XII – Epílogo
O quarto estava levemente escuro quando Alaudi acordou. Seus olhos se abriram preguiçosos e ele afundou-se um pouco mais no macio colchão. A única parte visível era seu rosto, pois o restante de seu corpo estava muito bem acomodado embaixo de várias camadas de cobertores. O inverno estava no auge e apesar de saber que as janelas estavam fechadas e a lareira acessa o frio era facilmente sentido.
O Guardião da Nuvem virou-se na cama, não ficando surpreso ao ver que era o único presente naquele local. No lugar em que seu amante deveria estar só existia o vazio. Uma das mãos do louro tocou o travesseiro, sentindo o tecido gelado. Ele acordou há algum tempo, o Inspetor de polícia pensou ao puxar o travesseiro, abraçando-o forte; e embora não estando ali fisicamente, o cheiro de Ivan estava tão impregnado na roupa de cama que não foi difícil conseguir uma reação de Alaudi. Sua ereção matutina pulsou dentro de sua calça e ele se arrastou para fora da cama, seguindo na direção do banheiro. Seu pijama era feito de uma fina flanela e mesmo assim foi difícil se desvencilhar daquela proteção, mas seu desejo e senso de privacidade foram mais fortes. O louro entrou no box do largo e luxuoso banheiro do moreno, abrindo o chuveiro e levando a mão ao seu membro praticamente no mesmo instante. O gemido que deixou seus lábios o teria deixado envergonhado se pudesse ser ouvido por qualquer outra pessoa, mas o Guardião da Nuvem sabia melhor do que ninguém que seu amante adorava quando ele reagia às investidas.
O pensamento no Chefe dos Cavallone só pareceu aumentar o desejo do Inspetor de polícia. Sua mão movia-se rapidamente por sua ereção, mas somente aquele estímulo não seria suficiente, ele sabia. Desde que começou a dormir com Ivan, Alaudi notou que estava cada vez mais difícil encontrar alívio sozinho. Ele conseguiria chegar ao orgasmo se os lábios ou as mãos do moreno estivessem em seu membro, mas quando o louro fazia o serviço, a sensação era outra. O Guardião da Nuvem passou os olhos opacos de desejo pela infinidade de produtos que o Chefe dos Cavallone mantinha naquela área. A região era mais alta e tudo estava enfileirado e bem organizado. A mão livre do Inspetor afastou sem nenhuma delicadeza o vidro de shampoo americano e um produto grego para a pele até finalmente achar o que procurava. Aquilo havia chegado há alguns dias direto do Oriente. O frasco era pequenino e era a única coisa que conseguia ser a prova d'água. Ivan havia testado em seu amante assim que o produto chegou, e Alaudi corou ainda mais ao lembrar-se das sensações incríveis que aquilo o fez sentir.
O líquido cheirava a flores e foi colocado com pressa em sua mão. Seus pés o trouxeram até o azulejo e ele encostou a testa naquele frio apoio. Sua mão desceu sensualmente por seu quadril, encontrando sua entrada e a penetrando devagar. A dor foi omitida pela sensação que sua outra mão lhe proporcionava, aumentando o ritmo e masturbando seu membro com pressa. O louro gemeu quando seu dedo voltou a penetrá-lo, e após alguns segundos um novo dedo foi fazer companhia ao primeiro e a sensação que o Guardião da Nuvem tanto queria apareceu. Os gemidos não soaram altos, mas seus olhos estiveram fechados durante o tempo todo, permitindo que suas fantasias pudessem envolvê-lo, tornando tudo infinitamente mais prazeroso. Buscar prazer era inerente ao ser humano, mas receber prazer da única pessoa que fazia seu corpo queimar de desejo era algo completamente diferente. Naquele pequeno box de vidro não eram os dedos de Alaudi que o faziam gemer de contentamento, mas sim a ereção de Ivan o penetrando com tanta força que o fazia ficar na ponta dos pés toda vez que o recebia.
Os lábios do moreno narravam o que ele fazia, e o louro gemeu mais alto quando o Chefe dos Cavallone disse que a sensação de estar dentro dele era a melhor coisa do mundo. Uma das mãos de Ivan o masturbava com vigor, e quando as estocadas tocaram seu ponto especial, a voz do Guardião da Nuvem tornou-se mais alta. O clímax chegou após alguns minutos e ele não percebeu que havia chamado o nome de seu amante. Os olhos azuis permaneceram fechados até o corpo do Inspetor de polícia se acalmar. O banheiro surgiu lentamente e Alaudi deu um passo para trás, fechando os olhos e erguendo a cabeça, sentindo o beijo da água quente em suas bochechas. Eu o quero... o verdadeiro Ivan...
O banho e a atividade matinal serviram para despertar um pouco mais o louro. Semi-acordado e vestido com um grosso casaco ele deixou o quarto e ganhou o corredor. Duas empregadas desejaram tímidos "bom dia" ao vê-lo e o Guardião da Nuvem aproveitou a oportunidade para indagar sobre o Chefe da casa e o pequeno.
"O Chefe está no escritório," uma das moças respondeu. Seus cabelos louros estavam presos meticulosamente em um coque. "O jovem Chefe ainda dorme."
O Inspetor de polícia agradeceu e desceu para o primeiro andar. Havia cerca de doze subordinados no hall e todos lhe cumprimentaram. O caminho até a sala de jantar foi feito com passos lentos. Uma das empregadas que arrumava a mesa perguntou se Alaudi gostaria de algo diferente para o café da manhã, mas ele apenas meneou a cabeça em negativo e disse que ficaria satisfeito com apenas uma xícara de café e algumas torradas com mel.
O Guardião da Nuvem não teve companhia enquanto degustava seu café da manhã, com exceção dos empregados que sempre assistiam aos moradores da casa durante as refeições. O Inspetor agradeceu antes de sair da sala de jantar, seguindo novamente para o segundo andar. Seus olhos azuis lançaram um rápido olhar na direção do escritório, mas nenhum desejo de se aproximar daquele cômodo o possuiu. Alaudi retornou para o quarto e sentou-se em uma das poltronas. A cama havia sido arrumada pelos empregados, as cortinas abertas e o fogo da lareira parecia mais forte. O livro que o louro havia folheado na noite anterior ainda estava sobre a poltrona, e ele se acomodou melhor antes de retornar à leitura.
Aquela seria outra manhã solitária.
Boa parte da manhã passou sem que o Guardião da Nuvem recebesse qualquer visita. Francesco apareceu quando o relógio marcava pouco mais de dez horas, entrando no quarto e correndo até onde o Inspetor de polícia estava. O garoto de cabelos castanhos vestia um reforçado conjunto azul escuro, e segundos depois de sua entrada Giuseppe surgiu à porta segurando um cachecol xadrez e um par de luvas escuras.
