CAPÍTULO 1: AQUELE COM MAIS UMA VITÓRIA CONTRA DURMSTRANG... E MAIS UM FORA DO POTTER

Narração: Lily Evans

- E É GOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOO OL! SIRIUS BLACK MARCA NOVAMENTE! EXCELENTE PASSE DE JAMES POTTER... Essa dupla, como sempre, arrasando! – Vibrava, animada, a comentarista do jogo. – 2x1 para a casa. O que nos aguarda os 15 minutos restantes desse clássico?

- Muita tortura. Se um deles for elogiado mais uma vez, eu juro que sairei desse estádio – resmunguei, cruzando os braços. Lene e Alice, que estavam do meu lado, não me deram ouvidos e continuaram gritando e torcendo para o Potter e o Black, como duas tietes.

- Lily – pediu Marlene no breve instante em que tirou os olhos do campo –, este jogo está eletrizante! Como pode ser tão indiferente?

Bufei.

- Só não acho futebol toda essa maravilha – dei de ombros. – Qual é a graça de ficar assistindo a um bando de homens correr atrás de uma bola?

- Você só diz isso por causa do James – Alice se intrometeu na conversa, pela primeira vez prestando atenção nas minhas reclamações. – Pare de reclamar, Lil. Tente assistir ao jogo sem saber que é o Potter na camisa 17 que você irá gostar.

- Humpft – murmurei, zangada.

- GO, GO, HOGWARTS! GO, GO, HOGWARTS! O TIME DOS MAROTOS VAI GANHAR! MAROTOS, VAMOS LÁ! MAROTOS, VAMOS LÁ! – dançavam, animadas, as líderes de torcida, o querido grupo ao qual minha doce irmãzinha pertencia. Fiz uma breve análise de seus gestos por alguns segundos. Túnia vestia a mini saia vermelha com o desenho de um elegante leão (o símbolo de nossa escola, Hogwarts) na lateral e uma blusa branca de bordas vermelhas com um grande "H" na parte da frente, característicos do uniforme das líderes de torcida. Cada cheerleader tinha uma letra. Petúnia movimentava-se graciosamente, embora com rapidez. Erguia os pompons também vermelhos e balançava-os. Esboçava sorrisos, pulava, cantava e dançava com uma alegria impressionante que, na vida real, sabíamos que ela não tinha, uma vez que Petúnia dedicava todo o seu bom humor para atormentar a mim, sua querida irmã, e aos outros nerds da escola. Bom, pelo menos era reconfortante pensar que ela não era um cavalo sempre. Quem a visse das arquibancadas (como eu a via, agora), podia acreditar que tratava-se da mais meiga das garotas. E esse charme aparente era sua maior arma. Petúnia podia conseguir o que quisesse, de quem quisesse, e onde quisesse, que nada lhe seria negado.

- E ONDE ESTÁ A PRESENÇA DAS MENINAS DA DURMSTRANG NA TORCIDA? VOCÊS ESTÃO FRACAS, HEIN... – O comentário de Rita Skeeter, a narradora da partida, provocou uma onda de risadas. Hogwarts e Durmstrang eram rivais no futebol há anos. Apesar de esse ser apenas um dos jogos classificatórios, e que Hogwarts voltaria a enfrentá-los daqui a algumas semanas, todos os jogadores estavam tensos.

- VAI TOMAR NO CU! FOI FALTA, FOI FALTA, JUIZ! ARGH! – berrava Marlene, feito louca. Para todos os efeitos, eu não a conheço. Fiz cara de sonsa distraída enquanto alguns torcedores a olhavam estranho.

- VAI, JAMES! PEGA ESSA BOLA! ISOLA ESSE CARALHO NA CARA DESSE KRUM AÍ PRA ELE APRENDER A SER GENTE! – gritava Alice, também irritada.

Bom, não só os jogadores. A torcida também estava tensa, obviamente.

Até que a porra ficou séria. E para até eu ter percebido isso, é porque ficou sério mesmo! No campo, ninguém mais estava em suas posições. Potter estava no chão e Black, inconformado com aquilo, foi até o jogador que aparentemente o havia derrubado e o empurrou mais forte ainda. Os outros formaram um círculo ao redor da confusão, sem realmente entender o que estava acontecendo. (Eram jogadores de futebol. O que mais poderíamos esperar?).

- QUE PORRA É ESSA? – ouvi Black gritar. – Juiz! – pediu pela falta.

- E, COMO SEMPRE, BLACK PERDE AS ESTRIBEIRAS NO MEIO DO JOGO... SABEMOS QUE ELE É UM EXCELENTE JOGADOR, EXCELENTE ALUNO, ÓTIMO AMIGO E UM PERFEITO CONTADOR DE PIADAS... MAS PRECISA TRABALHAR NESSA PACIÊNCIA! – ponderou Rita, de onde sentava, quase pulando para o meio do campo e agarrando Black, na frente de todos. Era óbvio que ela o desejava! – AFINAL DE CONTAS, QUEM ESTÁ ALI CAÍDO É O POTTER... JAMES? ONDE ESTÁ SUA REAÇÃO, GAROTO? PARTA PARA CIMA DESSE KRUM... QUEM ELE PENSA QUE É!? É SUA PRIMEIRA PARTIDA E ELE JÁ COMETE UMA FALTA DESSE PORTE... DESCULPE, MADAME HOOCH.

Madame Hooch, nossa técnica de futebol, provavelmente disse poucas e boas para Skeeter, que sempre falava demais.

Ignorando Skeeter, Potter se levantou. Seus joelhos e cotovelos sangravam. Isso foi o bastante para a nossa torcida ir à loucura, e toda a muvuca recomeçou. Líderes de torcida dançavam de um lado, a torcida gritava de outro, e eu sendo forçada a ficar aqui no meio só porque Alice não queria deixar seu namorado, Remus Lupin, o goleiro, desamparado.

Isso porque nós tínhamos combinado de passar a manhã de sábado no shopping, mas ela se esqueceu de que ele já tinha jogo marcado, então... Sobrou para eu vir e prestigiar este glorioso evento.

- POTTER ESTÁ DE VOLTA! KRUM RECEBEU UM CARTÃO AMARELO. SÓ ISSO, JUIZ?! AH, JUIZ! JUIZ, LADRÃO! PERDOE-ME, MADAME HOOCH... BOM, POTTER ESTÁ DE VOLTA! E ESTÁ QUASE COMO UM PEDAÇO DE CARNE NO MEIO DO CAMPO, RAWR! MENINAS DE HOGWARTS, VAMOS NOS CONTROLAR! APARENTEMENTE, NOSSO ATACANTE TEVE SEU CORAÇÃO FISGADO... SERÁ QUE A NOSSA QUERIDA RIVAL LILY EVANS ESTÁ AQUI, PRESTIGIANDO SEU AMADO?

