Nota da autora: Estava lendo essa história e achei que estava faltando um prólogo, por isso resolvi escvrever um. Espero que gostem.

Prólogo – Diferente

Botan voltava para casa tarde da noite, quando foi atacada num beco, por um grupo de jovens.

- Oi, gatinha. – Disse um deles se aproximando. – Por que você não se junta a nós?

- Não, obrigada. – Respondeu ela indo para o outro lado, mas logo notou que não tinha para onde ir, pois estava cercada. O medo começou a dominá-la. – Por favor, me deixem em paz.

- O que é isso, querida? Não se preocupe. – Um deles passou a mão pelos cabelos dela e tocou seu rosto.

- Por favor, não me toque. Por favor. – Pediu a jovem começando a tremer. Outro homem puxou o braço dela e aproximou-a de si. Botan ficou arrepiada de nojo.

- Calma, eu prometo que você vai gostar. – Ele passou a mão pela cintura dela e subiu até chegar aos seios.

- Não! – Gritou Botan se debatendo. – Me solte! – O homem lhe deu um tapa no rosto, que a jogou no chão.

- Cale a boca e aproveite! – Disse o homem se colocando por cima dela, enquanto os outros riam.

- Não! – Ela gritou mais uma vez e o homem ergueu a mão para bater nela de novo.

- Eu não faria isso se fosse você. – Disse uma voz em meio às sombras do beco.

Kuchibue ga kikoeru kinou yori mo tooku de

(Posso escutar um murmúrio, mais distante do que ontem)

Togire togire no kakera wo atsume

(Recolhendo os fragmentos que caíram dispersos,)

Migi te ni nigirishime sotto me wo tojiru

(Os apoio fortemente em minha mão direita, e lentamente fecho meus olhos.)

- Quem está aí? – Perguntou o homem levantando e sacando um canivete. Em seguida Hiei apareceu. Os bandidos começaram a rir. – É melhor você ir pra casa menino. – Disse o homem ainda rindo. Botan havia se encolhido num canto.

- Eu acho que você mesmo devia seguir seus conselhos. – Respondeu Hiei. Os bandidos riram de novo.

- Oh, moleque, eu acho que você não aprendeu a contar. Nós somos quatro e você, um só. – O koorime deu um sorriso de lado.

- Então arranja mais gente, porque só vocês não vão dar conta não. – O homem não perdeu mais tempo e atacou Hiei com o canivete, fazendo um corte em seu braço, mas não teve tempo de fazer mais nada, porque Hiei subjugou a ele e seus amigos num piscar de olhos.

Botan observava a tudo chocada e notou que o youkai estava prestes a matar os bandidos, que já não conseguiam se manter de pé.

- Não. – Ela gritou e ele parou.

- Por que não? – Perguntou arrogante. – Será que não notou o que pretendiam fazer com você? São vermes. – Ele segurava o líder pela camisa.

- Eu sei. – Respondeu ela se recuperando um pouco. – Mas não vale a pena matá-los. – Hiei suspirou, largou o homem e deu as costas para a jovem, prestes a ir embora.

- Espere. – Pediu Botan e ele parou. – Pra onde você vai?

- Não é da sua conta. – Ele ia continuar seu caminho.

- Espere. – Novamente ele parou, contra sua vontade.

- O que é?

- Seu braço está machucado. – Disse Botan se aproximando. – Venha comigo até minha casa e eu faço um curativo. – Ele a encarou incrédulo.

- E você quer levar um assassino pra sua casa para ajudá-lo? – Deu um sorriso de lado. – Não me admira que aconteça esse tipo de coisa com você. – Falou se referindo aos bandidos.

- Se você quisesse me machucar, teria virado as costas e não me ajudaria.

- Talvez eu mesmo queira machucá-la.

- Então o que você está esperando? – Ele ficou parado. É claro que não ia machucá-la. Nunca machucaria uma mulher indefesa. – Agora que já resolvemos isso, você pode me acompanhar e deixar que eu cuide desse machucado. – Botan segurou-o pelo braço e o arrastou com ela para sua casa.


Naifu no you ni tsuki ga furidasu

(A luz da Lua cai sobre mim como uma faca,)

Chiheisen mo itetsuku yoru as

(Em uma noite que congela o horizonte.)

Hiza wo daite sonna kouya ni ima hitori

(Apenas no estepe, abraçado ao meu colo,)

Kaze no uta ni mimi wo samashite 'ru

(Tento escutar a canção do vento.)

Quando chegaram ao apartamento dela, Hiei ficou parado no meio da sala, enquanto buscava sua caixa de primeiro socorros.

