Aviso para os leitores, capítulo extremamente longo!

BOA LEITURA! ;3


-Eu não vou voltar correndo então? – Wally dizia enfiando um peru assado inteiro na boca que Alfred havia tratado de cozinhar assim que o quarteto havia chegado à cobertura em Star City.

Wally não sabia bem como ele havia acordado numa cama gigante de casal ou quem o havia colocado lá – não que fosse um grande mistério, mas ele não queria ficar pensando em Bruce tendo todo o trabalho de ser atencioso consigo (era até meio assustador). Uma troca de roupa estava passada e engomada sobre uma poltrona do lado de uma luminária acesa esperando para que o ruivo se trocasse e ficasse mais a vontade – pelo menos ninguém havia invadido sua privacidade a ponto de trocá-lo de roupa como um bebê.

Apesar de estar muito cansado, Wally não havia dormido muito e ficou chocado por saber que às quatro da manhã havia um jantar todo preparado só para o veloz na sala de jantar da cobertura – depois de vagar sonolento pelos corredores em busca de algo para comer – Bruce não havia deixado o moleque comer na festa já que tinham de esperar os recém-casados para liberarem o Buffet e Dinah estava muito ocupada agradando aos grandes contribuintes das empresas satélites dos Laboratórios Star para atender as necessidades patológicas da criança (ele também estava mais ocupado conversando com seus amigos mais velhos do que com suas tripas numa batalha canibal dentro de sua barriga).

Bruce, pra variar, não tinha dormido – ou se tinha, acordara muito rápido. O Batman não dorme, nem quando está fora de Gotham, nem em folga. Bruce Wayne também não por motivos óbvios. Ele estava usando seu caro roupão de seda com suas iniciais escritas no lado esquerdo em vermelho e dourado, seus cabelos negros com fiapos brancos estavam meio desgrenhados, mas ele continuavam arrumado. E pantufas de veludo, coisa que Wally teve de encarar por alguns segundos, tentando digerir a risada antes que levasse uma bofetada da identidade secreta de Batman – ele usava pantufa de gato preto nos pés.

Falando em gato, Selina estava dormindo, ainda bem. Ou ela já havia fugido de Wayne e seu fiel mordomo. Pelo menos Wally podia falar alto o quanto quisesse além de falar livremente com o Morcegão a respeito de seu retorno ao passado. Alfred estava de pé, em seu terno típico, carregando uma toalha de rosto no antebraço dobrado e aquela pinta de Inglês metido, nariz arrebitado e tudo mais – quem não realmente o conhece, pode dizer que ele é arrogante, mas o veloz o conhecia há anos e não havia outro velho (que não Jay Garrick e Kent Nelson, por motivos) que ele admirava mais do que o mordomo da família mais tradicional da cidade do crime.

Bruce fez uma cara de nojo para o menino sentado do outro lado da mesa cumprida tentando focar-se em suas imagens holográficas pairando no ar um pouco acima da superfície de carvalho, divertindo-se com os milhares de botões e funções de suas programações – ele sempre tinha aquele brilho nos olhos quando mexia em seus brinquedos.

-Seria arriscado e você poderia não chegar ao seu tempo certo. E não teríamos a certeza de que você conseguiu viajar para o passado. – o detetive comentou sem piscar e encarar o garoto.

-E vai dar a certeza do que se eu viajar na máquina do Tornado Vermelho? – Wally falou com a boca cheia, pedaços de comidas variadas rolando ali e migalhas voando enquanto ele se referia ao andróide babá. Alfred respirou fundo enquanto revirava os olhos, controlando o nojo dos modos da criança – quer dizer, criatura – que sentava no extremo da mesa.

-Pelo menos saberemos se não der certo que você não foi a lugar algum e não afetou ainda mais o espaço temporal. – sempre com a resposta inteligente e arrebatadora na ponta da língua.

-Eu não quis viajar no tempo, Bruce! Aconteceu! – o garoto se defendeu, não sabendo bem o que sentia (arrependimento não era bem o termo. Talvez... Culpa?).

-Exatamente. Você nem sabe como fez esse fenômeno. Não posso de deixar correr de costas o tempo necessário pra você talvez voltar meses no passado. – ta. Se não fosse pela tensão no ar, o garoto teria achado graça nessa história de correr de costas.

-E Mestre Wally não teria coordenação motora pra correr de costas por muito tempo, receio adverti-los. – aquele senso de humor imprevisível. Wally grunhiu um Alfred enquanto sentia rubor preencher os espaços entre suas sardas.

-Ta legal! – Wally cedeu, largando o babador sobre o prato com os ossos da pobre ave e os restos orgânicos dos alimentos. Alfred bufou e começou a limpar a zona – Quando vai me mandar pra lá?

-Agora. Só estava esperando você repor suas energias. – o homem disse levantando-se e apertando um botão na mesa, desligando todas as imagens holográficas. Bruce virou-se para seguir por um corredor da cobertura e o ruivo o seguiu.

-Puxa, que gentileza a sua... – sarcasmo sambou da boca do jovem enquanto ele seguia contrariado o líder da Liga da Justiça.

Só porque Bruce Wayne era o Batman e vice-versa que o cara tinha um tele transporte particular em sua humilde residência, com toda aquela parafernália tecnológica do lado de um armário negro com o desenho de um morcego entalhado no opaco maciço. Depois que o moreno apertou ali, aquilo começou a se expandir, abrindo compartimentos e, depois, mostrando o uniforme do morcego. Bruce começou a se arrumar, mostrando que usava uma malhas reforçadas sobre o roupão de seda para ajudar na proteção de sua pele – Wally podia se recuperar rápido de arranhões, braços e pernas quebradas e afins, mas Bruce era um humano normal, sem super-poderes para ajudá-lo na luta contra o mal. Era melhor que ele usasse umas três daquelas malhas do que ele morresse lutando contra qualquer um que soubesse mexer numa arma de fogo.

