Aresto


(Você disse sim.)

E você me estendeu a sua mão de forma paciente e firme, porque esta noite seria lembrada ainda por longos anos. Me assustava a sua falta de medo ou de pressa, como se isto já estivesse na sua cabeça há anos. Poderia estar? Eu lembro de você pequeno observando papai e mamãe e tentando copiar a pose e o semblante de papai, querendo brincar de líder também.

Você age como um verdadeiro comandante agora. Eu o sigo com passos hesitantes, mas você compreende e me conduz com zelo. Procuro seus olhos e só encontro os de papai, o brilho compungido de quando ele observava toda a nossa tribo, do alto, rezando para que todos sobrevivessem a mais um inverno. Meu irmão, nós estamos tentado fazer o mesmo que ele.

Seu sorriso é translúcido; tão distante da perseverança opaca que lhe é peculiar. Em que estaria pensando no momento? Na mamãe?

Você me vê quase chorando e tenta consertar um erro que não cometeu.

– Katara, eu posso esperar, se você não quiser.

Um abano de cabeça é suficiente para transmitir a minha decisão. Mesmo que nada seja absolutamente certo, é reconfortante sentir seus dedos entre meus cabelos (mais macios que os seus). Um carinho que eu aprendi a reconhecer como familiar e que ainda era muito íntimo, de várias formas.

O vento serpenteia pela casa, sibilando por entre as frestas. Me indago se este segredo alguma vez irá deixar nossas lembranças e se tornará público. Se assim for, nós seríamos os heróis ou os traidores? Nós éramos os únicos irmãos da tribo.

Quando você me envolve com seus braços e eu sinto o meu cheiro na sua pele, eu sei que não vai acabar assim. Que a tranquilidade é condicionada ao tempo, e algum dia eles vão descobrir. Vão descobrir que os olhos azuis fitaram os seus pares, como amantes. Tudo isso por conta de uma pequena palavra soprada no vento frio, que respondeu a muitas perguntas que me torturavam.

x

– Você me ama?

Sempre foi uma escolha.

– Sim.


N/A: Watercest, muito inspirada/copiada/baseada em ninguém deve saber, do Aldebaran.