-saia azul-escuro que ia até pouco acima do joelho. Ela também usava uma meia-calça de tonalidade azul-clara e botas púrpuras de cano curto. Seu longo cabelo moreno estava preso em um rabo de cavalo.

Voltando ao diálogo, ele pensou que ela se referia à polícia de Kostrov. O agente não fazia idéia que havia caído em outro mundo.

'-Graças a deus.' –ele murmurou, aliviado.

A mulher se agachou para ver seu rosto mais de perto.

'-Você não é daqui, né?' –ela indagou com um sorriso maroto.

Percebendo que o "interrogatório" começaria, ele respondeu um curto 'Não' e tateou seu terno em busca de seus pertences.

'-Não se preocupe; não toquei em nada seu. ' - ela comentou, erguendo as mãos para mostrar que era inocente.

E de fato, todo seu equipamento estava intacto e no exato lugar onde ele costumava guardá-lo. Ainda apalpando seu corpo, Christopher tocou em uma superfície macia em cima do machucado.

'-Eu coloquei essa gaze para estancar o sangue. Uma de suas costelas pode ter se quebrado, então... eu não me mexeria muito se fosse você.' –ela sugeriu, afastando-se dele por alguns instantes.

Christopher tentou ficar em posição sentada, fitando os arredores. Sua memória voltava aos poucos e ele se recordou de tudo: a missão de encontrar seu pai, a briga no reator, a queda em um buraco negro...

Vanellope observava-lhe em silêncio. O homem tinha o olhar distante e coçava o queixo. Ela nunca tinha visto alguém vestido daquele jeito, muito menos levando coisas como uma arma e aparelhos eletrônicos. A jovem especulava de qual jogo ele vinha quando finalmente terminou os reparos em sua moto.

'-Está consertada! Nós podemos ir à sede presidencial agora. ' - ela disse, girando uma chave de fenda entre os dedos.

O homem fez menção de se erguer, ao que Vanellope lhe estendeu a mão, mas para sua surpresa, ele recusou. Levantando-se do chão com dificuldade, ele espanou a poeira do terno com as mãos, pôs os óculos escuros e respondeu:

'-Ótimo. Preciso falar com o presidente. O assunto exige urgência. '

A mulher lhe encarou de volta com um olhar de estranhamento:

'-Hã... você já está falando com ela.'

Christopher a encarou de volta, mal disfarçando um ruído de deboche.

'-O que quer dizer?'

A mulher se empertigou e, com orgulho aparente, apontou para os dizeres na plaqueta afixada em seu elegante blazer:

'-Presidente Vanellope Von Schweetz, do País Doce (Candy Country). Somos a nação que deu origem ao jogo Sugar Rush e Sugar Rush 2: Highspeed Drive. É onde você está agora. ' - ela sugeriu, dando a entender que ele havia mudado de jogo.

O agente baixou a cabeça e conteve um sorriso, achando que ela estava brincando.

'-É mesmo?' - fez Christopher, genuinamente surpreso. - '-E o que uma presidente estaria fazendo dirigindo sozinha numa estrada à noite?'

Vanellope devolveu o cinismo do homem:

'-Eu não sei. O que um cara de óculos escuros estaria fazendo no meio de uma pista de corrida à noite?'

Christopher mordeu a boca, vendo que ela o pegou.

'-Bom ponto. ' - ele respondeu, asséptico como de hábito.

Um silêncio constrangedor se abateu sobre os dois. Vanellope analisava os trajes dele, tentando adivinhar de qual dos novos jogos ele poderia ter vindo para parecer tão perdido. O homem pigarreou, sentindo-se incomodado sob seu escrutínio.

'-Sabe, não é comum as pessoas viajarem mais com tanta facilidade assim. Como você conseguiu vir para cá sem ser perseguido?' - ela indagou, jogando a chave de fenda de volta na caixa de ferramentas.

