Capítulo Catorze

Dawn

(Amanhecer)

Brownyn às vezes se maravilhava com as diferenças entre sua família e a de Charlie. Seu pai era meio calado e sua mãe tinha tido a fala mansa, frequentemente fazendo Brownyn especular de onde herdara sua língua afiada e natureza sincera. A família de Charlie era uma coisa maravilhosa, na experiência limitada que tivera com eles. Seus pais, cinco irmãos e seus cônjuges ou parceiros, um punhado de amigos que tinham sido adotados pela família... todos espremidos ao redor de uma mesa gasta de madeira todo domingo à tarde... dez conversas animadas diferentes acontecendo ao mesmo tempo e que podiam virar uma única conversa quando uma frase era entreouvida por outra parte da mesa. Sendo filha única, Brownyn era fascinada pela dinâmica da família.

— Charlie? — murmurou. — Está dormindo?

— E se eu falar que sim? — Charlie respondeu, os dentes brilhando quando sorriu. Brownyn cutucou as costelas dele, exasperada, bufando de leve. A roupa de cama farfalhou quando Charlie se deitou de lado para que pudesse olhá-la. — O que está te incomodando? — perguntou suavemente, ajeitando o travesseiro.

— Como foi crescer na sua família?

A pergunta inocente surpreendeu Charlie. Apoiou-se melhor na cabeceira da cama, demorando vários momentos para ajeitar o lençol sobre o torso. Não conseguia falar sobre sua família quando seu pênis estava exposto para o mundo. Isso lhe deu a oportunidade de considerar cuidadosamente suas próximas palavras. Era muito fácil romantizar sua família, assim como também era ir na direção oposta e fazer parecer que tinha sido o inferno na terra.

— Invasivo — disse por fim.

Bronwyn bufou.

— Sem privacidade, hum?

— Isso — Charlie disse com uma risada. — Não havia espaço para chamar de seu com tantos de nós em uma casa pequena — seu tom ficou um pouco mais leve. — Minha cabana na Romênia tinha a metade do tamanho desta — contou. — Era como se fosse um maldito palácio, foi o que pensei logo que cheguei lá.

Bronwyn torceu o nariz ao pensar em uma versão ainda menor de uma cabana já pequena.

— Continue — zombou.

Charlie brincou com a ponta do lençol.

— Era mesmo. Dividi o quarto desde que nasci até chegar à Reserva na Romênia. Era difícil ter um momento para respirar sem que alguém enfiasse o nariz onde não era chamado — olhou para Bronwyn. — E você?

— Éramos apenas a minha mãe, meu pai e eu. Eu cresci aqui e não eram muitos os Cuidadores de Dragões que tinham filhos da minha idade. Ou eles eram muito mais velhos ou muito mais novos. Você conhece meu pai. Ele não fala muito, e minha mãe tinha um pulso de ferro firmemente escondido sob uma luva de veludo. Ela nunca erguia a voz além de um tom moderado, mas não havia dúvidas de que ela conseguia o que queria. Depois que ela morreu, ficou tudo muito quieto — Bronwyn puxou o cobertor até os ombros. — E muito, mas muito solitário às vezes — admitiu.

Charlie assentiu.

— Eu nunca fiquei solitário. Mas teria dado meu braço esquerdo para ficar sozinho às vezes — deitou-se, virando-se para olhar para Bronwyn. Correu os dedos pelas mechas embaraçadas dela, tirando-as de seus olhos. — E eu queria começar a ganhar meu lugar no mundo. Não queria ser um peso para eles.

— Como você seria um peso? — Bronwyn murmurou. Ao contrário da maioria dos Cuidadores de Dragões solteiros, ele dava conta da própria roupa suja e os reparos que elas pudessem precisar. Ele sabia cozinhar, desde que não fosse algo muito complicado. Ele era independente ao ponto de os Curandeiros resmungarem, brincalhões, entre si, porque o primeiro instinto de Charlie quando se machucava era tratar do ferimento ele mesmo, ao invés de ir procurar a ajudar de um Curandeiro. — Não é como se fosse incompetente ou irresponsável.

