Hi, pessoas.

Bem, estou me aventurando a postar minha primeira fanfic aqui no site. Espero receber boas críticas. q

Essa história também vai ser postada do Nyah, então vocês podem escolher por onde querem acompanhar. É minha primeira SessRin (surtei pelo ship e resolvi aproveitar a inspiração), e a melhor coisa que já escrevi até hoje, penso eu.

Ok, chega de mimimi.

Enjoy. :*


Kakera

Uma história para aqueles que foram esquecidos


Prólogo

"Ela é tão pequena, mas ela é tudo."

Ia acontecer outra vez.

Ela soube assim que dobrou a esquina e deu de cara com os dois homens — homens ou apenas garotos altos? — escorados na parede. Quase esbarrara neles, vinha num passo acelerado por conta da chuva que começara a cair. Mas que diferença faria se eles a tivessem pegado um minuto antes ou depois? Seria tudo igual, e ela sentiu o corpo encolhendo e enrijecendo sob a lembrança da dor, do nojo, das marcas que sempre ficavam depois que aquilo acabava. Do ódio, a única marca que não desaparecia com as manchas roxas depois de uma ou duas semanas.

Aquele ódio que nunca a deixaria. Nunca.

Baixou o rosto e passou por eles — tarde demais. Tinha visto aquele brilho imundo nos olhos deles, aquele brilho perverso e doentio de que se lembrava tão bem. Porque os olhos deles eram sempre os mesmos, de todos eles que a haviam machucado e maculado com a sujeira de seus próprios corpos. E quando começou a correr, em vão, pela ruela úmida e escura, ela soube como ia acabar.

Mais uma vez.

Não gritou quando eles a alcançaram e a jogaram no chão. Não tentou se defender quando a esbofetearam no rosto e riram dela. Não pensou em fugir quando eles a agarraram com aquelas mãos nojentas e ossudas e colocaram o peso de seus corpos famintos sobre o dela, pequeno e fraco. Não chorou nem mesmo quando rasgaram-lhe o vestido puído e violentaram-na como animais caindo sobre a presa. Desprezou a dor invadindo-a entre as pernas, o gosto metálico do sangue escorrendo do lábio partido, os gemidos e risadas de seus malfeitores.

O tempo de lutar havia passado.

O de ter esperanças também.

Rin apenas manteve os olhos fechados e odiou com todo o coração. Odiou aquele dia, aquele lugar, aqueles garotos — sim, agora ela percebia como eram jovens, quatro ou cinco anos mais velhos, apenas. Odiou o diretor do orfanato onde passara treze de seus quinze anos, aquele velho pérfido que a tocara pela primeira vez quando ainda era uma criança. Odiou a mãe que a colocou naquele mundo sujo e o pai que nunca conheceu. Odiou-se, finalmente.

Odiou-se por ser fraca, mulher e humana. Odiou-se por estar viva, por precisar suportar tudo aquilo sozinha. E por quê? Quando tudo o que mais queria era que eles acabassem logo e fossem embora, Deus a abandonara, e por isso também odiou aquele Deus.

Porquê?

A chuva agora caía pesada sobre ela. Estava gelada, exausta, acabada. Ia pedir que eles a matassem logo, que lhe dessem um fim. Chegou a mover os lábios, o gosto do próprio sangue na língua outra vez, mas parou ao som de uma pancada e de um gemido de dor. Sentiu que o garoto se retirava de dentro dela — o alívio veio num suspiro que Rin não conseguiu segurar — e então abriu os olhos.

E o viu.

E soube que estava salva.

Primeiro, ele era só um borrão branco se movendo no escuro da noite e debaixo da chuva. Uma presença indistinta delatada pela pouca claridade dos postes de luz do outro lado da rua e pelos sons abafados que enchiam a ruela enquanto ele batia nos garotos. Então, houve um estalo de osso quebrado seguido por um urro de dor e desespero.

Rin sabia que devia sentir medo, mas não sentiu.

— Ora, seu filho da mãe... — ela reconheceu a voz de um de seus agressores.

E foi a última vez que a ouviu.

Durante um tempo que a ela pareceu longo, muito longo, ninguém falou. Ouvia apenas os sons apagados dos socos, dos chutes, cada vez mais pesados, e a chuva que caía torrencialmente. Não conseguia se mover, as pernas não lhe obedeciam e os braços não tinham força. Tentou mexer os dedos e cobrir com o que sobrara do vestido um seio exposto, mas eles estavam tão duros e gelados que toda a sensibilidade se fora.

Só então Rin percebeu aquela sombra ao seu lado. E quando moveu o rosto para olhá-lo nos olhos, encontrou-o tão perto que achou que ele poderia escutar as batidas de seu coração. Quem quer que fosse, estava ali: agachado, os braços sobre os joelhos, olhando-a sem qualquer expressão naquele rosto pálido e incrivelmente bonito.

E estava sujo de sangue.

Ela enrijeceu automaticamente quando ele aproximou a mão — aquela mão grande e manchada de vermelho — de seu peito. Teria repelido-o se o corpo inteiro não estivesse tremendo tanto, mas percebeu o que ele queria fazer e encarou-o surpresa. Encolhida e enregelada, ela assistiu o estranho cobrir-lhe o seio com um pedaço do vestido rasgado.

Então, pela primeira vez, ele falou:

— Onde você mora? Vou te levar pra casa.

Ela limitou-se a negar com a cabeça. Os dentes batiam demais dentro da boca para que conseguisse falar, e estava certa de que ele entenderia: Rin não tinha casa alguma para a qual pudesse voltar. Ficaria ali abraçada ao próprio corpo como um filhote molhado até juntar forças para se arrastar para qualquer lugar, como vinha fazendo nos últimos dois anos, vagando de cidade em cidade, roubando o que comer para não morrer de fome. Ele iria embora, e ela voltaria ao esquecimento.

Mas não foi assim.

— Que seja. — ele disse, e a tirou do chão.

Rin ficou olhando-o perplexa enquanto saíam da ruela imunda; ela encolhida nos braços dele, acuada, agarrada à camiseta preta e encharcada que ele vestia; ele caminhando naturalmente, o rosto inexpressivo, carregando-a como se ela fosse uma pena, seus coturnos cheios de água fazendo barulho na calçada molhada.

E ela nem sabia o nome dele.

"Ela é tudo pra mim."


Obs: as frases entre aspas no início e fim de cada capítulo são pensamentos do Sesshoumaru.