-Vai colocar seu uniforme para ir a caverna? – o garoto questionou na impulsão. Pergunta idiota, tolerância zero.

Bruce era rápido, então quando terminava de colocar a blusa com o símbolo do morcego negro e ajeitava a capa, franziu o cenho para o rapaz – Eu posso ir até a esquina, se tem algo haver com a Liga, eu uso o uniforme.

-Desculpa. Quando eu vi já tinha perguntado! – Wally rebateu, cruzando os braços e fazendo o bico, magoado pela resposta grosseira do mentor.

-Vai logo. Coloca o uniforme de Kid Flash e vamos. Você não pode aparecer como um garoto comum dentro de uma maquina futurística onde quer que você desça. – Bruce mandou descendo a máscara negra sobre a face e preparando o tele-transporte dos tubos de raios Zeta para o Monte Justiça.

Wally não perguntou, temendo tomar mais um coice. Apertou seu relógio do Flash e trocou de roupa – era sempre bom se vestir de herói, não importando os motivos. No final, Wally sempre seria a criança que almejava ser um veloz famoso e adorado por todos – ou quase todos.

O tele transportador começou a brilhar e Batman entrou primeiro, sabendo que o rapaz não era nem louco em sair correndo dali para outro lugar qualquer. O ruivo sabia bem dos riscos que corria por desobedecer o Morcegão, então ele simplesmente anunciou seu nome para o computador e os raios zeta transformaram-no em partículas de átomos até o Monte Justiça em Happy Harbor, do outro lado do país.

A voz convidativa do computador anunciando a chegada do garoto ecoava nos corredores vazios, todos haviam ficado na mansão dos Queen, com certeza, e o casal deveria ter partido para a Lua de Mel no final da festa. Ele não teria nenhum distração para impedir sua partida e isso era bom, mas não deixava o rapaz mais feliz. Ele iria sentir falta daquele futuro, mesmo que fosse o dele. Só lhe restava rezar para que tudo desse certo e tudo acontecesse tão bom para ele como acontecera para o seu eu mais velho.

Batman o aguardava na entrada do corredor para a sala de treinamento, fazendo sua capa voar quando virou-se dramaticamente para continuar caminhando. O rapaz não correu nem apressou-se com aquilo, sabia que o andróide e o herói ainda teriam que dar os ajustes finais na geringonça, então ficou encarando as salas que se ligavam ali.

Felizmente, a coisa boa era que a sala dos Souvenires estava por ali e a porta estava aberta, com uma garota loira familiar para o ruivo, de costas para a entrada e brincando com uma foto que aparecia quase todo mundo da liga. Wally suspirou pesadamente, sabendo que se sentiria mal, mas a culpa o consumiria se não cumprimentasse Kara antes de voltar para o passado, mesmo que já tivesse falado com ela.

-Não está dormindo? – a kriptoniana pulou e segurou um grito, flutuando levemente e virando-se para o jovem ruivo menor que ela. Ela arregalou os olhos azuis.

-Não voltou?! – ela dizia preocupada.

-Eu estou indo ainda, se quer saber. – uma voz brincalhona saiu da boca do jovem.

-Ah. – ela abaixou o olhar e voltou ao chão, os pés pra dentro e tristeza na face bonita.

-Que foto é essa? – o ruivo perguntou entrando na sala e vendo mais de perto.

Na verdade, não era a Liga da Justiça. Eram, meramente, as pessoas que Kara mais gostava e num retrato de diamante, e uma foto recente que Wally, por acaso, fazia parte dela.

Os orbes esmeraldas se arregalaram em choque quando viram a imagem e Kara sorriu triste, vendo as sardas ficarem mais vermelhas com o rubor do garoto – Como conseguiu essa foto?

-Eu chantageei o fotografo. – ela falou meio envergonhada de seus atos, mas ansiosa para mostrar ao garoto aquilo de qualquer forma – Eu sabia que iria demorar pra sair, então eu providenciei logo. Queria ela aqui quando acordasse no dia seguinte e não tivesse meu pessoal favorito por perto. – ela brincou com um dedo apontado para o casal na foto da praia e Wally realizou – E é uma lembrança sua, pra ninguém esquecer que você passou por aqui.

-Se eu não sumir dessa foto quando voltar ao passado. – ele a avisou.

-Não importa. Aqueles que foram, sempre se lembrarão. Não tem como não lembrar de uma cabeça de cenoura tão chamativa quanto a sua. – a garota brincou.

E na foto estavam o casal no centro, Babs e Dick do lado, M'Gann e Superboy do lado de Babs, Roy e Jade do lado de Dick, Kaldur e Kara em cada ponta, com Clark Kent, Dinah, Zatanna e Lian nos braços do garoto ruivo no canto da imagem, perto de Kara, sorrindo daquele jeito encantador de sempre e tão feliz por ter feito parte de algo duas vezes.

-Não sabia que essa foto fosse sair tão boa. – o garoto falou depois que se lembrou que ela havia sido tirada após as despedidas e algumas das garotas estavam com a maquiagem meio borrada.

-Bom, pelo menos estamos todos juntos. – a loira continuou e o rapaz assentiu.

-Ta certo. – o ruivo lembrou-se de Batman, então, e Tornado Vermelho que já deveriam estar revirando a caverna em sua busca. A garota sentiu a tensão do ruivo e quando Wally menos esperava, ela estava abraçando-o fortemente.

-Seja assim também quando me conhecer no seu presente, ta? – ela pediu e o ruivo assentiu, sorrindo suavemente.

-Pode deixar. Vai se sentir em casa perto de mim. – ele lhe piscou um de seus orbes esmeraldas e se despediu – Até mais, garota de aço.

-Até mais, garoto mais rápido vivo. – e com isso, ele deixou a sala de souvenires para a alienígena pensar sozinha, emocionada pela descoberta de um amigo inesperado.

Ela só lamentava a presença dele ter sido tão ligeira, quanto seus pés.

