Lembro-me da primeira vez que eu o vi.

- Grifinória! – gritara o velho chapéu seletor para o menino nem um pouco assustado sentado no banquinho. Ele respirou aliviado depois da decisão proclamada. E quando correu em direção a Casa escolhida, grande parte do Salão Principal bradou entusiasmada.

Eu já ouvira falar da família dele. Era famosa e altamente defensora de puros-sangues (termo que eu já conhecia muito antes de adentrar a Hogwarts). Estranhei por ele ter entrado na Grifinória. Talvez o chapéu já estava velho demais para a função.

Despertei quando ouvi o meu nome. E obviamente a professora precisou me chamar outra vez.

- Charlotte Hans. – repetiu a professora a frente.

Ergui o meu braço. Fui em direção ao temido (e provavelmente caduco) chapéu. Não estava com medo de encará-lo. Apenas receio de ser escolhida para a mesma casa que o menino anterior. E antes que eu pudesse assimilar qualquer pensamento, ouvi a voz gritar:

- Sonserina!

Sorri confiante. Talvez o chapéu não estava tão caduco como pensava.

Larguei o jornal sobre a cama. Meus pensamentos embaralhados, presente e passado separados por um frágil fio tênue. Não percebi que havia prendido minha respiração com força. O ar havia sumido. Deitei na cama. A cor roxa, viva, do lençol me fez lembrar dele novamente.

- Seu imbecil. Você deve usar Belladona e não Arnica. Não percebe que está fazendo tudo errado? – falei furiosa.

E ele respondeu, igualmente irritado:

- Eu tenho absoluta certeza de que é Arnica. A idiota aqui é você. – ele jogou grosseiramente o pequeno pedaço da erva no caldeirão.

Estávamos cumprindo nossa primeira detenção juntos. Ele havia gritado comigo durante a aula e eu, obviamente, gritado mais alto ainda. Assim o professor nos deu duas horas para que preparássemos a poção do sono (Tempo suficiente para que, segundo o educador, nos tornásssemos bons amigos. Otimismo inocente, é claro). E depois da imprudência de jogar Arnica no caldeirão, não demorou para que a mistura ficasse roxa como uma ameixa. Porém no livro, o verde era explícito.

Pouco tempo depois, ele e aqueles seus amigos idiotas me pregaram a primeira peça.

- Meu cabelo! Meu cabelo! – eu gritava aterrorizada diante do espelho do dormitório feminino. E as minhas amigas, igualmente em choque, não reagiam diante da cena. Meu cabelo, antes negro como a noite, agora estava verde como a grama. Procurei desesperada por respostas, até que vi um pedaço de pergaminho perto do shampoo que eu usada.

Para combinar com a cor da sua Casa. Huum..Preciso assinar aqui?

- Eu.. eu... eu vou matá-lo. Eu vou matááááá-lo! – berrei como se fosse o ato mais importante da minha vida.

O mais estranho é que aos poucos (bom, quase décadas) nos tornamos amigos. Ou talvez fora uma forma de selarmos uma "paz" provisória. Afinal, ambos já estavam cansados de passar grande parte do ano em salas de detenções.

Lembrei de quando ele me contou um dos seus maiores segredos.

- O quê? Mesmo? Animago? – perguntei incrêdula para ele que estava largado na grama. Estávamos apenas nós dois em um dos encatadores jardins da Escola, perto do lago.

- Eu não acredito. - continuei - Desculpe. Você não é tão inteligente para fazer um feitiço dessa grandeza.

- É para me sentir ofendido? – ele perguntou sorrindo. – Não se esforce, você não vai conseguir.

E como um raio que passa em segundos, outras lembranças me vieram a mente:

- Ela não vai. – disse irritado o garoto de óculos na minha frente.

- Pare Tiago. Ela é minha amiga. Nossa amiga. – respondeu o amigo.

Estávamos perto da Floresta Proibida. Era lua cheia. Um dos amigos dele, Remo Lupin, estava prestes a se transformar. Por voto, os amigos tinham decidido que eu era de confiança e merecia estar com eles naquele momento. Claro que recebi um voto contrário. Tiago me encarou... eu o encarei. Fechei o punho, segurei com força minha varinha. Esse verme inútil iria saber com quem estava lidando.

