Capítulo Vinte e Um

Hurt So Good

- Chega! – George exclamou. – Você está proibido de atender os clientes até que eu diga o contrário!

- Não pode fazer isso! – Ron protestou.

- Eu malditamente posso. – George brigou. – Eu ainda sou seu irmão mais velho! – George olhou feio para Ron, que era uma cabeça mais alto. – Não me faça chamar a mamãe. – ameaçou.

- Você não faria isso! – Ron ofegou.

- Experimente. – George desafiou. – Você tem sorte que eu não te mandei para casa, do jeito que está explodindo com os clientes ultimamente. – alguém entrou na loja e George sibilou. – Não se mexa... – se apressou em ajudar uma garotinha a encontrar um presente de aniversário para seu irmão mais velho, que estava em Hogwarts. Nesse meio tempo, Ron reabasteceu a prateleira de truques de magia trouxa de mal humor, lançando olhares bravos a George. George acompanhou a garotinha até a porta, conversando sobre isso e aquilo. Quando a garota foi embora, ele se virou para Ron. – Olha, Ron, eu entendo que as coisas podem ficar complicadas em casa, especialmente por que ela está grávida há milhões de anos. Mas isso não quer dizer que você pode vir aqui e descontar nos clientes. Você quer gritar com alguém que não seja Hermione, ótimo, eu entendo. Mas você tem que parar de fazer bruxos crescidos chorarem dessa maneira!

Ron não disse nada, mas foi para os fundos; passou pelas cortinas e subiu até o apartamento. Jogou-se no sofá, imediatamente indo para a direita quando a mola quebrada cutucou seu rim. Estava cansado. Encostou a cabeça no encosto do sofá e fechou os olhos. Um cochilo era uma boa ideia. Hermione não estava dormindo bem e, consequentemente, Ron não dormia bem. Ron tinha se orgulhado de sua habilidade de dormir durante qualquer coisa, mas, ultimamente, alguém podia derrubar uma pena no tapete e Ron acordaria com o som. Sentiu o sofá ajudar levemente quando alguém se juntou a ele. Ron abriu um olho e viu Harry se acomodar no sofá.

- O quê?

- Problemas no paraíso? – Harry tirou os óculos e o ergueu contra a luz, limpando as lentes.

- Pode-se dizer que sim. – Ron suspirou. – A pena favorita dela quebrou noite passada e ela começou a chorar. Não aquele choro rápido e hormonal, mas chorar de verdade. – esfregou os olhos. – Juro, ela vai ao banheiro a cada quinze minutos. Eu faço o jantar e ela só belisca, só para colocar a cabeça na geladeira dez minutos depois de eu ter lavado a louça. Ela tem fome, mas não sabe o que quer. Ela não consegue ficar confortável o bastante para dormir... – Ron virou a cabeça para olhar para Harry. – Por favor, eu estou te implorando, me diga que melhora.

- Oh, cara. – Harry soltou o ar lentamente. – Meio que...

Ron se sentou, os olhos arregalados.

- O que quer dizer, "meio que"? Tem ideia do tipo de inferno que os últimos dois meses tem sido?

- Na verdade, tenho. – Harry lembrou Ron. – Você acha que Ginny é toda doce e leve quando está grávida? Ela me atacou quando eu me esqueci de comprar uma caixa de leite ao voltar para casa, um mês antes de James nascer. Sabe como é difícil achar bons morangos em março? Ou Hermione baniu um certo tipo de comida da casa por que a faz se sentir mal? – quando Ron balançou a cabeça, Harry continuou. – Certo. Ginny não me deixava nem comer meu pudim favorito. Não foi o bastante proibir na casa; eu não podia nem comer fora de casa. E por que, você pode perguntar? Porque torta de caramelo a deixava com náusea e ela conseguia sentir o cheiro em mim! – Harry piscou e olhou para baixo. Não tinha percebido que tinha se levantado. Voltando a se jogar no sofá, cutucou Ron com o cotovelo. – Sim, eu sei como o final é difícil.

- Então, fica mais fácil? – Ron perguntou, desespero claro em seu rosto.

Harry suspirou.

- Não de verdade. É um novo amontoado de problemas.

- Pelas bolas de Merlin. – Ron murmurou fracamente, suor correndo por sua testa. A pele ao redor de seus olhos se esticou palidamente, e ele engoliu pesadamente.