"Eu disse que não estou com tanto frio."
"Você precisa se agasalhar, jovem Chefe." O braço direito permaneceu no mesmo lugar. Ele nunca entrava no quarto do dono da casa sem ser convidado.
"Mas eu estou bem!" Francesco se virou para o Guardião da Nuvem. "Diga a ele que estou bem, Alaudi."
Alaudi olhou para Giuseppe, mas não ousou dizer uma palavra. O garoto parecia realmente protegido, mas se conhecia bem o filho de Ivan, ele provavelmente inventaria de brincar na neve e ai ninguém conseguiria fazer com que ele vestisse roupas mais quentes.
"Você planeja brincar lá fora?" A voz do louro saiu séria.
"Talvez..." O garoto pensou por um momento. "Mais tarde..."
"Então coloque o cachecol."
Francesco entreabriu os lábios para falar, mas tudo o que fez foi suspirar. O futuro Chefe dos Cavallone caminhou até a porta e permitiu que Giuseppe passasse o cachecol por seu pescoço. O rapaz com a longa trança loura ajoelhou-se e, mesmo sob os protestos do pequeno, acabou colocando também as luvas em seu Chefe.
"Agora eu quero brincar na neve, Peppe." O garoto de cabelos castanhos tinha um perverso sorriso nos lábios. O seu brincar significava uma guerra de bolas de neve. "Quer brincar conosco, Alaudi?"
O convite foi feito com olhos brilhantes e cheios de expectativas. O Guardião da Nuvem agradeceu, mas disse que continuaria a ler. O herdeiro dos Cavallone sorriu com um pouco de relutância, segurando a mão de seu braço direito antes de sair. Giuseppe fez uma polida reverência e fechou a porta. O Inspetor, entretanto, não continuou a ler. Na verdade, ele passou todo aquele tempo sentado e encarando as páginas, mas com a cabeça em outro lugar... em outro cômodo...
Havia algo acontecendo entre ele e Ivan. Aquela realização o acertou há três dias, e naquele sábado ele tinha praticamente certeza de que alguma coisa grande aconteceu ou estava para acontecer. O moreno não era uma pessoa reclusa e distante. Os dois estavam juntos há quase três meses e se Alaudi poderia ter alguma certeza sobre a vida era que Ivan era louco por ele. Porém, nada, absolutamente nada explicaria a distância que havia se formado entre eles. O Chefe dos Cavallone esteve praticamente em seu escritório nos últimos dias, juntando-se ao louro somente nas refeições. Hoje nem nas refeições. Entretanto, a pior parte era definitivamente à noite. Nos últimos dias o moreno não ousou tocá-lo. Os dois dividiram a mesma cama, mas existia uma parede que o louro não conseguia transpor.
A princípio o Guardião da Nuvem pensou em perguntar. Ele poderia questionar o que estava acontecendo, pegando como oportunidade uma das raras conversas que eles tinham ultimamente. A teoria, claro, era sempre mais agradável do que a prática. O Inspetor de polícia não conseguiu perguntar. O clima entre eles era tão pesado que Ivan pareceu querer deixar a sala de jantar o quanto antes. Até mesmo Francesco notou que havia algo diferente. O garoto perguntou no jantar da noite anterior porque seu pai havia "comido tão rápido." O Chefe dos Cavallone corou e apenas respondeu que era trabalho. Alaudi obteve uma parcela de certeza naquele instante. Ele havia visto a agenda de Ivan na semana anterior. Não havia trabalho.
O louro levantou-se e caminhou até o guarda-roupa. Seu sobretudo estava pendurado em um dos cabides, e ele o vestiu sem pressa. Os botões foram fechados devagar, o cachecol branco passou por seu pescoço e ele enfiou as mãos dentro dos bolsos, retirando seu par de luvas. O céu estava nublado do lado de fora da janela, e mesmo sem olhar diretamente para o jardim, o Guardião da Nuvem sabia que a paisagem era praticamente branca.
O Inspetor deixou o quarto decidido a ir embora. Ele não sabia o que estava acontecendo e não ficaria ali para passar mais um dia sozinho em uma grande casa, enquanto o moreno o negligenciava sem oferecer nenhuma explicação. Aquela estava sendo uma semana atarefada, e ele se locomoveu de Roma até a mansão porque era o que ele fazia aos fins de semana. Sua ideia para aqueles dias não envolvia aquele nível de solidão. Eu me sentirei mais bem acompanhado longe daqui.
Os passos de Alaudi eram abafados pelo tapete que forrava o corredor do segundo andar e a longa escadaria. Sua mão esteve no corrimão de mármore o tempo todo, e ao chegar a um determinado degrau, seus dedos apertaram o apoio e o louro sentiu o barulho surdo que seus dentes fizeram quando se encostaram.
Mário cruzava o hall e a visão do braço direito foi suficiente para piorar totalmente o humor do Guardião da Nuvem. Era impossível olhar para o ruivo e não se recordar do dia em que ele precisou levar pessoalmente um relatório para Giulio, mas para sua surpresa, quem atendeu a porta foi Mário. Aquela imagem jamais sairia da mente do Inspetor de polícia: o braço direito estava seminu e totalmente descomposto. A noção do que ele estava fazendo na casa de seu amigo foi suficiente para roubar o chão de Alaudi. Sua mente repetiu várias vezes que aquilo era somente um mal-entendido, mas quem ele queria enganar? No dia seguinte o louro ouviu a verdade dos lábios do Vice-Inspetor: eles estavam juntos e Giulio apaixonado. Por quê? O Guardião da Nuvem se perguntou tantas vezes que já soava ridículo. De todas as pessoas no mundo, por que aquele homem?
Lembrar-se daquele assunto automaticamente fez a mente do Guardião da Nuvem voltar algumas semanas em sua memória. Após deixar a casa de Giulio, e depois de ser insultado de todas as maneiras possíveis, o Inspetor seguiu direto para a mansão dos Cavallone. Nunca aquele percurso tão conhecido foi feito em tão pouco tempo. A porta de seu carro foi aberta ao parar próximo ao chafariz e Alaudi entrou na mansão, perguntando onde estaria o dono da casa. Os passos que o levaram até o quarto de seu amante foram firmes e rápidos. Sua cortesia desapareceu naquele momento e o louro abriu a porta do cômodo sem se quer bater na porta. Ivan, que estava calmamente em sua mesa, ergueu os olhos surpreso e sorriu inocente quando viu quem era sua visita.
"Oh! Alaudi, é tão bom vê–"
"Por quanto tempo essa palhaçada está acontecendo?"
