Naruto pertence a Masashi Kishimoto.
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~Entre Livros, Flores e Fotografias~
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"A dificuldade de estabelecer e firmar relações. Há uma técnica para isso, conheço-a. Nunca pude meter-me nela. Ser 'simpático'. É realmente fácil: prestabilidade, autodomínio. Mas. Ser sociável exige um esforço enorme — físico. Quem se habituou, já se não cansa." (Vergílio Ferreira)
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Capítulo 1: Livrarias de Shopping
Sai entrou na livraria e sentiu o cheiro de café que vinha da cafeteria franqueada, misturada às estantes sóbrias de livros como se fosse mais um artigo de papelaria.
Nunca escondeu sua impaciência para com livrarias de shopping, todas tinham um quê de impessoalidade e seus frequentadores não eram, exatamente, intelectuais inclinados a leituras agradáveis. Eram todas iguais – como produtos vendidos por atacado – e não mereciam sua atenção, mas Sai sabia que os livros de arte e de fotografia custavam mais barato ali do que nas pequenas livrarias especializadas.
E era uma livraria, de qualquer forma. Poderia até parar para tomar um café ruim de cafeteria franqueada.
Uma outra coisa que também detestava em livrarias de shopping, além de toda a impessoalidade: nem bem havia entrado e já fora abordado por três atendentes diferentes. Sorriu com forçada educação para todos. Não, não estava procurando nada em especial. Sim, sem dúvida chamaria quando precisasse.
Dirigiu-se para as mesas de lançamentos e apanhou o mais recente de Richelle Mead, desgostoso. O mercado estava tão saturado de livros de vampiro que já pensava em escrever seu próprio. Não entendia porque os livros de fantasia eram tão apreciados, se a vida cotidiana, os sentimentos e as razões humanas já eram bem difíceis de se compreender. Jogou o livro de volta à mesa e dirigiu-se para a seção de literatura estrangeira.
Onde uma bela e tão inesperada visão o fez estancar em seu lugar.
Com uma bolsa de patchwork junta ao corpo e sapatos mocassinsum tanto velhos, porém limpos, uma jovem estava de pé num canto isolado, mergulhada no livro aberto em suas mãos. Ela não percebeu sua aproximação e Sai aproveitou-se da situação, abrindo a pasta transversal que pesava em seu ombro e tirando de lá uma câmera fotográfica. Enquadrou a jovem na lente e, com um quase inaudível click, sua imagem havia sido capturada. O flash assustou a moça, que o fitou com espanto.
- Que... Que pensa que está fazendo? – perguntou ela, fechando o livro e o agarrando ao peito.
- Fotografando você – disse Sai, com simplicidade.
- Com que direito?
Sai abaixou sua câmera e fitou sua face. Havia gloriosos tons de embaraço espalhados por cada canto.
- Ficou zangada?
A moça suspirou.
- Apenas não o faça de novo, está bem?
Sai assentiu e aproximou-se. Seus olhos recaíram sobre o livro que a moça segurava. Édipo Rei, de Sófocles.
- "Decifra-me ou devoro-te" – recitou. – Sabe, às vezes, é assim que me sinto em relação às pessoas. São todas tão difíceis de se decifrar e parecem estar me lançando enigmas a todo instante.
A moça sorriu, devolveu o livro à estante e, apertando mais a bolsa junto ao corpo, retirou-se. Sai a viu se afastar e fitou, por um instante, o livro recolocado na prateleira. E uma ideia tomou forma. Decifra-me ou devoro-te, ela pareceu dizer, e Sai apanhou o livro e correu ao caixa.
Não, não estava interessado em fazer um cartão ou adquirir um vale-presente. Não, não precisava embalar, era só enfiar numa droga de sacola plástica. Sorriu agradavelmente para a balconista nervosa e apressou-se para a saída, esperando encontrar a moça.
Encontrou-a admirando as canecas na vitrine de uma loja de presentes e a abordou, erguendo triunfantemente a sacola da livraria.
- Isso é para você – disse.
A jovem pegou a sacola e tirou o livro de lá, reconhecendo-o.
- Não posso aceitar – respondeu devolvendo o livro a Sai, que franziu a testa.
- Porque não?
- Eu sequer conheço o senhor.
Sai apertou os lábios, pensativo.
- Que coisa complicada. – E, então, sorriu. – Pois bem. Eu sou Sai, e você?
A jovem o fitou e, apertando mais a bolsa junto ao corpo, colocou uma mecha de cabelo atrás da orelha.
- Hinata.
- Certo, Hinata. Acompanharia-me num café ruim de cafeteria franqueada?
Hinata o encarou, nervosa, as sobrancelhas tão arqueadas que sumiam por debaixo da franja, com um tom que beirava ao violeta colorindo suas bochechas. Por fim, depois de olhar para os lados enquanto torcia as mãos, suspirou com alguma relutância, mas com um jeito de que se dava por vencida.
- Eu aceito.
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Édipo Rei, de Sófocles, é uma tragédia grega que narra parte do mito de Édipo. A frase "Decifra-me ou devoro-te" é recitada pela esfinge quando esta lança seu desafio.