- Coloque a cabeça entre os joelhos. – Harry mandou, colocando uma mão entre os ombros de Ron, empurrando sua cabeça para baixo. As costas de Ron não se moveram. – Respire! – Ron puxou o ar ruidosamente. Harry continuou. – Olha, cara, eu não diria que melhora. Mas é diferente.

- Como? – Ron engasgou.

- Bem, depois de um tempo, os hormônios vão embora, e ela não terá tantos altos e baixos. Você ainda não vai querer falar para ela que a calça dela faz seu traseiro parecer gordo, mas isso você não tem que fazer de qualquer modo. E não será mais apenas ela.

- O que isso deveria significar? – Ron suspirou. – Eu estive lá o tempo todo. Eu esfreguei pés. Eu fui comprar sorvete as três da manhã na Tesco. Eu não tenho ânsia quando ela coloca um monte de pimenta em sua maçã. Eu segurei o cabelo dela enquanto ela vomitava. Eu estava lá todos os meses em que não acontecia. Como pode me dizer que não será mais apenas ela?

- Só quero dizer que é ela quem está fazendo a maior parte do trabalho agora. É ela quem está carregando uns dez quilos extras. É ela quem tem que dar a luz, e deixe que eu te diga, Ron, isso não é uma volta no parque para você, mas muito menos para ela. Eu ainda tenho as marcas das unhas de Ginny de quando James nasceu. Mas quando acabar, você pode ajudar. E, sim, é difícil, por que o bebê não vai querer dormir quando vocês dormem, e Hermione vai ficar frustrada quando as roupas de sempre ainda não lhe servirem, mas você pode fazer coisas, como trocar fraldas e dar banhos, e alimentar o bebê.

- É, parece divertido... – Ron murmurou, se sentando.

- Bem, não é exatamente um jogo de Quadribol. – Harry retorquiu. – Mas é melhor do que ficar na reserva, torcendo as mãos, por que ela passa mal o tempo todo, e vomitando o dia todo, e não há nada que você possa fazer sobre isso. – bufou. – Pelo menos, quando o bebê chora, você pode tentar fazer alguma coisa.

Ron suspirou e saiu do sofá, andando até a cozinha.

- Desculpe. – murmurou.

- Não tem problema. – Harry o seguiu até a cozinha. – Hey, por que você e Hermione não jantam lá em casa no sábado? Ginny não se importa.

Ron olhou duvidosamente para Harry.

- Sim, tenho certeza de que Ginny quer companhia.

- Está tudo bem. – Harry garantiu. – Ela não vai ter que fazer nada.

Ron passou uma pilha de pratos para Harry.

- Vou perguntar a Hermione mais tarde.

Harry começou a distribuir os pratos na mesa.

- Veja dessa maneira. – começou. – Se vocês começarem a jogar feitiços no outro, Ginny e eu podemos colocar um feitiço escudo entre vocês, e ninguém se machuca. – Harry pegou os grafos que Ron lhe passou. – Mas, também, do jeito que ela vomitou mais cedo, Gin pode ficar do lado de Hermione.

- Assumo que você não é uma das pessoas favoritas dela.

- Tenho meus momentos. Geralmente quando ela está no banheiro, me xingando por tê-la engravidado.

- Isso já não deveria ter acabado? Os vômitos?

- Só espere. – Harry murmurou. – Quando você tiver outro, vai ser totalmente diferente.

- Não vamos ter outro. – Ron respondeu prontamente. – Acho que não consigo lidar com isso.

-x-

- Nós temos que ir? – Hermione perguntou. Por mais que amasse Harry e Ginny, não estava ansiosa para passar a noite fora de casa. Sua coluna estava doendo e tudo o que queria era passar a noite encolhida no sofá, com os pés para cima, fazendo as palavras cruzadas do Times do domingo passado.

- Não temos que ir. – Ron disse, passando um suéter pela cabeça. – Podemos desmarcar e ficar em casa.

- Isso seria rude. – Hermione suspirou.

- Como é rude? – Ron arguiu. – Você está grávida há oito bilhões de semanas e, de todas as pessoas, eles entenderiam que não está com vontade de ir.

- Por que temos que estar lá em cinco minutos. – Hermione disse com uma careta, tentando achar uma posição mais confortável.

- Posso ligar para eles e cancelar. Agora. – Ron disse, sua mão sobre o vaso que continha o pó de flu.