Arrrrrrgh! Skeeter vai levar a maior surra de sua vida quando sair desse estádio! EU?! AMADA DO POTTER?! PRESTIGIAR MEU AMADO?!

- Uhhhhhhhh – uivaram todas as presenças femininas do estádio. Incluindo alunas de Hogwarts, alunas de Durmstrang, líderes de torcida e as mães dessa cambada toda. Excelente! Agora eu sou uivada só por causa dessa anta do Potter!

- ACALMEM-SE, MENINAS! NÃO HÁ MAIS JAMES POTTER PARA TODAS, MAS CERTAMENTE HÁ SIRIUS BLACK!

- UHUU! SIRIUS, EU TE AMO! – Alguma retardada gritou. Do meu lado, Marlene bufou. Ela acha que não percebi, mas vi seus lábios formarem a palavra "idiota".

- E COM CERTEZA HÁ LONGBOTTOM TAMBÉM! E DIGGORY... E OS OUTROS MAROTOS DO NOSSO TIME, COM EXCEÇÃO DO NOSSO QUERIDO GOLEIRO LUPIN, QUE PROVAVELMENTE JÁ MARCOU CASAMENTO COM A SRTA. PREWETT... – Skeeter sorriu. – PESSOALMENTE, ACHO QUE ELES SÃO O CASAL MAIS CATIVANTE DE TODA HOGWARTS!

- Awww – fez Alice, visivelmente emocionada do meu lado. Remus desviou o olhar do campo, por um breve momento, e lhe mandou um beijo.

Não pude deixar de sorrir. Eles eram realmente o casal mais fofo de todos os tempos! Ao contrário de mim, grande parte da torcida parecia desapontada.

- PERDOE-ME NOVAMENTE, MADAME HOOCH! É QUE ESSA PARTIDA ESTÁ EXCELENTE... ENTÃO POR QUE EU NÃO A NARRO, MADAME? PORQUE EU TAMBÉM DEVO DEIXAR TODOS SABENDO DAS FOFOCAS DE HOGWARTS, É CLARO! XOXO POR ESSE JOGO, GALERA! AQUI É RITA SKEETER COM AS NOTÍCIAS MAIS QUENTES DE HOGWARTS!

O estádio inteiro riu novamente. Realmente, Rita era engraçada...

- E POTTER TÁ QUE TÁ! TÁ DOIDINHO PRA HMM, DOIDINHO PRA... FAZER GOL, É CLARO! HAHAHA. OLHA SÓ! ISSO FOI UM CHAPÉU QUE POTTER DEU EM KRUM? BEM FEITO, SEU NOJENTO, BEM FEITO! – O estádio permaneceu em silêncio por um momento, esperando pelo gol que estava por vir. Mas que não veio. – QUASE! CHUTE QUASE PERFEITO DE AMOS DIGGORY, PENA QUE FOI NO TRAVESSÃO! TIRO DE META PARA O GOLEIRO DE DURMSTRANG. HM... TROY REYNOLDS COM A POSSE DE BOLA... PHILIP McCONNOUGH SEGUE ADIANTE, PASSOU DO MEIO CAMPO! ISSO AÍ, BLACK! PRA CIMA DELE, GAROTO! E BLACK CONSEGUE ROUBAR A BOLA! VAMOS LÁ... UM MINUTO DE JOGO, VAMOS LÁ! VAMOS FAZER MAIS UM PARA HUMILHAR ESSES PODRES... PERDÃO, MADAME HOOCH! BLACK DRIBLA UM, DRIBLA DOIS... PASSA PARA POTTER QUE... VAMOS LÁ, POTTER! VINTE SEGUNDOS! POTTER DRIBLA KRUM, ENTRA NA GRANDE ÁREA, CHUTA E... GOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOO OOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOO OOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOO OOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOO OOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOO L! – A multidão foi novamente à loucura, com risos, uivos e comemorações de todos os tipos. - E HOGWARTS GANHA MAIS UMA CONTRA DURMSTRANG! QUEM SE IMPORTA COM OS SEGUNDOS RESTANTES, SINCERAMENTE, JUIZ?! ESSE ANO VAMOS FINALMENTE ENTRAR PARA O CAMPEONATO INTERCONTINENTAL, E ENFRENTAR AQUELA ESCOLA FRANCESA CUJO NOME NÃO SEI PRONUNCIAR! BEAUX.. ENFIM! PARABÉNS AOS NOSSOS MAROTOS E HERÓIS DO TIME DE FUTEBOL DE HOGWARTS! ATÉ A PRÓXIMA, GALERA!

O que se seguiu foi muito parecido com um pandemônio, muito embora um pandemônio fosse mais organizado. As arquibancadas – com alunos de Hogwarts, Durmstrang e pais dos jogadores – pareciam querer esvaziar naquele momento, e não havia espaço para sequer uma alma passar. Sem contar que os jogadores, lá embaixo, haviam tirado suas camisas, para o delírio das desmioladas que eles chamavam de "gostosas", e essas daí corriam com tanta pressa em direção ao campo que parecia que estavam correndo em uma prova de atletismo.

- Vamos lá, Lily! Não pode ter sido tão mal assim, não é? – indagou Alice, com um sorriso de orelha a orelha por termos ganhado. Ainda não havíamos saído do lugar.

- Realmente, Lice – sorri. – Não é tão ruim. Mas Rita Skeeter irá me pagar depois por ter feito aquele comentário sobre o Potter e eu!

- Então agora existe um "o Potter e eu"? – Marlene esboçou um sorriso maroto ao entrar na conversa. – Lily, Lily! Você nunca me enganou. Todo esse "ódio" falso...

- Cale a boca, Lene. Eu não sou como umas e outras, que ficam babando pelos jogadores de futebol!

- E como não babar? Olha eles sem camisa, Lily! Olha só aquele tanquinho do Sirius, meu Deus. Ô, lá em casa! – riu enquanto olhava para o Black descaradamente.

Bufei.

Alice e Marlene riram.

- Vamos lá, Evans! Nós sabemos que você está na TPM, e que não queria estar aqui...

- E ainda espera que eu esteja de bom humor e satisfeita, Lice? – cortei-a, emburrada. Elas só haviam me contrariado até agora, e ainda queriam que eu estivesse a mil maravilhas?

Marlene me abraçou pelos ombros.

- Sorria, querida Lil! Hoje é sábado! Nós iremos almoçar no Tony's, e depois...

- O QUÊ?! – berrei, descontrolada. – Não acredito nessa traição! Marlene, Alice! Vocês sabem o que tem no Tony's?! O Tony's é o lugar para onde vão todas essas líderes de torcida e esses jogadores de futebol metidos! Eu já fiz um esforço enorme por vir aqui, e agora você quer que eu vá almoçar com esse pessoal que passa a maior parte do tempo ignorando a gente? – eu estava FURIOSA!

