"Walk on through the wind
Walk on through the rain
Though your dreams be tossed and blown
Walk on, walk on
With hope in your heart
And you'll never walk alone
You'll never walk alone"
¹

James estava voando acima do campo, antes do primeiro jogo da temporada. Aqueles cinco minutos que precediam os jogos eram preciosos para ele. Seus medos e desejos pareciam ir embora quando James ouvia a torcida da Grifinória gritando por seu time. Por mais importante que o jogo fosse pra ele, James sempre se esforçava ao máximo para não decepcionar seus colegas de casa e torcedores.

Uma pessoa em particular chamou sua atenção. Ela estava lá. Ele mal podia acreditar! A música que a torcida cantava era meio que a música deles dois, porque ela havia ensinado a ele no primeiro jogo que ambos assistiram na escola. James se lembrava daquele dia como se fosse ontem...

Ela estava sentada ao seu lado, murmurando uma canção que ele nunca havia ouvido antes.

- Isso faz o stress ir embora? – perguntou, virando-se para ela, sem conseguir controlar a curiosidade.

- O que?

- Murmurar.

- Ah... bom...

- Ah, entendi – ele sorriu para ela, como quem sabe das coisas. – Você só queria a minha atenção.

- Não, Potter! – ela exclamou alto. – Meu pai costumava cantar essa música pra mim, quando eu era menor. É o hino do nosso time¹.

- Time?

- É, time de futebol. Quadribol não é o único esporte no mundo, sabia? – ela revirou os olhos.

- Você se importa em me ensinar? – ele pediu, interessado.

- O que? Futebol? – ela perguntou, sinceramente confusa. – Porque eu não sou a melhor...

- Não! A... a música.

Ela o olhou de um jeito engraçado, e sorriu.

- Claro.

E ela ensinou. Ela o fez repetir cada linha da letra até o momento em que o jogo começou.

- Nós devíamos cantar pra eles – James disse, apontando com a cabeça para os jogadores. A Grifinória perdia de lavada.

- Nós? Eles nunca vão nos ouvir...

- A intenção é o que conta, não é?

- Talvez um dia você tenha esse campo inteiro cantando essa música. Pra você – ela disse, sorrindo.

- Ah é, com certeza – ele riu. Certamente haveriam outros caras mais velhos e melhores jogadores que ele na casa.

Ela inclinou a cabeça para o lado, para olhá-lo melhor.

- Você nasceu pra ser um herói, Potter. – E antes de voltar sua atenção para o jogo novamente, ela acrescentou: - E você sabe disso.

James vinha sonhando desde então com o dia em que o estádio estaria cantando pra ele, bem como estava acontecendo hoje. E ele realmente não podia acreditar que ela estava mesmo lá, e sorrindo para ele.

- Prongs... – Sirius o chamou. James olhou em volta, mas não conseguia ver o rosto do amigo em lugar nenhum. - Vamos, cara.

- Pads? O que...?

- Você tá atrasado, cara. Vamos!

- Atrasado?

- Ah meu Merlin...

E então James se sentiu sendo empurrado de sua vassoura e caiu de uma forma não muito graciosa num chão duro e frio.

- Merda, Padfoot!

Seus olhos estavam bem abertos agora e suas costas doíam pra caramba. James mal podia ver o que estava bem na sua frente e não estava com humor o bastante para servir de palhaço particular para Sirius.

- Desculpa, cara. Nós não vamos conseguir tomar café da manhã direito e a McGonagall vai nos matar se nós não chegarmos na hora pra aula dela de novo.

- Que seja, cara – James resmungou, massageando suas costas dolorosamente. – Que seja.


Captain Fantastic

Capítulo Um: Você Nunca Estará Sozinho

- Bom dia, Evans.

- Bom dia, Potter. Vocês só estão... cinco minutos atrasados hoje. É um progresso e tanto!

Lily Evans era a garota mais linda que James já vira na vida, por mais ridícula que essa frase seja. Ela tinha vários sorrisos, por exemplo. E o que ela estava lhe dando nesse momento era um dos preferidos de James: o irônico. Por que? Porque quando os lábios de Lily se curvavam, eles faziam aparecer em sua bochecha direita uma covinha particularmente... bem... sexy... na humilde e inocente opinião do rapaz.

