Nada como o Halloween

O dia de Halloween sempre foi minha data comemorativa predileta dentre todas as outras existentes. Comemorávamos a nossa existência, quando a maioria das pessoas encaravam os truques e traquinagens com alegria, havia doces, festa e por último, e com certeza mais importante, era secretamente o dia da trégua entre Lily e eu.

O fato é que com onze anos James já era boa parte do que é hoje em dia. Não foram necessários mais de dois meses de aula para que todo o castelo, inclusive os veteranos, só falassem nos novos "meninos" da Grifinória. Mesmo nessa época eu ficava divida entre a simpatia pelo número de pontos que ele conseguia para nossa casa e a raiva por perdê-los logo em seguida.

Contudo, em meu primeiro Halloween, subi para o salão comunal sorrateiramente, enquanto todos continuavam comemorando lá embaixo. Estava muito triste, pode parecer bobeira hoje em dia, mas eu estava acostumada a passar esta data em companhia de minha irmã e esta havia me escrito uma carta falando alguns horrores. Tinha saudades da vida junto a minha família trouxa e queria ficar sozinha.

-Por que está chorando, Lily?- eu o olhei espantada, não reparara que ninguém tivesse subido atrás de mim. – Não é esse o seu nome? Lily Evans?

-Sim. – funguei e me sentei sobre o sofá. Nunca havíamos conversado antes.

- Está triste? – ele se sentou ao meu lado, parecia verdadeiramente interessado em meu choro. – Deve sentir falta de sua família. – olhei para ele pelo canto dos olhos. – Sei que veio de uma família trouxa, deve ser tudo muito diferente pra você.

Olhei para ele intrigada. Como ele podia saber tanta coisa? E por que se importava ?

- Você é muito calada, certo? – ele riu de si mesmo. – Mas não precisa falar, seus olhos falam tudo, sabia? – arregalei meus olhos para ele, já não havia vestígios de choro em minha face. Eu estava mesmo era curiosa para saber o que mais aquela criatura tinha a falar. – Sei que odeia quando eu ou o Sirius transgredimos as regras.

Ainda bem que ele sabia, pensei comigo. Ele tirou do bolso um saco de balas, abriu, colocou uma em sua boca e me ofereceu. Após hesitar aceitei a oferta.

- Minha opinião não deve valer de muita coisa – eu disse, e ele me olhou com diversão. – Continuam levando uma detenção atrás da outra.

-Sabe guardar segredo? – ele me perguntou.

- Sou uma menina muito calada, lembra? – desta vez eu sorri. – Claro que consigo.

- Também tenho saudade de minha família. – ele me disse e eu fiquei encantada por não ser a única naquela situação.

Passamos o resto da noite contanto em detalhes sobre nossas famílias. Aquela noite foi tão importante que me lembro até hoje de todos os nomes do clã dos Potter. Acho que ele também nunca esqueceu de meu drama fraternal.

No dia das bruxas de nosso segundo ano em Hogwarts, eu e o Almofadinhas tínhamos tudo já elaborado para mais um de nossos planos perfeitos. Com ajuda de nossas varinhas havíamos construído uma fantasia de ogro que, sem querer me gabar, era algo bastante verossímil.

- Você não me odeia tanto assim. – foi o que eu disse quando vi aqueles olhos verdes se arregalando ao ver um Sirius semi-fantasiado.

-Potter!- ela já adorava usar um tom recriminativo para pronunciar meu sobrenome. – Vão todos levar um susto!

- Esta é a intenção!- Almofadinhas quase pôs tudo a perder com essa afirmação.

- É Halloween, Evans. – eu disse em um tom suplicante. – Vai ser divertido.

- Para vocês certamente será...- ela disse, seus olhos demonstravam desaprovação.

-E para você também que já sabe...- eu disse mais confiante. – Só durará alguns segundos e logo a gente revela a brincadeira.

-E levarão uma detenção...- ela falava firme, mas seus olhos já denunciavam certa dúvida. – perderão pontos para a Grifinória...

