Capitulo Trinta e Um – 99 Problems

Aquele dia parecia ter sido feito para a festa de Hermione Granger. Céu azul, sem sombra de nuvens e um sol brilhando tanto que só não conseguiria ofuscar a aniversariante. Harry nunca acreditara muito em sorte, mas passara a ter suas dúvidas ao conhecer sua querida esposa. Ele duvidava a respeito de muitas coisas, sabe-se lá por qual razão! Contudo, tinha certeza de que Mi nascera muito bem afortunada em todos os quesitos.

Apesar de estar feliz por ela ter seu grande dia, que na verdade não havia chegado, pois faria aniversário no domingo, mas a festa seria naquele sábado, estava cheio de preguiça pela agenda cheia que teriam. Granger havia acordado cedo, às 06h30min e, como uma perfeccionista que se preze, estava com seus horários cronometrados, nada poderia sair do planejado.

Mirava o teto do quarto, ainda deitado, pensando em todas as orientações que tivera no dia anterior, onde a viu tão pouco por causa das últimas provas do vestido. Poderia até dizer que estava com saudades. Deveria ir ao barbeiro, fazer a barba e cortar os cabelos. Lembrava bem da voz mandona da loira lhe dizendo "corte aviador é o que fica melhor com seu formato de rosto e tire logo esta barba, não quero que pareça um hipster sarado". Nunca pensara que teria uma garota decidindo até como seria o seu penteado. Mas, não ligava para isso mesmo!

Antes de levantar contou 5 minutos no relógio em cima da mesa de canto. Quando o fez, foi necessária uma força sobrenatural apenas para ficar de pé. A sombra da preguiça lhe tomou de assalto, quase o fazendo cair novamente nos braços de Morfeu. Mas, quando sentara outra vez na cama, o pensamento de decepcionar Hermione surgiu para lhe assombrar num súbito, o fazendo dar um pulo e finalmente despertar. Ela era perfeita e teria o dia perfeito.

Tomou um banho gelado e rápido, vestindo uma calça e um moletom qualquer, não iria pentear o cabelo para que o barbeiro cortasse tudo. Então achou que seu novo par de óculos escuros com lentes de grau seria o suficiente para completar aquilo que Mi chamava de "look". A ideia, como sempre, fora dela e, ao invés de parecer um nerd, ele ficava um gato com aquele aviador. Herdara a modéstia de James.

Desceu até a cozinha, pegando um copo de suco e alguns cookies e tratou de comer rapidamente, antes que se atrasasse. Como um ogro! Ouviu seu telefone tocar e, quando o nome dela apareceu no visor, ele temeu que estivesse se esquecendo de algo.

- Oi? – Disse tentando parecer amistoso, caso ela estivesse à beira de mata-lo. Todavia, por dentro estava se tremendo de medo. Nunca pensara que uma garota magra que não tinha nem 1.60 de estatura iria lhe amedrontar tanto.

- Bom dia, tudo bem? – Ouviu sua voz bem-humorada lhe perguntar. Se ela estivesse brava nunca perguntaria seu estado, apenas desejaria sua morte. Então realmente estava tudo bem. Havia outras vozes agitadas e animadas ao fundo e, se bem a conhecia, aquilo era um salão de beleza. Lembrava-se de ir levar e busca-la todas as vezes em que ela cismava que "suas unhas estariam frescas demais para dirigir um carro". Aquele lugar era tão estranho. Se pudesse achar no dicionário uma palavra melhor, essa seria "escalafobética". Já procurara outrora para justificar para ela o porquê de não querer fazer as sobrancelhas. É claro que não diria que achava muito gay, então descrevera com louvor sua opinião sobre o lugar. Ainda que isso não o livrasse de busca-la.

- Bem e você? Ansiosa? – Indagou com aquela voz naturalmente languida e um pouco rouca, que a fazia corar. Desde quando reparava essas coisas? E desde quando se sentia envergonhada? Tudo bem que já tivera vergonha dele, mas era quando dava algum vexame e não quando conversavam por telefone. Percebera que estava muda há algum tempo, quando a tal voz de Harry lhe tirou do transe. – Mi?

- Oi! Perdão! – Se desculpou sem jeito dando uma risadinha e o ouviu achar graça pelo seu riso breve. – Estou muito bem, há horas neste salão, mas feliz e até então tranquila. Estou ligando para lhe lembrar do horário no barbeiro. – A ouviu dizer enquanto pegava sua carteira e as chaves, para sair de lá o mais rápido possível. Se ele fosse sagaz, quando ela perguntasse onde estava, já estaria dentro do carro ouvindo os Strokes, na metade do caminho. - Tenho certeza que você seria melhor cuidado aqui, mas, já que você acha o lugar "escalafobético", tudo bem. – Ele riu. Ela deveria estar lendo mentes!

- Pois é. Mas fique tranquila, o barbeiro vai cuidar de mim.

- Ok então. Não se atrase.

- Eu não vou. Fique ainda mais linda. – Disse num tom mais baixo, ainda que não houvesse ninguém para escutá-lo. Talvez suas bochechas esquentassem menos de acordo com seu tom de voz. Ele podia não vê-la, já que não gostava muito do tal FaceTime, mas tinha certeza que ela estava dando o sorriso mais bonito do mundo.

- Até mais, Harry.

- Até mais.


- E aí, como está o príncipe? – Sua prima Christine perguntou assim que Mione desligou, enquanto faziam as unhas. Curiosa demais para o seu gosto! Mas talvez estivesse ficando obsessiva e paranoica. Demorara demais para perceber que, apesar de ogro, Harry era um gato e poderia ter todas as garotas à sua disposição. Menos aquelas que não se dão ao desfrute, é claro. Todavia, Christie poderia cair nos braços de Harry em um segundo, caso ele quisesse. Sem ao menos se importar se ele era marido de sua prima ou não.