— Financeiramente — ele admitiu pesadamente, sentindo sua garganta se fechar ao redor da palavra. Parecia uma traição. Os dedos de Charlie correram levemente pela curva do seio de Bronwyn. — O trabalho do meu pai não pagava muito e éramos em sete — pausou. — Nove, se contar meus pais — ergueu os cantos da boca. — A mãe podia se distrair com tantos de nós e, para ser honesto, Fred e George tomavam uma boa parte da atenção dela com todas aquelas brincadeiras deles. Mas nunca duvidamos que ela e o meu pai nos amavam. Nunca tínhamos muito dinheiro, mas sempre tínhamos muito amor.

— Como foi para seus irmãos mais novos e sua irmã? — Bronwyn perguntou, curiosa. Tinha comparecido a alguns almoços da família de Charlie, mas conhecera Ginny quando ela comparecera aos testes das Harpies. Ginny, como Charlie, podia ser independente a ponto de ser teimosa. Sempre curiosa, Bronwyn estudara casualmente as várias fotografias que adornavam as paredes da Toca, notando que certas roupas tinham passado por todos os irmãos, de Bill até Ron e, às vezes, até Ginny. Uma vez, Charlie tinha comentado que sua primeira varinha não tinha sido sua; ela pertencera ao seu tio Bilius. Charlie comprara a sua atual varinha pouco antes de ir para Romênia, e a varinha do tio Bilius tinha sido dada a Ron, quando fora destruída em circunstâncias misteriosas.

Charlie torceu a boca.

— Não foi tão ruim para Bill, Percy e eu — disse lentamente. — Por sorte, a mãe não fez aquela coisa em que os filhos mais velhos eram totalmente responsáveis pelos mais novos. Mas nós os ajudávamos com as aulas — as paredes da cabana sumiram, e Charlie não via mais o papel de parede listrado e gasto de seu quarto, mas, sim, a mesa de madeira gasta da cozinha da Toca, Molly indo de criança em criança, ensinando-os a ler e a fazer contas, enquanto os pratos se lavavam na pia. Bronwyn ficou parada, quase não se permitindo respirar. Charlie raramente falava tanto sobre qualquer coisa. Charlie crispou os lábios. — Mas não parecia ser justo com os mais novos. Especialmente Ron. Eu quase odiava o fato de meus pais não terem ouro o bastante para comprar uma varinha para Ron quando ele começou a escola — sua voz morreu e ele se remexeu, desconfortável. Tinha ido para a Romênia um ano antes de Ron começar Hogwarts. Arthur e Molly insistiram em ajudá-lo a comprar os equipamentos que precisaria. Charlie sabia que tinha sido caro, apesar de Molly e Arthur nunca terem dito quão caro. Isso causara um sentimento enorme de culpa em Charlie. Frequentemente, tarde da noite, ele se perguntava quantas vezes seus irmãos mais novos tinham sido desprovidos de algo necessário apenas por causa de um acidente na ordem de nascimento. Tanto ele quanto Bill tinham enviado dinheiro para casa regularmente depois que tinham avançado o bastante em seus trabalhos para ganhar uma quantidade decente de ouro. — Eles me confundem e nem sempre gosto deles — Charlie confessou, a voz baixa na escuridão silenciosa.

— Mas os ama — Bronwyn sussurrou. Charlie assentiu, puxando Bronwyn para perto. Chega de falar agora, pensou. Na opinião de Charlie, as ações eram sempre muito mais honestas e deixavam pouco espaço para a dúvida.

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Harry ergueu uma colher.

— Olha o Hipogrifo! — cantarolou ao mover a colher de um lado para o outro. Os olhos de Teddy seguiram, ávidos, o caminho da colher cheia de purê de maçã. De repente, Harry fez a colher entrar na boca entreaberta de Teddy. Ele riu, deleitado, cobrindo Harry com pedaços do purê de maçã. Andromeda lhe deu um pano úmido com um inclinar questionador de cabeça na direção de Hermione, que raramente ia com Harry quando ele visitava Teddy. Harry tirou os pedaços do purê de seus óculos e limpou as lentes na barra da camiseta. — Ainda tem os livros de Remus no sótão? — perguntou, limpando o rosto.

— Em caixas, sim — Andromeda tirou a colher da mão de Harry e ofereceu mais um pouco de purê a Teddy. — Por quê?

Harry se apressou a chutar Hermione sob a mesa. Ela pulou e quase derrubou a jarra de leite.