O homem não sabia, mas Vanellope se referia ao novo estado policial do arcade. Em toda central, a polícia perfazia suas patrulhas, perseguindo sem dar trégua os Jumpers, como vieram a ficar conhecidos os personagens que pulavam entre jogos. Se a polícia determinasse que você era um Jumper, seu perfil era gravado na memória coletiva do Norton Anti-Vírus e você era caçado até mesmo dentro de seu próprio jogo.

De um total de 100 Jumpers presos nos últimos dois anos, 95 haviam sofrido lavagem cerebral. Dos cinco restantes, quatro foram zerados da existência. Somente um encontrava-se desaparecido.

'-Não era minha intenção vir para cá. Eu... tive um acidente...estranho.' –ele falou, hesitante.

'-Que tipo de acidente?' - ela quis saber.

Só havia duas maneiras de migrar para outro jogo nos tempos atuais: cruzando as centrais ou caindo através de um bug. O homem se mexeu, sentindo-se desconfortável e pigarreou, tentando não soar como um maluco:

'-Eu caí... de um buraco escuro.'

Para seu espanto, a mulher não debochou dele.

'-Você quer dizer, de um bug?' - ela corrigiu.

Christopher ia perguntar o que era um 'bug' quando o som ensurdecedor de sirenes apitou do lado de fora. Vários robôs adentravam Diet Cola Mountain, encontrando o esconderijo de Vanellope.

'-Droga!' –ela exclamou, indo atrás de suas ferramentas, procurando por um item em particular.

Os policiais cercaram a dupla, exigindo em alto e bom som que se rendessem:

'-Larguem suas armas e afastem-se da moto. Vocês serão revistados e enviados para a prisão. Qualquer tentativa de resistência será punida com a morte. '

Vanellope voltou carregando consigo uma pequena chave de fenda que cresceu e assumiu proporções gigantescas. Em sua cintura, ela levava um cinto contendo diversas ferramentas, todas armas de combate.

'-Espero que você saiba lutar!' - ela sugeriu, assumindo pose de luta.

Sem perder tempo, Christopher sacou sua arma, apontando-a para os robôs. Pela visão espectral de seus óculos, ele teve acesso ao status de cada inimigo.

'-Os da direita são mais fracos e têm reação menor. Comece pelos menor e vá até o último da esquerda. Não se preocupe, eu te darei cobertura. ' - ele respondeu em voz seca, fazendo mira.

'-Hum.' –ela fez, admirando a presteza dele.

Vanellope encarou os policiais com toda a hostilidade que podia transmitir e avançou no primeiro, golpeando-o com força na cabeça. Como previsto, os demais avançaram nela, ao que Christopher lançou uma saraivada de tiros, nocauteando três inimigos em sequência.

Um grupo deles tentou avançar em cima do agente, ao que ele sacou uma mini-granada do bolso interno e lançou contra os robôs, explodindo-os em mil pedaços.

Vanellope deu um urro excitado e golpeou mais deles, lançando membros metálicos pelos ares. Os policiais perderam a paciência e começaram a atirar. Ela se defendeu ficando atrás de sua chave de fenda. Um robô disparou um raio laser e partiu-a ao meio, para espanto da mulher.

Um tiro certeiro atingiu a caixa craniana do robô, salvando Vanellope por um triz. Mais sirenes ecoavam do lado de fora.

'-Temos de sair daqui!' - ela berrou, sacando outra ferramenta e fazendo-a aumentar, defendendo-se dos tiros dos policiais enquanto ia até a motocicleta. Christopher atirava em quantos robôs conseguia, minimizando a chance de ser perseguido ao fugir.

'-Suba logo!' - gritou a mulher, ao que ele obedeceu, pulando na garupa.

O veículo partiu a toda velocidade pela pista elevada, aporximando-se da estalagmite de Mentos.

'-Quando eu gritar 'agora', jogue uma de suas granadas no lago abaixo!' - exclamou Vanellope.

'-Você está doida?' - ele berrou, com medo de que a montanha viesse abaixo e eles ficassem presos.

'-Eu sei o que estou fazendo! Apenas faça isso!' –ela insistiu.

Sacando rápido outra granada do bolso, ele a seugrou em sua mão, esperando pelo momento de agir.