- Está bem. – Disse seca e um tanto irritada. Gina, que estava fazendo os cabelos ao seu lado, lhe mirou com um olhar debochado.

- Ainda não entendo porque casaram tão novos, - Ela tornou a falar, insistindo no assunto. Christine Granger era o tipo de prima que Mione só queria ver em festas da família. Na verdade, não queria não, mas não poderia ser tão cruel assim. Ela era oferecida e sempre tentava fazer com que suas coisas ou namorados fossem melhores que os de todo mundo. E ainda por cima agia como super-rica, mesmo que John Granger possuísse o triplo da fortuna que seu pai tinha. - afinal, ainda que vocês se amem, muita agua pode passar por debaixo da ponte. – Disse mirando suas unhas de forma satisfeita. – Não acha que ambos podem conhecer um outro alguém? – Hermione estava estática! Não existia ninguém mais promissora para Harry do que ela? Existia? Tinha certeza que, com sua presença na vida dele, poderia até torna-lo um homem bem-sucedido no futuro! - Estou perguntando só por perguntar. – Acrescentou com um sorriso ao ver que havia plantado a semente da dúvida no coração de Hermione.

- Ou por você ser uma vadia invejosa. – Ginny rebateu antes que a amiga pudesse responder aquela pergunta idiota. Conhecia muito bem garotas do tipo da Christie e era uma pena que Mi tivesse alguém assim em sua família. Christine deu um suspiro falsamente ofendida, porque ela era uma dissimulada e Gina teve vontade de matá-la enforcada com aquele poodle que ela carregava para cima e para baixo como uma perua brega.

- Ginny! – Hermione lhe repreendeu embaraçada com aquela situação. A ruiva bufou. Conhecia bem sua prima, mas conhecia sua melhor amiga ainda melhor. O suficiente para saber que Ginny havia prometido uma surra a Christine há anos atrás e estava doida para cumprir a promessa.

- Você sempre tão mordaz, Weasley.

- Realista, querida. – Rebateu com um sorriso falso.

- Er... Por que não nos preocupamos com qual penteado faremos ao invés de discutirmos por besteiras? – Hermione sugeriu antes que a Terceira Guerra Mundial acontecesse.


- Eu ainda não acredito que fui convidado para a festa da Granger. – Malfoy comentou pensativo enquanto comiam hambúrgueres na casa do loiro ouvindo a voz de Alex Turner, que soava no Ipod conectado a uma caixa de som.

- Eu disse que ia conseguir convites. Afinal, alguém tem que animar aquele lugar! – Potter falou divertido, dando uma mordida no sanduiche.

- Tirando o fato de que a aniversariante me odeia, poderei encontrar alguma patricinha que adore loiros... – Harry riu.

- Eu não sei se ela de fato te detesta mesmo. Muita coisa é só fachada. – Confidenciou com um riso bobo.

- Você está defendendo a bonitinha ou é impressão minha? – Indagou abafando o riso.

- É... Talvez eu esteja.

- Sabe, nunca pensei que fosse dizer isso, mas de alguma forma ela lhe faz bem.

- Nossa, acho que devo ir à sinagoga, isso é um milagre! – Motejou surpreso pela declaração de Draco, um anti-Hermione declarado.

- Mas é verdade, cara.

- Hermione me faz sentir que eu tenho chances de ser alguém, sabe? Meus pais nunca ligaram muito, ainda mais desde que... Bem, você sabe...

- Sim, eu sei... Mas você tem que esquecer isso.

- Verdade, não sei por que lembrei. Tenho que ir em casa. Daqui a pouco Hermione chega e eu não posso deixá-la me esperando.

- Parece que alguém vai provar o bolo antes da festa!

- Idiota! – Lhe deu um soco no braço enquanto ria, tentando não pensar naquela maldita piada.


Quando seu telefone tocou pela milésima vez e ela atendeu de bom grado, apesar da exaustão, tudo que menos esperava ouvir lhe fora dito. O nome de John no visor e a foto dos dois sendo fofos em frente a paisagem cinematográfica de Viena, lhe trouxeram alegria. Tinha a esperança de que ele ligasse para lhe dizer frases afáveis, que ficavam lindas na sua voz.

De fato, fora assim, como em todo aniversário, com a diferença de um bônus de recomendações a respeito de Harry Potter. À princípio não entendera todo aquele eufemismo e mais um par de figuras de linguagem. Mas, logo no meio da conversa, conseguira captar exatamente o que ele tinha para lhe ordenar: Queria ela "longe" de Harry.

Não sabia o porquê, apesar de muito lhe interessar. No começo da história, o sonho de seu pai era que se dessem bem juntos. Seria mais um plano diabólico de James Potter? Poderia achar que sim, mas apenas se não atribuísse o fato do homem ser louco por dinheiro e o dinheiro estar completamente ligado ao seu relacionamento bem-sucedido com o herdeiro dos Potter.

Pela primeira vez, desde que se casaram, não queria ficar longe dele. Tinha medo até de que simplesmente não conseguisse mais.

Aquilo tudo não tinha coerência e, ao pensar em perde-lo, seu estomago revirou e lhe brotou um sentimento ruim. Queria falar com ele, ligar para ele e ter certeza de que aquele garoto não iria a lugar algum. Ele não podia fazer isso com ela.

Quando seus dedos discaram o número dele, ignorando o fato de ela o ter na ligação automática, Hermione só queria ter certeza de que ele não partiria seu coração. Pois, se ele fizesse isso, ela teria todo direito de mata-lo, dar um fim em sua reputação, ou, talvez, rasgar todas as suas roupas e ...