-Oras, se não é Wally. – Tornado disse em sua voz robótica ao lado de uma maquina enorme, caprichando em alguns detalhes finais.

-E aí? Como é que ta, Tornado? Muitas engrenagens pegando no seu pé? – certo. Ele não podia resistir a mais uma de suas piadinhas infames.

-Eu não sei se devo rir ou chorar da sua tentativa de humor. – o andróide anunciou – Certamente, não consigo fazer nenhum de ambas. O que importa? – e voltou a dar os ajustes finais na máquina.

-Tem certeza que é 2011? – Batman perguntou estreitando seus olhos e fazendo Kid Flash revirar os esmeraldinos.

-Sim, sim! 2011! – Wally rebateu ajeitando os cabelos de cenoura e caminhando pela sala de missões do futuro, despedindo-se das paredes e respirando fundo.

-Então está tudo pronto. – Tornado afirmou, endireitando sua coluna e despedindo-se brevemente do garoto do passado, desejando-lhe, de sua forma única e robótica, uma ótima viagem.

-Obrigado. – Wally agradeceu colocando-se em posição a frente do monólito esquisito.

Bruce esperou Tornado sair para ajeitar Wally na cadeira e conversar com ele a respeito das coordenadas, dar dicas e afins sobre a viagem temporal estática que o veloz não estava acostumado a fazer – seria uma coisa bem diferente de sair correndo como ele tivera feito para ir ao futuro.

-Se acabar um pouco depois no tempo ou um pouco mais cedo, não deixe a máquina. Espere-a recarregar e ajuste-a novamente. As chances das coordenadas que eu te dei estarem erradas são de 0, 001% então as probabilidades estão a seu favor. – Batman falou, mas a sua voz grossa de um Bruce gripado não era muito asseguradora. Wally assentiu com a cabeça mesmo assim – Os efeitos colaterais máximos serão tontura e dor de cabeça, somente. Algo mais, foi intoxicação alimentar.

-Como pode ter tanta certeza? – o garoto perguntou, um brilho curioso no olhar enquanto Batman apertava um botão para abrir a porta da cápsula metálica do tempo.

-Eu sou o Batman. – Bruce rebateu e Wally parou por um segundo, dando-se por satisfeito em seguida.

Era uma resposta plausível, no final de contas.

Batman apontou o lugar para Wally se sentar e o moleque obedeceu, ajeitando-se no assento de couro e vendo vários botõezinhos chamativos, piscando e bipando, tentando o garoto a tocá-los. Quando o dedo coberto pela luva do rapaz se aproximava de um amarelo cintilante, Bruce estapeou sua mão e olhou inconformado o garoto.

-Se tocar em qualquer coisa vai desregular as coordenadas e acabará na era jurássica onde não haverá satélites nem tecnologia que possa trazê-lo de volta! – aquilo foi bem convincente.

Colocando o cinto quádruplo que se fechava no centro apoiado sobre a barriga do rapaz, Batman se distanciou da máquina apertando alguns botões finais do lado de fora que permitiam na parada após a chegada ao destino as portas fossem abertas automaticamente. Wally viu que o homem de preto se endireitou e permitiu que a capa repousasse sobre seus ombros, deixando somente a ver a máscara e os olhos do cavalheiro das trevas.

-Faça uma boa viagem, Wally. – Bruce avisou e o jovem assentiu com a cabeça, sorrindo levemente – Lembre Dick de falar para Jason tomar cuidado com o Coringa. Muito cuidado mesmo. – e um olhar triste descreveu-se na face do Batman, não daqueles medonhos e prepotentes dele.

Wally assentiu, e fosse quem fosse esse tal de Jason, ele era uma pessoa bem importante para Bruce – deveria ser para Dick também se ele mandou avisar.

De qualquer forma, após a despedida do Batman do futuro, a máquina se fechou e um barulho muito alto começou a se fazer em seguida, quase ensurdecedor. O computador avisou algo a respeito de partida em três segundos e, então, Wally mal pode respirar por dez segundos com um vento absurdo empurrando-o para trás.

Essa era a força temporal e, com certeza, Wally estava brincando com fogo quando tivera ido ao futuro. Ele não sabia desse poder todo.

Mas, quando os dez segundos acabaram, aquela sensação de ser empurrado para trás e o vento, e o brilho dos botões, e os barulhos, tudo, havia parado. Um leve apito da entrada da cápsula do tempo soou e o rapaz viu a fumaceira da máquina superaquecida emanar do veículo enquanto tentava ver em meio aquilo onde havia parado.

Apesar de estar escuro, quando a bota amarela do jovem veloz tocou o chão, luzes automáticas se ligar e o computador avisou a chegada de Kid Flash na Caverna.

Wally resmungou alguma coisa, não sabendo bem se aquilo tinha dado certo ou não – de duas uma: ou ele estava de volta ou ele estava um pouco mais a frente no futuro, porque se estivesse antes de 2011 naquela terra a Caverna já teria o atacado com toda a parafernália de armamentos embutidos dela.

O computador não perdoa invasores – só aqueles que hackearam o sistema e o desligaram.

(Ta bom então, né?!)

Wally saiu da máquina e ela se fechou, sozinha, deixando o rapaz bobo com tudo aquilo, e, de repente, sumiu, fazendo todo o estardalhaço que fizera quando tinha trazido o adolescente para cá – Acho que foi por isso que Bruce me disse para não sair do veículo se não tivesse chegado.

Já era tarde demais de qualquer forma, então Wally decidiu procurar um meio de saber se havia voltado para casa, tentando não cometer os mesmo erros de quando havia ido ao futuro. E ao levantar os olhos esmeraldinos para um mural sobre a abertura do corredor, deu de cara com um relógio que alertava cinco horas da manhã de novembro de 2011, dois dias depois de seu sumiço.

-CONSEGUI! UHUUU! TO EM CASA! – e ele só se tocou depois que era de madrugada e que haviam pessoas dormindo.