A moto saltou pelo ar, com Christopher jogando a granada na piscina de Coca-cola. O agente estranhou por que a mulher fez questão de lhe dar essa ordem quando a granada despencou na piscina e causou uma violenta explosão.

À frente dos dois, só havia a encosta da montanha, sem uma passagem para o lado externo.

'-Estamos presos!' - ele berrou, desesperado, vendo a explosão aproximar-se perigosamente deles.

'-Não se preocupe! Está tudo sob controle!' - ela gritou de volta, dirigindo em direção a uma parede.

O grito de Christopher foi crescendo conforme a moto se aproximava da rocha até não dar mais para desviar. Quando estavam a ponto de morrer na colisão, tanto a moto quanto ele e a motorista piscaram numa coloração azul e atravessaram a parede da montanha, disparando pelas planícies adiante.

Agarrado à mulher, ele ainda encarava a paisagem incrédulo. Vanellope segurou a risada, vendo seu rosto pelo retrovisor.

'-Eu te avisei que tinha tudo sob controle!' - ela repetiu, confiante.

Atrás deles, os policiais foram pulverizados pela explosão de Coca-cola com Mentos, que iluminou o céu noturno por breves minutos.

...

A motocicleta prosseguiu até uma rosquinha gigante, onde Christopher viu que se tratava na verdade de um posto de gasolina. Vanellope saltou da moto e lhe pediu que aguardasse, indo até a cabine telefônica em formato de croissant de chocolate.

O agente aproveitou os poucos minutos de calmaria para tentar fazer sentido de tudo que estava acontecendo. Observando os arredores, ele havia ido parar de fato em uma terra mágica, onde nada era o que parecia. Havia colinas feitas de doces, rios de refrigerante, até as pessoas pareciam feitas de coisas contendo açúcar.

O agente baixou a cabeça, confuso. Como ele faria agora para voltar para casa? E como ele contaria essa história aos seus colegas da PIA? Imagine a cara que Angleton faria ao saber de uma maluquice dessas... e procurar por seu pai estava fora de cogitação.

'-Tá. Vamos aguardar, mas apressem-se. Aqueles policiais escrotos estarão aqui a qualquer minuto. ' - veio a voz de Vanellope, desligando o telefone. - '-Ei... está tudo bem?' - ela indagou em tom suave, vendo o homem cabisbaixo.

'-Positivo. ' - ele retrucou, em tom seco.

Ela fez uma careta ao jeito sempre curto e grosso com que ele respondia.

'-Venha! Vai demorar até trazerem meu carro. Vamos entrar na lanchonete!' - ela sugeriu, indo até o mercado do posto, onde havia um espaço para comes e bebes.

'-Entrar na rosquinha gigante... claro.' –ele murmurou para si mesmo, ainda pensando se não vivenciava uma ilusão movida a lisérgico.

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Dentro da lanchonete...

Vanellope cumprimentou o dono do estabelecimento que a conhecia desde o primeiro Sugar Rush. Como ela era a presidente, ele deixou que Vanellope comesse de graça, limpando a mesa para a dupla se sentar.

Christopher consumia seu expresso em uma pequena xícara enquanto a mulher se deliciava com um Milk-shake de chocolate e baunilha tamanho família, contendo uma camada impossivelmente alta de chantilly e muita calda de chocolate.

Ele a observou lamber os beiços antes de começarem a conversar:

'-Então... não me lembro de você me dizer seu nome.' –ela sugeriu.

'-Christopher. Christopher Schneider. '

'-Hum, nome bacana. E o que você faz da vida?' - ela inclinou a cabeça, curiosa.

O agente pigarreou, tentando não revelar demais sobre sua profissão.

'-Eu trabalho para o governo, em um importante departamento. '

Ele voltou a tomar seu expresso, esperando uma reação de espanto da mulher, mas ela soltou uma risada de deboche.

'-Está de sacanagem? Você é um espião?' - ela falou em seu tom normalmente elevado de voz, chamando atenção de todos na lanchonete.