- Alô. – Nunca sentira um alivio tão grande ao ouvir aquela voz rouca.

- Harry? – Tentava simplesmente não parecer insegura, apesar de ele não vê-la quase roendo as unhas que acabara de pintar. Céus, que horror!

- Oi, Mi. Tudo bom?

- Sim... Hm... Meu pai ligou aí para casa?

- Não. Mas, também, acabei de chegar, vou olhar na secretária eletrônica. – Ele NÃO podia fazer aquilo.

- NÃO PRECISA! – Quase berrou, assustando o cabeleireiro que terminava seu penteado estonteante.

- Tudo bem... – Assentiu num tom de voz assustado. – Tem certeza que está tudo legal? – Insistiu um pouco, quase a fazendo desabar.

- Eu...

- Mi?

- Eu só estou um pouco preocupada com tudo, mas vai passar.

- Tem certeza?

- Sim. Obrigada por se preocupar.

- Por nada. Até mais.

- Até.


Aquela ligação era tão estranha. Aliás, nunca pensara que fossem se ligar tanto em tão pouco tempo. Quer dizer, passaram poucas horas e já tinham se falado duas vezes. Ele gostava bastante daquilo. Todavia, ouvir Hermione tão preocupada o fazia não saber ao certo o que fazer. Algumas coisas simplesmente não existiam em sua vida antes de ela chegar com uma mala cheia de novas experiências e sentimentos. Sentimentos? Estava realmente pensando neles? Que bichinha!

Ficara um bom tempo meditando ao som de Brandon Flowers e depois de alguns minutos decidiu que a vida não podia ser tão complicada assim. Precisava viver o momento, como diziam nos comercias. Colocar aquela bendita roupa de príncipe e rumar àquela festa como se fosse a última coisa que faria na vida. Entraria na mansão Granger decorada de palácio e faria o necessário para que tudo simplesmente desse certo.

Ouviu o barulho da fechadura e seu coração pareceu parar até fita-la transpor aquela porta. Quando viu Hermione naquele vestido, por um instante, ele parou de respirar. Não queria perder nenhum segundo daquela visão que mais parecia uma quimera. Era curioso o fato de observa-la passar enésimas vezes naquele colégio e não perceber o quão única ela era. Hermione Granger tinha seu próprio brilho e podia ofuscar qualquer coisa. Talvez por isso ele estivesse tão cego.

Ele poderia fechar os olhos e lembrar-se de cada momento de suas infâncias, quando ela fez parte da sua vida pela primeira vez. Arrependia-se por terem se afastado, poderiam ter vivido tantas coisas juntos...

O que foi? - Questionou lhe tirando do transe e lhe observando um pouco insegura. - Estou feia? - Indagou desapontada abaixando os olhos de maneira envergonhada. Acabara de chegar em casa e ter aquela recepção não era nada agradável. - Eu sabia que deveria escolher o vestido da Burberry. Christopher foi tão gentil quando ofereceu. - Comentou chateada e Harry finalmente saiu do transe, percebendo o quão insano era o que aquela menina dizia.

- Você está louca, Hermione! - Disse risonho. Ela arregalou os grandes olhos âmbar e ele logo lhe explicou. - Tenho certeza que ninguém na face da Terra fica mais bonita neste vestido do que você. Ele foi inventado para que você usasse. - Terminou de falar com aquele sorriso que fazia suas covinhas aparecerem e encantarem toda Hogwarts School.

- Jura? - Perguntou com seus olhos brilhando e ele assentiu num menear de cabeça. - Obrigada, Potter.

- É Harry, Mione. - Lhe lembrou num tom de voz leve e brincalhão. Aquela fase de guerra já havia passado.

- Perdão, é força do hábito. - Mordeu o lábio inferior e bochechas coraram um pouco.

– Você está linda. - Disse mirando os olhos âmbar que, naquela noite, estavam ainda mais brilhantes. Ficara surpreso, não imaginava que alguma coisa pudesse tornar Hermione mais bonita do que ela já era, mas aconteceu. Sentia-se orgulhoso por estar ao lado dela, a sentia tão sua...

– Obrigada, príncipe Harry. - Falou com as bochechas coradas e um meio sorriso que aprendera com ele. Ele riu e enlaçou seus dedos nos dela, dando um beijo demorado em sua testa.

– Nessa noite eu realmente queria te levar para um castelo.

Hermione sorriu para o rapaz, que estava tão próximo de seu rosto que ela podia sentir sua respiração quente. Um arrepio bom lhe invadiu e ela mirou as duas esferas verdes, que podiam dizer muito, sem usar palavra alguma.

– Tenho certeza que seria melhor do que encarar todas aquelas pessoas. - Hermione mostrou a mão trêmula para o garoto e ele percebeu o quão apreensiva ela estava. Mi Granger tinha medo de algo e isso era a maior novidade que poderia saber.

– Vai dar tudo certo, prometo. - Potter a encarou e deu um sorriso de canto ao ver o enorme sorriso que ela abrira.

– Obrigada. - Ela encarou suas mãos ainda entrelaçadas e sorriu acariciando a mão dele com seu polegar. Já não era mais tão estranho, ela já podia se sentir em casa. Harry levou a mão de Mi junto a sua, até próximo ao rosto, dando um beijo suave nas costas da mão dela e não foram necessárias frases ou palavras, ela apenas sorriu.

– Por nada.

– Espero me acalmar... - Comentou soltando suas mãos e segurando seus próprios dedos, numa tentativa frustrada de faze-los pararem de tremer.

– Eu acho que posso te ajudar a se acalmar. - Disse erguendo uma sobrancelha e dando um meio sorriso. Hermione riu.