A voz do Guardião da Nuvem soou como um trovão em uma tempestade. O moreno levantou-se no mesmo instante, indo até seu descomposto amante com uma expressão extremamente preocupada. Naquele momento o Inspetor de polícia achou que o Chefe dos Cavallone estivesse fingindo ignorância, mas ao ver naqueles olhos cor de mel que ele até aquele momento não sabia mesmo sobre a situação, Alaudi abriu os botões do sobretudo e começou a andar de um lado para o outro. Ele não era dado a ataques de raiva. O louro poderia afirmar com certeza que era uma pessoa paciente, mas aquilo havia esgotado a calma que ele possuía. Não. Não aquele homem. Deve haver algum engano. Seus lábios relataram minuciosamente o que havia acontecido na soleira da casa de Giulio, mas antes que pudesse terminar a risada de Ivan ecoou por todo o cômodo.
"Mas essa notícia é excelente!" O moreno tinha o rosto corado e um sincero sorriso nos lábios. "Eu não acredito que eles finalmente conversaram. Há dias eu estou curioso para saber o que estava acontecendo. Mário andava estranhamente animado, e eu deduzi que fosse algo relacionado ao seu amigo, mas agora que tenho certeza eu me sinto mais tranquilo."
"Tranquilo?" A expressão no rosto do Guardião da Nuvem era de total despeito. "O que está acontecendo é inadmissível. Alguma providência precisa ser tomada."
O Inspetor de polícia sabia que seu rosto estava vermelho e que ele parecia totalmente fora de seu corpo. O Chefe dos Cavallone apenas riu novamente, afirmando que o ruivo merecia aquela tão esperada felicidade e prometeu a Alaudi que seu amigo faria o Vice-Inspetor feliz. O louro obviamente não acreditou em nada disso e por mais que tentasse argumentar, Ivan simplesmente não ouvia. Uma briga naquele momento seria inevitável, mas o Guardião da Nuvem viu suas forças desaparecerem quando o moreno o abraçou de repente e disse que sentiu saudades e que estava feliz por aquela surpresa. Com o rosto afundado no peito daquele homem, sentindo seu cheiro e seus braços, o Inspetor acalmou-se aos poucos. Suas mãos demoraram algum tempo para retribuírem o abraço, mas assim que tocaram as costas de seu amante, Alaudi soube que o motivo que o levou até ali não foi necessariamente procurar uma maneira de afastar Mário de seu amigo. Ele conhecia Giulio melhor do que ninguém, e o moreno jamais teria deixado o ruivo entrar em sua vida se realmente não tivesse certeza. Isso era basicamente o porquê do louro se sentir tão sem poder naquele momento. O Guardião da Nuvem sabia que teria de aturar o braço direito dos Cavallone e não poderia fazer absolutamente nada. Sua ida ao quarto e aos braços de Ivan foi apenas para senti-lo mais perto depois de ter visto aquela grande decepção.
O Inspetor de polícia sabia que nunca gostaria daquele homem. Fosse no passado, no presente e no futuro. A pessoa em questão o olhou quando o viu descer, parando de andar e afastando aquelas lembranças. O Inspetor de polícia continuou com seus passos, disposto a passar reto, pois a aversão que sentia era tão grande que seu sangue chegava a ferver.
"Já vai embora?"
O braço direito de Ivan tinha uma voz naturalmente rouca. Alaudi na maioria das vezes não notava o timbre ou a maneira como ele falava, mas naquela manhã seu corpo tremeu ao perceber que aquelas palavras foram direcionadas a ele. O louro sentiu como se estivesse fazendo algo errado, e a ironia era que de todas as pessoas, o ruivo era a última que poderia saber qualquer coisa sobre certo e errado.
O Guardião da Nuvem ignorou a pergunta e continuou a andar. O hall não era forrado com tapetes, então os sons de seus sapatos tocando o piso de mármore apenas o lembravam que ele deixava a mansão.
"Não acha um pouco rude deixar a casa sem avisar ao dono?" A voz de Mário soou debochada.
Os passos do Inspetor pararam. Seu corpo virou-se um pouco, o suficiente para que ele pudesse encarar o braço direito. Mário não vestia a expressão sarcástica costumeira, e seu rosto estava sério. O homem estava enterrado em um sobretudo escuro e seu rosto levemente vermelho por causa do frio. Era penoso para Alaudi encará-lo, mesmo o ruivo não sendo um homem feio. Porém, a lembrança daquela pessoa atendendo a porta da casa de Giulio com aquela falta de roupas e aquele ar satisfeito surgiu em sua mente no mesmo instante.
"Você terá de perguntar se quiser saber o que está acontecendo." As palavras de Mário roubaram o fio de pensamento do Guardião da Nuvem. "Ivan não dirá nada enquanto não for pressionado."
Se o Inspetor de polícia tinha alguma dúvida de que o moreno realmente estava omitindo alguma coisa importante, o comentário que ele ouvira serviu como confirmação. Alaudi sabia que o braço direito jamais teria se prontificado a dizer alguma coisa útil e relevante para ele se não fosse sério. Ele sabe o que está acontecendo, mas não dirá. Ele quer que eu ouça da boca de Ivan. Aquele tentador convite mexeu com a determinação do louro. A ideia de ir embora de repente pareceu muito simples. O problema agora era a desconfiança. O que quer que ele esteja escondendo é sério o bastante para fazê-lo se afastar. Eu não sei se quero saber.
Mário desviou os olhos e continuou seu caminho, passando pelo Guardião da Nuvem e deixando a mansão. No único momento em que os dois homens se olharam, o ruivo lançou um de seus olhares irônicos acompanhados pelo meio sorriso de deboche, e a raiva do Inspetor retornou. Giulio, o que você está fazendo?
Com a confiança e a decisão abaladas, Alaudi se viu apertando as mãos vestidas com as luvas e precisando fazer uma escolha. Seus olhos azuis encararam o hall e seus pés se moveram para o lado. Dependendo da resposta que ele obtivesse de seu amante, o louro talvez não voltasse a pisar naquela casa.
O Guardião da Nuvem bateu três vezes na porta do escritório antes de abri-la. Não houve resposta da única pessoa presente no cômodo, então ele deduziu que poderia entrar. O dono da casa estava sentado em sua cadeira, mas ele não trabalhava. A cadeira estava levemente virada na direção da janela, e Ivan encarava o céu com a mesma expressão que vinha esboçando nos últimos dias: olhos brilhantes e esperançosos e um meio sorriso tímido. O Inspetor nunca temeu um sorriso como naquele momento. O gesto poderia significar tantas coisas que ele tinha receio de descobrir a verdade.