- Lily! Eles não nos ignoram. Pare de inventar histórias! O Remus é seu melhor amigo! James Potter não consegue parar de cantar você, Sirius Black adora a nossa companhia, Remus é meu namorado, Amos Diggory te acha a ruiva mais gostosa do pedaço, as líderes de torcida são todas... gentis... com você por causa de Petúnia, a líder delas e sua irmã! Quem nesse grupo te ignora, novamente? – ponderou Alice. Alice simplesmente adorava argumentar. Era como se fosse seu esporte preferido. E, geralmente, não havia muito a dizer depois de seus longos sermões.

- Mas... – permaneci em silêncio enquanto as duas erguiam suas sobrancelhas, em sinal de dúvida.

- "Mas" nada. Vamos logo.

Não pude deixar de acompanhá-las. As arquibancadas finalmente estavam esvaziando, e sobrou um espacinho para sairmos. Desci contrariada, bufando.

Agora tinha que aguentar um almoço e metade da tarde ouvindo Potter, Black e o resto dos jogadores se gabando pela vitória e as líderes de torcida se atirando em cima deles.

Excelente. Realmente, tudo o que eu queria para o meu sábado.

Narração: James Potter

Com o coração a um milhão, entrei na grande área. Havia acabado de driblar o estúpido do Krum, o que restaurara minha confiança, e parti para o chute. Era como se minhas pernas se movimentassem sozinhas. Chutei.

E, nada surpreendentemente, porque é claro que eu já sabia o resultado... GOL!

Eu era o melhor. Eu sou o mais foda, o mais gostoso, o mais lindo, o mais adorável... Simplesmente o melhor!

Abri um sorriso extremamente contente – e estonteante para as espectadoras - e satisfeito.

Havia feito o terceiro e último gol da partida, apesar de machucado. Havíamos vencido! Toda Hogwarts gritava nossos nomes. O meu e o de Sirius, principalmente.

As líderes de torcida cantavam a música enjoada delas. A única coisa interessante naquelas chatas eram aqueles peitos que ficavam pulando junto com seus movimentos de dança. Ah! Como pude me esquecer? E as coxas! Acho que elas treinavam demais, porque todas elas tinham pernas que... Vou te contar!

Sirius pulou em cima de mim, igualmente feliz. E suado. Eca!

- Sai de cima de mim, Almofadinhas! – gritei, brincando com ele. Me abraçou ainda mais forte.

- Meu Pontas lindo! Nós ganhamos de novo, Pontas! Também... Eu marquei dois gols, né. O que seria desse time sem mim? – convencia-se o convencido.

- Se liga, Almofadinhas. O time ficaria muito bem, porque ainda teria a mim! Seu capitão, James Potter! – ergui o punho em sinal de vitória.

- Grande capitão! Parecia mais uma mocinha quando foi empurrado pelo Krum. Acalme-se, Pontas – sorriu Sirius pacientemente quando viu que eu ia interrompê-lo – ele irá pagar! Já pensei em tudo.

- Interessante – sussurrei.

- Não somos marotos à toa, cara.

Batemos o punho.

Remus, animado, veio nos encontrar.

- Almofadinhas! Pontas! – suspirou ele, aparentemente cansado.

- Está cansado, Aluado? Por quê? – perguntou Sirius, displicente. – Você mal teve que se mexer nessa partida.

- A gente levou um gol, seu idiota. E pelo menos até a hora do seu segundo gol, me pareceu que Durmstrang estava jogando melhor que a encomenda.

- Não, meu caro Aluado – murmurou Sirius, em um tom... sexy?! Que tom era aquele?! – Melhor que a encomenda está aquilo ali! – E, com uma piscadela, nos mostrou.

Olhei para frente. Mesmo sem óculos, podia entender muito bem do que Sirius estava falando.

O trio.

Alice Prewett – proibida, a namorada de Remus -, Marlene McKinnon, uma das morenas mais gostosas da escola e... Evans. Lily Evans.

Meu sonho de consumo.

Observamos as garotas se aproximarem. Incrivelmente, nenhuma das meninas loucas que nos perseguiam haviam vindo falar conosco.

- Mô! Parabéns pelo jogo! – Alice disse para Remus, envolvendo-o num abraço apertado. Eles eram tão fofinhos! Ah-am. Quero dizer... Eles eram um casal legal.

- Obrigado – ele sorriu com simplicidade. E começaram a se agarrar. Simples assim, na frente de todo o estádio.

- McKinnon – saudou Sirius, começando a ser galanteador. Eu conhecia muito bem aquela tática, já que eu e ele chegávamos nas mina da mesma forma.

- Evans – cumprimentei com um sorriso. – Gostou da partida?

O olhar que Lily me lançou foi de matar. Ela praticamente fez uma careta ao me ver. Quem ela pensa que é para me tratar assim?! Logo eu, James Potter! O capitão do time de futebol, o maroto mais desejado por todas as garotas dessa escola! E ela vem com esse desprezo?! Eu vou mostrar a ela com quantos paus se faz uma canoa!

- Não, Potter. Não gostei da partida. E gosto muito menos do fato de ter que trocar uma palavra sequer com você. Não tem mais o que fazer? – perguntou, por fim, cruzando os braços e colocando seus óculos de sol.

Oh, Deus! Por que Lily tinha que ser tão gostosa?! E olha que ela nem vestia roupas vulgares! Ela só estava com um short – que nem era curto – e com uma blusa de alça dos Beatles, e um casaco jeans por cima. E com óculos ray-ban que ficava lindo no seu rosto. E com os cabelos ruivos soltos, que caíam muito bem por suas costas, formando belos cachos nas pontas. E ela tinha belas pernas. E era muito estilosa.

Lily era simplesmente linda. À sua maneira, é claro. Mesmo sendo dona daquela personalidade teimosa e intempestiva. Mas eu deveria ignorar isso se quisesse a atenção dela. Afinal, eu passara os últimos anos pegando no seu pé. Por que ela deveria me dar bola? (Além de todos os motivos óbvios, é claro).

- Ouch. Mau jeito, Pontas – riu Sirius livremente. Marlene o acompanhou.

- Evans, Evans. Aposto que não diria isso se soubesse que meu gol foi para você. – Ok. Eu sei que apelar é tosco. Mas o que mais me resta?!

Lily continuou me encarando. Embora eu não pudesse realmente ver, por causa dos óculos, eu sabia que ela me fitava.

- Realmente. Eu diria para você que esse jogo teria continuado uma bosta, e que seria muito melhor se você não tivesse feito gol nenhum para não inflar ainda mais esse seu ego enorme! – retrucou, cruzando os braços e ficando cada vez mais impaciente. As pessoas já começavam a se reunir ao nosso redor, prontos para verem mais uma vez a Lily me humilhar.