Envergonhado por suas atitudes, mas muito empolgado por estar de volta, Wally fez a primeira coisa que lhe passou pela cabeça – correr até a cozinha e comer todos os sanduíches de presunto com nutella que ele pudesse agüentar, e todos os refrigerantes, porque ele estava meio que cansado das comidas chiques do futuro que ele teve de lanchar – ele queria mesmo era todas as porcarias que a Caverna tinha a oferecer para os adolescentes que salvavam o mundo na sombra da Liga da Justiça.

Tirando a parte final, era muito legal ser da Equipe e ele amava aquele lugar – ele amava seus amigos e ele amava ver tudo igual, mas em seu tempo certo, amadurecendo na hora certa e vivendo direitinho como deveriam viver, sem pressa alguma.

Era assim que ele gostava de ser. E, apesar de ter adorado conhecer o futuro, ele era apaixonado pelo presente, pelo seu tio Barry e pelas aventuras com seus amigos de longa data que viriam.

Tudo Astre, nada de Dês. (referências de Robin, claro, porque o oposto de Desastre é Astre.)

O ruivo puxou a máscara e deixou os óculos pendurados em seu pescoço, divertindo-se enquanto pensava em como estava feliz por ver seu tio Barry de novo – lembrando-se de tomar conta dele direitinho dessa vez – e de como fora interessante. Ele só não sabia se devia contar aos seus amigos da viagem ao futuro.

Bom, ao Dick ele iria contar com certeza – ele acabaria descobrindo mais cedo ou mais tarde, por meios misteriosos mesmo; mas para os outros? Saber o futuro era chocante, principalmente para o próprio Wally. Ele só tinha de lembrar dos fatores principais para alertar todo mundo dos riscos que correriam e para tentar evitá-los, ou treinar para passar por eles intactos.

A Bárbara... Wally lembrou-se da história de como Babs havia sido colocada na cadeira de rodas e de como ele ficava triste ao lembrar daquilo, e de todas as histórias que ela lhe contara de que ser Batgirl fora a melhor coisa em sua vida – certamente, o velocista novo faria de tudo a seu alcance para proteger sua melhor amiga no futuro, não importa o que acontecesse.

E o rapaz tomou um susto quando uma garrafa pet vazia passou tinindo e raspando por sua orelha até alcançar o outro lado da cozinha, espatifando-se como vidro em vários pedacinhos de tamanha força que tivera sido arremessado.

-MAS QUE PORRA FOI ESSA?! – e Wally virou bruscamente seu pescoço para trás chocado ao ver, não Superboy (quem ele tinha certeza de que tivera arremessado a garrafa e quebrado-a), mas Artemis com seu arco em mãos e um olhar mortífero em suas íris tempestuosas.

Wally parou por um segundo e corou depois de lembrar do futuro, sentindo sua face arder com o olhar pesado dos orbes cinzas irritados sobre os seus esmeraldinos. Artemis estava de pijama, calças cumpridas de moletom e uma blusa regata branca, deixando bem pouco para a imaginação furtiva do jovem velocista e fazendo-o ficar mais vermelho ainda. Aliás, ela também usava pantufas.

-ONDE VOCÊ ESTAVA?! – o grito dela acordou-o de seus devaneios e ele não pode evitar notar a vermelhidão nas maçãs normalmente olivas da arqueira.

-Hã?!

-DROGA WALLY! VOCÊ QUASE DEIXOU TODO MUNDO TER UM TROÇO AQUI! – ela explodiu, tacando o arco no chão e batendo os pés no chão, marchando até ele e empurrando-o pelos ombros até que a lombar do jovem encostasse várias e várias vezes no granito da ilha no centro da cozinha – Quem você pensa que é pra desaparecer assim do nada?! Acha que as coisas funcionam desse jeito?! As pessoas brigam e não dão sinal de vida por dois dias inteiros?! QUAL É A SUA!?

-Ei, corta essa! – ele respondeu um pouco nervoso com aquela aproximação toda (e a violência de Artemis). Ele ainda lamentava por ela ser da mesma altura que ele – Eu só dei uma volta! Se tivesse me procurado saberia onde eu estava!

-Ah, claro! Era só o que me faltava agora! – ela falou num tom irônico, gesticulando com os braços finos e definidos, saindo um pouco do espaço pessoal de Wally – Eu sair à procura de quem resolveu brigar comigo a toa! Você é quem devia ter vindo me procurar!

-Nos seus sonhos! – ele zombou e Artemis calou-se, encarando-o de soslaio, sua face virada levemente sobre um de seus ombros, seriedade de repente emanando de sua figura e preocupação também.

Então ela havia se tornado a Artemis do futuro, com as feições calmas e preocupadas, aquele olhar triste de quando pensara que Klarion havia transformado Wally em adolescente para que o casamento não tivesse se realizado, um olhar de decepção.

O coração do jovem deu uma cambalhota em seu peito e suas bochechas começaram a arder, traindo-o.

-Batman perguntou por você, seu tio veio te procurar, todo mundo estava preocupado contigo. – ela mirou à íris cinza nas esmeraldas e continuou, corando levemente – Inclusive eu. – o coração do veloz acelerou mais um pouquinho e ele sabia que se continuasse a bater assim tão forte a garota poderia escutar a bateria de escola de samba que dava inicio ao seu repertório vindo de Wally.

Artemis não estava muito diferente. Admitir coisas nunca era uma coisa fácil para ela fazer, nunca, então fazer aquilo no calor do momento era a única opção de ela poder desmentir tudo mais tarde, usando como desculpa a pressão.

-Se quiser dar voltas ao redor do mundo em dois dias, fazer qualquer coisa dessas que você curta fazer, sei lá... – ela olhou para a parede a sua frente, tentando relaxar seu coração palpitante que havia disparado depois de ver aquela face cheia de sardas perto de si, finalmente – Avise que está bem, pelo menos. Assim você não mata ninguém de preocupação...