O agente, pasmo com aquela mulher escandalosa, suspirou e bateu a mão na testa. Vanellope o encarava com bastante interesse, continuando o interrogatório.

'-Hm. Então você é uma espécie de super espião?'

A contragosto, Christopher concordou com um porém.

'-Correto. Exceto pela parte do super. '

'-Entendo. ' - ela respondeu.

O celular de Vanellope tocou e ela gesticulou para que ele aguardasse. O homem continuou bebendo seu café. Do outro lado da linha, Sour Bill lhe informava que o carro demoraria mais quinze minutos para chegar. Havia um problema no pneu e eles precisaram trocá-lo em cima da hora.

'-Você está brincando, né?' - exclamou Vanellope indignada. - '-Não importa que coloquem uma rolha de garrafa no lugar, tragam essa porcaria para cá AGORA. '

E com um baque, ela fechou o celular, guardando-o no bolso com cara amarrada.

'-Ai, meu deus, eu vivo cercada de imbecis. ' - e afundou o rosto nas mãos. - '-O que aliás me lembra de uma coisa a seu respeito...' –ela levantou o rosto, encarando o homem.

Christopher fez uma careta de chateação, sendo comparado aos tais "imbecis". Vanellope quis sabe de qual jogo do arcade ele vinha.

'-Arcade? O que é isso?' - ele perguntou, genuinamente confuso.

Vanellope fez uma expressão de espanto e o fitou inquieta.

'-Você... sabe o que é um jogo, não sabe?'

A expressão vazia do homem já lhe dizia tudo.

O agente a viu ficar séria pela primeira vez, curioso para saber o que havia de tão grave. A mulher desviou o rosto, preocupada de verdade. Uma vez ela ouviu um caso que se assemelhava ao que estava acontecendo naquele exato momento.

Um personagem chamado Matthew McPherson de um dos novos jogos, intitulado 3rd Millenium, havia caído na central por mero acidente e foi capturado pela polícia. Achando que foi preso pelo exército inimigo de seu jogo- que ele pensava tratar-se da realidade-, ele resistiu à prisão e libertou vários personagens somente para descobrir que seu mundo não passava de um mero jogo eletrônico.

O peso da verdade foi demais para ele e o personagem, enlouquecido, tentou deletar para sempre todos os códigos de seu próprio jogo. Ele foi detido a tempo por um colega, que o seguiu e, sem ter como imobilizá-lo, destruiu tanto seu código quanto o dele, ambos sumindo da existência.

Decidida a não precipitar uma segunda crise a troco de nada, ela resolveu melhor deixar essa explicação para outro dia.

'-Olha, você agora está em Candy Country. Tem mais três regiões vizinhas ao nosso país: Musicland, Painting District e Black Marshes. Enquanto você não sair de nenhum deles e evitar a polícia, tudo está bem. Ok?'

'-O que acontece se eu deixar qualquer um deles e simplesmente sair daqui?' - ele a pressionou, desejando saber a verdade.

Vanellope tentou achar um jeito de se esquivar da questão quando, por sorte, ouviu uma buzina familiar do lado de fora.

'-Chegou!' - ela gritou, saltando da cadeira da lanchonete com um pulo excitado. O agente terminou seu expresso e, muito discreto, abotoou o terno e a seguiu pelas portas.

Estacionado na frente estava um carro de corrida moderno, decorado com temas de doces. As rodas pareciam ser feitas de borracha; mas ao inspecioná-las de perto, seu cheiro e composição fofa denunciaram que eram na verdade compostas de trufas de chocolate.

'-Incrível... ' - escapou o murmúrio de seus lábios.

Vanellope agradeceu a Taffyta por ter trazido o carro e lhe entregou as chaves da motocicleta, pedindo que ela levasse o veículo de volta à garagem para reparos. A loirinha obedeceu, fitando Christopher com um olhar sugestivo enquanto passava por ele.

'-Vamos!' - ela acenou para o espião, antes que Taffyta passasse uma cantada no homem. - '- Ainda temos um longo caminho a percorrer até chegar na sede!'