Somente seus passos não foram capazes de chamar a atenção do distraído Chefe dos Cavallone. Alaudi sabia que precisaria se mostrar presente, então deixou que sua voz saísse alta e clara. O moreno pareceu levar um susto ao ouvir seu nome ser chamado. Ivan virou-se e corou, pegando um dos livros que estava sobre a mesa e fingindo que estava apenas fazendo uma pausa da leitura. O louro manteve o olhar sério, mas havia uma parte dentro dele que gostaria de avisar ao homem sentado próximo à janela que o livro em suas mãos estava de cabeça para baixo. No fim o Guardião da Nuvem não disse nada. Ele estava ali por outras razões.
"O café da manhã estava ao seu gosto?" O moreno fechou o livro com displicência, completamente ignorante para o fato de ele estar ao contrário.
Se havia algo socialmente praticado que o Inspetor de polícia abominava eram conversas fáceis. Ele odiava aquelas mentiras e falsidades gratuitas, detestando intimamente aqueles que pareciam desafiar sua inteligência. Entretanto, naquele momento, ele não odiava o Chefe dos Cavallone, apenas não acreditava que seu amante estivesse utilizando aquela estratégia quando claramente alguma coisa não estava bem.
Alaudi não respondeu. Suas mãos foram para dentro do sobretudo e ele manteve a mesma expressão séria. Ivan passou a mão na nuca, aparentemente notando pela primeira vez que o homem parado no meio do escritório estava vestido de maneira muito formal para estar em casa. Sua expressão se tornou tensa e o louro se sentiu nervoso. Por três dias ele fingiu que nada estava acontecendo, mas não havia como retornar àquele estado de pura negação.
"Eu estou indo para casa," a voz do Guardião da Nuvem saiu séria, "vim apenas comunicar."
O moreno entreabriu os lábios e sorriu de maneira nervosa. Seus olhos estavam na direção de seu amante, mas eles não o encaravam diretamente.
"Achei que não tivesse trabalho neste fim de semana."
"Eu não tenho." Eu tenho, mas adiei para estar aqui.
"Então por que você vai embora?" A densidade do Chefe dos Cavallone fez o Inspetor apertar levemente os olhos.
"Por quanto tempo você manterá esta conversa sem propósito?" A paciência de Alaudi havia chegado ao fim. Se Ivan não queria falar sobre o que quer que estivesse acontecendo ele simplesmente iria embora. "Não ficarei nem mais um minuto nesta casa se você não for claro. Algo está acontecendo e se for para ficar sozinho eu posso facilmente fazer isso em minha casa."
O sorriso desapareceu dos lábios do moreno e ele se levantou praticamente no mesmo instante. Os ombros do Chefe dos Cavallone estavam levemente curvados e o louro apenas observou seu amante travar toda aquela luta interna. Ivan deu a volta na mesa e caminhou até um dos sofás, sentando-se devagar. Seus cotovelos foram apoiados aos joelhos e ele inclinou-se um pouco à frente. Quando aqueles belos e profundos olhos cor de mel lhe encararam, o Guardião da Nuvem se arrepiou.
"Eu não estou omitindo nada," o moreno juntou as mãos, "eu só precisava de um pouco de tempo para pensar na melhor maneira de falar com você sobre um assunto delicado."
O Inspetor de polícia não se moveu. Ele continuaria naquele lugar e naquela posição até saber de toda a verdade. O Chefe dos Cavallone passou a mão pela nuca antes de retornar para sua posição anterior. Seus olhos permaneceram sérios e nem se quer piscavam.
"Lembra-se que na semana passada eu precisei viajar a Veneza, pois me encontraria com um Chefe importante e que também era o irmão de Graziella?" Ivan só continuou após receber a confirmação por parte de seu amante. "Ele precisava me encontrar porque não sabe como lidar com uma situação inusitada que está acontecendo." O moreno mexia impacientemente a perna direita. "O marido de Graziella morreu no mês passado. Ele foi morto por uma Família local por causa de uma dívida antiga."
Alaudi sabia da viagem, mas como o Chefe dos Cavallone não comentou nada ele achou que aquela havia sido apenas mais uma viagem à trabalho.
"Ninguém estaria sabendo sobre a morte do homem se um de seus familiares não tivesse entrado em contato com o irmão de Graziella." Ivan passou pela terceira vez a mão na nuca. O que quer que estivesse deixando aquele homem tão nervoso o louro sabia que ouviria naquele instante. "Graziella teve uma criança com aquele homem, uma menina... a família do marido a deixou com os Vianello porque não tem condições de criá-la."
A expressão no rosto do Guardião da Nuvem se suavizou. Ele sabia o que viria em seguida, mas não entendia porque o moreno precisou omitir tal informação por tanto tempo.
"Por que não me disse antes? Se está com essa ideia há mais de uma semana não vejo motivos para saber somente agora."
"Eu não sabia como convencê-lo." O Chefe dos Cavallone corou. "Se você é contra a ideia eu tentarei convencê-lo, mas ainda não sei como..."
"Contra?" O Inspetor de polícia não compreendia. "Se você quer adotar a criança eu não sou fator determinante para isso. Você não precisa da minha opinião ou aprovação. A escolha é sua e não minha."
"Eu preciso," Ivan ficou sério e os olhos cor de mel pareceram ofendidos, "sua opinião é tão essencial quanto a minha. Você é a pessoa que escolhi compartilhar o resto da minha vida, e essa é uma decisão importante. Você é tão pai de Francesco quanto eu, Alaudi, e por mais que eu saiba que nosso filho ficará deliciado com o prospecto de ter uma irmã, eu não sei sua opinião sobre o assunto."
Alaudi calou-se. Naquele momento ele se sentiu injusto. Durante todos aqueles dias ele imaginou diversos cenários, mas nunca achou que no final o moreno estivesse preocupado com eles. O Chefe dos Cavallone o olhava com curiosidade, esperando uma resposta para todas aquelas dúvidas.
"Quantos anos tem a menina?" O louro relaxou os ombros e retirou as luvas de suas mãos.
"Cinco meses." Ivan respondeu e sorriu, provavelmente sem notar. Não precisaria ser o melhor observador do mundo para perceber que ele já havia feito sua escolha e estava apaixonado pela garota antes mesmo de conhecê-la.
"Ela não vai se lembrar do pai, e você provavelmente será aquele que ela olhará como exemplo." O Guardião da Nuvem ponderou. "Se você acha que consegue amar e cuidar da filha de outro homem, então não vejo como isso pode ser uma coisa ruim. Francesco terá companhia e acredito que isso seria benéfico para o garoto."
A expressão de alívio no rosto do moreno era tão honesta que o Inspetor de polícia quase sorriu. O Chefe dos Cavallone recostou-se ao sofá e riu baixo, chamando seu amante para lhe fazer companhia.