Artemis não entendeu por segundos por que tinha uma coisa abraçando-a por trás, com tanta força, até que ela viu em torno de sua cintura a malha amarela e vermelha do rapaz e seus olhos cinza se arregalaram, deixando-a totalmente estática. Ela estava gostando do carinho, mas ele estava quieto demais e ela podia sentir o coração dele batendo tão forte em seu peito que vibrava na pela blusa até alcançar suas costas.

O coração dela não estava muito diferente também.

-O que você ta fazendo? – a voz receosa, Artemis tentou sair daquilo, mas não notou quando seus braços pousaram involuntariamente sobre os do rapaz e suas mãos calejadas sobre as dele.

-Digamos que... – ele limpou a garganta antes de continuar, a voz de moleque vacilante e o coração cada vez mais palpitante – Aonde eu fui, coisas... – Wally embaralhou as palavras – Pessoas... Não sei... Er... – ele começou de novo depois de pedir desculpas, sentindo o corpo de Artemis enrijecer pelo tempo em que ele continuava envolvendo-a em seus braços – Olha... Eu não sou do cara que dá o braço a torcer, nem daqueles que admite estar errado quando está.

-Jura? – Wally sentiu seu rosto se contorcer numa careta depois das palavras rápidas da arqueira deixarem sua boca.

-Posso falar? – Artemis bufou e fez que sim – Obrigado. Pelo menos eu admito as pessoas que eu senti saudades quando é verdade, e eu geralmente demonstro o que sinto. – ele se achou um idiota com suas palavras, mas se tentasse começar da outra forma ele iria balbuciar e não daria certo. Artemis não é alguém tolerante – E onde eu estive haviam pessoas muito parecidas com nós dois... Er... Digo, com a Equipe! E eu conversei com uma pessoa muito, muito parecida contigo várias e várias vezes. – ele não iria contar a Artemis agora, não era muito justo dizer a ela que ele sabia de um de seus segredos obscuros quando ela não tinha contado nem a M'Gann que lia mentes. Ele não tinha nenhum direito de falar sobre isso com ela.

Por algum motivo, Artemis não estava mais com o corpo "duro" no abraço de Wally, ou ele tinha se acostumado com ela já; Na verdade, a linguagem de seu corpo dizia que a loira tinha ficado interessada em saber o que raios ele tinha conversado com a pessoa incrivelmente parecida com ela – como ele ousava dizer que tinha alguém nesse mundo parecido com ela? Ela era única!

Se ele dissesse a verdade, ela o tomaria como louco.

-O que conversamos não tinha nada com o que nós normalmente discutimos, mas olhando de fora e vendo-a sem julgá-la, me fez notar coisas que eu normalmente não noto e que, mesmo ela tendo uma atitude tão... – Wally tomou um susto quando sentiu a garota virando-se bruscamente em seu abraço para encará-lo com olhos estreitados, braços cruzados e uma de suas sobrancelhas arqueadas. O rubor só se intensificou atrás das sardas do ruivo – O que?!

-Quero só olhar na sua cara enquanto você fala mal da minha atitude. – ela avisou-o e Wally fez careta, revirou os olhos antes de continuar.

-Falando dela... – ele murmurou e voltou a concluir o que seu coração queria dizer, mas seria bem mais difícil com o olhar pesado das íris tempestuosas da tão talentosa heroína. Deus e ela era linda – Enfim... Eu percebi que você faz diferença na minha vida, em ambos os sentidos. – ela repuxou o lábio de lado numa careta, digerindo as palavras do garoto – E que eu ando pensando em você demais, mesmo quando não estamos por perto ou brigando. – a feição dela mudou de novo, para algo curioso, e ela ficava tão bela com aquela expressão que o rapaz sentiu todo o sangue de seu corpo subir para sua face, ardendo tudo que ele considerava pele e outros tecidos moleculares – A questão é: - ele engoliu em seco e molhou os lábios com a língua, notando os olhos cinza seguindo a cada movimento seu. Ele estava encurralado sobre a visão daquela menina – Você é importante pra mim.

Certo. Não saiu nada como ele tinha imaginado sair – saiu um pouco melhor, mas acho que ela ficou meio decepcionada em ouvir sua ultima frase. Artemis fez uma face de quem esperava por mais, mas o jovem velocista estava tão ocupado em descobrir as mil expressões faciais da moça que não importava se ela tivesse ficado irritada ou se ela estivesse pensando muito a respeito do que ele havia lhe contado – só de estar aprendendo sua linguagem corporal e as mil feições que seu rosto realizava valia muito a pena as pancadas que ele levaria por tê-la assediado com aquele abraço inicial.

-Ta certo. - assim que o ouvido do jovem escutou a voz entretida da garota, ele saiu de sua cabeça e viu um meio sorriso malicioso nos lábios carnudos da arqueira. Seu coração deu uma cambalhota em seu peito chato e fez questão de que ela sentisse o disparar também – Deixa-me ver se entendi bem o que você quis dizer... – ela começou, uma de suas mãos terminando o trajeto com seu indicador em sua boca, batendo suavemente contra a pele num ritmo perigosamente lento que deixava o veloz louco. O que era tudo aquilo dentro dele surgindo de uma hora pra outra? – Você some por dois dias, vai parar num lugar em que não há sinal para o seu comunicador, mesmo que ele pegue até dez mil quilômetros abaixo do nível do mar; diz que conheceu pessoas parecidas com todos da Equipe e não julgou alguém que baseou a minha pessoa por termos atitudes semelhantes, mas virou amiguinho dela; e que chegou a conclusão que eu, de todos os outros, sou uma pessoa importante pra você? – ele pensou por alguns segundos e assentiu, rapidamente. Artemis começou a rir ironicamente, batendo palmas e apontando para ele – Você, Wally, é o cara... – ela mordeu a língua balançou os braços para se distanciar dele, inconformada – O cara mais idiota do Universo! – e ele soltou-a de seus braços.

