OS EVENTOS A SEGUIR OCORREM ENTRE OITO E NOVE DA MANHÃ.
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Um zunido ensurdecedor ecoava pela cabine do helicóptero em queda livre ao mesmo tempo que uma terrível fumaça começava a se erguer do painel de controle destruído. Harry lutava inutilmente contra as correntes de prata que pressionavam o seu peito, sem resultado. Como astutas serpentes de prata, as correntes se envolviam e se enrolavam no corpo do auror a medida que ele tentava se livrar.
No esforço para conseguir se livrar das correntes, Harry caiu do banco para o chão da cabine. Pedaços soltos do motor agora voavam pelo lugar enquanto o helicóptero se aproximava cada vez mais do chão. Respirando com dificuldade, Harry olhou para o lado e viu... a sua varinha!
Ela estava caída abaixo do banco onde antes ele estava amarrado. No entanto ela estava fora do alcance de seus dedos presos pela corrente. Ele tentou esticar a mão para alcança-la mas descobriu que era uma péssima idéia. A corrente por pouco não quebrara o seu braço.
Respirando fundo, obrigou seu cérebro a funcionar nos poucos segundos que ainda lhe restavam. Uma vez ouvira Olivaras dizer que bruxos podem realizar magia até mesmo sem a varinha, embora os melhores efeitos eram sempre produzidos quando a energia mágica era concentrada no objeto...
Fechando os olhos, ele tentou tirar todos os pensamentos da cabeça se concentrando apenas na sua vontade. Fazendo o possível para alhear sua mente ao helicóptero em queda, abriu os dedos da mão sobre as correntes e pensou:
"Accio..."
Por alguns segundos nada aconteceu. Mas então, como se estivesse sendo atraído por um íma fraco, a varinha tremeu e voou na sua direção. Harry segurou-a firmemente entre seus dedos, quase sem ousar acreditar. A corrente pressionava seu peito agora quase sufocando-o. Aproveitando um último suspiro, Harry se concentrou em sua destinação e aparatou.
Um segundo depois as correntes de prata que o seguravam caíram frouxas no chão da cabine.
Harry Potter atravessou o vácuo temporário da aparatação e caiu em cheio com o rosto na grama. Olhando para os lados o suficiente para ter certeza que funcionara, ele percebeu que estava num vasto campo onde o terreno sofria algumas ondulações aqui e ali. Se levantando com dificuldade e subindo por uma delas, chegou a tempo de ver o helicóptero se espatifar e explodir no chão a cerca de um quilômetro de distância.
Sem fôlego, Harry se curvou sobre si mesmo enquanto observava o Dillys I se transformar numa enorme bola de fogo e subir pelo céu azul. Aquela havia sido por muito pouco. Se esforçando para encontrar o fio dos pensamentos, ele se lembrou de Grid e de Rony. Precisava chegar até os dois, mas onde eles estavam?
Passando a mão pelo rosto sentiu que ele estava suado. Olhando para os destroços em chamas do helicóptero pensou que muito em breve os trouxas veriam a longa coluna de fumaça se erguendo no céu e que logo encheriam aquele lugar. Imaginou a surpresa deles ao encontrarem os restos do transporte sem encontrarem nenhum corpo.
Sem mais, ele tomou uma decisão. Dando as costas ao helicóptero, se virou e rodopiou no mesmo lugar, aparatando novamente.
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-Tiago, acorde!
Gina entrou de supetão no quarto do filho e chamou-o com um tom de voz inflexível enquanto corria com as cortinas da janela de seu quarto. A luz do sol penetrou pelo vidro da janela e inundou o quarto do menino, acordando-o com tanta eficiência quanto o chamado da mãe. Ele se sentou na cama e esfregou os olhos enquanto via o vulto ruivo da mãe indo para cá e para lá, juntando algumas roupas caídas no chão e dobrando outras.
-Você já guardou tudo o que vai precisar? - perguntou Gina, olhando para o malão.
-Acho que sim - respondeu o garoto, olhando em volta - e... bom dia para a senhora também, mãe.
Gina suspirou e, arrependida de estar sendo tão frígida com o garoto em seus últimos momentos em casa, voltou-se, sentou na cama ao lado dele e beijou-lhe a
testa.
-Bom dia, meu filho - e depois de passar a mão pelos cabelos do filho mais velho perguntou. - Nervoso para o sua partida para Hogwarts?
-Nervoso? - exclamou o garoto com um sorriso maroto - está brincando, mulher! Eu não vejo a hora!
E pulando da cama, o menino correu para o banheiro para se lavar.
Gina sem dúvida estava feliz ao ver a alegria do filho, mas não pode conter uma pontada de frustração em seu íntimo. Tinha a estranha sensação de que algo que ela dependia muito, como um órgão interno, simplesmente estivesse criando asas e escapando.
Ela correu os olhos pelo quarto do filho, não conseguindo imagina-lo vazio. Boa parte das roupas do armário já haviam sido arrumadas e transpostas para o malão. A escrivaninha do menino defronte a cama, já estava vazia, sem a presença das inúmeras revistas em quadrinhos que faziam a diversão do menino. No momento Gina também sentira falta de outra coisa que, segundos mais tarde encontraria ao colocar as últimas roupas no malão do filho: O porta-retrato de prata com a foto de toda a familia. Ela, Tiago, Alvo e Lílian brincavam na praia perto do Chalé das Conchas e riam. Gina se sentiu um pouco reconfortada ao ver que o menino não deixaria aquela foto em casa. Mas quase ao mesmo tempo sua alegria esfriou ao olhar para o riso do Harry da foto. Ela olhava para aquele rosto e não tinha exatamente certeza do que sentir. No íntimo, sabia que aquilo não poderia ser verdade... no entanto, ela não pode conter uma dúvida corrosiva.