- Por que não senta, Hiei?

- Estou bem de pé.

- Por Deus, Hiei, custa tentar ser sociável? – Com um suspiro, ele sentou no sofá e Botan começou a fazer o curativo. – Obrigada por me salvar, Hiei.

- Não me agradeça, onna. Não fiz por você. Simplesmente não gosto de idiotas. – A jovem lhe deu um olhar resignado e continuou a fazer o curativo.

- Não me importa o motivo, Hiei. Você me salvou e eu estou agradecendo.

- Hm. – Enquanto a Guia Espiritual fazia o curativo, Hiei a observava. E toda vez que Botan lhe tocava, ele pensava em como sua vida poderia ter sido diferente se tivesse nascido em outro lugar e se tivesse alguém como ela cuidando dele.

- Uma moeda pelos seus pensamentos. – Disse Botan de repente. Hiei encarou-a confuso.

- O quê? – O koorime perguntou sério.

- É um costume humano. – Explicou a Guia. – Quando alguém está muito pensativo, outra pessoa oferece uma moeda para saber quais são esses pensamentos.

- Hm. Os humanos são bem intrometidos. – Falou o youkai emburrado.

- ora, alguns podem ser, mas eu vejo esse tipo de situação como uma oportunidade de desabafar. – Botan terminou o curativo e Hiei levantou. – Você parecia bem preocupado. Eu gostaria de poder te ajudar, como você me ajudou. – Ela parecia triste.

- Não se preocupe com isso. – O koorime começou a andar até a janela. – Já disse que não foi por isso que agi. – A jovem sorriu. Hiei nunca admitiria ter agido por bondade.

- Tudo bem, Hiei. Mas se eu puder fazer alguma coisa por você, me avise.

- Hm. – E assim ele foi embora.


Nemurenai yoru wo shiranai yatsu wa

(Aqueles que não sabem o que é uma noite sem dormir)

Tsuyoku wa narenai sore ga ruuru as

(Jamais poderão ser fortes, essa é a regra)

Alguns dias depois Hiei já estava sem nenhum curativo e dormia no galho de sua árvore, quando foi despertado por algumas gotas de chuva que molharam seu rosto. Droga! Por que tinha que chover logo agora? Ele teria que se levantar e procurar outro lugar para dormir. Pensou em lugares onde poderia ir. A casa de Kurama seria sua primeira opção, mas desde que a mãe dele se casara, quando ia lá, Hiei tinha que aturar o novo irmão do Youko. Não iria para a casa de Yusuke e Keiko para aturar os pirralhos dos dois. A casa de Genkai era fora da cidade e o idiota do Kuwabara estava fora de questão. Só lhe restava ir à casa da onna. Era a melhor opção e, além disso, ela insistira em dizer que estava em dívida com ele.


Kuchibue ga kikoeru hoshizora yori tooku de

(Posso escutar os murmúrios mais distantes que as estrelas, e o céu)

Sore wa dare ka no inori no kotoba

(São as palavras das orações de alguém)

Migi te ni nigirishime sotto me wo tojiru

(As apoio fortemente em minha mão direita, e lentamente fecho meus olhos)

Botan dormia tranquilamente, mas sempre tivera o sono leve, por isso ao ouvir um ruído na janela, ela se levantou, afinal começara a chover e se a janela estivesse aberta, molharia o chão todo.

Ao chegar à janela se assustou ao notar que tinha alguém do lado de fora, mas logo se acalmou ao perceber que era Hiei.

- Hiei! – Rapidamente ela abriu a janela para deixá-lo entrar. – Por que não bateu na porta? Por pouco você não fica ensopado. Deu sorte que a chuva não está muito forte. – A Guia correu ao guarda-roupa e buscou uma toalha para ele. O koorime tirou sua capa e a camisa, e começou a se secar. Botan ficou parada observando-o. Ele tinha um corpo muito bonito.

- O que foi, onna? – O youkai perguntou curioso ao notar que era observado.

- Nada. – Ele havia pendurado a toalha sobre os ombros, mas os cabelos ainda estavam encharcados. A jovem se aproximou e pegou a toalha. – Deixa eu secar os seus cabelos, se não você pega uma gripe.

- Não precisa, onna. – Hiei se afastou um pouco.

- Não me diga que está com medo de que eu o machuque. – Ela falou rindo.

- Hm. Claro que não. – Como a calça dele não estava muito molhada ele sentou na cama dela e esperou que ela secasse seus cabelos.