– Ah, é?

– Sim. - Harry sussurrou em seu ouvido e rapidamente colou os lábios nos dela. Não necessitou de permissão alguma, entrelaçou rapidamente suas mãos em seu cabelo e acabou com qualquer espaço que existisse ali e ninguém se importara em estragar ou não o penteado. Hermione sentiu um arrepio quando a língua de Harry invadiu sua boca e tocou a sua. O segurou com força pelo pescoço e intensificou o beijo. Havia um desespero onde não sabiam quem necessitava mais por aquilo. O compasso de seus corações batendo era a única coisa que tomava sua atenção e, céus, aquilo era tão bom! Por mais que já houvesse beijado diversas garotas, aquele beijo era completamente diferente. Nunca imaginara isso, mas tinha certeza que eles eram o par perfeito. Hermione mordeu seu lábio devagar. Havia perdido todo fôlego.

– Está mais calma? - Harry perguntou com a boca colada na dela, que riu abafado.

– Estou. - Mione murmurou e ambos abriram os olhos. - Como está meu cabelo? - Perguntou levando as mãos até as madeixas. Ele lhe mirou e sorriu.

– Perfeito, como tudo em você. - Ela corou lhe fazendo achar graça.

– Cala a boca. - Disse maldosa, mordendo o lábio inferior dele e Harry sentiu a nuca arrepiar.

– Me dê um bom motivo, Granger. - As borboletas no estômago da menina fizeram um carnaval e ele sorriu maroto.

Ela o puxou devagar e seus narizes se tocaram, e ao mesmo tempo, encostaram-se os lábios. Harry foi com mais calma dessa vez, queria aproveitar cada segundo, cada pedaço de Hermione. Desenhou sua boca com a língua e a beijou devagar. Aquilo para ela era uma tortura. Hermione suspirou alto, mas não se importou. Harry parou o beijo sem nenhuma vontade e acariciou sem rosto. Ela aproximou sua boca do ouvido dele e sussurrou:

– Temos que ir, bonitinho.


Se, em algum dia da sua vida, já havia se sentido tão orgulhoso não se lembrava. Talvez quando ganhara o campeonato, se tornando artilheiro pelo segundo ano. Todavia, estar acompanhado de Hermione Granger perante uma multidão de pessoas importantes, era um verdadeiro motivo de altivez.

As pessoas os olhavam como se fossem o casal do ano. Podia ver que todos os rapazes daquele lugar gostariam de estar na sua posição e, pela primeira vez, agradecia mentalmente por aquele casamento.

Cumprimentavam algumas pessoas com olhares e sorrisos e, tinha certeza que, qualquer um que não soubesse daquele "arranjo", confiaria plenamente na veracidade da história.

- Tenho certeza que agora nos acham o casal perfeito. – Comentou baixo, com o olhar brilhante, assim que chegaram no centro de observações. Harry lhe lançou um sorriso devoto.

- Nós somos o casal perfeito, Hermione. – Disse-lhe com convicção a encarando nos olhos.

- Harry...

- Oi...

- Me beija. – E quem era ele para desobedecer uma ordem de Hermione Granger. Seus lábios se tocaram numa sincronia tão perfeita que poderia assustar. As mãos dele perseguiam qualquer mínimo movimento de sua cintura e Hermione nunca desejara tanto estar com alguém. Os braços dela o envolviam pelo pescoço, acariciando sua nuca num toque gentil.

Mi podia sentir todos os olhares ao redor e aquilo lhe animou ainda mais. Entretanto, ao lembrar dos conselhos estranhos de seu pai, pôs fim naquilo tudo. Já era o suficiente para aquele momento.

- Vou cumprimentar alguns convidados, nos vemos em breve. – Comunicou de forma simples, lhe depositando um beijo casto na bochecha. Talvez para balancear a atenção que chamaram no momento anterior.

- Como quiser. – Harry disse com um sorriso de canto, assim que percebera sua "mulher" sumir naquele meio de gente.


- Esses dois realmente são bons atores. – James comentou empolgado após presenciar o beijo. – Sabia que minha cria um dia iria dar bons resultados.

- Talvez se você não falasse como se ele fosse um cachorro. – John comentou mal-humorado. Seus batimentos estavam acelerados, mas preferia crer que Hermione tinha um bom motivo para fazer aquilo. Só não poderia mais aturar os olhares irritados de sua mulher.

- Calma, Johnny. – O outro revirou os olhos ao ouvir seu maldito apelido. – Para quê tanta irritação? Nem parece que é o aniversário de sua única herdeira.

- Já disse para não me chamar assim e eu só acho isso tudo meio... Exagerado. – Nunca fora bom em maquiar seus sentimentos, mas teria que segurar seu coração. Era ele quem tinha sujeitado a filha àquele tratado sem pudor. Só não queria que sua menininha sofresse ainda mais.

Passara toda a noite pensando e desejando que Hermione voltasse a ser criança. Assim ele poderia ditar todos os seus passos e escolhas de forma que ela nunca viesse a sofrer por causa alguma. Mas o crescimento de Hermione Granger significava que ele havia envelhecido e ela também. Dessa forma, agora, já não poderia tomar as decisões por ela. Seus problemas não eram mais não ter rimas para cantar ou histórias para contar. Sabia que um dia deveria entrega-la a alguém e que ela já não seria mais motivação de todo seu esforço e suor naquela bendita empresa. Mas não pensara que isso poderia acontecer tão rápido.

- Os filhos crescem, Granger. E, querendo ou não, você tem que deixar Hermione fazer as próprias escolhas. – Aquelas palavras o irritavam em demasia. Será que James não sentira o crescimento de Harry? Será que ele não entendia os seus sentimentos? A verdade é que o herdeiro Potter nunca seria bom o suficiente para a sua menininha. Aliás, nenhum rapaz no mundo poderia ser.