- Estou poupando minhas energias para o jogo de amanhã, Evans – ele respondeu, sentando-se ao seu lado, e se servindo.

- Você tem feito isso desde setembro, Potter!

- É um jogo importante, Lilykins – Sirius disse, em defesa do amigo, antes de enfiar um pedaço particularmente grande de bolo de laranja na boca.

- E você, Pads? Tem poupado suas energias pra assistir ao jogo? – Remus Lupin perguntou, em tom pretensamente sério.

- Espere até a próxima lua cheia, Moony querido – Sirius replicou, erguendo uma das sobrancelhas ameaçadoramente.

James e Lily trocaram um olhar divertido e riram.

- Você vai assistir ao jogo, Evans? Você sabe que é contra a Lufa-Lufa do seu querido Amos, não sabe? – James perguntou, tentando esconder o ciúmes que sentia do colega de escola. Ele e Lily eram relativamente próximos, devido aos anos servindo como monitores juntos.

- Meu querido Amos, Potter? – ela riu. – Você sabe que ele está namorando, não sabe? E me parece bem sério dessa vez.

- Ah então você deve estar se sentindo chateada por isso? – Sirius perguntou, como quem não quer nada.

- Chateada? Por que? Ora, a Melina é muito legal! E eles parecem se gostar bastante – Lily deu de ombros.

- Certo...

- Então, Remus, como nós estávamos dizendo antes de sermos interrompidos por essas duas pessoas irresponsáveis sentadas entre nós... – ela virou-se para o amigo e continuou a conversa anterior, sobre algum livro qualquer.

Ela realmente parecia sincera ao dizer que não se importava com o fato de Amos estar comprometido. Talvez Lily não tivesse uma queda por ele, como James supunha.

Ponto pra mim.


O vestiário do time da Grifinória estava uma bagunça só. Garotos correndo para um lado e para o outro, terminando de se vestir, repassando a tática treinada no dia anterior. James, como sempre, era o último a sair do vestiário. Ele esperava até o último segundo, esperava até seus companheiros se dirigirem para o corredor que dava acesso ao campo. Gostava de ficar sentado ali por alguns instantes, era sua forma de relaxar.

Fechou os olhos e respirou fundo, tentando não pensar na possibilidade de que esse jogo, mesmo sendo o primeiro da temporada, pudesse ser extremamente difícil.

- Potter?

James abriu os olhos rapidamente e se endireitou no banco em que estava sentado. Lily estava parada à sua frente, parecendo um tanto nervosa também.

- Eu só... Eu sei como esse jogo é importante pra você, então eu queria te desejar boa sorte – ela sorriu, o segundo sorriso favorito de James: o tímido. – Isso e o fato de que eu apostei com a Harper da Lufa-Lufa que a gente ia ganhar, então, por favor!

James riu e se levantou, pegou sua vassoura e se aproximou dela.

- Vou tentar não te decepcionar, Evans. Mais uma vez.

Lily ficou séria por um segundo e virou-se para sair.

- Você nunca me decepciona no Quadribol, Potter. Não se preocupe.


Contrariando o pensamento popular, o time da Lufa-Lufa era realmente bom. Não estavam facilitando de forma alguma o jogo para a Grifinória. James era capitão do time pelo segundo ano. E mesmo depois de ter ganho a taça no ano anterior e de tantos treinos exaustivos durantes os últimos meses, ele se perguntava se era a melhor pessoa para comandar os grifinórios. Era óbvio que suas táticas não estavam dando certo. Se Amos Diggory pegasse o pomo, era uma vez a invencibilidade de dez jogos que James havia conquistado tão arduamente.

Ele estava ali, na cara do gol, como os trouxas diriam se fosse um jogo de futebol. Tudo que ele precisava era...bem... da goles. E ela estava com Lance Lewis, que era um bom jogador, mas nunca conseguiria acertar de uma distância tão grande.

- Passa a goles! – Lily berrou a plenos pulmões na arquibancada, fazendo Remus e Nicolle tamparem os ouvidos. – Você é idiota, Lewis? PASSA A GOLES!