— Ai! — Hermione esfregou o local dolorido em sua canela, olhando feio para Harry. Ele suspirou e disse apenas com o movimento dos lábios, livros. — Oh, certo — Hermione disse num fio de voz. — Eu... — Andromeda se virou para Hermione. A luz do sol que entrava na cozinha iluminava Andromeda por trás, deixando seu rosto coberto por sombras, aumentando ainda mais sua semelhança com Bellatrix. Hermione empalideceu visivelmente e engoliu em seco. — Remus me deixou uma carta e disse que eu podia levar os livros para uns amigos dele — disse rapidamente, quase fazendo a frase toda parecer uma única palavra.

Andromeda ergueu as sobrancelhas.

— Amigos que, às vezes, têm mais pelos corporais que o normal? — perguntou.

— S-sim — Hermione gaguejou.

— Para quê? — Andromeda retorquiu.

Ultraje apareceu no rosto de Hermione.

— Remus era um membro de sua família e você tem a coragem de perguntar? — disse. Andromeda ficou em silêncio e meramente deu mais uma colherada de purê para Teddy. — Eles estão entediados — Hermione disse, raivosa. — Eles costumavam ser membros ativos e produtivos da sociedade. E agora, apesar de não ser culpa deles, eles são forçados a ficar de lado e não fazer o que foram treinados a fazer!

— Então, está tentando evitar atrofia mental? — Andromeda se arriscou a perguntar.

— Oh, honestamente — Hermione murmurou, aborrecida. — Sim — disse por entre dentes cerrados.

Andromeda limpou o rosto de Teddy. Tirou-o do cadeirão e o colocou no chão. Andromeda observou Teddy se equilibrar em seus pés e cambalear na direção de Harry. Um franzir de cenho aprofundou uma ruga entre suas sobrancelhas.

— Terei de pensar no assunto — disse.

Hermione fechou a cara e olhou para o relógio.

— Estou atrasada para tomar chá com meus pais — pegou sua bolsa. — Se me dá licença...

Harry murmurou:

— Hermione, espere... — e ela saiu sem olhar para trás.

— O senhor e a senhora Granger tomam o chá absurdamente cedo — Andromeda comentou, distraída. — Não são nem três e meia — o que quer que fosse continuar a dizer se perdeu quando a porta bateu ao ser aberta.

Hermione voltou para a cozinha.

— É injusto! — declarou. — Remus queria que seus livros fossem usados, e eles não estão fazendo bem a ninguém guardados em um sótão empoeirado! — ela se virou e marchou para fora da cozinha mais uma vez.

Os lábios de Andromeda se torceram com o esforço sobre-humano para não rir. Ergueu o bule.

— Chá? — perguntou a Harry.

— Claro — Harry observou Andromeda se ocupar com o bule. — Por que não deixou que Hermione pegasse os livros? — arriscou-se a perguntar.

Andromeda balançou a varinha para o armário e serviu um prato de biscoitos.

— Se ela os quer tanto assim, ela voltará — disse com tranquilidade.

Harry pegou um biscoito e mordeu a ponta.

— Ela morre de medo de você, sabe — comentou. Fez uma pausa, antes de continuar. — Bem, não de você em particular. Você realmente se parece com Bellatrix.

Andromeda bufou, colocando folhas de chá no bule quente.

— Só se estiver escuro e você estiver com os olhos quase fechados.

— E estiver com a cabeça inclinada para a esquerda — Harry riu. A semelhança de Andromeda com sua irmã mais velha era superficial, se muito.

Andromeda colocou uma mecha ondulada de cabelo castanho claro no coque.

— Imagine se eu fosse das trevas — disse ironicamente, examinando seu reflexo nas costas da colher. — Narcissa teve sorte. Ela herdou o cabelo loiro de nossa mãe.

— São quantos livros? — Harry perguntou, curioso, voltando ao assunto original.

Andromeda suspirou e olhou para o teto.

— Não sei. Há pelo menos uma dúzia de caixas, mas Merlin sabe quantos livros ele colocou em cada uma usando magia. Mas conhecendo Remus, há o bastante para montar uma biblioteca — serviu o chá em duas xícaras e ofereceu uma a Harry. — Hermione pode ficar com eles. Ela está certa. Eles têm que ser usados — Andromeda tomou um gole de chá. — Ela voltará para pedi-los se for qualquer coisa igual a garota que Remus conhecia e admirava.