-Onde está o papai? - perguntou Tiago. Ele havia acabado de voltar e olhava para a mãe da porta.
Gina suspirou e colocando a foto novamente no malão disse:
-Seu pai foi chamado no trabalho, hoje mais cedo. Uma... emergência...
-Hmmm... - fez o garoto, a princípio sem dar muito interesse no que seria a tal da emergência. - mas ele vai voltar para me levar até a estação não vai?
Gina suspirou e então respondeu.
-Acredito que sim, meu filho... acredito que sim... - seus pensamentos começaram a flutuar novamente para o artigo que acabara de ler. Sentiu uma onda quente e perigosa subir pelo corpo e tratou de sacudir a cabeça - Vamos filho, você tem que tomar o café.
Decididamente, ela virou as costas ao porta-retrato, saiu do quarto e fechou a porta.
No porta-retrato, Harry e Gina agora pareciam discutir bravos um com o outro, enquanto as três crianças olhavam para eles assustadas. De repente o Harry fotográfico virava as costas para Gina e desaparecia pela moldura do retrato...
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Os bruxos ao redor se assustaram e pularam para o lado quando chamas verde-esmeralda emergiram com força de dentro de uma das chaminés do Átrio. De dentro dela, um Harry Potter com vários cortes e rasgos nas vestes surgiu com uma expressão de poucos amigos no rosto. As pessoas saíam do caminho, abrindo uma passagem a medida que o auror atravessava o saguão com pressa. Murmúrios chegavam até os ouvidos dele, embora seu cérebro não os registrasse.
–...É o Potter!
–O que será aconteceu?
–Por que ele está desse jeito?
"Eu preciso chegar até Rony... eu preciso descobrir quem é esse Walden Grid e saber onde está Rony... eu preciso chegar até Rony"
Os pensamentos do auror estavam a mil enquanto cruzava o Átrio, passando pela Fonte da União Mágica e se aproximando dos elevadores. Estava a uns três metros dos elevadores quando uma voz conhecida o fez parar.
–Harry! Por favor... Espere... Harry!
Ele se virou para ver o rosto de quem o chamara. Correndo desabalado, com alguns rolos de pergaminho na mão, o suor transcorrendo pela testa, os óculos tortos e a pele pálida acentuando seus cabelos ruivos, Percy Weasley tentava cruzar a multidão para chegar até ele.
Ele por muito pouco não cedeu a tentação de virar as costas e prosseguir seu caminho, mas a compaixão foi maior. Percy ainda era um almofadinha metido a besta, mas se arrependia de muitas posições tomadas no passado. Sem falar que era irmão de Rony.
–Harry... – Percy finalmente chegara até ele. – Harry... por favor... o que aconteceu com Rony?
Os olhos dos dois se fixaram um no outro.
–Até onde você sabe?
–Eu ouvi Fudge e Monique conversando na Sala do Ministro. Na verdade... acho que o andar inteiro ouviu, eles não estavam sendo muito educados um com o outro entende. Eu ouvi Monique falar algo sobre Rony ter sido amaldiçoado e entrado em coma... minutos depois Cornélio me "pediu gentilmente" para sair. Por favor Harry... o que foi que aconteceu com o meu irmão... e, por Merlim, o que foi que aconteceu com você?
Percy finalmente percebera o estado em que se encontrava o amigo. Harry agora olhava em torno, havia vários bruxos conversando em torno. Alguns mais afastados, com o novo Profeta Diário na mão, olhavam para ele com desconfiança.
Antes que ele precisasse abrir a boca, porém, a porta do elevador começara a se abrir e ele puxou o ruivo.
–Vamos conversar aqui dentro, é mais seguro!
Quando eles entraram no elevador no entanto, os dois descobriram que não estavam sozinhos. Harry ficou surpreso, mas também aliviado. Compartilhando o elevador com eles estavam Hermione, Justino, Ernesto e Terencio!
–Harry!
–O que aconteceu?
–E o Rony?
Antes que ele pudesse responder, sentiu-se quase sufocado pelo abraço angustiado de Hermione. Quando ela o soltou, e ele pode respirar aliviado os outros deram pela presença de Percy. Mas ninguém demorou muito com cumprimentos e etiqueta, todos pressionavam Harry para que ele contasse o que acontecera.
Primeiro, Harry contou a Percy sobre a poção ingerida por Rony e todas as fatalidades que aconteceram no estádio e no hospital. Quando Percy se deu conta de que havia sido seu irmão o instrumento que matara o Ministro Shacklebolt, ficou mais pálido que já estava. Terencio Boot teve que segura-lo para não cair e continuou apoiando-o quando as portas do elevador se abriram e eles saíram pelo corredor.
Enquanto caminhavam, ele narrou para os outros os acontecidos na perseguição do helicóptero. Ernesto deixou cair o queixo quando ouviu sobre a vassoura quebrada e Hermione levou a mão boca horrorizada quando Harry contou sobre a seqüência em que Rony fora levado e ele preso na aeronave em queda.