Eu não me importava. Era sábado. Havíamos ganhado. E, para a maior surpresa ainda, o sol aparecera.

- Sempre espirituosa! – elogiei, brincalhão. Abri um sorriso para ela, que continuava a encarar. – O que tanto olha, Evans? Não consegue parar de babar no meu físico? Você sabe que pode tocar nele quando quiser.

Lily congelou. Enquanto quem observava a cena ria, ela bateu o pé e, irritada, berrou:

- Cale a boca, Potter! Eu não estou olhando para você! Como se eu fosse perder o meu tempo olhando para esse seu tórax...

- Pode vir olhar o meu, Evans! Eu deixo! – exclamou Amos Diggory, o volante do time, que arrastava a asa para Lily há séculos.

- Minha gente! – irrompeu Rita Skeeter, a narradora do jogo. – O que temos aqui será a primeira página do jornal da escola de quinta-feira! – Rita piscou para mim. Éramos amigos, e, além disso, ela adorava... brincar com os outros, digamos.

- Skeeter! – exclamou Sirius. – Narrou muito bem hoje.

- Eu sei fazer muitas coisas "muito bem", Black – ela disse, piscando. Lily, Marlene e algumas líderes de torcida bufaram, fofocaram e soltaram muxoxos pela atitude de Rita. – É só pedir pra ver.

- É isso aí! Meninas de atitude sempre me chamaram a atenção, Skeeter – piscou Sirius. É um cachorro mesmo! Há dez segundos estava dando totalmente em cima de Marlene McKinnon, e agora olhava para Rita como se fosse sua próxima presa. É ISSO AÍ, MEU GAROTO! – Vamos almoçar conosco no Tony's?

- Estarei lá, Black. Agora – ela retomou o assunto anterior – o que estava acontecendo? Lily Evans sendo disputada por James Potter e Amos Diggory?! Evans está um mel, só pode! Falando nisso... Evans, você poderia nos dar uma entrevista para o jornal da escola?

Aí estava a oportunidade que todas – sem exceção – garotas de Hogwarts queriam. Dar uma entrevista para o Hogwarts Weekly! – Fofocas, nossa principal ocupação, que correspondia a assinar um atestado de popularidade.

Surpreendentemente, Lily Evans negou. Essa ruiva é toda errada!

- Muito obrigada, Skeeter – ela disse gentil, o tom de voz aveludado. – Mas acho que terei que passar essa.

- Evans, Evans, como você é inocente e adorável. Eu serei uma jornalista de mãos cheias, lidarei com comunicação. Você acha que não sou capaz de te dissuadir a dar essa entrevista? – Está aí uma coisa que eu havia observado em Lily Evans: ela ficava vermelha de raiva quando a desafiavam. Assim que suas bochechas assumiram o inconfundível tom vermelho, ela murmurou:

- Muito bem, Skeeter, você venceu.

Rita Skeeter tinha razão. Seu sonho era ser jornalista, e por isso tudo o que tinha a ver com notícias em Hogwarts estava sob seu comando (o jornal e rádio da escola, a narração das partidas)... E, quando ela dizia que conseguia persuadir uma pessoa, ela conseguia.

Talvez tenha sido por amizade que ela falou para mim, bem baixinho:

- Acalme-se, Potter. Tudo tem seu tempo. A ruiva será sua. Ouça minhas palavras.

Eu sorri para ela.

- E por que diz isso, cara Rita?

- Porque, no fundo, Lily Evans gosta de você. Acredite nisso, Potter. Você sabe que eu sou uma ótima leitora de expressões.

E saiu andando.

Olhei para a minha ruivinha. As pessoas ainda estavam ao nosso redor, esperando uma tórrida sessão de brigas, mas peguei minha camisa, coloquei-a no ombro e saí andando, com todo o estilo que um Potter possui.

Não antes de piscar e mandar um beijo para Evans, é claro, que bateu o pé de raiva e fez um "ARRRRGH!" de ensurdecer quem estivesse do seu lado.

Narração: Sirius "O gostosão" Black

Rita Skeeter era, no mínimo, uma figura peculiar. Apesar de enjoadinha, era muito elegante. Seus cachos louros e cheios moldavam seu rosto de forma angelical; quem a visse, poderia achar que era um anjo na Terra. Se bem que Lúcifer foi um anjo.

E é exatamente esse tipo de anjo que Skeeter era, constatei, sorrindo enquanto a beijava novamente. Senti suas mãos deslizando pelo meu tórax e rumo à coxa. E quando uma garota coloca a mão na coxa de um garoto... Isso só pode significar uma coisa!

- SIRIUS BLACK E RITA SKEETER ESTÃO NOS AMASSOS AQUI ATRÁS DA VARANDA DO TONY'S! SIRIUS BLACK E RITA SKEETER! QUEM IRIA IMAGINAR?! Esse meu priminho está com tudo – debochou Bellatrix Black, minha querida e adorável prima. Ela adorava infernizar a minha vida! Argh!

- Devo presumir que gostaria de tomar o lugar da Skeeter aqui, Bella? – ironizei, soltando Rita e prestando toda a minha atenção na figura magricela que estava na minha frente, com olhos em chama. – Mas somos primos! Não seria errado?

- O que fazer se os Blacks são irresistíveis, Sirius, querido – falou em tom de dúvida e mexeu nos cabelos. Clássico! Todos os garotos sabem que mexer no cabelo significa "querer chamar a atenção".

- Skeeter aqui sabe disso melhor do que ninguém. Não é, Skeeter? – perguntei, sorrindo novamente. Sou simplesmente irresistível e charmosíssimo.

- Ora, ora, Bellatrix. Se quiser uma posição no jornal da escola, é só falar comigo. Afinal, tudo está sob meu comando. Inclusive esse seu primo gostoso – sugeriu galanteadora, enquanto me abraçava – então nos dê licença. Não seja inconveniente. Não viu que estávamos ocupados?

Mas que garota cheia de atitude!

- Bravo, bravo – aplaudiu Bellatrix, agora séria. – Só vim te procurar porque James Potter insistiu. Mas já que vai ficar aí se atracando com Skeeter – pronunciou o nome com um tanto de nojo – tudo bem.

Aquilo chamou minha atenção. Eu e James éramos melhores amigos; mais que isso, éramos irmãos. E, se ele precisava de mim, eu com certeza iria sem pestanejar.

- Bella, espere! – chamei, mas não adiantou. Bellatrix saiu batendo o pé.

- Então, Six, onde estávamos mesmo? – insistiu Rita com um sussurro no meu ouvido. De arrepiar, uau!