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Ginny se esticou em um cobertor, deixando o sol quente banhar sua pele.

— Pronta para ir para casa? — Marion perguntou, protegendo os olhos com uma mão.

— Sim e não — Ginny abriu os olhos e os fixou em sua mentora. — Eu sinto falta da minha família. Sinto falta de Harry. Sinto falta de uma boa comida caseira. Eu realmente sinto falta dos banquetes de domingo da minha mãe — Ginny disse, desejosa, pensando em todas as refeições que comera no último mês. Gwenog garantira-se de que sempre estivessem bem alimentadas, mas não era a comida de Molly. — Não que eu não vá sentir falta de estar perto de vocês o tempo todo — adicionou, atrevida, desviando do tapinha que Marion mirou em seu braço. — Eu quero tomar café da manhã sem que dez pessoas examinem o conteúdo do meu prato — riu. Havia uma pitada de verdade nisso. Mais do que uma vez, alguém sentira a necessidade de informar a Ginny que ela precisava de mais proteínas ou frutas. — Mas... — sua voz morreu. Ela ficou quieta por tanto tempo que Marion a cutucou com força para ver se ela tinha dormido. — Ai! — Ginny esfregou o lugar em sua coxa onde Marion afundara o indicador.

— Mas o quê? — Marion incentivou.

Ginny respirou fundo.

— Aqui, não sou a irmã de alguém. Ou a filha. Ou namorada. Não sou definida por quem eu conheço ou por quem é meu parente. Com o time, eu sou apenas... Ginny Weasley, a Artilheira reserva. Eu gosto disso.

Marion sorriu. As Harpies eram conhecidas por não se importarem com quem uma pessoa era fora do campo. O que importava era o que faziam no campo.

— O que mais aprendeu?

Ginny se sentou e colocou os joelhos perto do peito, abraçando-os. Descansou o queixo nos joelhos e olhou para o mar azul-escuro batendo gentilmente na areia.

— Você tem que confiar no seu time implicitamente. Que ele vai te proteger. Se não confiar, seu desemprenho no campo sofre. Se não pode confiar nele fora do campo, como poderá confiar dentro? — bufou. — Lauren me disse algo assim na Suíça.

— Demorou bastante para entender o que ela quis dizer — Marion riu. — E eu que achava que você era mais esperta que a bruxa normal — pegou um copo alto e tomou um gole da bebida de frutas. — O que mais?

— Não ficar arrogante — Ginny disse tristemente. Ainda se lembrava dos hematomas da partida amistosa com o time principal durante os testes.

— É uma lição que todos deviam aprender — Helen se intrometeu. Ela desenrolou um cobertor ao lado de Marion. — Uma Batedora pode se juntar a vocês ou é uma festa só das Artilheiras? — a expressão de Marion não mudou, mas Ginny viu o brilho aparecer em seus olhos.

Ginny sorriu.

— Fique à vontade — pegou seu vestido de praia e o vestiu sobre o biquíni.

Helen tirou as sandálias e se acomodou no cobertor. Ela inclinou a cabeça para que pudesse olhar para Ginny.

— Não ache que precisa sair.

— Pensei em ir beber alguma coisa — Ginny disse. — O que a Mandy e a Julia estão aprontando?

— Acho que estão no Café. Planejando nossa última noite na Itália.

Ginny ergueu as sobrancelhas.

— Está dizendo que Gwenog nos dá uma noite de pura indulgência durante o treinamento?

Helen riu.

— Caso não tenha notado, pequena, não treinamos desde ontem à tarde.

— Temos pequenas férias em agosto — Marion lhe disse. — Gwenog tende a nós forçar tanto nesse treinamento, que ela permite que tenhamos as duas primeiras semanas de folga.

— Vale a pena — Helen suspirou, deitando-se de costas. — Estou ficando muito velha para isso — acomodou-se melhor no cobertor. — Tome cuidado para não sair de forma — avisou. — Gwenog irá parir uma ninhada de Amassos. Continue fazendo o treinamento terrestre.

Ginny se inclinou para pegar a bolsa e, pelo canto dos olhos, viu um movimento. Helen movera a mão pelos poucos centímetros que a separavam de Marion. Seu dedinho se moveu na mais leve carícia no dedinho de Marion.