- Lewis, passa a goles! – James gritou pra ele, balançando os braços freneticamente. Eles precisavam marcar um gol logo. Muitos gols, na verdade.

Mas Lance não passou para nenhum outro artilheiro. Ele seguiu em frente, sozinho e no momento crucial... perdeu a bola.

- NÃO!

- Lewis! O que diabos você estava pensando? – James praticamente berrou, vermelho de raiva.

- E Diggory pega o pomo pra Lufa-Lufa! Fiiiiiiiim de jogo!

- Lewis, seu idiota! – um garotinho do primeiro ano gritou e vaiou Lance, ato que foi incentivado e copiado pelos seus outros colegas de casa.

- Que todo mundo pode brilhar nesse maldito jogo, capitão! – Lance berrou em resposta, arrancando seus óculos de protenção² e jogando-o no chão com força.

O resto do time olhou de Lewis para James, apreensivos. Mas James não fez nada, apenas seguiu o companheiro para dentro do vestiário, depois de cumprimentar os lufa-lufas pela vitória.

- Nós fomos patéticos – Abraine, a outra artilheira da equipe disse, num tom cansado.

- Foi o pior jogo da minha vida – Fillie, o novo apanhador, resmungou.

James respirou fundo.

- Sim, nós fomos patéticos e sim, o jogo foi um dos piores de nossas vidas. Mas esse é só o começo. Nós não podemos desistir agora! Nem agir da forma que vocês estão agindo – ele encarou um por um dos jogadores. – Vocês viram o quanto o campo estava lotado? A escola inteira veio nos ver e nós os decepcionamos. Decepcionamos nossos colegas de casa, nossos amigos, nossa professora. Eu não sei quanto a vocês, mas esse não é um sentimento que eu aprecio, e pretendo nunca mais ter que sentir isso!

"Olhem pra nós. Ninguém ganha um jogo sozinho. Nem eu, nem você, nem você, nem você, nem você, nem você – James continuou, apontando para os companheiros. – Enquanto a gente não entender que somos uma equipe e não um amontoado de pessoas com talento para Quadribol, nós não vamos chegar a lugar nenhum. Eu preciso de vocês e vocês precisam de mim, simples assim.

"Levantem a cabeça, porque nós temos um longo caminho pela frente. E eu quero poder contar com cada um de vocês nessa jornada.

James suspirou e arrancou a braçadeira de capitão, jogando-a em um canto qualquer, antes de começar a se despir, sem se importar com o fato de que haviam duas garotas no vestiário.

- Pot... Jam... cap... – Lewis se aproximou dele, sem saber como chamá-lo. – Me desculpe. Eu sei que...

- Tudo bem, Lance.

- Mas eu...

- Todo mundo merece brilhar, você tem razão - James virou-se para ele. – Só pense no time antes de pensar em você na próxima vez, ok?

- Certo... certo! Capitão.

- James.

- Hmm?

- Você pode me chamar de James, Lance.

- Ah, ok. Obrigado... eu acho.

James sorriu para ele antes de se dirigir ao chuveiro mais próximo.


- Em todos esses anos, eu nunca nem cheguei perto de você antes de um jogo. Na única vez em que eu te desejo boa sorte, nosso time perde.

Lily estava andando pelo vestiário, analisando o lugar. James se surpreendeu ao vê-la ali, mas não se pode dizer que ele não estava feliz com a surpresa.

- Talvez da próxima vez você me dê um beijo de boa sorte. Quem sabe funciona.

- Nos seus sonhos, Potter.

Ela se sentou em um dos bancos e o encarou. James vestia uma calça jeans e uma camiseta azul, que estava levemente molhada nas costas – ele provavelmente não estava com paciência para se enxugar direito. Por alguma razão, por mais casual que ele estivesse vestido, Lily o achou incrivelmente atraente, parado diante dela.

- Eu te decepcionei – ele murmurou.

Ela o olhou sem entender por um momento, depois bateu no lugar ao seu lado, pedindo para ele se sentar.

- Você fez o que pôde, Potter.

- Li-Evans? Você... você acha que eu jogo pra aparecer?

- O que?