- Receio que você terá que me lembrar hoje a noite, Rita – disse simpático, tentando abrir um sorriso. Esse sorriso de desculpa e a minha carinha de cachorro pidão nunca – NUNCA – falham! Excelente. – James está procurando por mim. Acho que é hora de brindar pelo time ou alguma coisa assim.

- Com certeza! Trouxe a câmera. Esse momento vai direto para o jornal da escola!

Com Rita era assim: jornal da escola, notícias blábláblá fofocas blábláblá jornal da escola, serei jornalista blábláblá!

Fomos andando de mãos dadas (argh, alergia, alergia a compromisso! Foi ela que pegou na minha mão, foi ela, demais garotas de Hogwarts) até o interior do Tony's. Deixe-me explicar: o Tony's era um imenso e delicioso restaurante, para onde vínhamos comemorar nossas vitórias sempre. O dono já tinha se tornado nosso chegado, e sempre sabia quando viríamos ou não. Sem contar que era um lugar cheio de pompa! Até música ao vivo tinha... E karaokê night, em dias mais comuns. Mas hoje era sábado e, como o lugar estava superbadalado, uma banda – As Esquisitonas –, pelo que se lia no quadro, estava tocando.

Avistamos a mesa, onde estavam sentados alguns membros do time e umas líderes de torcida que sempre babavam nosso ovo.

Mas olha só, que peculiar! Se não eram ninguém menos que Lily Evans e Marlene McKinnon, aqui no Tony's com a gente! Ei, espera aí. Que olhar é esse de... desaprovação... que a McKinnon está me mostrando?

- Olha só aquilo ali! – sussurrou Rita antes de chegarmos à mesa. – É realmente Lily Evans ao lado de James Potter?

Ri.

- Como ele conseguiu fazer com que ela se sentasse ao lado dele é um mistério!

- Almofadinhas, senta aqui! – gritou James, alegre. Havia guardado um lugar para mim do seu lado.

- Até mais, Skeeter – me despedi e fui até James antes que ela dissesse alguma coisa.

Assim que me sentei, olhei pelo canto de olho as pessoas que estavam ao meu redor: James, Lily, Remus e Alice e, do lado de Lily, que estava sentada do outro lado de James, estava Marlene McKinnon. Remus e Alice se sentavam do meu lado, e conversavam com quem se sentava a sua frente: Petúnia Evans e Amos Diggory. Um pouco mais adiante na mesa, estavam as outras líderes de torcida, que me olhavam com um olhar de puro tesão. Como é bom ser a estrela do time de futebol! E olha só, Mary MacDonald acabou de piscar para mim!

Frank Longbottom, do outro lado da mesa, ergueu a taça.

- Um brinde para Os Marotos! – saudou. – Pela persistência, boa liderança do time e garra! Somos rivais de Durmstrang há anos e, após sermos derrotados por eles há um bom tempo, temos mostrado quem manda realmente nessa porra! Um brinde especial para Sirius Black, nosso atacante que fez dois gols hoje, e James Potter, o nosso capitão que mesmo machucado não deixou de marcar presença no time. É ISSO AÍ, MAROTOS, VAMOS LÁ!

Houve um grande coro de comemorações e palmas. Até a Evans, que estava com uma tromba de elefante, sorria pelo time.

- Bom – pigarreei. Quando toda a atenção estava em mim, comecei a falar: - Gostaria muito de agradecer por todos vocês estarem aqui, celebrando mais uma vitória conosco, Os Marotos de Hogwarts!

Mais palmas. Essas garotas são realmente hilárias!

- É o maior prazer do mundo participar do time – continuei. – Momentos tais como esses ficarão para sempre registrados em minha memória. Então, mais uma vez, muito obrigada!

- Que vontade de vomitar – sussurrou Marlene McKinnon para Lily Evans. Todos os presentes da mesa a encaravam meio estranho. Até que ela acrescentou, rapidamente: -... quando eu penso que aqueles babacas de Durmstrang poderiam ter vencido! GO, MAROTOS, GO!

Mais um coro de "êêêêêêê" foi ouvido. O indelicado do garçom gesticulou para mim, que estava de pé, com o copo na mão, e pediu para fazer silêncio.

- Agora vamos ouvir James Potter, nosso estimado capitão!

- Hm-hm – ele me imitou e pigarreou também. Copião! – Me sinto muito feliz por termos ganhado mais uma. Isso prova que eu sou um excelente capitão e que boto moral nesse time muito bem! – brincou o veado e se seguiu uma onda de risadas, com exceção de Lily Evans, que revirava os olhos. Que ruiva insuportável, pqp. – Brincadeiras à parte, é isso aí, time. Nós estamos fazendo um excelente trabalho e, com sorte, entraremos para o campeonato intercontinental. Gostaria de agradecer a todos que estão aqui, mas a uma pessoa, especialmente...

- Não há de quê, Jamie! – disse Mary MacDonald, do outro lado da mesa. Momentaneamente, todos os olhares se voltaram para ela. Do que essa burra tava falando?

- Ele ia agradecer a mim – eu me defendi, enciumado, um tom de superioridade na voz. Haha! Pobre iludida... – Eu sou o melhor amigo dele!

- Eu sou! – exclamou Remus, pondo as mãos na cintura. – Não é, James? – exigiu novamente com uma voz de... mulher submissa.

- Claro que eu ia agradecer aos meus melhores amigos e companheiros de time Sirius e Remus, mas a pessoa especial era...

- Iiiiiiih! Ele disse meu nome primeiro! O favorito sou eu, Aluado! – atormentei Remus, apontando o dedo na cara dele e fazendo minha dança da vitória.

- BLACK, CALE A BOCA! Não vê que o Potter quer falar? – pediu alguma alma do outro lado da mesa. Uma cheerleader nada gostosa... Como é que se chamava? Melanie Abbott. Já peguei!

James assentiu para Abbott, agradecido.

TRAIDOR!

- Prepare-se para a foto – ele sussurrou para mim de forma que fui o único a ouvir. James estava aprontando alguma coisa.

Soube o que era no instante que, ligeiramente, ele apontou para a ruiva com a cabeça.

- Meu agradecimento especial vai para... tchan tchan tchan tchan... Lily Evans, a minha namorada! – exclamou Pontas um tanto feliz, e a cena que se seguiu não foi nada comparada com os outros tumultos que eu já havia visto em minha vida.

Rita Skeeter, como sempre profissionalíssima, ergueu a câmera. Bateu a foto no momento em que, repentinamente, James abaixou e deu um selinho em Lily. Nesses breves segundos em que meu irmão ainda tinha vida (porque a Evans certamente iria matá-lo), eu saí na foto também, com os polegares levantados, em sinal de "jóinha", para indicar minha aprovação do casal.