–E resumindo foi isso... eu consegui me livrar e desaparatei – falou Harry enquanto caminhava. – Mas Grid levou Rony...
Ele não teve coragem de pronunciar as últimas palavras olhando para Hermione. A sensação de fracasso era forte demais. Aquele estava sendo de longe um dos piores dias da sua vida... Havia perdido duas pessoas queridas, e o seu melhor amigo havia sido raptado... e isso que havia acabado de amanhecer.
Percy estava pálido, porem um brilho de raiva e insurreição estava presente em seus olhos.
–Quem é esse Grid? De onde ele veio? Precisamos descobrir!
–É o que iremos fazer – falou Ernesto, apontando para frente.
Foi só então que Harry se deu conta do lugar em que estavam. O corredor de pedra negra e fria era característico e a única porta a frente lhe dava arrepios e terríveis lembranças.
O Departamento de Mistérios.
–Porque aí? – perguntou Harry.
–Nos últimos anos Shacklebolt teve uma idéia brilhante – falou Ernesto – para garantir a nossa segurança e impedir a ascensão de algum novo Lorde das Trevas ele tomou uma iniciativa que muitos achariam ousada, e que na mão das pessoas erradas poderia facilmente se tornar uma arma...
–O que? – perguntou Justino. Terencio simplesmente enrugou a testa.
–Através de feitiços complexos ele criou um registro bruxo de nossa sociedade. Um registro gigantesco que consta com detalhes de todos nós, os registros se atualizam sozinhos, sem precisar de um funcionário que fique escrevendo todos eles diariamente... Desde que tivesse uma supervisão semanal por uma pessoa, tudo ficaria em ordem... e quando precisássemos saber tudo sobre alguém... lá estaria.
–Então... tudo o que a gente faz, fica aqui?
–Bom... – falou Ernesto, sentindo a delicadeza da situação – Sim... eu sei que pode parecer uma enorme falta de privacidade... e talvez até anti-ético... Shacklebolt jurou que só deveria ser usado para pesquisar a vida do bruxo que se apresentasse como um perfeito risco para a sociedade... mas as pessoas talvez não interpretassem assim, e por isso o projeto foi considerado secreto.
Eles abriram a porta no final do corredor e entraram na sala circular com muitas portas. Quando Justino fechou a porta atrás dele, as paredes começaram a se movimentar girando cada vez mais rápidas. Justino e Terencio que nunca haviam visto aquilo, se afastaram assombrados.
–Que Di.. – exclamou Terencio.
Harry, que já havia tido experiência com aquela sala, não se abalou. Estava mais interessado na história de Ernesto.
–Bom, dada a presente situação, compreendo a intenção do Ministro... mas... e se outras pessoas tomassem conhecimento desse lugar... e se outras pessoas conseguissem invadir e tomar informações sigilosas aqui de dentro?
–Magias de proteção a mais foram adicionadas, somente funcionários autorizados pelo curador ou pelo próprio Ministro podem entrar. – respondeu Ernesto. Harry não sentiu muita convicção. Mas Hermione compreendeu.
–Feitiço de Subordinação pela Vontade.
–Isso – respondeu Ernesto enquanto as paredes aos poucos iam parando. – o simples fato do curador querer que a pessoa possa entrar, a possibilita dela entrar.
–Tudo isso está muito bem – falou Terencio – Só tem uma coisinha que eu não entendi... Como você sabe disso tudo?
Ernesto corou um pouco.
–Bem, eu...
Mas antes que pudesse falar, uma das portas se abriu e de dentro dela saiu uma jovem. Ela era alta e tinha os cabelos ruivo-escuros cortadas num estilo chanel. Ela olhou por um momento aturdida para o grupinho e então atirou-se nos braços de Ernesto.
–Ernie... eu recebi a sua mensagem, que bom que você está bem...
–Eu estou bem, Sue... você fez o que eu te pedi?
–Sim... embora... – ela então olhou para o resto do pessoal e tentou se recompor – Oi, pessoal... a quanto tempo...
De fato, há muito tempo que Harry não via Susana Bones de perto. Ele sabia que ela se tornara uma inominável e que agora trabalhava no Departamento de Mistérios, mas pouco conversara com ela nos últimos anos e tampouco imaginava que ela e Ernesto...
Percy foi o primeiro a voltar a realidade.
–Você tem como nos dizer quem é o homem que seqüestrou meu irmão.
–Bem... venham comigo – falou Susana se virando para a porta pela qual acabara de sair. Os outros foram atrás.
A visão que os esperava atrás da porta era aterradora. A sala além era imensa. Harry nunca havia visto uma sala tão grande como aquela, para todos os lados que olhava não conseguia distinguir as paredes, apenas o chão e o teto que se perdiam no infinito. Logo a frente deles, gigantescos corredores eram formados por estantes enormes cheias de livros e encadernações. Entre as estantes, mesas igualmente compridas estavam abarrotadas de pergaminhos amarelados com penas que se escreviam sozinhas com uma rapidez incrível. Ele reparou que, quando os pergaminhos chegavam ao fim, eles se dobravam sozinhos na forma de um aviãozinho de papel e voavam sozinhos até o seu lugar determinado nos arquivos. Então, vindos de algum lugar no fundo da sala um novo pergaminho vazio vinha voando e se desdobrava no local onde aquele estivera.