Botan sentou-se atrás dele e gentilmente passou a toalha pelos cabelos dele. Aos poucos Hiei ia relaxando e, quando deu por si, estava recostado contra o corpo dela com os olhos fechados. Novamente os pensamentos dele fluíram para o seu passado e como seria se tudo fosse diferente se tivesse alguém como ela em sua vida. Provavelmente ele não seria desse jeito. Talvez se não tivesse aprendido desde pequeno que devia sobreviver sem ajuda, que não devia ter misericórdia, pois isso era uma fraqueza. Muitas coisas seriam diferentes se não fosse por sua infância infeliz.

Era estranho que esses pensamentos sempre surgissem quando estava perto dela. Nunca tinha pensado nessas coisas e agora estava ali, deitado nos braços dela, desejando que tudo fosse diferente.

Kodoku yori mo motto sabishii mono wa

(Algo ainda mais triste que a solidão,)

Sono kodoku ni kizukanai koto

(É não dar conta de que está só.)

Donna hieta yoru no daichi mo sono shita ni

(Não importa o quão fria seja a noite,)

Atatakasa wo kakushite iru no as

(Abaixo da terra há calor escondido.)

Quando sentiu que os movimentos das mãos dela em seus cabelos tinham parado, ele abriu os olhos e começou a se afastar, mas parou ao sentir os braços dela envolvendo-o pelo torso.

- O que está fazendo, onna? – Ele perguntou em um sussurro, sem tentar se afastar novamente.

- Não sei, Hiei. – Respondeu ela também com a voz fraca. – Parecia que você precisava de um abraço. – O youkai se deixou ficar onde estava em silêncio, apenas sentindo a respiração e o bater do coração dela contra seu corpo.

Depois de alguns minutos ele notou que a respiração dela estava mais lenta, portanto devia estar dormindo. Com cuidado, Hiei se soltou dos braços dela e acomodou-a na cama. Estava indo pegar suas roupas quando sentiu que ela segurava seu braço. Tentou se soltar, mas Botan o puxou de volta.

- Fique, Hiei. – Botan pediu baixinho. O koorime pensou em se afastar com um pouco mais de força, mas decidiu que agora era ele quem devia alguma coisa a ela, por isso fez com que ela chegasse um pouco para o lado e se deitou junto da Guia. O braço dela repousava sobre seu peito e o youkai logo adormeceu.


Kago ni torawareta tori de iru yori

(Antes que permanecer como uma ave dentro de uma jaula,)

Namae mo shiranai ishikoro ni nare

(Prefiro me converter em uma pedra sem nome.)

No dia seguinte Hiei acordou um pouco mais tarde que o normal. Fora uma das melhores noites de sono que ele tivera na vida. Geralmente acordava às cinco da manhã e agora já era por volta das sete. Botan ainda dormia profundamente. O koorime observou-a por alguns minutos e depois se libertou do abraço dela lentamente. Em seguida pegou suas roupas e ia se dirigindo à janela quando se lembrou de algo. Encontrou um pedaço de papel e escreveu algo nele, deixando-o na mesinha de cabeceira ao lado da jovem. Depois disso saiu pela janela.


Kuchibue ga kikoeru kinou yori mo tooku de

(Posso escutar um murmúrio, mais distante do que ontem)

Togire togire no kakera wo atsume

(Recolhendo os fragmentos que caíram dispersos,)

Migi te ni nigirishime sotto me wo tojiru

(Os apoio fortemente em minha mão direita, e lentamente fecho meus olhos.)

Quando acordou, Botan logo notou que estava sozinha e pensou ter sonhado com Hiei, mas teve certeza de que não fora um sonho ao ver a toalha ao pé da cama. Ele devia ter ido embora cedo. Era uma pena, ela poderia ter lhe oferecido um café ou algo do tipo. Botan se levantou e ficou surpresa ao notar um pedaço de papel na mesinha ao seu lado. Sorriu ao ler a mensagem. Estavam escritas apenas duas palavras, mas essas palavras significavam muito mais do que qualquer coisa que ele pudesse lhe dar. Estava escrito: "Obrigado, onna". Era muito mais do que ela poderia esperar de um koorime teimoso.

Kuchibue ga kikoeru hoshizora yori tooku de

(Posso escutar os murmúrios mais distantes que as estrelas, e o céu)

Sore wa dare ka no inori no kotoba

(São as palavras das orações de alguém)

Migi te ni nigirishime sotto me wo tojiru

(As apoio fortemente em minha mão direita, e lentamente fecho meus olhos)

[Kuchibue Ga Kikoeru - Yu Yu Hakusho]