- Não... – Hermione suspirou. – Vamos. – resmungou, tentando se levantar. – Maldição... Pode me ajudar? – reclamou. – Mal posso esperar para que isso acabe.

Ron esticou as mãos, puxando-a quando ela as segurou.

- Somos dois, mulher. – ajudou Hermione a vestir o agasalho e aparataram para Godric's Hollow.

Quando entraram na casa, Ginny olhou para Hermione, mas não disse nada; ao invés disso, foi até a sala de estar e voltou com uma almofada.

- Aqui. – murmurou, ajudando Hermione a se sentar em uma cadeira e colocando a almofada atrás das costas dela. Sentou-se na cadeira ao lado da de Hermione. – Você está bem? – perguntou em voz baixa.

Hermione ajeitou um pouco a almofada.

- Bem.

Ginny apoiou a cabeça na mão.

- Você não tinha que vir se não estava com vontade. – disse.

Hermione dispensou o comentário.

- Não tem problema. Desde que possa ficar aqui, estou bem.

Ginny sorriu maldosamente.

- Veja isso. – murmurou em tom de conspiração, com uma piscadela. – Gostaria de algo para beber? – perguntou, alto o bastante para Harry e Ron a ouvirem por entre sua discussão sobre as chances dos Cannons.

- Um copo de água seria adorável. – Hermione respondeu. – Obrigada.

- Harry, - Ginny chamou. – pode pegar um copo d'água para Hermione?

Harry olhou para Ginny com aborrecimento.

- Por que você não pega?

Ginny deu um suspiro dramático.

- Não estou me sentindo muito bem. – disse miseravelmente, fazendo um gesto cauteloso em direção ao seu estômago. – Meio enjoada.

O comportamento de Harry mudou completamente.

- Eu pego. – disse, convocando um copo do armário e o enchendo com a varinha. Colocou-o em frente de Hermione, e sentiu a testa de Ginny. – Você está bem? – perguntou com preocupação.

- Acho que sim. – Ginny disse, com uma leve pitada de incerteza. Foi o bastante para Harry.

- Não se preocupe com nada, Gin. Ron e eu podemos cuidar do jantar. – ele foi até o fogão com Ron, para servir a comida.

Hermione tomou um gole d'água.

- Impressionante. – comentou. – Não achava que você tinha isso em você.

Ginny torceu o nariz.

- Eu realmente tive alguns adoráveis episódios de mal estar matutino que duram o dia todo. Não é preciso muito. Não faço com frequência. De outro jeito, ele fica desconfiado. – mordeu a unha, abafando as risadinhas.

- O jantar está pronto. – Harry anunciou. Levitou uma tigela de sopa de galinha até a mesa, enquanto Ron seguia com as tigelas e colheres.

Ron notou que Hermione só beliscara seu jantar, comendo algumas colheradas, e passou o resto da refeição movendo a colher pela sopa. Ela dispensou as preocupações dele com seu bem estar, dizendo apenas que suas costas estavam doendo um pouco. Ginny se ofereceu para lavar a louça, ignorando os protestos de Harry de que ela não estava se sentindo bem, mas Ginny pegou sua varinha e colocou tudo no lugar com um sorriso arrogante, enquanto Harry carregava James até o andar de cima e o colocava para dormir.

Ron estava morrendo de vontade de perguntar a Harry sobre o caso. Desde que ele colocara os Aurores treineiros para observar a casa, Ron se sentira um pouco melhor sobre a coisa toda. Mas cada vez que estavam juntos, sempre que Ron queria perguntar sobre o caso, tinha sido impossível conseguir ficar sozinho com Harry em um lugar que Harry achasse seguro conversar. Harry deu a Ron a oportunidade perfeita.

- Vem. Acho que aquela motocicleta está pronta para andar de novo. – ele disse, puxando o branco de Ron. – Só preciso remontar uma parte.

- Vou ter a sobremesa pronta quando vocês voltarem. – Ginny avisou, enquanto eles saiam da cozinha. Ela deixou Hermione sozinha, enquanto ia ao andar de cima por um momento para ver como James estava. Quando ela deixou Hermione sozinha, um leve gemido escapou dos lábios tensamente crispados de Hermione. Suas costas estavam doendo de verdade. Ergueu-se e começou a andar lentamente ao redor da cozinha, esfregando a dor persistente na base de suas costas. Conseguiu sentir a umidade desconfortável entre suas pernas e bufou.