- Isso não significa que eu vá entregar minha filha nas mãos desse moleque Potter! – Exclamou irritado, atraindo alguns olhares desconfiados da mesa ao lado.

- Isso, ponha tudo a perder. Inclusive o futuro da garotinha perfeita! – James sussurrou com veneno nas palavras. – Seja com o Harry ou com quem for, você já não tem mais o poder de escolher por ela.

- Cale essa boca, James!

- Olá, cavalheiros! – O rapaz do seguro se aproximou, trazendo um grande susto e um enfado ainda maior. Talvez ele estivesse apenas esperando o clima piorar. John Granger já não ligava se colocaria tudo a perder, não naquele momento.

- Olá, Kevin! – James o cumprimentou com uma alegria fingida que enganaria até um investigador do FBI. - É um prazer tê-lo aqui. – Continuou, polido, tendo plena certeza que John não conseguira engolir a presença daquele homem na festa de sua amada filha. - Nunca pensei que fosse resolver aparecer nesta data tão especial. – Granger comentou, fazendo todas as orações possíveis para que ele dissesse que já estava de saída. Ser judeu sempre lhe ajudava e se saíssem dessa ele passaria um bom tempo na sinagoga.

- Pois é, vim prestigiar o aniversário de sua querida filha. - Disse dirigindo-se a John, que estava vermelho como um pimentão. - Apesar de insolente, ela parece ser muito querida. – John Granger engasgou com a bebida, desencadeando em uma tosse, queria matar aquele maldito. Potter rapidamente lhe deu breves tapinhas nas costas, tentando ao mesmo tempo contê-lo.

- Ei, amigão, vá com calma na bebida! - O homem disse num risinho debochado. Fazendo John apertar com mais força o copo. - Vou ver se acho a aniversariante. - Disse dando uma piscadela, que James definiria como ridícula e saindo dali.

- Por que não me avisaram que esse maldito vinha!

- Com o humor que você anda está difícil se comunicar ultimamente.


- Cara, isso que eu chamo de entrada triunfal! – Malfoy comentou tomando um gole de refrigerante. Sabe-se lá o porquê, mas ele havia decidido se manter extremamente sóbrio naquela noite.

- O que você acharia se eu dissesse que estou me sentindo o cara da noite? – Perguntou num sorriso orgulhoso.

- Diria que você está coberto de razão. Com todo respeito, Hermione é a garota mais bonita da festa.

- É, eu sei. – Comentou com os olhos meio perdidos. Talvez ele apenas não quisesse que aquele momento acabasse. Por que aquilo tudo não poderia ser real? Por que simplesmente não poderiam ser pessoas normais? Daquelas que se conhecem, passam a se gostar e a partir dali é gerado algum tipo de relacionamento. Não sabia o que tinham de verdade, mas queria que sempre tivessem algo.

- E você ainda diz que não acredita nessas coisas de coração. A garota mexe com você como um relógio.

- Eu apenas acho que as pessoas procuram por amor como noivas procuram por vestidos. - Retrucou com um sorriso brincando em seus lábios. Sua mente vagava por aquela festa, tentando achar algum rastro dela entre aquelas pessoas. - Eu tenho uma queda sobrenatural pela Hermione. Isso eu posso dizer. - Assumiu tomando um gole de sua água e seu amigo riu de sua cara de bobo, fazendo aquela confidencia.

- Hermione Granger, quem diria... - Disse com um olhar divertido. - É, meu caro amigo, você está com problemas.

- Em um grande e lindo problema.


- Boa noite novamente, Sra. Potter. – Disse sem emoção.

- Boa noite. – Retrucou friamente.

- Realmente é uma linda festa. Acaso sempre teve esse bom gosto? – Indagou educadamente.

- Sim, herança de família. – Conseguiu responder polida, lhe dispensando um olhar indiferente. "Que excelente convidado", pensou ironicamente. – Não imaginei que o senhor fosse vir.

Ele usava um terno que parecia ter pertencido a seu avô Caleb Granger quando estava em sua mocidade. E os sapatos meio quadrados... Uma poluição visual. Se não dependesse do seguro, mandaria seu segurança jogá-lo lá fora, sem direito à demais explanações.

- Sabe, sempre estimei muito sua família... – Comentou começando outro assunto e lhe tirando as esperanças de sair de fininho. – Os Granger nunca estiveram envolvidos em escândalos, sempre bondosos, refinados e polidos.

- Então não sei por que o senhor insiste em nos manter sob rédeas curtas com tantas visitas e investigações. – Rebateu num sorriso torto e um olhar desafiador.

- Porque... Ao contrário da família Granger, a família Potter sempre foi excêntrica e de pouca confiança.

- Como agora sou uma Potter, devo lhe garantir que minha... Nova família é de muito respeito.

O homem deu de ombros e, antes que ela pudesse pensar em como se retirar sem parecer mal-educada, uma voz a atingiu muito firme. - Princesa Granger, boa noite.

Ela se voltou imediatamente, ignorando o enfado que observou nos olhos do homem, que parecia desejar lhe arrancar algo antes de ser interrompido.

- Não vai cumprimentar seu convidado? – Um sorriso maroto surgiu em seus lábios e ela concluiu que aquilo era realmente um pesadelo. Primeiro o cara do seguro, agora Julian. Naquele momento prometeu a si mesma que, se sobrevivesse naquela noite, frequentaria a sinagoga com mais assiduidade.

- Oi, Julian. – Disse lhe estendendo a mão para que ele apertasse, mas ele à levou até os lábios, depositando um beijo breve e cheio de significado.