Ela colocou a mão em sua testa, não sabendo bem o que dizer depois daquilo. O que mais ela diria pra ele? Ele diz que se pega pensando nela quando menos espera, que chegou a conclusões quando estava longe, que apesar da atitude dela, ela é uma pessoa importante para ele. Ele não vê que isso vai levá-los a lugar algum. Que há muitas pessoas que são importantes para ela também e que ele faz parte desse grupo, mas ele está num outro patamar que todos os outros e ela não cometeria o mesmo erro que ele se, um dia, ela viesse a dizer ao velocista estúpido.

-O que foi que eu fiz de errado? – Wally questionou, inconformado com a reação cínica dela. Ela encarou-o com fúria naqueles orbes tempestuosos – Eu me abro pra você e o que eu ganho? Ofensas?!

-Eu não acredito que você não julga alguém que acabou de conhecer que se parece comigo, mas não sou eu, e chega a uma conclusão tão chula como essa! Importante! Eu tenho várias pessoas importantes na minha vida, Wally! Eu mostro pra essas pessoas o quão importante elas são pra mim sem precisar que um estranho parecido com elas me diga! – Wally sentiu-se um merda depois daquela declaração. Realmente, ele deveria ter pensado mais no que dizer pra ela antes de abrir a boca.

-Eu faço diferença na sua vida?! – ela repetia e o rapaz olhou-a irritado, começando a pensar que tudo que dissera fora desnecessário – Você precisa que outra parecida aja como eu pra agradecer por me ter por perto?! As pessoas, não importa quão curto o tempo que passem pela vida de outras, fazem diferença! Aquela parecida comigo fez diferença e é por isso que você está aqui hoje falando comigo, porque você viu o tamanho da merda que fez e queria se redimir por ter se metido em algum lugar adverso, sem saber como voltar pra casa! – e agora parecia que ela lia tudo o que Wally estava pensando – Você só se deu conta do que eu sou pra você depois que você viu que você poderia nunca mais voltar a me ver, a implicar comigo e que não seria você mesmo sem eu por perto!

E depois de uma grande pausa, após ela ter recuperado todo o fôlego de sua explosão, ela olhou no fundo daqueles orbes esmeraldas e implorou para uma resposta, porque se ele não dissesse nada, Artemis se esconderia num buraco e nunca mais retornaria – a face dela deveria lembrar um tomate maduro; Wally suspirou e deu um passo para mais perto da garota.

-Não vai dizer nada? – ela disse seu coração acelerado pela raiva.

E Wally decidiu que, mesmo se ele quisesse, agora não era o momento de ele controlar sua mania de impulsividade – e, querendo ou não, ela vinha a calhar em momentos de perigo como este. Então ele disse aquilo que veio a sua mente.

-Tem razão. - Artemis não precisava de outra resposta mais plausível.

E eles estavam tão sincronizados que quando Artemis pulou nos braços do ruivo ele já a esperava na posição certa, encaixando-a perfeitamente em sua cintura, sentindo as pernas cumpridas da menina como suporte de seu peso, os braços finos cruzados atrás de sua nuca, fechando ainda mais o espaço entre eles e sua boca carnuda pressionando a dele que estava muito curiosa em desvendar cada lugarzinho da dela.

Os braços de Wally seguravam-na pela cintura fina e ela parecia ser tão leve que o jovem não esperava ter que procurar por uma parede o mais rápido possível para encostá-la, porque aquele beijo estava tão intenso que nem os joelhos dele resistiam a vacilar – e com Artemis encostada a parede e presa em sua cintura, Wally podia se preocupar mais com o sabor e com as características da boca dela.

E Artemis nunca havia experimentado um beijo tão... Ela não sabia lá como representá-lo. O beijo não era nem de perto lento ou suave e Wally parecia perdido como se aquele fosse o primeiro beijo de língua dele, mas a garota não se importou porque se ele não sabia o que fazer, ela o ensinaria sem maiores problemas – ensinar não é sinônimo de deixar fácil pra ele acompanhá-la; caso contrário, pra que lhe serviam os tênis que quebravam a barreira do som?

Porém, Wally não demorou muito para acompanhar a velocidade em que os lábios necessitados e macios da arqueira roçavam nos seus, mal permitindo que seus pescoços descansassem de deitar a cabeça para um lado e meio minuto depois para o outro. Ele queria ficar mais perto dela e a puxava ainda mais, mesmo sabendo que não tinha mais nenhum espaço vazio entre eles. A mão dela fazia aquela pressão perfeita em seu cabelo puxando-o para que ele a obedecesse, a o outra mão arranhando as costas cobertas pelo tecido de malha amarela...

Se o rapaz pensasse um pouco mais em o quanto ele estava amando o jeito que ela o fazia beijá-la, como ela lhe ensinava a beijá-la, algo dele começaria a aparecer e a incomodar, ambos – não seria nada bom para Wally se Artemis sentisse alguma coisa cutucando-a logo num primeiro beijo deles. Não por enquanto, pelo menos.

Mas é claro, sempre tem uma hora em que mesmo o mais veloz dos corredores começa a perder o fôlego, e Artemis só agradecia por ter uma parede atrás dela. O beijo começou a ficar menos empolgado e se transformando numa carícia sutil, de somente lábios atritando suavemente um contra o outro, o pescoço trabalhando pouco e o ar quase se esgotando.

Os dois estavam pensando no que diriam depois que terminassem de se beijar, por que eles realmente não saberiam como olhar um na cara do outro. Mesmo Artemis sendo a destemida respondona não sabia muito o que dizer ao ruivo assim que seus orbes tempestuosos encontrassem aquela carinha de criança, com sardas espalhadas brilhando sobre o rubor, íris esmeraldas cintilantes e o sorriso mais sem vergonha ao mesmo tempo que era lindo do jovem velocista. Só de imaginar ela podia sentir o calor de suas bochechas exaltarem-se a cada milésimo de segundo e seu coração não deixava de gritar em seu peito.