- E amanhã na aula de poções você os recupera para nós! – eu falei e percebi um ínfimo esboço de descontração em sua face. – Vamos , Lily, hoje é Halloween, um dia de trégua.

Jamais me esqueci do primeiro grande sorriso que recebi dela. Era como um prêmio após muito trabalho árduo.

Foi em meu terceiro ano, durante a festa do dia 31 de outubro, que e eu e Severus rompemos de vez nossa amizade. Com raiva ele chegou mesmo a me destratar junto a seus amigos sonserinos, dizendo que meu sangue era ruim e que eu não merecia estar em Hogwarts.

-Você deveria me agradecer.- James me disse. Estávamos praticamente sozinhos nos jardins, onde eu tinha vindo me refugiar após o escândalo no salão principal. – Eu estava apenas te defendendo daquele seboso.

- Eu sei muito bem me defender sozinha. – eu disse cheia de orgulho, embora estivesse muito mais querendo terminar aquela conversa e chorar em paz no meu quarto.

- Certo...- ele também estava nervoso. – se você vai defender aquele babaca mesmo depois das coisas que ele te disse...

-Eu não estou defendendo ninguém. – eu disse cansada, me sentando num dos bancos de madeira.- Também não gostei das coisas que ouvi, está bem?

Ele olhou para mim e conforme as lagrimas foram descendo por meu rosto, foi soltando a mão, que mantinha fechada com força anteriormente.

- Sabe que não há diferença nenhuma de qualidade entre meus pais e os seus, certo?- ele me disse num tom sereno, sentando-se ao meu lado. – São diferentes, mas não melhores ou piores.

-Eu sei. – disse tentando conter minhas lagrimas.

- Diferença existe entre os sonserinos e o resto de nós. – ele não parecia estar brincando e não pude deixar de fazer um sinal negativo enquanto esboçava um sorriso. – O quê? Você ainda duvida? Nós somos muito melhores do que eles!

Revirei os olhos para ele, mas sorria mais abertamente agora.

-Sabe, você é a garota mais inteligente desse castelo. – ele me disse me deixando levemente envergonhada. Podia ser boa nas minhas matérias prediletas, e estudava bastante para obter sucesso nas outras. James tirava notas tão boas quanto as minhas.- e para mim também é a mais bonita...

Nada em minha vida tinha me preparado para aquele momento. Tanto que após aquela última frase completamente desnecessária, e um silêncio completamente assustador, apenas me despedi brevemente.

Certo, aos quatorze anos, eu descobrira as maravilhas do universo feminino. Os centímetros que ganhei em minha altura somados a nossa popularidade e a vaga no time de quadribol realmente fizeram minha cabeça subir. Não me culpem, eu e sirius tínhamos uma dúzia de garotas cada um que haviam nos convidado para a primeira festa daquele ano.

Contudo, ela estava tão linda naquela noite. Seu vestido me deixara fascinado, mostrava parte de suas costas e a saia se movimentava conforme caminhava. Sabia que era ela apesar de ser um baile de máscara, reconhecera seus olhos, mas confirmara no mapa do maroto.

-Dança comigo?- perguntei e as duas amigas que a cercavam a incentivaram a aceitar com o olhar.

Pude ver que ela hesitou. Sabia que sem a minha máscara não teria muitas chances, soube que ela tinha recusado todos os convites que recebera. Fora que agora tinha certeza de como ela me odiava, já não era tão calada como antes, e fazia questão de rebater todas as minhas opiniões.

Ela aceitou a minha mão e eu tive que engolir em seco. Fomos para o centro do salão e dançamos ao todo três músicas, durante as quais pude sentir o cheiro de seu cabelo, pousar minha mão na pele delicada de suas costas, sentir seu toque em meu ombro e perceber o quanto sua respiração estava tão pesada como a minha.

-Estou um pouco tonta.- ela murmurou. Então me afastei e a conduzi para um lugar mais longe da música pela mão. – obrigada. – ela disse e eu não pude mais parar de encarar aqueles olhos.

