ninguém deve saber


Avatar — The last Airbender não me pertence.


sobre o crime

Desviou do olhar dele. Quis fugir, mas ele segurou sua mão com força.

— Você não pode estar falando sério.

Ele negou com energia, falando com uma seriedade normalmente ausente.

— É só você. Sempre foi. Sou só eu também. Eu sei.

Os olhos dele eram azuis demais.

— Nossa tribo vai acabar.

A constatação saiu dos lábios com a névoa difusa da manhã fria. Ela se irritou.

— Você não pode dizer isso! Ainda há crianças!

— Não o suficiente. Nosso povo é formado por velhos, e a população não é grande o bastante.

Ela insistiu.

— Não é verdade! Ainda temos nossos irmãos da tribo do Norte—

— Que não são da tribo do Sul. Eles partiram há muito tempo, e nossos costumes ficaram para trás.

O clima pesado era discrepante com o sol brilhando no alto do céu azul.

— Estamos chegando ao fim.

Ela sentiu uma dor pesada no coração. Buscou a mão dele, e apertou-a contra a sua.

— Você vai voltar para a tribo?

A guerra havia terminado. O mais difícil estava apenas começando.

— Isso vai acontecer, mais cedo ou mais tarde. Papai está lá, mas — ela sorriu ao ouvir o tom infantil da voz dele — nós somos os herdeiros.

— Você é o herdeiro. Eu sou a filha.

— Você é a primogênita. Nós somos os herdeiros.

Ela não disse nada. Ele calou, vendo-a dobrar a água com movimentos suaves.

— É por causa dele que não quer ir? — dessa vez é ele quem está com raiva, contida na voz — você não o ama. Você não amou nenhum deles.

Ela permaneceu em silêncio. A água estagnou.

que cometemos

— Admita, ao menos para si mesma!

— E o que você— o que você espera que eu diga?

— A verdade.

Eles poderiam ser gêmeos, tamanha semelhança. Também não podiam se esconder um do outro. Ela chorou, e ele envolveu-a em seus braços.

— Queria te amar do jeito certo.

O sol se punha. A pele morena misturava-se à penumbra, mas os olhos quebravam qualquer escuridão. O cabelo dela fazia cócegas no rosto dele.

— E quem disse que não é certo?

Calou-a com outro beijo.

[Interlúdio]

(princesas se casam com os príncipes,

então um dia vamos nos casar, ele falou certa vez. Tinha quatro anos. Ela sorriu.)

— Nós não somos príncipe nem princesa.

— Papai é o líder, então nós somos como um tipo de realeza.

Ela riu da seriedade infantil dele.

— Está bem, Vossa Alteza! Mas haverá pretendentes muito mais adequadas do que eu. Uma princesa de uma terra distante, com olhos tristes e cabelo da cor da lua...

Ele negou.

— Melhor do que você não tem nenhuma.

Os dois acertaram.

— Por que você me ama?

Ele a olhou como se a pergunta fosse estranha demais.

— Por que você me ama? — devolveu. Ela entendeu e sorriu.

— Oh.

(por que não amaria?)

— Eu não acredito! Vocês dois— é errado, é horrível, é—! — os gritos estridentes e magoados cortavam o ar e o coração de ambos.

— Avaliar isso não é uma das suas atribuições como protetor do mundo. — ele respondeu com gravidade.

Eles eram melhores amigos. Encararam-se. Os olhos cinzentos brilharam com a fúria mal contida. Era jovem demais para o poder que possuía.

— Eu sinto muito.

Ele foi embora sem olhar para trás. Os dois choraram.

e o preço que pagaremos

— Há precedentes.

A ventania é tão intensa que um mal consegue escutar o outro.

— Sempre em situações de crise, e para preservar o poder dentro da mesma família. Nunca foi... por amor.

— Nosso motivo é diferente. É legítimo.

Ela não esperou por nenhuma condescendência.

— Eles nos mandarão embora.

Ele tracejou círculos na terra com a ponta de sua espada.

— Então vamos encontrar um lugar só nosso.

Os dois acertaram mais uma vez.


N/A: Sei lá, mil coisas.