Wally então... Ele não sabia nem o que fazer. Ele sentia que Artemis estava ficando sem ar porque o peito dela estava desinchando e ele estava realmente ciente dos seios dela encostados ao seu peito por motivos que ele não queria nem começar a tentar explicar para si próprio. Ela começou a puxar devagar a boca da dele, deixando espaço suficiente somente para que o ar fluísse entre as altas temperaturas dos corpos, mostrando o quão desesperados eles estavam.

Wally ficou mais constrangido pelo silêncio de Artemis do que pelo fato de eles continuarem naquela posição, ofegantes, na cozinha da Caverna, quase seis horas da manhã, se pegando e podendo ser pegos por Tornado Vermelho ou qualquer um da Equipe.

Não que ele fosse se importar – bom... ele pensa assim agora, depois daquela viagem louca ao futuro – que seus amigos vissem aquilo, mas só se a Artemis quisesse porque o veloz se viu numa posição, de repente, de que ele queria muito agradar a loira de cabelos longos e olhos impetuosos que não o escapar com nada. A voz de Kent Nelson veio-lhe a cabeça quando ele lembrou a frase do ex hospedeiro do Doutor Destino que havia falecido ao lado de Wally durante uma de suas missões dadas por Tornado.

Acho que não vou ter que procurar por uma esquentadinha por muito mais tempo.

Abrindo os olhos que tinham certeza das coisas que queria, pelo menos no presente, Wally notou outros detalhes que ele não havia notado em Artemis antes e que ele se arrependera demais – os olhos dela meio abertos deixavam seus cílios enormes e curvados; ela tinha uma pequena cicatriz perto da raiz do cabelo que parecia com uma que ele tinha de Bialya debaixo de seu queixo; apesar de ela ser loira natural, ela tinha sobrancelhas bem pretas e olhos amendoados; as maçãs do rosto dela eram altas, mas arredondas; e como ele estava gostando de ver aquele rubor enfeitando as bochechas da tão sem vergonha garota.

-Então... – a voz dele soou melhor do que ele esperava, tinha de admitir. Um sorriso lateral surgiu nos lábios do veloz e ele achou propício soltar uma piadinha naquele momento: - Sem veneno, né?

Apesar de ter revirado os olhos e ter feito muito esforço para não sorrir, Artemis soltou uma leve risada e mordeu o lábio subindo seu olhar para a face do ruivo a sua frente – Eu peguei o batom errado. – é claro que ela não o deixaria ir sem uma boa resposta.

-Errar é humano. – ele continuou provocando-a e ela deixou o dente largar o lábio para estreitar seus olhos esperando para uma continuação, porque ela saberia exatamente como responder se fosse algo estúpido – Nós podemos trabalhar nessa sua fraqueza.

-Ao mesmo tempo em que trabalhamos no seu beijo. – ta. Ele definitivamente não esperava por isso.

-O que tem de errado com o meu beijo?! – o sentimento de impotência era inevitável. Wally foi lentamente deixando Artemis escorregar de seu colo para o chão, dando tempo suficiente para ela posicionar-se de pé.

-Você é muito afobado e não sabe nem por onde começar. – ela avisou-o dando uma volta no veloz, devagar, e segurando o riso da cara cômica de frustração que ele havia feito. Ela tinha de admitir que Wally pudesse ser bem fofo quando queria – Eu tive que fazer tudo e não era você quem estava com as costas na parede...

-Ei! Quem se jogou no meu colo foi você, caso não se lembre! Então, quem é afobada é você. – ele rebateu, cruzando os braços e seguindo-a até vê-la sentar-se na esquina da ilha, olhando-o reclamar. Um sorriso satisfeito nos lábios e o rapaz já estava corando de novo – Além do mais, você ficou deitando a cabeça pro lado e pro outro muito rápido. Não dava nem pra aproveitar. – ele fez careta.

-Você não fez nada pra parar né? – claro que não. Ele estava gostando daquilo tudo. Quem era ele pra parar um beijo tão bom?!

Tentando mudar de assunto, mas querendo vencer aquela briga boba de qualquer forma, Wally se aproximou de Artemis e sentou-se no banco alto da ilha, ficando perto da altura dela. Fechou a distância entre os dois e a encarou por alguns segundos, apoiando as mãos dos lados das pernas dela e vendo aquele sorriso faceiro nos lábios rosados – Por que você não faz nada se meu beijo ta tão ruim assim?! – ela riu, com aquela cara de que tudo o que ela diria e/ou o que ela viria a fazer depois seria em torno daquela frase dele.

Wally não sabia bem porque, mas ele sentiu um arrepio em ver aquilo – e aquele arrepio nunca tinha caído tão bem para o veloz de sangue quente.

-A prática leva a perfeição, Kid Boca-Virgem.

Claro que o ruivo iria reclamar daquele apelido idiota, mas depois do beijo porque Artemis teve de se inclinar sobre ele e encostar seus lábios lentamente nos dele, aproveitando a cada segundo e fazendo algo bem diferente do primeiro beijo – deixando-o guiá-la bem devagar, fazendo no ritmo dele, muito incomum por sinal. E logo mais Wally já começara a tomar jeito em beijar e a arqueira estava muito satisfeito com seu ensinamento.

Nada como uma troca de interesses.

E eles não esperavam pelo grito de comemorassem de um Garoto Pássaro que dizia algo a respeito de apostas. Alguns múrmuros, mas muitas risadas.

De repente, Robin e toda a turma da Caverna apareceram de pijama na cozinha, flagrando o casal trocando beijos mais profissionais desde que Artemis ensinara Wally – porque ele pega as coisas bem rápido. M'Gann foi a primeira a pular em cima da garota depois de ter pagado ao Menino Prodígio o que lhe devia da aposta. Wally quase teve um troço, pra variar, porque a risada sinistra do Robin já é marota por si só. Acompanhada de gritos então... É de assustar!