A dupla entrou no carro e Vanellope sentou-se confortavelmente em seu assento, feliz de sentir seu volante em suas mãos. Ela deu partida e fez a curva, engatando a marcha. O veículo partiu a toda velocidade pela pista, quase fazendo Christopher tombar no assento do passageiro.

...

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O teto de lona retraiu, permitindo que eles sentissem o vento em seus cabelos. Vanellope adorava a sensação, enquanto Christopher permanecia de cara emburrada, apoiando o queixo na palma da mão, com o cotovelo em cima da lateral do veículo.

'-Então' - ela fez, querendo puxar papo para tirá-lo do estado deprimido. - '-Você não disse que de lugar veio. '

O agente suspirou, não vendo qual benefício sairia daquela conversa. Ele se encontrava perdido, até o momento sem saber como voltar para casa, nem se estava de fato acordado e são. Christopher suspeitava que foi preso e dopado pelos agentes em Kostov.

'-Por que você tem receio de me contar?' - insistiu Vanellope.

Christopher engoliu a seco, vendo que ele estava em um beco sem saída. O ar, a paisagem, o assento de couro debaixo de seu corpo... tudo parecia real demais para ser uma alucinação. O agente resolveu entregar os pontos e estabelecer ao menos uma amizade. Quem sabe o que o aguardava naquele mundo tão estranho?

'- Venho de... '

Um estrondo interrompeu suas palavras. A atenção da dupla se dirigiu a um buraco escuro no céu, que aumentava sem parar.

'-É o mesmo do qual eu caí!' –constatou Christopher.

'-Não! Esse já é outro! Aquele fechou depois que te resgatei.' –corrigiu Vanellope.

De seu interior, surgiram várias figuras voadoras emitindo luzes em tom verde neon. Seu chiado lembrava o de insetos e suas asas metálicas denunciavam que se tratava de uma ameaça familiar a Vanellope...

'-Cybugs de novo!' - ela exclamou, conforme o enxame invadia o jogo.

'-Cy o quê?' - fez o agente, sem reconhecer o termo.

'-Segure-se! Vou ter de acelerar se quiser que saiamos daqui com vida!' - ela disse, mudando a marcha e pisando fundo no acelerador.

O carro deu um solavanco e disparou pelas planícies a mais de cem por hora. Christopher se segurava na porta e no assento do banco, tenso. Seus óculos colavam em seu rosto, tamanha a velocidade com que viajavam. Pelo retrovisor, o agente notou que uma parte do enxame se desviou do grupo e deu início a uma perseguição ao carro.

'-Droga... ' - ele murmurou.

'-O que foi?' - indagou Vanellope, sem tirar a atenção da estrada.

'-Temos companhia. ' - ele respondeu, taxativo.

O agente removeu o cinto sob protestos da motorista e sacou sua arma, virando-se no banco. Com os cotovelos pousados no encosto, ele fez mira e atirou no Cybug que encabeçava a horda. Depois deu outro tiro, matando mais um. E outro. Seis insetos haviam sido eliminados quando o carro se inclinou para a esquerda, jogando Christopher em cima de Vanellope por acidente.

'-Você está tapando minha visão!' - ela gritou, movendo-se no banco desesperada.

Vanellope foi obrigada a fazer a curva novamente, desta vez para a direita, jogando o agente de volta ao assento do passageiro. Ele caiu de mau jeito, com as pernas na direção da motorista e quase chutou sua cara ao retomar a posição de atirador, ganhando um olhar invocado da parte dela.

'-DROGA!' - berrou Vanellope, freando bruscamente.

Christopher quase foi atirado pelo para-brisa. Ele tombou com força para trás e sua arma não escapou de sua mão por sorte. Adiante havia uma imensa patrulha policial bloqueando a estrada, ostentando o símbolo do Norton Antivírus na couraça metálica. Mesmo que atropelasse alguns dos robôs, um simples eletrochoque fundiria o motor do carro, fazendo o combustível se incendiar e explodiria a máquina.

'-Droga, droga, droga!' - ela fez, saltando do veículo e encarando os dois lados. Não havia como escapar. A dupla seria obrigada a lutar para se evadir.