Levei a minha mão que não estava ocupada em segurar a dela e toquei de leve a lateral de seu rosto, a parte que não estava coberta pela máscara. Ela continuou me olhando, a respiração ainda mais intensa.

- Jamais vou me perdoar se não fizer isso.- eu disse antes encostar meus lábios nos dela.

Que Sirius jamais saiba, mas este foi meu primeiro beijo, e até hoje gostaria de ter uma nova oportunidade de revivê-lo.

Eu tinha tanta raiva de James aos 15 anos. Vivia cercado de garotas, mudava de namorada a cada semana e mesmo assim ainda se sentia no direito de me chamar para sair cada vez que achava apropriado. Ele percebia o quanto me deixava irritada, mas mesmo assim continuava, parecia achar graça ou coisa parecida.

Não sabia o que mais odiava nele. Não via graça na forma como ele e os amigos continuavam achando engraçado fazer as mesmas idiotices que já faziam aos 11 anos. Não entendia porque todos continuavam aplaudindo a ele, mesmo sabendo que tudo o que queria era aparecer, chamar atenção. Comecei a ter uma aversão a quadribol só porque ele agora achava ser o inventor do jogo bruxo. Mas o que eu mais odiava era às vezes não ter motivo para tal sentimento.

- O que você ta fazendo aqui sozinha, Lil? – não sei de que forma, ele foi me achar na cozinha, junto aos Elfos.

Não podia dizer a ele que tive um péssimo encontro, podia? Revirei os olhos e bufei, enquanto eu via ele se sentar do outro lado da mesa a minha frente.

- Evans, lembra?- eu disse mal humorada. – Não somos amigos.

- Teve um mau encontro? – ele me perguntou após roubar um de meus biscoitos.

- E você? – revidei, ficando um pouco vermelha. – Suas 500 namoradas finalmente abriram os olhos e te abandonaram?

-Eu dispensei meu harém hoje. – ele piscou para mim como quem diz que estava brincando. Revirei mais uma vez os olhos.

- Muito nobre. – disse com ironia enquanto escolhia um novo biscoito para comer.

- Posso azarar o Digory se você quiser. – ele disse me olhando mais intensamente do que deveria. Depois passou as mãos pelo cabelo.

Sabe em momentos de surto eu tinha um súbito desejo de cortar todo aquele cabelo dele e deixa-lo careca. Em outros, minha vontade era mesmo de ajuda-lo a o deixar mais desarrumado.

- Você azararia qualquer um, eu querendo ou não. – eu disse me levantando.

- Isso não é verdade. – ele se levantou rapidamente e num pulo estava do meu lado segurando meu braço para impedir minha saída. – Eu jamais te azararia, você sabe disso.

Eu engoli em seco. James jamais fez nenhum tipo de truque comigo, nem nenhum de seus amigos, diga-se de passagem.

- Isso porque você sabe que não sobreviveria até o dia seguinte. – eu tentei ser dura, mas minha boca se curvou num sorriso.

Ele então sorriu de forma diferente que a habitual, não com deboche, ou por divertimento, mas com gentileza e soltou meu braço.

-Hoje é Halloween. – ele observou. – dança comigo?- eu hesitei, mesmo que ele não saiba, sabia exatamente quem me beijara na festa do ano anterior. – Por favor?

Fui incapaz de resistir. James já era bastante atraente, não tanto como agora, mas já era bastante alto, e todas as suas formas de sorrir eram altamente cheias de charme. Não que ele um dia deva saber disso.

Dançamos mesmo que o som da música fosse ínfimo ali na cozinha. Rimos quando ele me rodopiou e eu esbarrei na mesa e conversamos um pouco sobre nada sério ou importante. Não tivemos tanta coragem sem a mascara, e terminamos nossa noite com um beijo em meu rosto.

Não podia acreditar no meu azar. Recebera um balaço durante o dia anterior e caíra bem no chão, tendo fraturado alguns ossos de meu corpo. Madame Pomfrey me proibira de ir a festa de Halloween, me prendendo na enfermaria.