Ginny pigarreou.

— Então, gostariam de ser informadas dos planos de indulgência?

Marion abaixou um pouco os óculos escuros sobre o nariz com a ponta do dedo.

— Acho que vamos ficar no hotel — respondeu com um sorriso afetado.

— Certo — Ginny bufou. — E participarão de um torneio de Snap Explosivo.

— Então é assim que os jovens estão chamando — Helen zombou.

— Entre outras coisas — Ginny disse, virando-se para caminhar até o Café.

Marion se sentou.

— Ginny! Espere! — Ginny olhou por sobre o ombro. — Tome cuidado com suas bebidas à noite!

Ginny franziu o cenho.

— O que quer dizer?

— É por que há idiotas que vão colocar algo na sua bebida para que você fique inconsciente e eles possam te atacar — Helen lhe disse sem meias palavras. — Não solte sua bebida e não aceite nada de quem não conhece — bufou. — Eu sei que as coisas em Hogwarts foram agitadas nos últimos anos, mas eles acabaram com qualquer chance de prepará-los para o mundo fora do castelo.

— Junte-se a alguém — Marion aconselhou. — Fique com essa pessoa — mandou. — Mesmo que uma de vocês tenha que ir ao banheiro.

— Mandy, Tilly, Caroline ou Millie são boas opções — Helen aconselhou. — Elas não perdem a cabeça — Ginny assentiu com os olhos arregalados.

— Não entre em pânico — Marion disse suavemente. — Apenas não saia sozinha, não beba nada que não tenha segurado o tempo todo e não beba demais.

— E lembre-se de se divertir — Helen comentou sarcasticamente.

— É — Ginny disse num fio de voz, parecendo um pouco pálida. Caminhou até o Café à beira-mar.

Marion apoiou-se em seus cotovelos e olhou para sua parceira longa e pensativamente.

— O quê? — Helen murmurou. — Estou com alguma coisa no nariz?

— Quem é que vai ensinar sobre as maldades mundanas do mundo aos alunos do sétimo ano de Hogwarts? — Marion perguntou com o jeito de quem pergunta sobre o tempo. — Consegue imaginar Slughorn falando às garotas sobre as poções que os garotos idiotas colocam nas bebidas? Ou a Madame Pomfrey? A Professora Sprout? McGonagall? — Helen abriu a boca, mas Marion a interrompeu. — E nem venha me falar no professor de DCAT. Faz séculos que eles não têm um que vale a pena.

— Quando voltarmos à Inglaterra, pode mandar uma coruja para McGonagall, sugerindo que eles deem essa aula logo depois das aulas de Aparatação — Helen zombou, esticando-se completamente no cobertor. — Não se preocupe. Ginny ficará bem.

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Ginny parou na beirada da costa, as sandálias penduradas em uma mão. A brisa salgada batia em seu cabelo, soltando-o da trança. Distraída, afastou algumas mechas dos olhos e se acomodou na areia ao lado de Julia.

— Posso te perguntar uma coisa? — começou, os olhos focados no céu que clareava no horizonte.

— Claro — Julia tirou os próprios sapatos e balançou os dedos dos pés, feliz, entregando um copo de papel com chá quente, forte e doce.

— Como foi sua primeira vez?

Julia explodiu em risadas.

— Foi horrível — respondeu, dando risadinhas. — Um monte de mão boba, se me lembro bem. Eu tinha acabado de fazer dezesseis e ele tinha quase dezessete. Era a primeira vez dos dois — balançou com a risada. — De algum modo, a primeira camisinha que ele tentou colocar escapou dos dedos dele e me acertou bem no meio da testa. Quando as coisas realmente começaram, durou trinta segundos antes de ele terminar.

Ginny franziu o cenho.

— Não é assim nos livros — comentou.

— Nunca é — Julia retorquiu. — É desajeitado e vergonhoso. A não ser que tenham usado as preliminares como degraus para o evento principal, será a primeira vez que irão se ver pelados, que é um nível completamente novo de vergonhoso — Julia torceu a boca em divertimento. — Não dá para "desver", o que não é um problema, a não ser que o relacionamento dê errado.

Ginny riu e tomou um gole de chá.

— Por que sempre que os vir depois, só vai pensar, eu vi o seu piu-piu!