Saltando do veículo, Christopher bateu a porta com força, irritado. Seu terno estava todo amassado, ele quase engoliu uma granada que se soltou na freada brusca, seus óculos escuros tinham rompido uma das lentes e suas costas doíam com o impacto no parabrisa.

'-Você é maluca ou o quê?' - ele gritou, perdendo a compostura que mantivera esse tempo todo a muito custo. - '-Eu quase quebrei o pescoço lá atrás!'

Sua fúria recuou ao vê-la sacar uma segunda chave de fenda do cinto, fazendo-a crescer.

'-Está na hora de me mostrar o que mais um espião pode fazer. ' - ela insinuou, acenando com a cabeça para as hordas de Cybugs e robôs que os cercavam, chegando cada vez mais perto.

Christopher deixou escapar um palavrão dos lábios, sacando a arma. Ele acoplou um equipamento extra no cano e falou:

'-Fique para trás. Vou testar um protótipo recente da P.I.A.'

'-De quem?' - fez Vanellope, sem compreender ao quê ele se referia.

Os Cybugs avançaram no agente, que deu vários tiros, mirando em pontos estratégicos. Cada bala explodiu, produzindo estilhaços que sobrecarregaram os circuitos dos insetos. A descarga de energia se espalhou feito uma rede pelo enxame e neutralizou quase metade dos insetos.

'-Uou! Eu quero uma arma dessas!' –fez Vanellope, impressionada.

Atrás de si, a sirene da polícia soou novamente, ao que ela se virou, encarando a patrulha com a típica hostilidade:

'-Eu sou a presidente e autoridade máxima de Sugar Rush e mando nesse jogo desde sua primeira edição. Então, se não quiserem se meter com a pessoa errada, deem o fora daqui!' - ela berrou, agitando a chave de fenda gigante.

Christopher usou o que sobrou de sua visão espectral e lhe avisou:

'-Há mais policiais além da estrada. A patrulha se estende até bem adiante. '

'- Até mais ou menos onde?'

'-Eu diria, até o abismo, há dez quilômetros. '

Vanellope formulou um plano de fuga e exigiu que o agente reentrasse com ela no carro. Hesitante com a má direção dela, ele não tinha saída a não ser obedecer e rezar para que saísse vivo e com todos os membros intactos. O motor roncou conforme Vanellope pisava no acelerador, ainda mantendo o carro parado. Fumaça subiu em sua traseira e ela ordenou que Christopher atirasse contra os robôs. Uma descarga neutralizou boa parte deles e Vanellope finalmente avançou com o veículo, atropelando os robôs restantes com tudo. Por pura sorte, nenhum deles usou o eletrochoque.

A segunda patrulha já despontava adiante, apontando lasers para o carro.

'- Vou precisar de sua ajuda para acabar com esses chatos!' –ela declarou, sem tirar a atenção da estrada- '- Assim que chegarmos perto, atire neles!'

'-É claro, mas... ' - fez Christopher, encarando o restante do enxame de Cybugs pelo retrovisor. '-E quanto a nossos amigos lá atrás?'

'-Problema deles. Se vierem se engraçar com a gente, dê a eles um gosto das suas granadas!' - ela exclamou, acelerando a marcha.

O agente recarregou a arma, tendo uma brilhante ideia. Buscando suas granadas, ele as acoplou no equipamento do cano e aguardou o momento certo para atirar. Assim que os robôs estavam em seu campo de visão, ele disparou cinco vezes, assistindo a patrulha explodir com um estrondo. O ruído metálico elevando-se logo atrás confirmou que agora eram os Cybugs que se aproximavam e Christopher novamente ficou de joelhos no banco, mirando nos insetos.

Um tiro, dois tiros, três tiros. Explosões me pleno ar provocavam uma onda de choque, que os desestabilizava, nocauteando-os. O enxame rapidamente se desfazia, sobrando apenas vinte Cybugs.