- Foi uma coisa que me disseram hoje – ele começou, levemente envergonhado. – E eu estive pensando... durante todo esse tempo, eu disse pra mim mesmo que só estava jogando quadribol porque eu gosto de jogar e porque as pessoas precisam se divertir de vez em quando, esquecer que tem um cara doido a solta. Mas talvez... talvez eu só estivesse tentando me convencer que havia alguma razão nobre por trás do fato de eu gostar da atenção que eu recebo por causa do quadribol.

Lily se aproximou dele, tocando seu ombro levemente com uma das mãos.

- Você lembra no segundo ano? Você nem queria participar dos testes, porque achou que não ia conseguir passar, que não era bom o bastante pra estar no time da casa. E você lembra do que aconteceu?

- O capitão daquela época nem quis ver os outros candidatos e disse que a vaga era minha, assim que me viu jogando – ele respondeu, com um pequeno sorriso.

- Você merece a atenção que recebe, eu acho – ela disse, surpreendendo-o pela segunda vez naquela tarde. – Você tem esse dom pro quadribol, Potter. E mesmo que por algumas vezes você tenha saído por aí se gabando por ser tão bom como artilheiro quanto como apanhador, eu não acho que você jogue pelas razões erradas, se é que isso existe. Você gosta, você é bom, e acredite em mim, as pessoas se distraem nesses jogos. Nada mais importa além dos doze jogadores lá em cima.

- Puxa, o Moony tem razão – James disse, aproximando seu rosto. – Você é mesmo boa pra consolar os outros.

- Obrigada – ela agradeceu, e, percebendo as intenções dele, levantou-se. – Eu acho melhor eu ir. Ainda não dei os parabéns pro meu querido Amos pela vitória.

- Você sabe que ele está namorando, não sabe? – James perguntou, entrando na brincadeira dela. – E me parece bem sério dessa vez.

- Eu vou sobreviver – Lily murmurou, sorrindo, antes de dar um beijo no rosto dele. – Até mais, Potter.


Lily chegou no salão comunal da Lufa-Lufa – sendo Monitora Chefe, ela tinha o privilégio de saber a senha – para falar com Amos e pagar a aposta que tinha feito com uma das monitoras, mas encontrou Amos cercado por fãs e Harper estava um tanto quanto grudada em seu namorado.

- Eu acho que não vai ter jeito de falar com ele hoje – Lily riu, apontando para Amos.

- Nem eu consegui chegar mais de três metros perto dele! – Melina Stevens exclamou, rindo também. – Ser namorada do astro do time não é lá grandes coisas, vou te contar.

- Posso imaginar! Você diz pra ele que eu passei por aqui?

- Claro.

- Ok. Obrigada. Eu acho que eu... – Lily apontou pra saída e se preparou para sair, quando foi chamada por Melina. – Sim?

- Você... Olha, eu sei que vai soar ridículo, mas eu preciso saber... Você sabe se o James está saindo com alguém?

De todas as perguntas que Melina poderia fazer, essa não era exatamente a que Lily estava esperando.

- James? Por...? Você está namorando o Amos!

- Eu sei, Lily. E eu definitivamente não estou interessada pelo James.

- Então...?

- A Karen, minha melhor amiga, está. Interessada nele, eu quero dizer.

Lily balançou a cabeça, compreendendo a situação. Mas o que ela deveria responder?

- Eu sinceramente não sei, Melina. A gente na discute muito isso, sabe. É meio... pessoal demais.

- Ah, tudo bem, Lily. Eu vou dar um jeito de descobrir – Melina sorriu. – Obrigada mesmo assim.

Ela concordou com a cabeça e saiu o mais rápido possível. Por que? Por que logo agora Karen Dawson resolvera que gostava de James? Não era justo! Alguns anos antes, ela havia decidido que gostava do mesmo garoto que Lily. E agora de novo? Mas agora a situação seria diferente! E como seria!


N/A: Olá :D Bem, um ano depois do pedido da fofa da Fer C. Potter, resolvi tomar vergonha na cara e respostar a fic. O texto continua igual, não mudei nada.

¹You'll Never Walk Alone, canção do musical Carousel, que foi adotada pela torcida do Liverpool como seu hino.