–Sejam bem vindos – falou Susana Bones sem emoção – aos Arquivos Secretos do Ministério da Magia.
–Minha nossa – disse Terencio.
Harry olhou para os lados, todos os outros estavam embasbacados ante aquela visão. Até mesmo Hermione parecia ter se esquecido da situação deles por algum segundos.
–Dentro dessa sala existe o registro de cada um de nós – falou Susana – As atitudes de cada bruxo da grã-bretanha é rastreada e registrada aqui assim como informações sobre a família, amigos, endereço etc...
Eles começaram a segui-la até uma mesa pequena na lateral da porta. Harry percebeu que aquela deveria ser a mesa de Susana. Havia alguns pergaminhos soltos pela mesa e algumas encadernações abertas. No canto, havia uma plaquinha em alto relevo:
Susana Bones – Curadora dos Arquivos Secretos do Ministério da Magia.
–Então – começou Hermione – vocês devem ter tudo sobre esse tal Walden Grid.
–Bom – falou Susana se sentando em sua mesa e olhando para eles. Foi então que Harry percebeu que deveria ter algo errado. Os olhos da amiga pareciam estranhamente desnorteados e confusos. – Esse é o problema. Ernesto me mandou um memorando há quinze minutos atrás me pedindo para eu pesquisar esse nome... Walden Grid... e dizia que ele estava diretamente envolvido nos acontecimentos dessa madrugada... e... e eu pesquisei. Busquei a ficha dele nos arquivos mas... o fichário dele estava vazio.
Um silêncio de surpresa abateu o grupo. Levou vários segundos para as pessoas ali reunidas se recuperarem.
–Como... como assim vazio?
–Bom não exatamente vazio – falou Susana – Havia algumas informações esparsas – ela baixou os olhos para as anotações nos papéis a frente dela. – aqui diz que ele veio da Alemanha já faz uns quarenta anos e que seus pais são desconhecidos... isso certamente não ajuda muito... mas isto aqui pode ser importante: o endereço da casa dele... é uma casa afastada em Baskerville.
Ernesto pegou o endereço das mãos dela.
–Isto ainda está aí porque fazem parte das informações críticas, ninguém poderia mexer... mas todo o histórico de atividades dele, foi apagado... e não estamos mais recebendo novas atividades o que significa que alguém encantou o nome dele para que ele se torne imune aos Arquivos.
–Eu pensei... eu pensei que precisaria da sua vontade ou da do Ministro para que alguém pudesse entrar aqui – falou Percy sem esconder um certo tom de acusação na voz.
–S-sim precisa...
–Então quer dizer que você ou o Ministro depositaram confiança demais em alguém que não merecia!
–Não fale com ela assim! – falou Ernesto.
–Parem! – gritou Harry – Esse não é o momento para acusações... essa é a hora de irmos até essa casa e ver o que podemos encontrar por lá!
A imposição de Harry fez eles se calarem embora não houvesse diminuído a tensão. Enquanto Percy e Ernesto lançavam faíscas pelos olhos, Harry sentia um mal-estar no estômago.
A sombra de um possível traidor continuava pairando sobre eles.
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A luz do sol fez com que Rony Weasley acordasse aos poucos. Sentia-se completamente zonzo e desorientado. Seus braços pesavam como chumbo e uma dor aguda como várias alfinetadas percorria pelos seus membros como se eles estivessem adormecidos a muito tempo. Ele abriu os olhos, mas a força da claridade o cegou momentaneamente. Não sabia onde estava e nem como chegara ali, mas sabia que era um local bastante iluminado pelo sol. Não muito longe dali, pode escutar o ruído surdo de uma cachoeira. Usando um pouco da força que tinha, ele lutou para conseguir erguer a cabeça, mas no mesmo momento explosões como fogos de artifício em seu crânio o convenceram a mudar de idéia e fez com que ele voltasse a descansar a cabeça. Sua nuca encostou numa superfície dura e áspera e ele começou a usar seu tato para entender o que era aquilo.
Parecia estar em uma espécie de cama feita de pedra, apenas um catre.
Ainda mais confuso e sem saber onde estava, ele abriu os olhos novamente e desta vez conseguiu distinguir algumas formas. Parecia ser um quarto fechado e pequeno, todo feito de pedra bruta. a luminosidade vinha de uma janela grande, porém estreita e com grades que iluminava o seu lado do aposento. Pelo ângulo que o sol fazia, ele imaginou que não fazia muito do nascer do Sol.
–Calma, filho... relaxe agora - disse uma voz surpreendente próxima dele.
Rony se virou surpreendentemente rápido, surpreso com o som e o movimento fez com que sua cabeça apresentasse novas palpitações de dor. Olhou para o lado e viu, no outro lado do quarto, um outro catre igual ao que ele estava deitado agora; e, sentado sobre ele, a figura de um homem enorme e desconhecido olhava para ele. A mão de Rony voou pelas vestes a procura da varinha, mas não a encontrou. O outro, notando o movimento dele, falou com uma voz calma:
–Nem adianta, você está desarmado.
Rony voltou a olhar o desconhecido. Sua mente estava alerta agora, embora sua cabeça estivesse doendo.
–Quem é você? Que lugar é este? O que fez com a minha varinha?