"Eu estive tão apreensivo nesses últimos dias." Ivan tinha as bochechas vermelhas. O peso em seus ombros havia desaparecido. "Eu pensei em diversas maneiras de convencê-lo, mas nada pareceu suficiente."
Você pensa demais naquilo que não é importante, foi o que Alaudi pensou antes de se sentar ao lado do moreno. "A família de Graziella não se importa com a adoção?"
"Não, na verdade a sugestão partiu deles. O irmão estava disposto a criá-la, mas somente se eu não estivesse interessado. Ele pensou que Francesco gostaria de uma irmã e a pequena também seria criada em um ambiente melhor e teria tudo o que ele não poderia oferecer financeiramente. Antes de ouvir a ideia eu já pensei em adotá-la. E mesmo que ela não seja sangue do meu sangue, a pequena é parte de Graziella e acho que Francis gostaria que eu fizesse isso. Ele ainda é uma criança, mas acredito que vá entender quando for mais velho."
O Chefe dos Cavallone colocou a mão sobre a perna do louro antes de continuar:
"Tem certeza de que não se importa? Muitas coisas mudarão com uma nova criança em casa e eu precisarei da sua ajuda."
O Guardião da Nuvem sentiu o coração acelerar com aquele simples contato. Aquela foi a primeira vez que Ivan o tocou em dias, mas não havia nada sexual em sua reação. O coração do Inspetor de polícia batia rápido com a ideia de ser pai novamente. Ele sempre soube que nunca constituiria uma família por causa de sua personalidade. Nenhuma mulher aceitaria um marido como ele, mas Alaudi não se importava. Quando conheceu o moreno, e depois de se apaixonar ele teve ainda mais certeza de que não ajudaria a gerar uma criança de maneira alguma. Entretanto, após ouvir a declaração de seu amante a ideia de que Francesco e a garotinha seriam também seus filhos pareceu incrivelmente tentadora e agradável. Eu também estou me apaixonando pela ideia...
"Eu posso passar os fins de semana aqui quando você precisar viajar. Giuseppe parece ser ótimo com crianças e acredito que ele poderá me auxiliar no que não for de meu conhecimento." O louro tinha uma adorável imagem mental daquela cena. "Eu nunca cuidei de crianças. Minha irmã tem um filho, mas ela mora em outro país."
O Chefe dos Cavallone arregalou os olhos, visivelmente surpreso. "Eu não sabia que você tinha família... mas uma irmã?"
"Nós não nos vemos há alguns anos. Ela se casou e mora com o marido e a criança no Japão. Não há nada para contar já que raramente temos contato."
"Mesmo assim! Por que não me disse antes?"
A maneira reprovadora com que aquelas palavras deixaram os lábios de Ivan soou adorável. Seus olhos demonstravam claramente que ele não gostou de saber daquilo depois de tanto tempo, mas o Guardião da Nuvem achou que eles estavam quites em matéria de omissão. E ele não havia mentido. Sua irmã era praticamente uma estranha.
"Então, quando você irá buscar a garota?" O Inspetor acomodou-se melhor no sofá. A mão de seu amante sobre a sua o fez relaxar, como se aqueles três dias de dúvidas e angústias nunca tivessem existido. A naturalidade entre eles retornara e conversar com o moreno sempre lhe soava agradável.
"Provavelmente na próxima semana. Mário disse que irá buscá-la. Ele acha que não é uma boa ideia eu me arriscar tanto. As mesmas pessoas que estavam atrás do pai podem querer a filha, então eu terei de esperar aqui." O Chefe dos Cavallone apertou levemente a mão do homem que estava ao seu lado. "Quando ela entrar nesta casa será como minha filha, e eu não deixarei que nada aconteça a ela."
"A garota já tem nome?
"Catarina. Graziella nomeou a garota pouco tempo antes de morrer e eu o manterei. Catarina Cavallone não soa tão ruim, não é?"
Por longos minutos Alaudi não fez nada além de ouvir seu amante babar pela futura filha. Aquele lado de Ivan ele não conhecia, e foi incrivelmente prazeroso ouvi-lo fazer planos e comentar coisas sobre berços, comidas e quartos. Aparentemente ele já tinha tudo pensado e ela ficaria no cômoco ao lado do de Francesco. Haveria empregados durante o dia e a noite ao seu lado, atendendo a todas as suas necessidades. O louro conseguia imaginar perfeitamente aquela nova vida, e foi impossível não notar a maneira como o Chefe dos Cavallone o incluía em tudo. Das visitas a Roma que teriam de ser diminuídas aos encontros dos dois na mansão, sempre que surgia um assunto Ivan pedia a opinião do Guardião da Nuvem, ouvindo as respostas com extrema atenção e curiosidade.
Os dois permaneceram por cerca de uma hora fazendo planos e combinando a vinda de Catarina para a Família. Entretanto, em determinado momento o moreno parou de falar, olhando sério para seu amante. O Inspetor de polícia havia encostado a cabeça na parte alta do sofá, mas ficou curioso ao notar os olhos cor de mel encarando-o. O Chefe dos Cavallone sorriu antes de se aproximar, beijando gentilmente os lábios de Alaudi. Por um segundo o louro sentiu uma espécie de choque que o fez lembrar-se o quanto ele sentiu falta daquele homem. Seus lábios se entreabriram, mostrando que se Ivan quisesse, eles poderiam intensificar o beijo a qualquer momento.
O moreno não pareceu querer perder aquela oportunidade. Sua língua deslizou sutilmente para dentro da boca do louro, e a necessidade de contato tornou-se maior. O Guardião da Nuvem virou levemente a cabeça para um dos lados, facilitando a maneira como sua própria língua se movia. O Chefe dos Cavallone inclinou-se um pouco, ao mesmo tempo em que se abaixava e afastava as pernas de seu amante, ajoelhando-se naquele espaço. O Inspetor de polícia entreabriu os lábios ao sentir seu baixo ventre ser apalpado, encarando um par de olhos cor de mel que pareciam pedir permissão para o que viria em seguida. Alaudi apenas fechou os olhos e afastou um pouco mais as pernas, mostrando que tinha ideia do que Ivan queria fazer e ele simplesmente não se importava.
O sobretudo do louro foi aberto, assim como seu cinco e calça... tudo isso em segundos. A coloração rosada estava presente nas duas bochechas do Guardião da Nuvem, e ele ainda tentou segurar sua calça quando o moreno fez menção de tirá-la. A peça desceu até seus joelhos, e o Chefe dos Cavallone segurou seus pulsos, sorrindo maldosamente antes de se inclinar sobre seu baixo ventre. Os lábios do Inspetor deixaram escapar um baixo gemido quando a língua de seu amante tocou seu membro por cima da roupa de baixo branca. Aquele contado indireto não chegava perto da satisfação de ter sua ereção entre os lábios quentes e úmidos de Ivan, mas havia um estranho erotismo por trás daquele gesto, como se o moreno o quisesse saborear pouco a pouco.