- Sra. Potter, irei buscar uma bebida, logo mais conversamos mais um pouco. – O mais velho disse lhe sorrindo cheio de ironias. Kevin se retirou disfarçadamente. Talvez para evitar "bobagens de jovens".

- Ok, senhor. Nos vemos por aí. – Seus olhos âmbar o acompanharam sumir na multidão de pessoas e, quando isso aconteceu, ela se virou super irritada.

- Continuando... – Disse se aproximando mais do que ela desejava. Hermione se esquivou lentamente com uma cara emburrada.

- O que você faz aqui? – Perguntou irritada e ele riu. Sim! Ele riu. Por que raios aquele bendito homem estava rindo? Aliás, por que raios ele estava ali?

- Uau! Direta como um trem! – Julian jogou os cabelos para traz num movimento leve com a cabeça. Tique que conquistara metade das meninas do ensino médio, mas que agora lhe fazia acha-lo um idiota. – Vim prestigiar você. Eu não sabia da festa, mas seu pai me ligou. Achei muito gentil da parte dele.

- Eu não acredito!

- Pois é, eu também não acreditei quando soube que você não havia me convidado. Mas eu sei que você ficou um pouco assustada com o que aconteceu com o seu... Marido. Mesmo assim eu sabia que aí dentro ainda existia algum sentimento sobre mim.

- Há sim. Enfado.

- Como?

- Enfado. Eu já estou cansada só de conversar com você nesses quase cinco minutos.

- Não era isso que você achava há uns anos atrás...

- O que você vai insinuar dessa vez?

- Amor, eu não queria dizer aquilo, mas confesso que o tal Harry estava me irritando. E você sabe que, se dependesse de mim, essa mentirinha seria uma verdade.

- Como você ousa?!

- Céus, Hermione. Você é uma garota linda. Acha que pelo menos 80 por cento dos homens dessa festa não lhe deseja. Isso porque 15 por cento são seus familiares e 5 por cento são muito velhos ou muito gays. – Comentou rindo da própria piada. Céus, aquele era o fim do mundo!

- Eu só queria que, pelo menos hoje, você me deixasse em paz. – Quase implorou, tendo fé de que ele entenderia o recado.

- Eu sei que você precisa do seu tempo, amor. – Não, ela não precisava! Mas, se assumisse isso, não sairia dali tão cedo.

- Sim, preciso do meu tempo. Nos vemos depois. – Disse saindo antes que ele pudesse ousar tirar ainda mais a sua paciência.


Não podia negar que tinha alguma expectativa em estar pela primeira vez em uma festa de Hermione Granger. Não iria dizer que esperava há anos por um convite, mas ficava curioso, de fato. Os comentários que rondavam a escola eram sempre tão positivos e agora via que também eram reais. Tinha uma banda famosa que as garotas gostavam tocando ao vivo, uma decoração deslumbrante e um jantar onde até o sheik de Dubai iria se surpreender. Era uma festa faraônica, que ficaria na memória de todos os convidados durante algum tempo. Tinha que admitir que ela tinha bom gosto.

Sentia suas lentes lhe incomodarem um tanto, então recostou-se no balcão do bar montado para servir os convidados. Seus olhos ardiam um pouco, então tirou aquela bendita máscara por um instante.

Ora, se não é o famoso Harry Potter. - Ouviu uma voz esganiçada falar ao seu lado e virou-se assustado. Não conhecia aquela garota da escola, muito menos era alguma celebridade para ser conhecido.

E você é a famosa quem? - Indagou confuso, analisando o rosto da menina meticulosamente.

Digamos que sou sua nova prima, Christie Granger. - Estendeu a mão com dedos compridos para que Harry provavelmente a beijasse, mas ele apenas lhe cumprimentou com um aperto. Se ouvira bem, ela não era flor boa para se cheirar e sabia que Mione não ficaria nada feliz. Ela nunca iria admitir, mas era uma grande ciumenta.

Bom conhecê-la. - Fingiu um meio sorriso, o suficiente para que ela achasse que deveria ficar ali.

Nunca lhe vi em outras festas da Hermione... - Comentou tomando um gole de sua bebida azul e lhe mirando com olhos grandes, sem serem bonitos. Ela definitivamente não era como Mi, apesar de ter lá seus atrativos.

Harry se perguntou onde ela estava querendo chegar com aquele projeto de conversa fiada. Não estava com muita paciência para perder algum tempo com aquela garota, mas precisava ser polido e dar o fora o mais rápido possível.

É porque não nos falávamos muito antigamente, mas nossos pais sempre foram amigos. - Explicou temendo falar besteira. Passou a mão nos cabelos, seu maldito tique nervoso. A menina pareceu perceber, pois ergueu a sobrancelha e se endireitou na banqueta interessada em saber mais.

Então foi um casamento arranjado pelos pais? Que antiquado! - Deu uma risadinha cínica colocando uma mexa do cabelo para trás. Harry arregalou os olhos, sentindo-se intimidado por uma perua miniatura.

Não, claro que não! - Ele riu nervoso, engolindo seco sem que ela notasse. - Há algum tempo nos aproximamos muito e foi puro acaso. - Terminou tentando parecer natural enquanto ela lhe estudava como se ele fosse um experimento químico. - Ei, me traga uma água por favor! - Pediu ao barman, assim que o homem lhe olhou.

Adoro histórias de amor, Potter... - Comentou observando enquanto o homem entregava a água. Harry Potter, com sua vasta experiência com garotas, poderia jurar que ela estava dando mole para o cara do bar. - Confesso que a de vocês me intriga um pouco. - Aquela patricinha não iria lhe intimidar. Encarnaria a versão mais convicta de Hermione Granger.