- NÃO ACREDITO! EU SOU CUNHADA DE JAMES POTTER! AH, MAS É TANTA EMOÇÃO! – suspirava a Evans feia.

- ARRRRRRRRRRRRRRRRRRRGHHHHH POTTER! PODE COMEÇAR A CORRER PORQUE EU VOU MATAR VOCÊ! – gritou Lily a plenos pulmões. Ela havia enrubescido tanto que...

- As bochechas da Evans (bonita) estão quase da cor de seu cabelo! – comentei, mas ninguém prestou atenção. O foco principal, agora, eram as cheerleaders, que haviam pego as facas da mesa e as seguravam, raivosamente, e Amos Diggory, que olhava para Lily de um jeito triste.

- Evans, Evans! Só estamos assumindo publicamente nosso relacionamento! Que mal há nisso? Somos duas pessoas que se amam! – Pontas, como sempre, cínico e displicente.

- O. Caralho. A. Quatro! – respondeu ela, pausadamente, tentando se recompor da raiva. – E eu não amo você, Potter! Eu jamais irei! EU TE ODEIO! Ai, que ÓDIO! Que ódio, que ódio! Saia da minha frente, eu vou-me embora! – e, dizendo isso, Lily Evans pegou sua bolsa (nada delicadamente, pois quebrou um copo), colocou-a no ombro, colocou os óculos de sol e saiu sem olhar para trás.

É... Essa ruiva tem estilo.

- Atitude é pra quem tem – deu de ombros James, como se estivesse em um comercial. – Tirou a foto, Rita?

Rita piscou. Era um complô!

- Muito bem! Contenham-se, queridas cheerleaders – disse James – eu não estou mais no mercado, mas... Sirius está! E agora que já fizemos todos os brindes e já tiramos as fotos, vamos esperar a comida chegar.

Enquanto todos se sentavam e se acalmavam, troquei de lugar. Sentei onde Lily havia sentado: entre James e Marlene.

- Temperamento bravo tem essa sua amiga, hein, McKinnon – falei tentando quebrar o gelo. – E você se safou muito bem aquela hora. Do comentário do vômito.

- Nem me fale – ela respondeu, sorrindo. Tomou um gole do refrigerante. – A Lily é um doce de pessoa. Realmente um amor... Mas, como toda a escola sabe, ela não é muito paciente.

- Um amor – repeti, duvidando. Marlene me lançou um olhar de censura. – Bom, ela podia levar as coisas mais na brincadeira, sabe?

- Cá entre nós – cochichou ela, chegando bem perto e fazendo com que eu passasse a querer pegá-la -, ela só reage assim porque, bem no fundo, gosta dele.

- Sério?

- Bom, essa é a minha opinião – finalizou, voltando a sentar completamente na sua cadeira.

- Vamos falar sobre algo mais interessante – mudei de assunto.

- Tal como...?

- Eu, é claro. Você diria que bem no fundo gosta de mim? – Hahaha. Eu sou um imprestável!

Com um sorriso discreto e um tapa no meu braço, ela se virou para conversar com Alice e parou de me dar moral.

McKinnon será minha próxima peguete. As difíceis são as melhores...

Narração: Lily Evans

Suspirei assim que entrei em casa, e fechei a porta da sala com um estrondo ensurdecedor.

- Boa tarde para você também – sorriu, simpático, meu pai, John Evans, ignorando minha grosseria. – Posso saber o motivo de toda essa fúria?

Papai sentava-se confortavelmente em uma das poltronas na beira da lareira e, embora fosse outono, ela estava ligada. O suave crepitar das chamas me acalmou por um momento e, sorrindo também, me sentei na poltrona na sua frente.

- Um garoto da escola – eu disse, tentando parecer indiferente. – Ele não me deixa em paz.

O sorriso que papai esboçou foi diferente. Não era um sorriso simpático, ou um sorriso presunçoso; mas um sorriso amigo, compreensivo e com um ar de sabe-tudo (o que ele realmente sabia).

- Antes de você dar uma de psicólogo – avisei logo, cruzando os braços – queria deixar claro que eu odeio esse garoto.

- Certamente – ele respondeu, calmo. Vê-se daí que herdei o temperamento de minha mãe, que não estava em casa.

Olhei para a sala da minha casa enquanto revirava os olhos. Era um ambiente grande e arejado. As paredes eram de um tom bege claro. As janelas de vidro e as cortinas também claras – que iam do teto ao chão – conferiam à sala um ar vivo. Da entrada da porta, podia-se ver todo o cômodo. No centro, havia dois sofás, que circundavam uma mesa de centro com elegantes enfeites em cima. Havia, ainda, pequenas bancadas com porta-retratos de todos os nossos momentos da nossa vida – o casamento de mamãe e papai, a lua-de-mel, meu nascimento, o nascimento de Petúnia, fotos nossas em família, fotos minhas e de Petúnia sorridentes, fotos do meu primeiro jogo de tênis - , que davam a impressão, para quem entrasse naquela sala, que éramos uma família feliz. O que não era mentira.

Um pouco mais para o canto, podia-se notar ainda uma estante cheia de livros, com uma porta ao lado, que levava para o escritório de mamãe e papai.

As paredes eram preenchidas por quadros, e todo o resto da sala tinha seu encanto, com um toque de simplicidade e extrema elegância ao mesmo tempo.

Por fim, via-se a lareira, um pouco atrás (no sentido de quem ia para a cozinha), que era onde eu e papai estávamos sentados. Ao lado também havia a escada, que levava para o segundo andar, onde ficavam os quartos.

O chão da sala era um suave carpete bege. E, embora soe esquisito, mas seja bonito, embaixo da mesa-de-centro havia um tapete de pelos que era, sem dúvida, o meu objeto quase preferido. Só perdia pra o piano de calda marrom, recostado na parede do outro lado. É claro que também havia TV e DVD na sala (onde eu e as meninas sempre fazíamos maratonas de filmes que gostávamos), mas era a parte mais simples que me encantava.

Apesar de bastante rica, eu procurava viver uma vida bem simples.

Papai era um psicólogo excelente e renomadíssimo em Londres. Seu consultório estava sempre cheio, e, além disso, ele dava aulas em uma das melhores faculdades de saúde do país. No início, quando saiu da faculdade, era apenas um psicólogo sem nenhuma indicação importante. Sua carreira e posterior fama engrenaram, então, quando ele escreveu um perfil sobre um assassino em série que já havia matado mais de 100 pessoas aqui em Londres nos últimos anos. Seu sucesso foi imediato, e isso fez com que ele pudesse trabalhar nas áreas que gostasse mais. Depois de um período, no entanto, abandonou a psicologia criminal – sua paixão por muito tempo – e começou a escrever livros de romance policial. Além de tudo, era um excelente contador de histórias.