Ninguém parecia entender que eu pouco ligava para dor que sentia, eu já estava conseguindo movimentar quase que inteiramente minha perna direita. Eu tinha planos para meu penúltimo dia das bruxas e agora ficaria entediado, deitado numa cama.

Nós tínhamos tido uma grande briga antes das férias de verão e eu não havia mais a chamado para sair. Desde que retornamos também não saíra com nenhuma outra garota e melhorara meus hábitos, tentando cabular menos aulas e levar menos detenções. Não queria dar motivos para que ela me achasse um idiota.

Não que eu tenha virado um santo, continuava acompanhando meus amigos, mas tínhamos mais cuidado para não sermos pegos.

De qualquer forma, ela não trocava mais do que poucas palavras comigo. Como eu não a procurava, ela também não o fazia. Tinha escolhido o dia de hoje para finalmente abordá-la, mas agora duvidava que fosse conseguir fazer outra coisa que não dormir, porém tive grande surpresa quando ela apareceu timidamente.

-Oi. – ela entrou devagar pela porta da enfermaria. Estava linda num vestido de festa. Olhava a sua volta, parecia preocupada.

- Madame Ponfrey está dormindo. – eu a tranquilizei e sentei-me fazendo um pouco de esforço, minhas costelas ainda doíam. Não podia acreditar que ela realmente estava ali.

- Sirius me disse que perderia a festa. – ela falou. Era como se tivesse fazendo uma grande força para pronunciar cada palavra, ela não fora acostumada a tomar a iniciativa em nossas conversas passadas.

- Foi realmente um balaço estupido. – eu disse também sem saber por onde começar.

Lily riu e chegou mais perto de minha cama como que para observar melhor meus machucados ainda aparentes. Não perdi a oportunidade e segurei uma de suas mãos.

- Foi um grande susto. – ela disse olhando para mim e sorriu timidamente. – Sabe tem um ditado trouxa que diz que vaso ruim não quebra.

- Então eu devo ser da melhor qualidade. –eu disse querendo descontrair. – quebrei sete ossos segundo madame Ponfrey.

- Você não tem jeito. – ela riu.

- Obrigado por ter vindo. – eu disse beijando a mão dela que ainda estava na minha. Ficamos nos olhando durante alguns segundos até que eu finalmente tivesse coragem de perguntar. – Por que só podemos nos dar bem durante os dias de Halloween?

Ela demorou um pouco para me responder. Olhou para nossas mãos e depois olhou para mim novamente.

-Podemos tentar conviver como pessoas normais nos outros dias também. – ela me respondeu, e eu sei que jamais poderia confessar algo como isso a Sirius, mas eu jamais me senti tão feliz.

Não sei que tipo de relacionamento temos hoje em dia, não diria que é somente uma amizade, mas também jamais repetimos nenhuma interação parecida com a do quarto ano.

É por isso que eu mal posso esperar por nosso último Halloween em Hogwarts.

Não consigo acreditar que daqui a uma semana será nosso último Halloween nesta escola. Entro em náuseas cada vez que penso na proximidade da data.

Nota da autora:

Oi gente! Então tem mais de 1 ano, eu sei. Perdão pelo desaparecimento, principalmente porque sei que existem 2 fics sem atualização por mais tempo que isso. Eu ando tão sem tempo, como sem inspiração, a residência me ocupa quase que o tempo todo.

Mas então, eu entrei de férias, e viajei pra Orlando, fui a Hogwarts, Hogsmead, e caramba, eu precisa escrever uma fic. Só que eu tentei e tentei, e nada saia pras inacabadas, então vou iniciar esta, que acabará rápido, espero que entendam.

Essa fic terá este prólogo, que como vocês viram, retratam os Halloweens dos primeiros seis anos deles, e se desenvolverá nos capítulos que retrataram a semana que a antecede e o dia das bruxas do sétimo ano. Depois ainda farei um epilogo.

Espero que curtam, quem puder, por favor, deixe um comentário pra esta pobre autora que vos fala.

Beijinhos infinitos

Ju

p.s. tenho tantas saudades desse mundo de faz de contas !