Jura? - Deu um meio sorriso confiante. - Tem coisas que só entendemos quando amamos e, mesmo vendo Mione por anos, levei tempo para perceber que ela era perfeita para mim. - Tinha certeza que poderia ter dito isso sem ser tão gay, mas ok. Tinha se mostrado bem firme.

E o que fez você perceber isso? Não estou incomodando estou? - Questionou como se isso realmente importasse algo. Tudo que vinha de Christine Granger soava falso, inclusive aquele silicone exorbitante com um decote ridículo.

Jamais. - Respondeu calmamente, tentando pensar em algo convincente o suficiente para fazê-la calar a matraca.

Amor, finalmente lhe achei! - Hermione disse se aproximando e lhe cumprimentando com um selinho, visto por John Granger de longe. Harry sorriu abobalhado. A memória de Hermione linda naquela roupa era como um fantasma e iria lhe assombrar até o final dos tempos.

Ora, se não é a dona da festa! - Christine a saudou com o sorriso mais artificial da Costa do Pacífico.

Vejo que já conheceu meu "príncipe", Christie. - Comentou com um grande sorriso, que constrangeu a prima. Harry apenas mirava ambas, ou melhor, Hermione.

Sim, estava sabendo um pouco mais sobre vocês.

Ótimo, somos um livro aberto, mas agora se importa se eu roubá-lo por um instante? – Disse tocando o braço do marido, que lhe retribuiu com um sorriso.

Claro que não, é todo seu.

Sim, eu sei.

Obrigado, mil vezes. – Ele disse assim que sumiram apressadamente da vista da prima Granger.

Por nada, deveria ter lhe deixado a salvo antes, mas nessa multidão foi difícil de achá-lo.

Seu pai não tira os olhos da gente.

Sim, ele anda com algumas paranoias, mas é besteira. Me tira um pouco daqui? – Pediu encarecida e ele tinha certeza que, pelo menos naquela noite, lhe concederia todos os seus desejos.

Claro, princesa.


Ela se deixava ser guiada por ele num silêncio sepulcral, sem ao menos saber aonde a levaria. Tinha uma confiança súbita nele e aquilo era tão bom. Enquanto seus pés subiam as escadas apressados, Mi tentava firmar suas pernas, que não paravam de tremer.

- Você está bem? - Ele indagou quebrando a ausência de palavras e acariciando as costas da sua mão.

- S-sim. Apenas fui acometida por um tremor súbito. - Disse em tom de piada, tentando afastar aquela atmosfera pesada. Ele sorriu e abriu a primeira porta que viu pela frente.

- Por que não passamos uns minutos longe dessas pessoas? - Indagou mirando o quarto que acabara de entrar sem soltar a mão da esposa.

- Acho uma ótima ideia. - Concordou indo até a grande cama frente à uma janela com vista para o resto da propriedade. Sentiu o peso de Harry sobre a cama enquanto mirava o céu com suas estrelas infindas. - Harry. - O chamou ainda sem olhá-lo.

- Oi, Mi. - Os olhos verdes procuravam as esferas âmbar com uma necessidade díspar e, quando ela o fitou, seu estômago pareceu remexer de forma sobrenatural.

- Obrigada...Por tudo.

- Que nada. Nós somos uma dupla.- Ele sorriu corando e ela riu ao ver aquelas covinhas novamente. Era estranho, mas ele lhe fazia tão bem.

- De quem é esse quarto? - Perguntou ao percorrer os olhos com mais atenção e perceber que não conhecia aquele lugar. Era um cômodo enorme. Com uma decoração neutra, imparcial, apesar de bonita. Granger suspirou fundo e mirou o ambiente, que parecia lhe remeter à algumas memorias. Levantou, sendo seguida por ele e foi até um armário, de onde tirou uma caixa de madeira com algumas fotos da família.

- Esse era para ser o quarto do Timothy. – Disse mostrando uma foto de sua mãe com um bebê que se parecia muito com Hermione.

- E quem é Timothy?

- Meu irmão, ele era três anos mais velho que eu. Não cheguei a conhecê-lo, mas é como se a memória dele estivesse nessa casa assombrando meus pais. - Confidenciou pensativa e Harry se sentiu um idiota por ter estragado tudo com um assunto como aquele.

- Desculpa, não queria invadir a privacidade da sua família.

- Não tem problema. Ele teve uma pneumonia quando tinha um ano, meus pais não falam muito disso. Mas tenho certeza que eles ainda sentem muito. - Nunca ouvira James ou Lilian falarem de algo parecido.

- Em troca ele ganhou uma menina brilhante.- Foi a vez dela de corar e, por mais que Harry se achasse uma bicha, ele achou aquilo fofo.

- Não precisa me bajular, AINDA não é meu aniversário.- Uma coragem tomou o coração e mente do rapaz e ele se sentiu seguro para compartilhar também um segredo com ela.

- Sabe... Quando eu tinha uns quinze anos nós estávamos viajando para a Flórida. Eu estava muito animado e meu primo Ben estava no carro. Eu ainda não tinha tirado minha habilitação, mas ele tinha insistido para que eu dirigisse. – Começou a falar fitando os próprios pés enquanto ela lhe observava sentindo que aquilo tudo era realmente importante para ele. Ela tocou-lhe os dedos parecendo lhe dar algum incentivo. – Tudo aconteceu muito rápido. Eu só me lembro de ver o carro capotando e o Benjamin ser lançado para fora. Ele chegou com morte cerebral no hospital. Meu pai assumiu a culpa, mas meus tios não mantiveram o processo e nem o relacionamento. – Hermione pode notar os olhos verdes marejados do rapaz.