À frente, Vanellope mantinha a velocidade constante, cuidando para não fazer curvas demais e desequilibrar o agente, que corria o risco de cair fora do veículo. Para seu azar, a estrada logo terminaria, obrigando-a a tentar uma manobra perigosa. Porém, Vanellope teve uma ideia. Acelerando o carro, ela se preparou, escutando Christopher dar outro tiro.

'-SEGURE-SE!' - ela berrou, acelerando ao máximo. O veículo subiu a rampa e com um solavanco, voou pelos céus noturnos.

Christopher foi bruscamente jogado para o banco de trás e capotou, virando cento e oitenta graus no ar, ainda preso ao cinto de segurança. O olhar de Vanellope exalava pura tensão conforme a pista adiante ficava mais perto. Só mais dez metros e eles evitariam cair no abismo... segundo seus cálculos, ela teria de usar seu glitch na hora certa se quisesse pousar na pista.

O agente ainda se ajeitava no banco traseiro, sufocado pelo cinto quando escutou um grito vindo da mulher. Um Cybug havia voado direto para o parabrisa, guinchando enlouquecido para a motorista. O carro estava prestes a despencar e os dois morreriam. Movendo-se com dificuldade, o agente arrancou uma das abotoaduras do paletó e apertou um mini botão vermelho. Em seguida, a tacou em cima do inseto, que sofreu um curto-circuito imediato e caiu para longe do carro.

Recuperando-se do trauma, Vanellope acionou seu glitch a tempo e o carro subiu vários metros, pousando na pista com um baque violento. Por sorte, Christopher não quebrou o pescoço.

Vanellope deu um urro de vitória, desacelerando para uma velocidade normal.

'-Mas que doideira! Sinta a adrenalina, baby!' –ela exclamava, ao que o agente nada disse- 'Falando nisso, o que foi aquilo que você jogou nele?'

Finalmente sentado de maneira decente, Christopher respondeu:

'-Foi uma granada, produzida pelos laboratórios da P.I.A.'

Vanellope deu uma risada de deboche.

'-PIA? Que isso, nome de marca de alpiste? Ei PIÁ, estou falando com você! Esse nome é uma PIAda, sabia?' - ela comentou, gargalhando à vontade.

Pelo retrovisor, ela viu que o agente fechou a cara, desconfortável com a brincadeira.

'-Ok, desculpe. Já me disseram que meu senso de humor chateia os outros. Chris, eu... ei, você não se importa de ser chamado de Chris, né?'

O agente demorou um pouco a responder, ainda não engolindo as alusões de mau gosto feitas com a sigla da agência. Ajustando os óculos com a ponta do indicador, ele disse um monótono 'Não'.

'-Você quer dizer, "não, eu não me importo" ou "não me chame assim"?' –questionou Vanellope, arqueando a sobrancelha.

'-Pode me chamar de Chris. ' - ele retorquiu em voz seca, desviando ainda mais o rosto do olhar dela.

'-Hum.' –fez Vanellope, gostando a impressão que teve do sujeito.

A imagem imponente da sede presidencial despontava no horizonte conforme o carro de corrida prosseguia pela pista, motorista e passageiro mantendo-se em silêncio.

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NOTAS

-Sugar Rush 2, como vocês viram, tem mais zonas do que o 1º, carros de corrida decentes e todos os personagens estão ao menos 10 anos mais velhos.

-A personalidade de Vanellope foi preservada, com mudanças marginais. Ela deixou de ser criança, mas mantém seu jeito implicante.

-Christopher tem um arsenal à sua disposição. Como a PIA enfrenta inimigos incomuns, sua arma pode ser adaptada para disparar explosivos, descarga elétrica e seus óculos podem escanear usando raio-X e demais tecnologias os sinais vitais de todos ao seu redor.

-A busca pelo pai de Christopher não acabou. Vocês verão o que aconteceu com Robert Schneider ao longo da fic e como ele está relacionado aos eventos no arcade.

Peço por favor que quem ler, deixe um review.
Basta escrever 1 linha falando que gostou.
Fazer uma história com carinho, empenho e ninguém que acompanha comentar deixa o escritor muito triste.
Ajudem a motivar a fic a andar para frente, ok? o/