Os pulsos de Alaudi permaneceram presos até seus lábios começarem a gemer com mais intensidade. Isso só aconteceu quando o moreno levou o membro do louro diretamente para sua boca. O Guardião da Nuvem inclinou a cabeça para trás quando o Chefe dos Cavallone puxou seu quadril para frente e abocanhou toda a extensão de sua ereção. As mãos do Inspetor de polícia automaticamente procuraram o conforto de um lençol ou de um cobertor, mas só encontraram almofadas. Sua calça foi abaixada até seus pés e quando Alaudi menos esperava suas costas se arquearam quando a língua de Ivan brincou com a ponta de seu membro, no mesmo instante em que um de seus dedos o penetrava. Os gemidos que já eram presentes tornaram-se praticamente impossíveis de serem contidos. Ao contrário do trabalho que ele teve durante o banho naquela manhã, o moreno o penetrava fundo daquela posição, tocando em seu ponto especial tantas vezes que chegava a ser doloroso suportar tamanho prazer. O orgasmo chegou rápido após o início daquele duplo estímulo. As costas do Guardião da Nuvem voltaram a se encostar-se ao sofá e ele abriu os olhos devagar a tempo de ver o Chefe dos Cavallone passar a língua pelo canto dos lábios e sorrir satisfeito.
"Você se tocou esta manhã, não foi?" A voz de Ivan vinha da orelha direita do Inspetor de polícia. Aquele tom e aquelas palavras sórdidas o fizeram gemer baixo, mesmo ele tendo acabado de chegar ao clímax. Seus lábios, entretanto, não responderam. Alaudi jamais afirmaria que havia se masturbado e muito menos que era ninguém mais ninguém menos do que o moreno em suas fantasias.
O Chefe dos Cavallone mordeu levemente a orelha de seu amante antes de ficar em pé. Os olhos azuis se ergueram e ele notou que o rosto do homem parado à sua frente estava absurdamente vermelho. Ivan o olhou de canto e sorriu, puxando-o pelo braço e fazendo-o ficar em pé. Em um segundo sua calça estava próxima aos seus pés, e no outro ela era fechada de maneira apressada.
"Vamos subir." A voz do moreno saiu rouca. Somente naquele momento o louro notou a ereção de seu amante. "Porque eu vou amá-lo pelo resto do dia para compensar esse tempo que ficamos longe."
"Você estava distante." O Guardião da Nuvem não entendeu porque respondeu aquilo. Sua voz saiu provocante, como se ele estivesse entrando naquele jogo.
Ivan sorriu ainda mais, segurando o rosto de seu amante e aproximando novamente os lábios ao ouvido do homem em seus braços. As palavras que foram ouvidas levaram uma coloração mais rosada ao rosto do Inspetor de polícia, mas ele não teve tempo de responder. O moreno o puxou para fora do escritório às pressas, e Alaudi não se lembrava de ter chegado ao segundo andar com tanta rapidez. Milagrosamente não havia ninguém no hall ou nos corredores. O Chefe dos Cavallone só parou ao entrar no quarto, trancando a porta ao mesmo tempo em que empurrava seu amante contra aquela superfície de madeira. Os corpos de ambos se encontraram novamente, e dessa vez foi o louro que iniciou o beijo. Suas mãos seguraram com possessividade e desejo o rosto do homem que o levantava com extrema facilidade. As pernas do Guardião da Nuvem envolveram a cintura de Ivan, e naquela posição ele pôde sentir um pouco da excitação que o moreno sentia. O Chefe dos Cavallone o levou até a cama, enquanto ambos os lábios se devoravam. O corpo inteiro do Inspetor de polícia desejava aquele momento, aquele homem e aquelas palavras sujas proferidas ao seu ouvido há poucos segundos...
As costas de Alaudi encontraram o macio colchão e Ivan apenas disse para ele retirar a roupa. Em qualquer outro momento o louro teria juntado as sobrancelhas, cruzado os braços e colocado sua melhor expressão de tédio e descaso, mas não naquele fim de manhã. Enquanto o Chefe dos Cavallone cruzava o quarto e soltava uma das cortinas, deixando o quarto um pouco mais escuro e íntimo, o Guardião da Nuvem se livrou de seu sobretudo, cachecol e camisa em uma velocidade espantosa. Ivan foi deixando as peças de suas roupas pelo caminho enquanto voltava para cama, e quando sua roupa de baixo foi retirada, o coração do Inspetor de polícia bateu mais rápido com o prospecto de ser tocado por aquele homem. O moreno abriu a gaveta e pegou um fraco pequeno, jogando-o na cama e arrastando-se sobre seu amante.
O segundo beijo foi proporcional a excitação que ambos sentiam. A calça e a roupa de baixo de Alaudi foram retiradas com muito pouca gentileza. Os lábios do Chefe dos Cavallone mordiam seu pescoço e ombro, enquanto uma das mãos do louro apalpava o braço esquerdo de Ivan, sentindo os desenhos coloridos naquela parte da pele. Ele amava aqueles desenhos, e amava imaginar aquele braço forte e musculoso apoiado na cama enquanto o moreno o penetrava. Ele amava ver as cores vibrantes quando estava sentado sobre a ereção do Chefe dos Cavallone ou quando aquela mão o masturbava. O pensamento o fez gemer, imaginando quando ele havia se tornado tão necessitado e consciente daquele homem. O beijo os unia de uma maneira, mas somente quando as ereções se encontraram foi que o Guardião da Nuvem finalmente tremeu com expectativa.
"Eu quero você por cima. Eu quero beijá-lo por inteiro." Os olhos de Ivan se abriram. A ponta de seus dedos tocou os lábios vermelhos de seu amante.
O Inspetor sentiu o coração bater mais rápido, tamanha a expectativa por aquele momento. Eles haviam feito aquilo apenas uma vez, e Alaudi nunca havia chegado ao orgasmo tão rápido em sua vida. O moreno deitou-se na cama e apoiou a cabeça em um dos travesseiros. O louro arrastou-se sobre ele, sentando no abdômen de seu amante, mas dessa vez oferecendo suas costas nuas. Seus joelhos arrastaram-se um pouco para trás, e por mais que aquela posição o deixasse totalmente vulnerável e envergonhado, havia uma parte do Guardião da Nuvem que precisava provar aquele intenso prazer novamente. Sua mão segurou o membro do homem que estava por baixo enquanto a outra fazia com que seu corpo se mantivesse equilibrado. Com os joelhos apoiados na cama, sua cabeça virou-se um pouco, encarando seu amante com timidez. Entretanto, antes que seus lábios pudessem tocar a ereção em sua mão, o gemido que o Inspetor de polícia tanto esperou saiu quando Ivan novamente levou a ereção para sua boca.