O ruivo estava muito ocupado tentando fugir dos cascudos de seu melhor amigo enquanto Superboy supria uma risada ao acariciar o Lobo, Kaldur ficou falando coisas sérias numa língua inglesa arcaica a respeito de como ele sempre soube desde o primeiro dia que a Equipe havia se formado (depois que Artemis entrara) que esses dois tinham sido feitos um para o outro. E Robin rachava o bico enquanto contava os dólares em suas mãos (sem números para não constranger o pessoal).

-VOCÊS APOSTARAM?! – o casal gritou em unissono.

-QUE LINDOS! – M'Gann gemeu contente, juntando as mãos sobre o coração e deixando lágrimas de felicidade escorrerem por seu rosto verde de sardas – Vocês até falam ao mesmo tempo, pessoal! – claro que a reação dos dois foi embaraço. Óbvio – Sabem o que isso aqui pede?! – a marciana estava tão animada que ninguém era capaz de entender do que ela estava falando – BISCOITOS!

E nisso, todo mundo concentrou-se em não capotar ou em não fugir da culinária exótica da marciana já que ela fazia tudo com amor e carinho para agradar os seus amigos. Wally e Artemis se entreolharam, dando de ombros rapidamente e sorrindo um para o outro, limpando o espaço da ilha que a alienígena viria a usar.

-E enquanto a M'Gann cozinha... – a loira começou e voltou-se para o baixinho de cabelos pretos, guardando a grana preta no bolso da sua calça de pijama – Eu vou botar uma criança pra dormir!

-Nós vamos! – Wally adicionou e Robin notou que eles se referiam a ele.

-E essa é minha deixa! – o garoto riu, tirando seu cinto de utilidades do nada e dando uma de ninja, desaparecendo.

-EU TE MATO ROBIN!

-AI GENTE! PARA COM ISSO! – M'Gann gritou emocionada depois que ouviu os dois pombinhos falando ao mesmo tempo de novo – Assim eu não consigo...

Depois de muita palhaçada entre si, a Equipe se juntou para comer a fornada fresquinha de biscoitos com sabores suspeitos que a M'Gann tinha preparado (até mesmo o Lobo, sentado fielmente ao lado de Conner). Eles bateram um papo, tomaram leite e deram muitas risadas lembrando-se de como a missão da noite passada havia dado estranhamente certo sem Kid Flash por perto.

Eles acabaram concordando que Kid Flash era um membro integral da Equipe, assim como todos, e que eles não permitiriam mais a ausência dele nas missões de reconhecimento – além do valor sentimental, o tédio deles de ficarem aguardando para intervir num evento social quase os matou e isso não é fácil!

Perguntas sobre o paradeiro de Wally nesses dois dias que haviam passado não cessaram, mas ele deixou todas suas respostas em aberto, deixando a todos confusos exceto pelo seu melhor amigo que parecia ter lido sua mente no primeiro momento em que ele disse que havia conhecido pessoas muito parecidas com todo mundo da Equipe, mas uns dez anos mais velhos. Robin lançava-lhe um olhar de que ele teria de explicar tudo direitinho para o detetive Junior ou ele seria chantageado eternamente com fotos suspeitas de atos obscenos dos quais Kid Flash se envergonha muito.

Quando todos saíram da sala para voltar a dormir, Wally pediu Artemis em namoro de seu jeitinho Wall-man, temendo levar um toco. A arqueira ficou lisonjeada e não sabia o que dizer de principio, então ela deixou que mais um ato demonstrasse o quão importante Wally era pra ela, de repente, e isso fez o veloz saltitar como Bob Esponja.

E no final daquilo, Wally conseguiu deitar na cama e dormir quase um dia inteiro, pensando que tudo que ele passara tivesse sido um sonho bem louco e muito divertido. Ao acordar e ver seu a sala dos Souvenires bem vazia comparada a do futuro, viu pendurada exatamente onde estava quando ele havia deixado Kara sozinha com a sala o quadro que tinha a foto de casamento de um cara ruivo e uma mulher loira, com uma grande turma de amigos, e um garoto perdido naquele meio.

Como aquilo havia parado ali, Wally não sabia, mas não resistiu xeretar na fotografia – ele não poderia deixá-la por lá mesmo. E, no verso, uma mensagem com gravuras bonitas de uma garota que esperava ansiosa por um melhor amigo. No fim da mensagem carinhosa de Supergirl, o veloz só sabia de uma coisa:

Ele seria o único cara a sentir saudades do Futuro que sempre muda.

Nada é perfeito e nada se ganha de algo pelo que não se luta. O amanhã é um mistério, porque Wally sabia que as coisas mudariam com as mudanças que ele tinha certeza em realizar – principalmente a da morte de Barry. Porém, olhando praquela foto, vendo toda sua Equipe, vendo todos que são realmente importantes para ele sorrindo e sentindo o astre, dava um conforto ao jovem veloz de que fosse qual fosse o futuro, eles estariam todos naquela mesma fotografia.

E o Destino delimita os cruzamentos, mas nunca a estrada por onde se anda.

FIM


PESSOAL! Muito obrigada mesmo por terem me aturado todos esses meses postando a fic, terem mandando reviews e terem favoritado tanto a fic quanto eu!

Eu não mereço tanto carinho e tanto amor, mas eu não vou recusar nenhum de ambos pois amo muito vocês também e confesso que vacilei muitas vezes! Desculpem pela demora interminável do término da fic, mas eu só queria encaixar os pedaços direitinho!

Qualquer duvida, só mandar MP!

Esse é o fim da fic, mas eu posso vir a postar um prólogo logo mais. Então fiquem atentos! ;)

Obrigada pelo apoio por todo esse tempo e por terem sido tão ótimos! Espero ter agradado vocês!

Amo muito todos vocês!

Com muito carinho e amor,

-ShipperBody

P.S.: no final, cheio de Spitfire e frases para nos fazer pensar! ;) Obrigada