Papai tinha toda a minha admiração. Não só por suas notáveis calma, serenidade e sabedoria, mas por toda a bondade e generosidade que vinham dele, e que eu esperava herdar (infelizmente, nem tudo é como a gente quer).

Tudo mudou em sua vida, no entanto, quando uma paciente um tanto peculiar deu as caras. Chamava-se Rose Simon e, como sugere o nome, era realmente uma flor. Noivaram e casaram após três anos de namoro, e tiveram a primogênita, Petúnia, logo após o casamento.

Mamãe era um tanto diferente de papai. Era elétrica, avoada, animada e inabalável, e com um senso de humor incontestável. De alguma forma, contudo, eles se dão muito bem.

Mamãe é arquiteta e chef de cozinha. Nossa casa é assim, lindamente decorada (e com um jardim e área de lazer lindos, também, no quintal), porque ela não descansou enquanto não tivesse feito todas as reformas que queria. Além disso, nós lidamos com mudanças constantemente. É sempre uma nova reforma, um novo móvel, uma parede que "precisa" ser demolida para reaproveitar o espaço... E, quando ela se cansou de suas decorações (era também decoradora) e projeções, decidiu entrar na faculdade novamente para fazer gastronomia. E é assim que ela trabalha: em seu escritório em dias de semana e no L'italiano, um restaurante de muito prestígio, nos fins de semana.

Que era onde ela estava agora.

- Hm hm – pigarreou papai, fechando o livro que estava lendo e tirando os óculos. Tinha uma expressão cansada. – Achei que quisesse conversar. São seis horas. Petúnia chegou em casa às quatro, estava um tanto preocupada com você. Não sabia aonde tinha ido, mas me disse da sua... cena.

Encarei papai com os olhos arregalados.

- Isso é intriga da oposição! – tratei de me defender, me ajeitando na poltrona. – Pai, eu só estava dando uma volta, ok? É que Potter realmente me fez perder a paciência. Pai. Você não tem noção de como ele é irritante – frisei a palavra, buscando dar a maior ênfase possível com a entonação. – E metido! Nossa, e como ele é arrogante! Ele se acha o melhor em tudo. Só porque eu fui a única garota de toda Hogwarts a dizer não para ele, ele não me deixa em paz! – reclamei, colocando tudo para fora. Papai, melhor do que ninguém, entenderia a situação e saberia o que fazer, certo? – Quero dizer, isso deve ter mais de seis meses. Ele me chama para sair todos os dias. Diz que sou sua namorada. Me dá flores. Me chama de Lily, mesmo sem minha autorização! Como é que ele pôde, não é, pai? – continuei tagarelando. – Fica se exibindo o tempo todo quando está na minha frente. Ah! E adivinha o que ele fez agora, hoje, lá no Tony's? Me chamou de namorada e me deu um selinho! Aquele atrevido! Ele vai se arrepender de ter nascido quando eu vê-lo da próxima vez!

Era bom colocar tudo para fora. Não podia fazer isso com Alice e Marlene, porque elas achavam que eu, no fundo, gostava do Potter. E muito menos com Petúnia, que vibrou com a falsa notícia daquele ogro ser meu namorado.

- Bom – começou papai, enquanto me fitava com seriedade – em circunstâncias diferentes, eu trocaria uma palavrinha com esse tal de Potter. Mas vejo que se trata de uma situação... singular.

- Se trata de uma perseguição, isso sim. Espero que ele canse disso.

Papai riu. Riu. Ótimo. Meu próprio pai ri da minha desgraça.

- Bom, Lily – continuou – cego é aquele que não quer ver.

- E...?

- E aí que seria moralmente errado, como psicólogo e pai, lhe dizer o que fazer. Eu te criei para ser uma moça sensata e independente, capaz de fazer suas próprias escolhas. Em troca, quero apenas a sua felicidade.

Me ergui da poltrona e levantei. Fui até a poltrona em que papai estava sentado e ajoelhei. Segurei sua mão e, sem deixar de tirar os olhos dos seus – que eram incrivelmente verdes, como os meus -, abri um sorriso. Apertei sua mão em um gesto de carinho.

- Obrigada pelas palavras. Você sempre sabe o que dizer – sorri. – Mas temo que esteja errado em relação ao Potter. Ele é um biltre arrogante.

- Se você insiste – ele deu de ombros depois de responder ao meu carinho e fitar meus olhos. – Uma pena. Petúnia estava radiante com a ideia de você namorar o jogador de futebol.

- Petúnia pode tê-lo para ela, se quiser.

- Eu não acho que você realmente deseja isso.

- Realmente – tive que concordar, dando uma gargalhada ao imaginar a situação. – Acho que não suportaria a ideia! Imagine só, Petúnia mais vaidosa e metida que o normal só por causa do Potter...

Ele sorriu para mim novamente, dessa vez, embora eu odiasse admitir, marotamente. Mas, conhecendo papai e sabendo que ele nunca me diria o que estava pensando, subi em direção ao meu quarto, no segundo andar.

Mal cheguei ao fim da escada e ouvi Petúnia murmurar, animada:

- Então Lily e ele se beijaram. Foi uma cena linda, uma cena de filme! Foi o beijo mais romântico que já vi na minha vida! – comentava com alguma amiga, QUE MENTIROSA! ISSO É CALÚNIA! É CALÚNIA! – Mas todos sabem como ela é teimosa. Ninguém espera que ela assuma o namoro deles tão cedo.

Tive que reunir todas as minhas forças para não abrir a porta do quarto e gritar que ela estava mentindo. Mas já tinha causado tantos escândalos hoje que achei melhor deixar baixo.

Quando entrei no meu quarto, tive o cuidado de fechar a porta com suavidade.

Dei risada quando vi a cena. Em cima da minha cama, Fox, meu gato persa alaranjado mais lindo do mundo, brincava com uma das almofadas.

- Ah, Fox, não acredito nisso – fui até a cama e me sentei. Fiz um pouco de carinho na barriguinha dele. – Vai sujar minha colcha com seus pêlos.

Todos aqui em casa adorávamos animais. Era por isso que, no quintal, um belo casal de Golden retrivers, Danny e Mel, moravam. E sobrava para o gato ficar dentro de casa, apesar de eles não serem muito agressivos com o Fox.

Os últimos raios de sol entravam pela janela. O crepúsculo se aproximava. Levantei-me da cama e fui assisti-lo da minha varanda. Apesar de aparentar ser inútil, com apenas um puf e uma luneta no meio dela, a pequena sacada do meu quarto era meu lugar da casa preferido. Eu adorava deitar ali, ler, sentir a brisa bater no meu rosto, observar as estrelas à noite...