–Ei, garoto! Já disse para ter calma... Eu não fiz nada com a sua varinha... quando você chegou aqui, já estava sem ela.
Rony olhou para o rosto do homem enquanto fazia um grande esforço mental para tentar se lembrar das últimas horas. Ele era grande e forte, ruivo com cabelos e barbas desgrenhadas. Suas roupas estavam mal-cuidadas e sujas. E havia várias cicatrizes e feridas, principalmente no rosto e nas mãos. Definitivamente não era uma aparência recomendável a alguem.
–Quando eu cheguei aqui?
–Há uns dez minutos, talvez mais... É difícil saber o tempo nesse lugar. Aquele maldito homem te trouxe.
O comentário fez Rony erguer a cabeça.
–Que maldito homem?
–O mesmo que roubou minha varinha e me trouxe para cá. - falou o desconhecido com desprezo. - Vê? Não somos tão diferentes... na verdade, parece que estamos no mesmo barco. A propósito meu nome é Rodney Dent, e o seu?
Rony se sentou devagar no catre, a mão direita ainda posicionada sobre a cabeça. Ele continuou avaliando a aparencia do homem antes de responder.
–Weasley... Ronald Weasley... - ele tentou concentrar-se no que o tal Rodney dissera. - esse tal bruxo que você falou... como ele é?
Rodney suspirou.
–Bom, ele já é de uma certa idade... quem olha jamais pensaria que seria capaz desse tipo de coisa... tem alguns cabelos brancos e cavanhaque... e se veste bem o filho da mãe, muito bem... parece até que é um sujeito importante... alguém do Ministério ou sei lá...
Por alguma estranha razão. Enquanto Rodney Dent falava aquelas palavras, um estranho rosto e um nome aflorou do nada na cabeça de Rony. Embora ele não soubesse exatamente daonde vinha tal lembrança, sabia que estava certo.
–Grid...
–Como disse? - perguntou o outro.
–Ah... nada... apenas, apenas estou com uma dor de cabeça terrível... - Rony fazia um esforço para conseguir raciocinar mesmo com a dor. - Então, ele sequestrou você também? Porquê?
Rodney deu uma gargalhada alta.
–Eu bem que gostaria de saber... eu não tenho nada de valor, vivo sozinho e sem família... não tenho nada que aquele porco pudesse querer de mim. Nem sei quem ele é... - a única coisa que eu sei é que a umas duas semanas eu estava na minha casa dormindo e acordei com o barulho dos cachorros... Quando acordei e fui atrás para ver o que que era, fui enfeitiçado por alguém as minhas costas. Acordei no outro dia neste lugar... e estou aqui desde então. Este homem tem aparecido umas cinco ou seis vezes de lá para cá... me traz um pouco de comida as vezes, mas não responde as minhas perguntas. No início pensei que ele fosse alguma espécie de lunático que queria me matar. Mas depois pensei, se ele queria me matar... porque me trazia comida? Por que ainda me mantinha vivo?
Rodney deu um suspiro antes de voltar a falar. Parecia de fato que ele não se comunicava com alguém há um tempo.
–Então ele veio esta manhã... e me trouxe você... porquê? Com todo o respeito, quem é o senhor, Sr. Weasley? E porque ele quer a nós dois?
Rony baixou os olhos, ainda fascinado pela narrativa do seu companheiro de clausura.
–Eu não sei... - respondeu o ruivo, pesando o que poderia ou não falar. Não estava ainda muito certo se confiava ou não naquele homem - eu... eu trabalho no Ministério... sou casado, tenho dois filhos... e me lembro de muita pouca coisa do que aconteceu nas últimas vinte e quatro horas... apenas, apenas alguns vultos esparsos.
Rodney ficou olhando fixamente para Rony durante algum tempo... como se soubesse que Rony não estava sendo completamente sincero. O auror respondeu ao olhar do outro com firmeza. Rodney Dent tinha os olhos de um tom castanho claro, quase amarelados. Passado algum tempo, Rony falou, para quebrar o clima do momento.
–Que lugar é esse afinal?
–Eu bem gostaria de saber - disse Rodney. - No início pensei que fosse a própria casa desse maluco... mas depois vi que não, eu andei dando uma olhada por aí e vi que o negócio é muito maior do que parece... uma espécie de castelo ou sei lá o que...
–Espere aí... você disse que andou dando uma olhada? Pensei que você ficasse preso?
Rodney Dent deu uma risadinha ao mesmo tempo que se levantava do catre. Agora, de pé, dava para ver o quanto aquele homem era alto. Provavelmente passava dos dois metros de altura. Ele então olhou para o ruivo e disse:
–Você não acha que eu fiquei aqui por duas semanas sem tentar escapar não é?
E dizendo isso, se curvou e começou a puxar o seu catre de pedra. De modo a tira-lo do lugar. Após algum esforço, o homem conseguiu empurrar a pesada cama para o lado revelando algo que fez Rony abrir a boca de espanto.
Havia um grande e tosco buraco entre as pedras. Como se tivesse sido feito a mão. Abaixo dele, um caminho prosseguia em direção a parede oposta, se perdendo na escuridão.
–Isto é... - falou Rony, com assombro - um túnel?
–É... - respondeu Rodney - eu o descobri no meu segundo aqui... pelo jeito o homem não é tão familiarizado com o prédio quanto se parece ou do contrário não me teria posto aqui...
–E para onde leva?