- Brilhante, agora perdi o controle sobre minha própria bexiga. – apalpou os bolsos de sua calça, procurando por sua varinha para limpar discretamente, quando Ginny voltou a entrar na cozinha.

Ginny se inclinou sobre o encosto da cadeira que Hermione acabara de liberar.

- Hermione, você está se sentindo bem?

- Bem, por quê?

- Acho que sua bolsa estourou.

Hermione piscou e olhou para o assento da cadeira.

- Oh, então foi isso. – olhou para Ginny com um sorriso lamentável em seu rosto. – Por um momento, achei ter perdido todo o controle e feito xixi.

- Precisamos te levar ao St. Mungus. – Ginny abriu a porta de trás e gritou. – Harry! Ron! Venham aqui!

- A sobremesa está pronta? – Ron perguntou esperançosamente, enquanto ele e Harry entravam na cozinha.

- Não, mas o bebê está. – Hermione lhe disse.

- O quê? Agora? – Ron gritou.

- Sim, agora. Honestamente!

- Mas não temos nada. – Ron protestou fracamente.

Hermione olhou para Ron, que estava parado no meio da cozinha, como um completo idiota.

- Ron, eu realmente não me importo com o que temos ou não temos, mas eu não acho que Harry ou Ginny querem que esse bebê nasça na mesa da cozinha.

Ron assentiu, e começou a caminhar em um circulo pequeno.

- Ronald, o que está fazendo? – Hermione perguntou.

- Eu realmente não sei.

- St. Mungus. – Harry o lembrou.

- Certo. – Ron ergueu a mão para segurar a de Hermione, se preparando para aparatá-los para Londres.

- Espere! – Hermione exclamou.

- Agora o quê? – Ron estava apertando os dentes em frustração.

- Alguém tem que ir buscar a mamãe!

- Eu não quero te deixar sozinha. – Ron disse teimosamente.

- E precisamos da bolsa! – Hermione disse, apertando a mão de Ron quando outra contração a acertou.

Ron estava pronto para arrancar o próprio cabelo.

- Ron, você leva Hermione ao St. Mungos. – Ginny disse, tomando o controle da situação. – Eu vou buscar a mala, e Harry pode ir buscar a Jane. – olhou de Ron para Hermione. – Bom? – eles assentiram. – Bom. – olhou para Harry e acenou para ele. – Vamos lá, então.

-x-

Ginny entrou na sala de espera da maternidade do St. Mungus, a bolsa de Hermione em sua mão. Harry ainda não tinha chegado com Jane. Ron e Hermione estavam discutindo no canto, esperando que a bruxa recepcionista achasse o arquivo de Hermione.

- Você nunca vai me tocar novamente, Ronald Weasley! – Hermione resmungou entre os dentes cerrados.

- Desculpe? Você praticamente me atacou!

- Eu estava bêbada!

- Oh, então agora você finalmente admite que estava bêbada? – ele bufou. – Só demorou nove meses. – Ron murmurou sob a respiração. Seu nariz estava quase tocando o de Hermione. Ou o mais próximo que conseguia, considerando o tamanho da barriga de Hermione.

- Bem, você não deveria ter... Owwwwwwwww! Maldição, isso dói!

A bruxa finalmente encontrou o arquivo de Hermione e levou Hermione até seu quarto, atrás das portas duplas. Ela estava parada ao pé da cama, as mãos apertando o colchão, quando a porta se abriu e Jane entrou.

- Olá, querida. – Jane disse de modo calmante. – Como está, então?

- Dói de verdade, mãe. – Hermione choramingou.

- Eu sei que dói. – Jane disse, passando um braço ao redor da cintura de sua filha. – Vamos tirar essas roupas, certo? – perguntou, ajudando Hermione a tirar suas roupas e vestir a camisola do hospital.

- Harry foi chamar a mamãe. – Ron disse da porta. – Shanti está a caminho. – adicionou, balançando-se incertamente sobre seus pés. – Uh... Você quer que eu... Uh, quero dizer...

Hermione ergueu os olhos.

- Eu quero você aqui. – disse. – Não posso fazer isso sem você.

Ron assentiu, e entrou no quarto, incerto do que fazer; tentando se lembrar de tudo o que as aulas sobre o parto tinham ensinado.

- Uh, Shanti queria saber se você quer algo para a dor...?

- Parece que eu quero forçar algo do tamanho de um melão para fora do meu corpo, sem nada... – ela resmungou. Hermione se esticou. – Parece que eu enlouqueci? – perguntou acidamente.