- Eu sinto muito, Harry. – Sussurrou lhe abraçando por trás e envolvendo seu corpo com dificuldade. Ele era tão alto e forte. Ou talvez ela que fosse pequena.

- Pode soar estranho, mas... Você é uma das melhores coisas que aconteceu nesses últimos anos. - Ela sentiu seu coração se aquecer e se virou depositando um longo beijo em sua bochecha.

- Você também.

- Eu vou te beijar. – Anunciou e logo lhe tomou pela cintura, selando seus lábios num beijo calmo e quente.

- Hermione! – Ouvir a voz inconfundível de John era um mau sinal. Ainda mais quando seu timbre era de irritação. Presenciar seu querido pai gritar era algo ímpar. Ele sempre fora praticamente um lorde!

Seus lábios se separaram dos de Harry num ímpeto e as mãos o empurraram com certo desespero, o fazendo parar a centímetros de distância. Talvez pudesse fingir que não queria nada daquilo... Mas essa não seria ela. Afinal, Hermione Granger não iria fugir como uma fracassada!

- Papai! – Os olhos arregalados miravam o rosto vermelho do homem, que parecia estar prestes a explodir a qualquer momento, enquanto Harry Potter nunca estivera mais pálido. Mione, além de vergonha, sentiu que, se não se manifestasse, seu pai os mataria com apenas um olhar. – Olha, foi um equívoco, um mal-entendido! – Suas mãos tremiam enquanto ela gesticulava demais, pelo seu nervosismo e Harry tinha certeza que estavam numa furada. Mas ao mesmo tempo agradeceu por não terem sido pegos num amasso de verdade, o que seria ainda pior.

- Quantas vezes eu lhe disse para não se envolver com o Potter? – Os dois homens ficaram lhe olhando enquanto ela mirava o chão de maneira envergonhada. Céus, por que tais coisas estranhas só aconteciam em sua vida? Em que tipo de família normal seria um ultraje que o pai flagrasse a filha beijando seu próprio marido? Porque, afinal de contas, eles não eram casados? E não fora o próprio John Granger, coberto uma influência descomunal de James, que lhe obrigaram a se casar? Não queria entrar em um confronto com seu progenitor em plena festa de aniversário, mas aquela situação estapafúrdia havia lhe deixado fula da vida!

- A mesma quantidade de vezes em que me disse que eu deveria me casar com ele! – Respondeu de forma malcriada ainda sem ter coragem de olhar para algum lugar sem ser o chão. Desejara que os alienígenas invadissem a Terra e lhe abduzissem naquele instante. John suspirou assustado com tal audácia e aumentou a voz.

- C-como se atreve? Eu sou seu pai, mocinha! E deveria ter lhe dado umas boas palmadas quando era criança! – O homem começou a se aproximar lívido de raiva e quando ela achava que iria receber as tais palmadas , afinal, nada deixaria aquela situação mais bizarra, John apontou o indicador para o rosto de Potter num tom ameaçador. Ela nunca pensou que, naquele momento, seu pai se pareceria tanto com Vito Corleone. – É a última vez que você toca na minha filha! Estamos entendidos? – Indagou enquanto mirava os olhos verdes de Harry com uma fúria que nunca fora vista. O moreno tragou a saliva, piscou algumas vezes e abriu a boca tentando falar algo, mas apenas assentiu com a cabeça. – Eu não ouvi. – Falou firme, cruzando os braços e uma dor de barriga inesperada começou a afetar o mais novo.

- S-sim. – Disse, sentindo seu estomago vibrar de medo. Nunca pensou que John Granger praticasse atos de tortura. Eles estavam completamente ferrados.


- Eu não acredito. – Disse enquanto fitava o nada, sentada na larga sacada de pedra com aquele vestido gigante. Pela primeira vez naquela noite estava se sentindo ridícula por tentar viver um conto de fadas que não se assimilava em nada com sua vida real. Talvez seria melhor se caísse dali de uma vez ou simplesmente desaparecesse.

- É a terceira vez que você fala isso. – Harry comentou tentando não parecer exausto – mas estava. Sua noite tinha ido por água abaixo e o comportamento pouco esperançoso de Hermione não estava ajudando em nada. Ela sempre tinha soluções, mas não naquela vez.

- Talvez seja porque você não se deu ao trabalho de falar coisa alguma.

A menina bufou irritada, desejando pela primeira vez naquele dia que Harry sumisse. Não para sempre, mas até que raiva passasse.

- O que quer que eu fale?

- Nada. Realmente você é melhor calado. – Mi desceu da sacada, ignorando a mão dele estendida para lhe ajudar.

- Agora você vai dizer que a culpa é minha? Você não queria que eu lhe beijasse? – Indagou confuso, sentindo uma onda de chateação lhe atingir enquanto ela havia lhe dado as costas e aberto a porta para entrar no quarto.

Harry lhe seguiu. Ela iria lhe responder, ela lhe devia isso.

- Não é isso. É só que... Deveríamos ter sido mais espertos. – Será que ele não poderia simplesmente entender que aquilo não era só sobre ele?

- Está bem. Eu sinto muito, mas agora já aconteceu...

- Você me prometeu que ia dar tudo certo. – Sabia que não poderia cobrar aquilo dele. Mas aquele era um dos casos onde as palavras atropelam qualquer pensamento racional.

- Mas eu não pude impedir. O que você quer que eu faça? - Aquela pergunta saíra um tanto desesperada. Da mesma forma que ele se sentia. Não queria mais um confronto. Será que pedir paz era pedir muito?

- Não quero que você faça nada, Harry.

N/A: Depois de anos sem atualização saí de um terrível bloqueio intelectual e consegui preparar esse capítulo. Prometo atualização em breve! Obrigada por acompanharem, opinem nos comentários. Beijos.