Julia assentiu.

— No mínimo — um sorriso cruel apareceu em seu rosto. — Já te contei da vez que saí com Asher Elliot? — Ginny balançou a cabeça. Asher Elliot era o atual Capitão de Montrose, o mais jovem da história deles. Ele também era considerado uma vitória fácil para a Inglaterra na próxima Copa Mundial. — As ligas Britânica e Irlandesa oferecem algumas festas durante a temporada. Uma antes de começar, uma no natal e um banquete formal no final da temporada. Se um dos times se classificar para a Copa Europeia, eles fazem uma despedida enorme. Eu tinha acabado de assinar com Kenmare, no time de treino. Asher e eu nos demos bem e começamos a nos ver. Era algo casual — Julia refletiu. — De todo modo, eu fui para a cama com ele... — Julia parou de falar e estudou Ginny. — Conhece bem a anatomia masculina?

— O bastante — Ginny respondeu.

— Varia de um homem para o outro — Julia lhe disse. — A maioria deles gostaria que você acreditasse que eles todos parecem com o tipo que posa para aquelas revistas estimulantes que a gente compra na Travessa do Tranco quando ficam pelados — mordiscou a ponta de uma unha, pensativa. — Krum é um deles. Não que eu saiba por experiência — apressou-se a dizer. — É só que a gente ouve algumas coisas. E ele fica tagarelando sem parar sobre ser uma estrela internacional do Quadribol — Julia zombou. — Como se ele estivesse compensando — apoiou-se em suas mãos. — Mas eu estava falando do Asher — Julia sorriu de maneira sonhadora. — Ele é maravilhoso na cama — murmurou. — Mas honestamente... — ergueu o dedinho e uma sobrancelha.

Ginny ficou boquiaberta.

— Não! — murmurou.

Julia riu.

— Oh, sim. Ironicamente, é o motivo de ele ser bom na cama. Ele desenvolveu outras habilidades para compensar pela falta de presença das outras áreas — suspirou quase de um modo arrependido. — No fim, não tínhamos muito em comum e o relacionamento acabou. Asher é um pouco vaidoso, na verdade. Como a maioria dos homens bonitos.

— Ainda conversa com ele?

— Somos amigáveis quando nos encontramos nos eventos da liga — Julia disse. — Mas ainda assim. Sempre que eu o vejo nos jogos ou em uma das festas, eu só consigo pensar que já o vi pelado e que não é muito surpreendente — observou as ondas baterem na areia por alguns momentos longos. — O tamanho não é tudo, sabe. É a paciência, a técnica — olhou para Ginny. — Ainda pensando no que fazer com Harry?

Ginny prendeu a barra da saia nos dedos.

— Millie disse algo sobre saber se é uma coceira ou um progresso de um relacionamento romântico.

— É.

Ginny olhou para Julia pelo canto dos olhos.

— Por que não pode ser os dois?

— É o melhor tipo — Julia juntou as pontas de seu xale. — Pode estar em um relacionamento romântico e ainda querer transar como se fossem dois coelhos no cio — inclinou o pulso para ver as horas. — Vamos. Precisamos voltar ao hotel.

Ginny olhou para o próprio relógio e xingou sob a respiração. Gwenog tinha avisado durante o jantar que as esperava no café da manhã às sete e meia e que a primeira Chave de Portal saia pontualmente às oito e cinquenta e um. Quem não estivesse na Chave de Portal, teria que ir para casa sozinho. Ainda precisava tomar banho e arrumar suas coisas.

Levantaram-se e caminharam na direção do hotel. Ginny cutucou Julia com um cotovelo.

— Obrigada — disse.

Julia terminou seu chá e jogou o copo numa lixeira próxima.

— Bem-vinda ao mundo.

Continua.

N/T: Obrigada pelos comentários no capítulo anterior.

Eu sei que faz muito tempo desde a última atualização, mas, como eu vivo dizendo: não depende de mim mais. A autora demora para atualizar, não tenho controle sobre isso, logo, não adianta ficarem me cobrando. ;)

Enfim, achei o capítulo muito pequeno pro tempo de espera :/ Tomara que o próximo venha logo e cheio de coisas boas! Falem nos comentários o que acharam!

Obrigada mais uma vez e até a próxima atualização — seja lá quando for.