- Nesse momento? – percebeu Jane balançar a cabeça freneticamente atrás de Hermione. – Não, claro que não. – respondeu rapidamente.

- É claro que eu quero algo para a dor! – Hermione gritou.

- Por que está gritando comigo? – Ron perguntou, confuso.

- Por que você fez isso comigo! – Hermione rosnou.

- Não. – Shanti murmurou, entrando no quarto atrás de Ron. – Nem tente ser racional com ela. Ela não vai se lembrar da metade das coisas que vai dizer. – passou um pequeno frasco para Hermione. – Beba. Tira um pouco da dor.

- Graças a Deus. – Hermione gemeu, engolindo a poção laranja, suspirando em alivio quando o torpor passou por seu corpo.

- Isso é seguro? – Ron perguntou nervosamente.

- Vai ficar tudo bem. – Shanti lhe garantiu. – Eu gostaria de examinar Hermione agora, então você e Jane poderiam esperar lá fora?

Ron voou pela porta e ficou parado do lado de fora, torcendo a barra de seu suéter. Jane lhe deu um tapinha no braço. Ron a olhou.

- Estou assustado. – lhe disse. – Mais assustado que já estive em toda minha vida.

Jane ergueu uma sobrancelha.

- Acho difícil de acreditar nisso, tendo ouvido parte das suas artes da escola. – comentou.

Ron deixou uma risada abafada escapar.

- Sim, bem. Aquilo era diferente.

- Vai ficar tudo bem. Mulheres têm filhos há milênios.

- Isso é diferente. – Ron disse, se escorando na parede. – Dessa vez, é o meu.

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Ron soltou a mão de Hermione e voltou a segurar com a outra. Sabia que ela era forte, mas não sabia que ela conseguia quebrar todos seus dedos com uma mão só. Mesmo com a poção para a dor, Hermione ainda estava sentindo muita dor e, durante as últimas três horas, ameaçara Ron com tudo, desde castrá-lo com uma tesourinha de unhas até dar um nó em seus testículos ao redor de sua cabeça — só para que ele soubesse o que era dor de verdade — para nunca mais transar.

O final estava se aproximando, se é que podia acreditar no que Shanti lhe dissera. Estava grato que Jane estivera lá com eles, por que não tinha certeza de que teria conseguido lidar com isso tudo sozinho. Não sabia como Harry lidara com Ginny durante o parto, já que ele estivera sozinho. Com a ajuda de Jane, colocara Hermione em posição para empurrar. Não podia acontecer cedo demais para Ron.

- Quando eu falar, Hermione, quero que você empurre. Com tanta força quanto possível. Vou contar até dez, e depois disso você pode descansar um pouco, certo? – Shanti disse.

- Certo. – Hermione respondeu, cansadamente.

Nem Ron, nem Hermione, estavam esperando ouvirem a próxima coisa que Shanti disse.

- Oh, nossa...

- "Oh, nossa" o quê? – Hermione perguntou. – Não tem por que existir um "oh, nossa".

Curioso, Ron espiou por cima do joelho dobrado de Hermione.

- Pelo amo de Merlin... Tem duas cabeças! Oh, Deus, é como aquele maldito sonho. Duas cabeças como naquele maldito filme de carona!

Shanti olhou severamente para Ron.

- Ron, agora não é hora de entrar em pânico. O bebê só está virado. Vai dar mais trabalho para nascer, mas... Tudo. Vai. Ficar. Bem. Só vai sair com a bunda primeiro.

- Como eu. – Ron murmurou.

- Isso não parece ser algo bom. – Hermione resmungou.

O tempo quase parou para Ron, enquanto Shanti cuidadosamente ajudava o bebê a sair, nunca se apressando e nunca entrando em pânico, dando instruções calmas ao treineiro musculoso ao seu lado. Ron queria gritar para que ela se apressasse, estava demorando demais.

- Só mais um pouco, Hermione. – Shanti disse de forma calmante. – Só um pouco mais, e a cabeça vai sair.

Ron não conseguia ver. Pressionou a testa contra a cabeça de Hermione e apertou sua mão, os olhos fechados, murmurando coisas sem sentido para ela.

- Ouviu isso, mulher? Só mais um pouco...

- Eu consigo ouvir, Ron, não estou surda, só dando a luz. – retorquiu sarcasticamente.

- E... Ela saiu. – Shanti anunciou, alivio evidente em sua voz.