Deitei-me no puf por um tempo e tentei me acalmar ao observar a noite cair, com Fox no meu colo. Com a minha cabeça no lugar, depois de um tempo, consegui voltar a pensar com mais clareza. Eu realmente havia perdido as estribeiras hoje. Mas não sei o que está acontecendo ultimamente. Eu nunca fui de gritar com o Potter. Pelo contrário! Eu o respondia educada e ironicamente. Claro que às vezes perdia a paciência, mas, ultimamente, estava difícil me segurar perto daquele irritante imbecil.

Pronto! Toda a minha calmaria foi embora, agora que o imbecil do Potter foi mencionado.

Tentando tirar meus pensamentos daquele ser grotesco e tirando Fox delicadamente do meu colo, entrei no meu quarto novamente e fui até a escrivaninha, onde estava o meu notebook e mais uma enorme pilha de livros, escritos, porta-retratos e papéis importantes, em geral. As minhas estantes não possuíam mais espaço suficiente para guardar todos os meus livros!

Liguei o notebook e me sentei na cadeira, pacientemente. Esperei a internet conectar e entrei no face.

Quase que imediatamente, Marlene veio falar comigo.

Hey Lils. Sei que ficou brava hoje à tarde, e me desculpa por não termos ido ao shopping. Não quis te ligar porque sabia que não iria atender. E aí, o que vai rolar hoje à noite pra gente? (:

Relaxa, Lene. Está tudo bem, de verdade. O Potter é um retardado, um arrogante, um demente, mas eu não deveria ter deixado perder o controle! É isso que ele quer, aquele imbecil: me deixar louca! Não estou animada para sair hoje à noite. Talvez pudéssemos fazer uma sessão de Star Wars. Ou de Arquivo X. Estou aberta a sugestões.

Ou poderíamos sair hoje, Lils! Come on! Todo mundo vai pra uma boate que eu não sei onde é, mas acho que é em Picadilly Circus. Por favor, por favor, por favor!

HAHAHAHAHAHAAHAHAHAHAHHA como você é engraçada, Lene. Me liga mais tarde.

Marlene é inacreditável! Só mais inacreditável do que isso foi a janela do Potter subindo. Argh! Me arrependo do dia em que aceitei essa solicitação de amizade!

Minha flor! Já parou a braveza?

Não me chame de minha flor. E pare de falar comigo, ou vou ignorar as suas mensagens!

Ótimo. Ignore minhas mensagens que eu não vou parar de publicar na sua linha do tempo! Eu já fiz isso.

Eu sei, Potter. Mas eu poderia te remover dos meus amigos. Pensando bem, acho que é isso que vou fazer.

Por mim, tudo ótimo. Só vai dar mais um pouquinho de trabalho para invadir seu face dessa vez. Você tem colocado senhas cada vez mais difíceis.

SEU INSUPORTÁVEL!

KKKKKKKK de qualquer forma, ruiva... Nós vamos sair hoje. Boate. Picadilly Circus. Tá dentro? (: :999

Não, não estou dentro, Potter. E estou saindo agora. Tchau.

Ok. Mas pensa melhor. Mais tarde eu te ligo pra ver se vc vai ou não. Não deixe cair na caixa postal! E pense com carinho. Vai lá. Te amo 3

Hahahaha você é hilário, Potter.

Eu sei. E sabia que você achava.

Eu quis dizer que você é hilário para os parâmetros de uma pessoa extremamente doente e retardada. É bem visível isso, já que você não sabe diferenciar as coisas kkk tchau.

Desliguei o computador, rindo. Eu, Picadilly Circus, essa noite? Não mesmo.

Me deitei novamente. Eram 20:30. Acho que vou ver algum filme sozinha, isso sim... Tô com tanta preguiça...

Um grande barulho me fez abrir os olhos rapidamente.

- LILY! – guinchou Petúnia. – Ah, desculpe, querida! Não vi que estava dormindo.

- Como se você não fosse me acordar de qualquer jeito – falei ainda de olhos fechados, colocando o travesseiro na cara.

- É verdade – riu Petúnia. – Vim te arrumar. Nós vamos sair.

- Não começa, Petúnia. Não existe um "nós". "Nós" não vamos a lugar nenhum! Você pode até ir...

Petúnia colocou as mãos na cintura, visivelmente irritada. Detestava ser contrariada.

- Acontece – começou ela com uma voz ameaçadora – que simplesmente todos os populares da nossa escola vão. Inclusive seu namoradinho. E eles vão nos colocar na área VIP se você for. Seu namorado fez questão de enfatizar esse detalhe. E você sabe o que tem na área VIP, Lily?! Os caras mais gatos! Bebidas liberadas!

- Desculpa, Túnia, mas você sabe que eu não curto esses rocks – eu disse enquanto me espreguiçava e sentava na cama. – E o Potter não é meu namorado.

- Qualé, Lily, o garoto está de quatro por você.

Ignorando seu comentário, perguntei:

- E como James Potter conseguiu essa entrada VIP?

- Hahaha! Está com ciúmes? Que lindo! – comemorou Petúnia. – Ele vai adorar saber disso.

- Você não ousaria...

- Enfim, Lily, você sabe como são os Marotos. James Potter e Sirius Black, principalmente. Eles conseguem tudo o que querem, e parece que uma das promoters da festa é prima do Sirius... Uma tal de Andrômeda Black. Então, por favor? – pediu com olhos do gato de botas. – Por favor, Lil? Por favor, por favorzinho!

Eu não queria ceder. Passar mais uma noite com James Potter no mesmo recinto seria tortura!

- Ah... Túnia... Eu sinto muito mesmo, mas...

- Se você não for, eu conto para mamãe que colou meu trabalho de física do segundo ano todinho! E você ganhou todo o mérito no meu nome. Quão desapontados nossos pais ficariam quando soubessem da sua fraude? – Petúnia sempre começava a jogar sujo quando não tinha mais armas! Argh, ardilosa! – Desculpa, Lil, mas você não tá querendo ceder, e eu realmente preciso ir nessa festa. Fiquei sabendo que os Lestrange vão trazer uns amigos da universidade. E, bom, garotos da universidade são o que há de melhor!

Petúnia iria me pagar caro por isso! Essa redação havia sido um pequeno errinho... Que culpa eu tinha se Petúnia era um ano mais velha e ótima em física, e eu não?

- Acho que vou descer e contar a papai que a tenista-pianista-bailarina e delicada Lily não é tão santa quanto parece.

E dirigiu-se à porta.

- Petúnia, espere.

- Hm? – fez ela, fingindo desinteresse.

– Eu vou. Mas com uma condição!

- Qual?! – seus olhos brilhavam de felicidade. Ela havia conseguido o que queria. Mas sua alegria seria que nem de pobre na chuva.

- Eu vou com a mini saia preta!

- NÃO! LILY! – rugiu ela, feroz, enquanto eu ria.

É. Já que não tenho escapatória, vou tratar de me divertir.