–A lugar nenhum, é um túnel sem saída... quem quer que tenha escavado isso aí, não teve a oportunidade de acabar - falou Rodney com um tom de voz sombrio. - eu passei as últimas duas semanas tentando terminar o túnel... cavando com as mãos - ele mostrou as mãos cheias de feridas e cicatrizes.
–Encontrou alguma saída? - perguntou Rony.
–Não... mas tive a sensação de que estava quase encontrando antes de você chegar. O som da batida nas pedras era diferente e eram mais bem trabalhadas, como se fizessem divisa com uma parede. E eu conseguia ouvir o outro lado. Foi quando ouvi o som de passos passando do outro lado e percebi que só poderia ser ele que estava chegando, amaldiçoado seja. Corri de volta para cela, e empurrei a cama no lugar um segundo antes dele abrir a porta e aparecer com você flutuando inconsciente ao lado. O deitou no catre ao meu lado, me lançou um olhar de desprezo e foi embora. Então eu fiquei esperando você acordar... Bom, você acordou... e pelo visto quer fugir daqui tanto quanto eu... - O homem pulou no buraco e ficou encurvado lá dentro. - A única sugestão que eu posso dar... é me seguir. - e dizendo isso, o estranho homem sumiu na escuridão.
Rony ficou parado olhando, sem saber realmente o que fazer. Sua cabeça doía menos agora, mas ele ainda se sentia um pouco transtornado. Ainda se esforçava para lembrar de alguma coisa, mas não conseguia. Lembrava-se vagamente dos rostos de Harry e de Hermione encurvados sobre ele... pareciam ansiosos, queriam uma resposta, uma resposta que só ele poderia dar. Eles sem dúvida estavam com problemas. Ele precisava chegar até eles.
–Então, você vem ou não? - o som da voz de Rodney se fez ouvir.
Sem hesitar mais, Rony pulou para dentro do túnel.
08:42:21
08:42:22
08:42:23
Baskerville era uma região pantanosa do sul da Inglaterra. Havia alguns vilarejos, poucas casas isoladas e muitos animais silvestres entre os pântanos. Naquela ensolarada manhã de domingo, pássaros faziam sua algaravia costumeira em pios estridentes enquanto eram observados por seres subaquáticos nos lagos entre as árvores. Insetos de todos os tipos podiam ser encontrados ali, desde lindas borboletas até terríveis mosquitos enormes que apavoravam os trouxas desavisados.
Mas havia uma parte de Baskerville que muito poucos conheciam. Várias criaturas mágicas viviam ali, entre elas muitas desconhecidas pelo Ministério da Magia. Sabia-se da existência delas apenas por lendas como a da terrível planta carnívora gigante, e o do enorme crocodilo de duas cabeças cujo ataque era letal.
Naquela manhã, porém, até os monstros do pântano mais inesperados ficaram surpresos com o que viram. Entre as árvores, voando em uma velocidade estarrecedora, cinco vultos cortavam o pântano em direção ao sul. Pareciam apenas sombras aos seus olhos; mas, como se sentissem a tensão emanando de suas figuras, se ocultaram mais ainda em seus esconderijos.
Os cinco vultos nada mais eram do que Justino, Ernesto, Hermione, Percy e, é claro, Harry Potter. Cada um montado em uma potente Firebolt 1000 e voavam vertiginosamente em direção a casa apontada pelos Arquivos Secretos. A casa que, em teoria, seria a residência do misterioso Walden Grid.
Quando eles finalmente chegaram a casa, Harry fez um sinal e todos eles pousaram despretensiosamente no pátio embarrado da casa. Era na verdade um espécie de cabana de caça construída em uma clareira no meio do pântano. Havia algumas hortas aqui e ali. Algumas Harry reconheceu, eram inofensivas plantas trouxas. Outras, ele já havia encontrado nas estufas de Hogwarts. E outras, ele notou com um calafrio, eram plantas pelas quais ele nunca antes havia cruzado e pareciam-lhe, francamente, enxertos medonhos e perigosos.
–Então, essa é a casa? – perguntou Percy. Harry se virou para ele, preferia não te-lo trazido. Ele não era um auror, não estava treinado para situações como aquela e estava emocionalmente envolvido. Mas Hermione também estava... e ele! Aqueles argumentos foram taxativos para a companhia de Percy no grupo. Assim, Percy veio com eles e Terencio ficou no Ministério, para o caso de Monique precisar de algum serviço dele.
–Sim, esta é a casa – disse Ernesto, olhando ao redor desconfiado – parece que não tem ninguém em casa.
–Então, o que estamos esperando? – falou Percy, se endireitando e começando a caminhar para a casa. – Rony pode estar lá dentro!
–Acalme-se – disse Ernesto, retendo-o pelo braço. De todos, parecia o único que tentava guardar um pingo de raciocínio frio para a ocasião. Justino parecia estranhamente pálido desde que deixaram o Ministério e Hermione, apesar de estar alerta, estava visivelmente cansada e ansiosa com o rumo que as coisas que haviam tomado. Encarando-a agora, Harry percebia que não devia estar muito diferente.
–Como me acalmar? – falou Percy – meu irmão está lá dentro! Eu não posso deixar que algo aconteça com meu irmão...
Harry então percebeu, percebeu toda a angústia pela qual Percy estava passando nos últimos minutos. Entendeu que a notícia do seqüestro de Rony fez nascer em Percy terríveis lembranças... lembranças de uma madrugada há muitos anos, quando o ruivo perdeu um dos irmãos em seus braços.
–Eu sei... mas pense – disse Ernesto – ele também pode estar preparando uma armadilha para nós.
Harry sabia que o colega tinha razão, embora seu instinto de auror dissesse o contrário. Ele sabia que, se houvesse alguma armadilha ou feitiço de proteção este já deveria ter sido acionado a muito tempo. Por via das dúvidas porém, voltou-se para a amiga.
–Hermione...?
Hermione acordou de repente como se despertasse de um transe momentâneo. Virou-se para Harry e não foi necessário palavras para a garota entender o que ele estava pedindo.
Ela buscou a varinha entre as vestes e deu dois passos em direção a casa enquanto olhava os restos de névoa matinal se dissolver diante das vidraças da cabana. Erguendo a varinha no alto, Hermione disse com uma voz firme e decisiva.
–Homenum Revelio!
Os outros sentiram quando uma onda de calor envolveu-os, sentindo o feitiço registrar a presença deles na mente de Hermione. Esperando que fosse útil para saber se havia mais pessoas na casa...
Então, Hermione soltou uma exclamação de surpresa e arregalou os olhos enquanto olhava para o chão diante da cabana. Parecia que o feitiço registrara alguma coisa.
–O que foi? – perguntou Percy.
–Encontrou alguém? – foi a vez de Harry.
–...Sim – disse Hermione, ainda um pouco assustada. Seus cérebro agora rodando. – Mas não está na casa.
–Não? – perguntaram Harry, Ernesto e Justino em uníssono.
–Não – respondeu Hermione – quer dizer, pelo menos não na casa propriamente dita...
–Como assim? – perguntou Harry. Mas em vez de Hermione responder, ela começou a caminhar com passos decisivos em direção a casa. Os quatro se entreolharam por um momento antes de decidirem acompanha-la. Harry achou que ela iria entrar na cabana, mas, em vez disso, ela virou a esquerda num canteiro de flores e contornou a casa.
A lateral da casa era tão triste quanto a parte da frente. Feita de madeira, com algumas tábuas apodrecidas e musgo crescendo aqui e ali a casa parecia de fato ser muito velha. As poucas janelas pareciam não ser limpas a muito tempo.
Quando alcançaram Hermione, finalmente entenderam o que ela havia querido dizer e porque estava olhando para baixo. Hermione estava diante de uma enorme porta de alçapão inclinada no chão ao pé da parede da casa. Destas que muitas casas de campo têm e que geralmente levam para um porão ou uma despensa, dependendo da exigência das circunstâncias.
–Você encontrou alguém no porão? – perguntou Ernesto.
–Sim – disse Hermione. E, fechando os olhos um instante, como se precisasse relembrar a cena – Parece que esta pessoa está amarrada...
–É Rony! – disse Percy na mesma hora – Só pode ser!
–Precisamos abrir esse alçapão – disse Hermione.
Harry se inclinou sobre a porta de madeira, ela possuía um pesado ferrolho de ferro e uma fechadura velha e enferrujada. Ele encostou a varinha no trinco.
–Alorromora!
Nada aconteceu. Ele e Percy, juntos fizeram força para abrir, em vão... o feitiço que selava o alçapão era mais forte.
–Parece que Grid queria mesmo esconder o que tem aí dentro – falou Justino. Hermione soltou um suspiro de exasperação e começou a andar em volta deles, olhando para o chão.
–E agora? O que faremos? – perguntou Percy.
–Você disse que só tem uma pessoa na casa e que ela está no porão, não é? – perguntou Ernesto, voltando-se para Hermione. Ela respondeu com um muxoxo. Ernesto então voltou-se para Harry. – eu e Justino podemos procurar pela chave dentro da casa... ou por algum outro acesso interno. Vocês ficam aqui, para nos dar cobertura.
Harry Potter concordou, e após recomendar-lhes o máximo de cuidado, eles sumiram pelo canto da casa. Harry e Percy ainda ficaram uns tempos testando diversos tipos de feitiços na porta, sem sucesso...
Então, Hermione se aproximou e se ajoelhou ao lado deles. Trazia uma pedra na mão. Eles repararam que ela havia mergulhado a pedra praticamente toda numa poça de barro. Antes que ele pudessem falar uma coisa, ela começou a escrever runas de barro no alçapão.
–É um truque que eu aprendi com uns bruxos da Grécia – falou Hermione. – se isso não funcionar...
Ela então desenhou doze runas em forma de círculo no alçapão. Quando terminou, apontou a varinha para o centro do círculo e começou a sussurrar palavras indistinguíveis para Harry e Percy.
A medida que ela ia sussurrando no entanto, as runas de barro começaram a emitir um intenso brilho azulado e o alçapão começou a tremer violentamente. Uma lufada de vento começou a girar em torno deles e Harry puxou Percy para trás no instante em que o ferrolho simplesmente explodia e as duas pesadas portas de madeira se abriram pro lado com um estrondo.
Percy olhou assombrado para aquilo, mas Harry se levantou. Estava anotando mentalmente para depois se lembrar de agradecer Hermione pela volta ao mundo que ela insistira em fazer após o término da guerra.
Os três se aproximaram da porta escancarada e olharam para e escada que levava ao vazio escuro lá embaixo.