- O quê? – Ron perguntou. – Você disse "ela"?

- Sim, disse. – Shanti disse. – É uma garota.

- Uma garota. – Ron olhou para Hermione, que estava apoiada em sua mãe. – Uma garota. – se sentou com força na ponta da cama.

- Gostaria de cortar o cordão? – Shanti perguntou a Ron.

- Eu... – olhou para Hermione. Ela inclinou a cabeça na direção do bebê. – Sim, gostaria. – usou a varinha para cortar o cordão umbilical onde Shanti lhe mostrou, a cabeça girando.

Jane se inclinou para beijar a bochecha de Hermione.

- Vou avisar aos outros. Dar um pouco de tempo para vocês três.

Ron assentiu atordoadamente.

Shanti colocou alguns feitiços de cura em Hermione e começou o processo de encerrar as coisas. O treineiro estava limpando o bebê cuidadosamente e a enrolou em um cobertor.

- Já tem o nome da pequenina? – Shanti perguntou, carregando a bebê até eles.

- Ainda não. – Hermione murmurou, esticando os braços.

- Não conseguimos concordar com um. – Ron adicionou timidamente.

- Não são os primeiros. – Shanti disse com um sorriso pequeno. Ela os deixou sozinhos com o bebê.

Ron olhou por cima do ombro de Hermione para o pequeno embrulho sobre seu peito. Seus olhos estavam fechados firmemente, mas ela tinha cachos de um vermelho vivido ao redor de sua cabeça.

- Sabe, mulher... Eu tenho uma ideia para nome. – começou, mas antes que pudesse falar o que era, a porta se abriu e a cabeça de Molly apareceu no vão.

- Podemos entrar? – ela perguntou, a ansiedade em seu rosto.

- Sim. – Hermione murmurou, dedilhando o contorno do rosto de sua filha. Olhou para Harry. – E quem ganhou a aposta?

- Uh... – Harry procurou o pequeno bloquinho em seu bolso. – Você e Arthur vão dividir os ganhos por adivinharem que era uma menina. E... – apertou os olhos para Ron. – Você desmaiou?

- Não.

Harry fixou Hermione.

- Ele desmaiou?

Hermione balançou a cabeça.

- Mas ainda não faz muito tempo. Ron disse que ele desmaiaria uma hora depois. – ela sorriu. – Temos tempo.

- Qual o nome dela? – Molly perguntou, deleitosamente balançando o bebê.

- Não sabemos ainda. – Ron admitiu.

Cuidadosamente, Ginny passou a bebê para Katie e parou ao lado da cama.

- Faz valer a pena, não faz? – disse suavemente, para que apenas as duas ouvissem.

Hermione observou a bebê ser passando de um membro sorridente da família para outro, terminando em sua mãe. Jane usou uma mão para secar as lágrimas no canto de seus olhos.

- Sim, faz. – Hermione respondeu. Ginny passou os braços ao redor de Hermione e a abraçou apertadamente. Quando se separaram, as duas estavam fungando um pouco.

Harry ergueu um pouco James para poder segurá-lo melhor, enquanto se inclinava e beijava gentilmente a bochecha de Hermione.

- Bom trabalho, Hermione. – disse com um sorriso irritante. – Nota máxima.

Harry e Ginny foram embora depois disso. Pareceu ser um sinal para o resto da família se despedir e, logo, eram apenas Jane e Hermione no quarto. Jane se sentou na ponta da cama, ao lado de Hermione.

- Ela realmente é uma bebê linda, Hermione.

Hermione roçou um dedo nas sobrancelhas da bebê.

- Você acha que o papai ficaria satisfeito?

- A primeira neta? Oh, sim. Ficaria. – Jane soltou o ar tremulamente. – Ele já teria um kit de futebol para ela, para que ela pudesse ser a primeira mulher a jogar para o Manchester United. – o braço de Jane passou ao redor dos ombros de Hermione. – Ele estaria muito orgulhoso de você.

Hermione olhou para sua mãe.

- Mãe?

- Sim?

Hermione sorriu.

- All my bags are packed, I'm ready to go... - cantou tremulamente, antes de Jane se juntar a ela. – I'm standing here, outside your door, I hate to Wake you up and say goodbay...

-x-

Ron caminhou pelo corredor até o quarto de Hermione, depois de se despedir de sua família. Ouviu vozes vindo do quarto e parou em frente a porta para ouvir. Jane e Hermione estavam cantarolando a música que ele e Hermione tinham dançado em seu casamento.

