Naruto ainda pertence ao Minato.


Duas estações

"Meu medo estava chovendo entre nós, dilacerando o perfume de seu sorriso."

Havia um suave sorriso em seu rosto. Nada espetacular ou memorável. Um daqueles sorrisos brandos que parecem falar no silêncio. E geralmente falam algo que não é tão bom de se ouvir.

Ouvi o tiquetaquear do relógio analógico na parede do meu cérebro. Prendi a respiração por medo de que ele pudesse ouvir o ar que sairia de meus pulmões para cortar aquela ausência de sons.

Respirar não faz tanto barulho numa conversa normal. Mas é como um grito quando a conversa perdeu o dom de adotar novas palavras.

Meu coração explodia em meu peito. Se ele não ouvia a súplica dos meus pulmões, com certeza ouvia meu coração. Esse eu não podia calar. Esse era barulhento como uma tempestade na madrugada.

Meu medo estava chovendo entre nós, dilacerando o perfume de seu sorriso.

Sabia que não era um adeus definitivo, mas, de alguma forma, era um adeus. E qualquer despedida - quando é com ele - se torna, pra mim, um homicídio da minha razão. Sem ele eu fico perdida.

Sofro de uma dependência química, física, literária. Preciso dele.
Engoli em seco e senti minha garganta se contraindo com dificuldade. Doía olhar aquele sorriso artifical. Doía sentir aquele sorriso na minha pele. Seu sorriso tinha gosto de decepção. Eu o desapontei? Estou desapontando? Minha fraqueza o machuca?

Quando seus lábios se separaram, sinto que até meu coração silenciou por um segundo, desesperado para ouvir o que viriam deles. Fosse lá o que fosse.

E eu, agarrada ao pânico de ter que, mais uma vez, vê-lo partir, segurei meu tremor com as mãos. Meus dentes rangiam involuntariamente, causando-me arrepios. Ou talvez fosse o pânico que me arrepiava.

"Te vejo na primavera."¹

E com essas últimas palavras ele se foi. Como se houvesse nele a esperança de que uma estação me consertasse. Sou um brinquedo quebrado, infectado pelo tempo. Pior doença da qual já se ouviu falar. Degenera, mata. Não tem cura.

"Você é a minha primavera..."

Porém ele já havia fechado a porta. Não ouviu. Nunca ouve minhas últimas palavras.

Pergunto-me quanto tempo demora pra chegar a primavera dele. A minha, eu sei, chega quando ele voltar.

Invernos são sufocantes.


¹ - Dan soltou essa frase ontem e me inspirou. MORRA MUITO SEU CANALHA por me inspirar com uma frase maldita dessas. Mas obrigada. s2

N/A: A fic em si não é toda baseada em fatos reais e os personagens eu selecionei na roleta russa. Não fazia ideia de quem poderia ser. Escolhi Konan e Pain agora escrevendo essa nota final. Beijos e me tweeta.