–Rony? – tentou Hermione.
Silêncio.
–Vamos descer – falou Harry. E puxando a varinha, iluminou-a ao mesmo tempo em que descia dois degraus – Ernesto e Justino vão acabar percebendo que conseguimos entrar e irão se encontrar com a gente lá embaixo.
Assim, os três começaram a descer a escada que levava ao porão. Suas varinhas acesas não ajudavam muito a vencer a escuridão e havia um cheiro de terra molhada e suor que incomodava suas narinas. Os degraus parecia serem feitos de terra batida como se tivessem sido escavados diretamente no solo. De vez em quando eles podiam ouvir o som de algo pingando, como se o local fosse apropriadamente enfeitiçado para reter umidade.
Eles viram uma réstia de luz vindo de uma entrada no canto quando eles chegaram ao final da escada. Ao dobrarem, se depararam com outra das salas mais estranhas que jamais veriam.
Não era nada parecida com os Arquivos Secretos do Ministério. Aquela era enorme e muito bem iluminada. Esta era escura possuía um teto baixo, e não parecia ser muito grande, embora eles não pudessem dizer ao certo. A fraca iluminação vinha de lâmpadas esféricas que pairavam sobre mesas com as mais diferentes plantas que eles jamais viram. Algumas Harry jamais vira mesmo em Hogwarts. O lugar parecia uma bizarra espécie de estufa subterrânea. Era difícil dizer o tamanho da sala, pois a iluminação não era forte o suficiente para iluminar as paredes do porão.
–Hermione, você conhece alguma dessas plantas? – perguntou Harry.
–Infelizmente sim... – disse Hermione, um fio de tristeza na voz. – consigo reconhecer algumas pelas ilustrações dos livros de Neville... Esta que você está vendo é capsicum... aquela outra mais adiante é crataegus. São os ingredientes usados na criação da poção...
–Então parece que encontramos o laboratório clandestino de Grid...
–Aparentemente, sim... – respondeu Hermione.
–O que é isso? – perguntou Percy, de repente. Ele estava em um dos cantos mais escuros do cômodo.
Encima de uma mesa, havia uma estranha máquina com vários tubos, engrenagens e um cano de escape que mais parecia um chuveiro numa das pontas. Encima dele, uma espécie de cata-vento girava sem parar. Era um mecanismo, muito estranho. Para Harry, pareceu uma espécie de misto de motor de automóvel com máquina de milk-shake trouxa.
–Eu nunca vi isso antes – falou Harry.
–Eu sei o que é – disse Hermione, um ar de preocupação em sua voz – é um Inalador.
–Um o que? – perguntou Harry.
–Inalador – respondeu Hermione, ela agora olhava ansiosa para vários frascos aparentemente vazios ao lado da máquina – Tecnologia bruxa recente... e clandestina. O Ministério não está muito disposto a autorizar...
–Porque? – perguntou Harry.
–Em teoria essa máquina muda o estado físico de qualquer poção sem alterar seu poder mágico. Ela faz a poção mudar do estado líquido para o estado gasoso, entende. Em vez de ser uma bebida mágica... vira uma espécie de, perfume mágico... mas com todos os efeitos naturais da poção original.
Harry e Hermione se entreolharam. Será que ela estava dizendo aquilo que ela achava que ela estava dizendo?
–Você entende o perigo não é Harry? – disse Hermione – se você quiser que alguém beba uma poção terá que fazer de forma que ela não perceba o que está fazendo ou a força... agora, se a poção estiver na forma de gás, ela aumenta seu perigo exponencialmente. Ele poderá enfeitiçar centenas de pessoas ao mesmo tempo, sem precisar enganar ou forçar ninguém, elas só precisam respirar...
Harry olhou de volta para os frascos que antes pareciam estar vazios. Agora, ele pode constatar a luz da varinha, que havia um leve gás de um tom verde-claro, quase invisível, pairando nos vidros.
–Isso tudo é muito preocupante, concordo – falou Percy – mas não devíamos estar procurando alguém? Estamos nos distraindo!
–Sim, você tem razão! – disse Hermione depressa como se despertando de um transe. – Rony! Rony!
Eles começaram a andar entre os tabuleiros de plantas do porão, procurando por alguém amarrado ou estuporado, mas a escuridão da sala não ajudava muito. Harry já estava começando a duvidar da eficácia do feitiço de Hermione, quando Percy soltou um grito.
Harry e Hermione se voltaram para o ruivo e correram depressa para ele. Percy apontava o facho de luz da varinha para o canto da parede mais afastado da entrada. A cena era, de longe, a mais macabra que ele vira naquele dia.
Havia um cadáver amarrado e flutuando de cabeça para baixo como se estivesse pendurado de cabeça para baixo. Estava sujo de terra, com roupas velhas e cabelos desgrenhados, a boca pendia aberta num terrível esgar de terror. Fedia, mas não era o fedor de putrefação e sim o de suor, o cheiro de alguém que passara os últimos dias de vida confinado num mesmo cubículo sem poder sair.
Quando Harry, Hermione e Percy reconheceram a pessoa, ficaram chocados.
Não era Rony, porém...
–Mas esta é... – começou Hermione.
–Sim, é ela... – falou Harry, aterrorizado.
Definitivamente, aquilo parecia que iria muito mais longe do que eles pensaram a princípio.
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