- So kiss me, and smile for me. Tell me that you'll never leave. Hold me like you'll never let me go... - ele se escorou na parede, não querendo se intrometer no momento. As vozes tremeram e falharam, e Ron sabia que elas estavam pensando em Richard. Ele esperou até a música terminar, e abriu a porta.

Ron pegou a cadeira no canto e a arrastou até o lado da cama, e se sentou, inclinando a cabeça para depositar um beijo na curva da cabeça do bebê.

- Estava pensando. – começou. – Sobre o nome que podíamos dar a ela.

- Eu também. – Hermione confessou.

- Você primeiro. – Ron ofereceu.

- É meio tolo. – Hermione disse. – Mas eu estava pensando em Rose.

- Não é tolo. – Ron disse. – Na verdade, eu também estava pensando nisso. – ele engoliu. – Por seu pai. – voltou sua atenção para Jane. – Você se importa? – perguntou.

- Por que me importaria? É um nome adorável.

Hermione olhou para Ron com uma sobrancelha erguida.

- Bem, claro que pelo papai. – ela disse. – Mas por... – ela corou e olhou para Rose.

Ron a olhou, as sobrancelhas cerradas em confusão, antes de entender. O arco e a noite em que Rose tinha sido concebida. Tossiu e corou.

- Sim. – murmurou. – Beatrice. – Ron disse subitamente. – Daquele livro, lembra? Rose Beatrice.

- É perfeito. – Hermione olhou para Rose. – Então, Rose Beatrice Weasley.

- E, com isso, está na hora de eu ir para casa. – Jane disse. Correu a mão pelos cachos brilhantes de Rose. – Boa noite, Rose. – se ergueu e abraçou Hermione. – Seu pai teria adorado o nome.

- Obrigada, mãe.

Ron segurou o braço de Jane e a guiou até o ponto de aparatação, e levou para casa, em Oxford. Ela ficou na ponta dos pés, antes de entrar na casa, e o beijou na bochecha.

- Vocês dois fizeram um trabalho maravilhoso.

- Obrigado. – Ron disse sinceramente, surpreendendo Jane ao passar os braços ao redor dela e a abraçar, antes de soltá-la tão subitamente quanto a abraçá-la. – Volto amanhã, lá pelas onze, para te levar de volta se quiser.

- Isso seria adorável. – Jane entrou na casa e Ron se virou para olhar para o jardim.

Inclinou a cabeça para trás e olhou para o céu limpo e estrelado.

- Você ouviu? – murmurou. – O nome dela é Rose. – fechou os olhos brevemente e voltou para o hospital.

Hermione estava deitada de lado, Rose acomodada próxima a ela. Ergueu os olhos quando Ron entrou no quarto.

- Oi. – ela disse suavemente para não acordar a bebê.

Ron se sentou na cadeira ao lado da cama.

- Oi. – respondeu.

Hermione esticou sua mão livre. Entrelaçou seus dedos com os de Ron.

- Não poderia ter feito isso sem você. – ele deu de ombros. – É verdade. Nada dos últimos nove meses, ou hoje. – olhou para Rose. – E eu sei que eu não seria capaz de criá-la sem você. – pausou e soltou o ar lentamente. – Se algo acontecesse comigo, você faria um trabalho brilhante sozinho, também.

- Também te amo, mulher. – Ron disse quietamente. Desviou os olhos e esfregou o nariz. – Algo no meu olho. – murmurou. Sabia que ela entendia o quanto ele precisava ouvir que ela tinha completa fé em suas habilidades como pai.

Pegou Rose no colo e a colocou no berço, antes de se deitar ao lado de Hermione na cama.

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Quatro meses depois...

Hermione colocou o berço de viagem, com uma Rose adormecida, sobre o banco sob o arco no jardim de seus pais. Ron estava ajoelhado ao lado de uma Hermione Gentil, podando. Era o meio de junho, e o cheiro das rosas circulavam preguiçosamente ao redor de Hermione. Tirou Rose do berço, aninhando-a.

- Pai... – murmurou. – Quero que conheça Rose. Sua neta.

Fim

Tradução do título do capítulo: é algo como "boa dor".

N/T: Obrigada por todos os comentários, e por acompanharem a fic toda. Espero que não tenha tido nenhum erro ridículo nem nada assim. (: