Guilherme abriu os olhos e inspirou o ar lentamente. A fresca brisa da noite trouxe desconhecidos odores e uma enorme onda de nostalgia.

Era orgulhoso demais para admitir em voz alta que sentia bastante falta das noites passadas à beira do D'Ouro, observando a lua brilhar tão bela no céu junto com as estrelas, e montanhas verde-escuras enfeitando a linha do horizonte.

Inverno afastou-se da árvore em que estava encostado e deitou na relva, observando o céu do século XX. Era tudo tão diferente...

Teve certeza que sua mente havia lhe pregado uma peça quando fechou os olhos e pensou ter ouvido as águas da cachoeira desabando furiosas no lago. Concentrou-se mais um pouco e podia jurar que estava deitado na relva perto da cachoeira, ouvindo os barulhos noturnos.

Sentia falta de seu castelo em Portugal, seu único lar. O lar dos malditos.

Ele foi tirado dessa linha de pensamentos quando percebeu algo frio e molhado escorrer do canto de seus olhos.

Era uma lágrima vermelha. Uma lágrima de sangue.

— Bela noite, não é, meu amigo?

Inverno limpou com um movimento rápido o rosto, sentou-se rapidamente e viu Acordador aparecer por entre as árvores com uma expressão solene no rosto. Guilherme concordou com um aceno.

— Mas não se comparam com as nossas noites de Portugal. Eu podia ver muito mais as estrelas.

— Sim, tens razão, ó gajo.

Acordador sentou ao lado de Inverno.

— Não faz lembrar-te do nosso D'Ouro? Não tens a sensação de que se tu fechasses os olhos em segundos estarias lá, ó pá?

— Ora pois... até pouco tempo estava experimentando essa sensação, coincidência tu falares nisso agora.

— Tu sentes tanta saudade como eu?

Ele confirmou com a cabeça.

— Brasil, essa é uma terra estranha... aqui não podemos ser garça entre as garças.

Inverno lembrou-se de Sétimo e, por mais que o gajo fosse um pequeno diabo, até das brigas Guilherme teve saudades.

Mas então ele sacudiu a cabeça.

Estava por demais emocional.

Os dois permaneceram em silêncio por uns minutos, até que Acordador sorriu e levantou-se.

— Anda, Guilherme, vamos despertar nossos irmãos e voltar para casa. — em seguida estendeu a mão para Inverno.

— Sim, Manuel, vamos para casa, para nosso castelo no D'Ouro.

Guilherme então acompanhou Manuel, o vampiro Acordador, seu companheiro de tantos séculos.

Iria finalmente voltar para seu lar.


N/A: Escrevi essa fic por volta de janeiro de 2009, um tempo de depois de terminar Os Sete, e só achei a coitada muito tempo depois, remexendo em DVDs de backup. Tinha outra fic centrada no Baptista, se eu achar posto aqui também.