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Mediu os passos até ela e suspirou em silêncio. Procurava ser cauteloso, tateando através de um medo incompreensível que obscurecia as coisas. O irônico é que eles eram próximos o suficiente para contar qualquer coisa um para o outro. E, mesmo querendo deixar as palavras fluírem livremente, Harry desconfiava que não era o jeito certo. O certo é sempre o mais difícil.

Era uma guerra diferente a ser travada. O presente eram momentos negros de tristeza, e como afastar isso para dizer o que ele tinha para dizer? Harry não sabia, mas compreendia que, ao contrário dela, não encontraria as respostas em páginas gastas, nem tão pouco lidava com um mistério tautológico.

Então ele apenas sentou ao seu lado, apenas abraçou-a para abrasar o frio, apenas afagou seus cabelos castanhos – era o que normalmente fazia e era o certo. Os pensamentos dela iam muito além de Harry, seus olhos revelavam isso. Ali a noite era mais funda e eles também achavam mais escuridão em si mesmos.

Hermione apertou a mão dele por instinto, como se pedisse ajuda para conter as lágrimas. Ele apertou-a também, e suas bochechas se tocaram, mais do que casualmente.

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E se eles pudessem se esquecer de tudo e fugir dali? deixar os outros, todos, para trás? e se não pudessem mas fossem mesmo assim?

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Harry se levantou de súbito e trouxe Hermione consigo. O rádio velho ainda respirava alguma música, e eles se puseram a dançar ao som de breves ilusões.

Balançavam de um lado a outro, enquanto Hermione admirava a cor dos olhos de Harry e pensava que seus filhos poderiam ter aqueles mesmos olhos; e um dia ela lhes contaria com orgulho como seu pai foi um herói maior do que todos no mundo bruxo. Harry também sabia que se eles se casassem, nunca brigariam, porque no fundo eles estavam sempre de acordo. Todas as noites que passassem juntos haveria música e dança. Haveria mãos entrelaçadas e abraços calorosos; haveria sorrisos e nada de choro – era mais que uma promessa.

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Sem aviso, o rádio silencia e eles param.

Afinal estavam fadados a isso: ser um instante de harmonia onde reina a tempestade. Insistir nesta contradição era tentar incluir uma história íntima num livro externo e indiferente, que não daria atenção às sutilezas. A possibilidade de serem felizes juntos assustava, mas eles sabem ser necessário crer nela: era uma ponta de esperança que preenchia o frio intervalo entre seus corações, era a única coisa que permitia que sobrevivessem à angústia.

Ela se afasta de Harry e volta a se sentar na mesma posição resignada de antes.

Dizer que eles não foram feitos um para o outro era fácil, mas era mergulhar numa mentira. Hermione sabe disso, ela só duvidava que perfeição possa mesmo acontecer em sua vida.

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((Harry só tentava fazê-la entender que seus sonhos cabiam na realidade tão perfeitamente quanto Hermione cabia em seus braços.))


N/A: Postando em época de Natal porque eu gosto de ser o Grinch.