Era muito difícil para Alaudi se concentrar naquelas condições. Sua língua e lábios faziam o serviço, mas em vários momentos ele precisou parar para deixar aqueles doces e satisfeitos gemidos escaparem. O louro podia sentir claramente o modo como o moreno subia a língua da ponta de seu membro até sua entrada. Aquele novo estímulo o havia surpreendido na primeira vez, e ele tentou se afastar, mas o orgasmo foi mais rápido, desarmando-o completamente. Naquela segunda vez ele podia realmente sentir o que era ser literalmente devorado por seu amante. Sua ereção tremia com o pré-orgasmo e ele precisou receber o membro do Chefe dos Cavallone em sua boca para mantê-la ocupada. Quando Ivan substituiu a ponta de sua língua por dois dedos, o clímax do Guardião da Nuvem foi tão intenso que o gemido que escapou por seus lábios chegou a arranhar sua garganta.
O Inspetor de polícia ainda estava tentando entender o que seu corpo havia sentido quando suas costas foram viradas e a maciez do colchão o fez abrir os olhos a tempo de ver o momento em que o moreno afastou suas pernas e o penetrou novamente com seus dedos. Dessa vez as mãos de Alaudi encontraram a colcha da cama, e elas a puxaram com força, enquanto suas costas se retorceram e sua cabeça arqueou-se para trás. Ele sentiu o mesmo calor vindo de sua entrada como havia sentido no banho. Alguma coisa naquele frasco fazia seu corpo ficar quente... muito quente. O Chefe dos Cavallone mencionou o efeito, mas ele não se recordava. Tudo o que o louro sabia era que seu libido se tornava duas vezes mais forte, a ponto de ele pedir para que Ivan o penetrasse. A súplica foi prontamente atendida. O baixo ventre do moreno se moveu para frente, puxando a cintura do Guardião da Nuvem no mesmo instante. A estocada o fez gemer alto, e a sensação que o Inspetor de polícia sentia era como se o Chefe dos Cavallone houvesse penetrado todo seu ser, como se cada centímetro de seu corpo fosse possuído por aquele homem.
Os gemidos que ecoaram pelo quarto após a quarta estocada eram misturados e altos. O Inspetor sabia que não seria ouvido, e mesmo que fosse, como impedir que seus lábios profiram pelo menos um pouco de tudo o que seu corpo recebia? Os dois orgasmos o haviam deixado sensível, então toda vez que Ivan se retirava de dentro dele, Alaudi podia sentir a ereção de seu amante o penetrar, e aquilo o deixava ainda mais excitado. As mãos do moreno puxavam a cintura de seu amante toda vez que seu baixo ventre se movia. A pele de ambos estava úmida e brilhante por causa do suor. O quadril do louro começou a se mover após alguns minutos, e ele não tinha ideia de que poderia fazer isso. A voz do Chefe dos Cavallone se tornou alta após alguns minutos, anunciando o clímax que era inevitável. O corpo do moreno fez menção de se retirar, mas o Guardião da Nuvem o prendeu com as pernas. Aquele homem não iria a lugar algum. O orgasmo do Chefe dos Cavallone preencheu o corpo suado do Inspetor de polícia e somente ao sentir-se totalmente completo foi que as pernas de Alaudi relaxaram.
Ivan riu baixo, tocando a ereção do louro com uma de suas mãos. O Guardião da Nuvem tinha a vista embaçada, mas ele sentiu quando seu amante retirou-se de dentro dele, fazendo-o sentir-se solitário por alguns segundos. Algo tocou sua ereção e o Inspetor quase chorou ao sentir aquela agradável sensação que somente a língua do moreno poderia proporcionar. Sua entrada foi penetrada novamente por três dedos, e a voz do Guardião da Nuvem voltou a cantar pelo quarto. Seu coração batia tão rápido em seu peito e sua pele parecia queimar de excitação. O sexo entre eles variava de intensidade de acordo com o dia, mas nunca ele havia se sentido tão desejado e... erótico. O Inspetor de polícia sabia que sua voz incitava o homem que o envolvia então ele deixou que ela saísse alta e transbordando prazer. Alaudi sentiu tanta falta de Ivan durante aqueles dias, e ele só gostaria de poder ser mais honesto, transformando aquilo em palavras. Ele faz isso com tanta facilidade...
O estímulo em sua entrada parou e os olhos azuis foram abertos. O moreno ainda devorava sua ereção, mas havia desafio e curiosidade naqueles belos olhos cor de mel. A mão do louro apertou a colcha, e ele queria pedir para que seu amante retornasse com o duplo estímulo, mas não conseguia. Ele havia pedido para que o Chefe dos Cavallone o penetrasse a pouco, mas aquilo estava em outro nível.
Entretanto, quanto mais observava Ivan trabalhar, mais excitado o Guardião da Nuvem se tornava, a ponto de descer sua mão por seu próprio quadril, penetrando sua entrada. Os lábios do moreno pararam o que faziam, e o Inspetor de polícia não precisaria abrir os olhos para saber o motivo, mas mesmo assim ele o fez. O Chefe dos Cavallone olhava a cena com olhos arregalados e encantados. Aquela observação pareceu aumentar a excitação que Alaudi sentia e ele virou o corpo para que seus dedos pudessem penetrá-lo com mais profundidade. Seus gemidos, porém, eram contidos. Ele não conseguia alcançar o ponto que gostaria e a sensação não era a mesma. Seus olhos fitaram seu amante, e quando eles se encararam, o pedido silencioso do louro escapou na forma de um gemido.
Fazer amor com Ivan era um círculo interminável. Quando um chegava ao orgasmo, o outro já estava excitado novamente e aquilo parecia nunca ter fim. O Guardião da Nuvem não se surpreendeu quando seu corpo foi virado, ou quando o moreno o penetrou novamente – o membro atingindo seu ponto especial logo na primeira estocada – fazendo-o chegar ao clímax pela terceira vez; e sabendo que em pouco tempo ele teria uma nova ereção e então o círculo continuaria... foi sempre assim, o Inspetor de polícia sabia que sempre seria dessa forma. O quarto encheu-se novamente com duas vozes que, apesar de distintas, cantavam uma única canção, como se tivessem ensaiado durante toda a vida.
