Relâmpago
Já devia ter-se acostumado àquele ser respirando ao seu lado, quase encostado ao seu ombro, e aos batimentos desapressados e quase silenciosos que o acompanhavam. Kiba já devia ter-se acostumado àquela pele que refletia a luz da manhã mais do absorvia enquanto caminhavam para o treino – ele, a passos pesados; o outro, numa espécie de torpor infinito. Já devia ter-se acostumado às respostas às vezes duras demais e às vezes lacônicas demais, aos silêncios prolongados; enfim, tudo que fazia parte do seu cotidiano compartilhado.
Nesse dia que tudo parecia diferente – embora permanecesse estritamente igual – Kiba prestou mais atenção aos detalhes entre os dois, mas não de um jeito que o fizesse querer se afastar de Shino.
Era o contrário, talvez.
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Foi quando estavam estirados no tatame, e Kiba tinha consciência de Shino ao seu lado, entregue como de praxe ao seu silêncio. Pairava sempre no meio dos dois uma dúvida quanto ao que o ninja das lentes escuras estaria pensando; Kiba fazia um olhar interrogativo e quase sofredor, mas Shino não perguntava nada.
Em horas como essas, Kiba não se importava muito se Shino não compartilhasse seus pensamentos; ele também não estava pronto para compartilhar os seus.
Kiba não queria explicar o tédio, o frio na barriga e a vontade peculiar de correr e de virar o mundo de ponta-cabeça, entre tantas outras coisas que ele sentia e não sabia verbalizar. Faltava muito sentido no que se passava em sua mente e ele sentiria o maior idiota da terra se alguém mais soubesse seus devaneios.
No entremeio, o único pensamento coerente que teve resultou em seu braço se movendo como um relâmpago para se posicionar sob a cabeça de Shino. Houve um mínimo grunhido de aceitação da outra parte. Kiba riu; Shino não costumava fazer esses sons animalescos.
Foi um clarão de sanidade promovendo essa alteração no que antes parecia imutável. Por alguns instantes, Kiba se sentiu um verdadeiro gênio pela sua ideia. Até mesmo as borboletas infiltradas no estômago do Inuzuka se aquietaram.
Mas isso foi só até outro relâmpago acontecer e Shino matar a distância entre os dois e selar seus lábios e elas explodiram de vez.
N/A: Faz só umas duas eras geológicas que eu não venho por aqui, mas ninguém está contando.
Eu tinha prometido uma fic feliz ShinoKiba depois de Trois e acho que foi isso. A fic Peculiar do Aldebaran foi só um grande empurrão no caminho certo.