- Ei. Pare. Vocês dois. – senti alguém me puxando. - Você precisa dar uma chance a ela. Por favor Tiago. Por mim.

- Ela é uma sonserina. Será que ninguém consegue enxergar a gravidade da situação? – Tiago perguntou.

- Ela já é da turma Tiago. Precisa se acostumar com isso. – disse Remo que já suava, dando leves sinais de sua transformação – Agora vamos, não temos muito tempo.

- Ela não é animago. Como vamos protegê-la do lobo violento? – perguntou Tiago

- Eu ouvi Tiago. – respondeu Remo enquanto todos caminhavam para a casa dos gritos.

- Eu posso me proteger sozinha. – eu falei.

- Eu cuido dela. – interferiu o outro amigo, o meu amigo - Deixem comigo.

E de repente senti ele pegando na minha mão. E um sentimento inesperado, diferente, sabe-se lá o que era, nasceu em mim. Mas era bom, confortante. Eu gostei.

Me levantei da cama. As lembranças me perseguindo. Doiam tanto. Uma dor inimaginável e tão forte que me senti extremamente cansada. Fui em direção ao banheiro. Abri a torneira da pia, enchi minhas mãos da água corrente e joguei no meu rosto. Vi minha imagem no espelho... e de repente a dele.

- Eu não acredito que você fez isso. – ele estava furioso.

- Acalme-se – eu disse tentando manter o controle.

- Contou isso para alguém Charlotte? – ele puxou meu braço com força, exibindo a figura por sobre minha pele: um crênio com uma cobra saindo pela boca.

- Contou isso para alguem? – ele repetiu, agora mais furioso do que nunca. Estávamos tão próximos que senti seu hálito no meu rosto.

- Não, não contei. – respondi meio sem graça por ele estar tão próximo de mim daquela forma. Senti meu coração acelerar e estranhamente minhas pernas perderem o equilibrio. Ele havia soltado um feitiço em mim. Era a explicação cabível.

Ele me encarou e apertou ainda mais o meu braço. A Marca Negra estampada na minha pele reagiu. Senti uma dor latente.

- Acalme-se... eu posso explicar... – comecei a dizer.

Ele negou com a cabeça, visivelmente triste. Seu olhar não era de ódio, mas de puro medo e preocupação.

- O que você fez com a sua vida Char?

Um forte e gélido vento vindo da janela aberta, adentrou no meu quarto. Me fez despertar das minhas lembranças e voltar ao presente. Do espelho vi o jornal que anteriormente eu estava lendo, lançado ao chão. A notícia da primeira página estava vívida em mim.

Em um confronto direto com Comensais da Morte, Sirius Black, ex-prisioneiro de Azkaban, faleceu na noite de ontem no Departamento de Mistérios. O local fora invadido por comensais e outros bruxos. Nenhuma identidade fora revelada. Segundo declaração do Ministro Cornélio Fudge, Black foi inocentado de todas as acusações e considerado inocente dos crimes cometidos na vila de Godric's Hollow. Lamentamos a morte do bruxo e em nome de toda sociedade, pedidos nossas sinceras desculpas. Descanse em paz, Sirius Black.

Pensei não existir sentimento mais forte do que o amor. E conheci o amor conhecendo... ele. Mas eu estava enganada. O amor não era nada diante daquilo que eu sentia naquele momento. Olhei para o meu braço direito, ali no banheiro. A marca Negra latejando. E um sentimento mais forte e mais poderoso do que qualquer outra coisa que eu já havia sentido, brotou em mim: a vingança.

- Você vai pagar. Vai pagar pela morte dele... seu Bastardo.


N/A: entaoooo gente.. rsrsrs Sempre (e sempre) quis criar uma personagem que pudesse ter vivido momentos intensos com o Sirius. E queria particularmente uma menina... alguém que ele começasse a gostar e se afeiçoar. (Desculpem, mas não gosto muito da Lene/Sirius. Acho que teria sido muito, mas muito interessante vê-lo com uma Sonserina). Espero que gostem. É a primeira vez que crio uma personagem só minha. E sinceramente, ela me reflete um pouco.

Um bjo pra toda minha família Harry Potter (Bjo Soph Malfoy, Bruuu, Lys, Erika Black, Maíza! Adoro vocês)