Do lado de fora a neve caia fina, mas nenhum dos amantes tinha conhecimento de tal fato. Alaudi ainda não sabia que teria de permanecer mais dois dias na mansão por causa dos caminhos congelados, ou que quando descesse para o jantar naquela noite Francesco perguntaria displicentemente onde ele esteve o "tempo todo". O louro coraria e teria de aguentar as brincadeiras de Mário por longos minutos, porém, nada disso era de seu conhecimento... ainda. O que ele sabia era que estava sendo plenamente amado pela única pessoa que conseguia deixá-lo tão vulnerável e manso. Não existia ninguém como Ivan. Por vinte e cinco anos ninguém o havia cativado e o conquistado daquela forma. Por hora, tudo o que o Guardião da Nuvem queria era estar ali... com o homem que ele amava.
Com o homem que havia lhe dado a família que ele sempre desejou, mas que havia desistido de construir.
X
Os preparativos para receber o novo membro da família Cavallone ocuparam toda a semana de Ivan. O Inspetor de polícia ajudou no que pôde mesmo o trabalho daquela semana sendo intenso. As visitas à mansão foram quase diárias, pois o moreno precisava organizar a casa enquanto colocava seu próprio trabalho em ordem. Boa parte da decoração do futuro quarto da garota ficou a cargo de Alaudi, Francis e Giuseppe, pois o Chefe dos Cavallone passava horas em seu escritório ao lado de seu insuportável braço direito. Os raros momentos em que Ivan aparecia eram para ver o progresso da decoração, enquanto Mário sempre encontrava algum problema ou sugestão e ele e o louro acabavam entrando em discussões venenosas. Quando isso acontecia Giuseppe entretia seu Chefe com prospectos de se ter mais um morador na casa, e vez ou outra o rapaz de longos cabelos louros precisava dar um puxão de orelha nos dois inimigos.
Na sexta-feira o ruivo ficaria responsável por viajar até Veneza para buscar Catarina. Ele retornaria no sábado, pois apesar da distância não ser grande, Ivan não quis arriscar nada. O braço direito dos Cavallone iria acompanhado por mais quatro subordinados para garantir a segurança, mas esse plano funcionou perfeitamente até a manhã do fatídico dia. O Guardião da Nuvem estava em seu escritório quando Giulio mostrou-se presente, pedindo licença para se ausentar pelo restante do dia. O Inspetor o olhou com as sobrancelhas juntas, tendo uma vaga noção do motivo que levaria seu melhor amigo a pedir o dia de folga. O moreno nunca fazia isso. Trabalho era basicamente sua prioridade número um, pelo menos foi até certo homem ruivo aparecer...
"Você pode se ausentar pelo tempo que quiser, mas não acho que seja necessário acompanhar àquele homem, Giulio." Alaudi falou baixo. Os dois amigos tiveram poucas oportunidades de conversarem sobre o assunto, e em todas elas o louro precisou conter a língua ao ver a expressão de felicidade no rosto de seu braço direito. Eu sou o único que vê a verdade?
"Isso foi exatamente o que ele disse." Giulio sorriu sem graça. "Mas eu irei de qualquer forma. Conversei com o Chefe dos Cavallone e ele achou uma ótima ideia."
Qualquer coisa que seja relacionada aquele homem Ivan sempre achará uma boa ideia. O Guardião da Nuvem suspirou e pousou o papel que tinha nas mãos. Aquela situação o deixava cansado. "Eu lembro o quão entusiasmado você costumava ser com relação a ter uma família. Você até mesmo disse que gostaria de ter uma filha. Não é tarde, Giulio."
O moreno ergueu as sobrancelhas e ficou em silêncio. O Inspetor de polícia apertou as mãos levemente, esperando não ter pisado em um terreno proibido, porém, uma parte dele sentia que precisava fazer o impossível para que seu amigo visse as reais cores de Mário. Ele vai te trair Giulio, da mesma maneira que aquela mulher fez e por Deus eu não sei o que farei com aquele homem quando isso acontecer.
"Esse sonho morreu quando encontrei Ana com aquele homem" A voz do braço direito trouxe Alaudi de volta a realidade. "Você sabe o quanto a amei e o quanto eu me dediquei a ela. Eu queria três filhos, duas meninas e um menino e ela vivia dizendo o quanto amaria as crianças, e em como a casa seria mais viva e animada." O moreno tinha um sorriso nostálgico nos lábios. Seus olhos verdes estavam baixos, como se ele pudesse rever aquela cena. "Mas essa parte da minha vida ficou para trás, Alaudi. Eu não tenho mais aqueles sonhos e mesmo se ainda os tivesse, eu os adaptaria para minha nova realidade. Mário é a minha nova realidade, e eu sei que vocês não... são muito civilizados um com o outro, mas eu nunca me senti tão feliz. Ele me faz feliz."
Ele vai te trair, Giulio! A voz dentro da cabeça do louro gritava aquela afirmação. Ele podia ver claramente o dia que isso aconteceria. Os olhos azuis se abaixaram e o Inspetor de polícia mordeu o lábio. Uma palavra dita em um momento inusitado e ele poderia perder seu amigo.
"Eu sei o que te preocupa, Alaudi, e eu estaria mentindo se dissesse que isso não povoou minha mente por várias noites. E eu também sei que isso vai soar completamente ridículo, porque eu não tenho base para provar nada disso, mas eu confio nele." Giulio abriu um tímido meio sorriso. "Eu sei sobre o passado de Mário, os lugares que frequentou, a fama que ele tinha pelas ruas... eu sei tudo. Entretanto, eu confio nele, não como eu confiava em Ana, é algo diferente. Ana nunca me deu motivos para desconfiar, ela era simplesmente perfeita. Mário tem uma língua afiada e é orgulhoso e sádico, mas algo nele me faz acreditar que eu finalmente encontrei a pessoa que me fará companhia pelo resto dos meus dias.
Alaudi engoliu seco, lembrando-se das palavras que Ivan havia lhe dito na semana anterior. O louro entendia a sensação de ter encontrado essa pessoa, mas era muito difícil aceitar que a pessoa de seu amigo era justamente o ruivo. Giulio mencionara três defeitos, mas se o Guardião da Nuvem pudesse continuar, ele faria uma longa lista de coisas que ele detestava no braço direito dos Cavallone. Porém, após ouvir seu amigo dizer tudo aquilo sem parecer ofendido, o Inspetor apenas deu de ombros. Ele continuaria não aceitando Mário, e provavelmente os dois nunca se dariam bem, mas não era sua função dizer o que seu braço direito deveria ou não fazer. Com quem ele deveria ou não se envolver.
Giulio deixou o escritório com um meio sorriso e Alaudi suspirou, encostando-se na cadeira e encarando o teto. Ele precisaria ficar até o anoitecer na sede de polícia para então seguir até a mansão de Ivan. Na noite anterior ele chegou até mesmo a sonhar com a garota. Em seu sonho ela tinha cabelos escuros e olhos cor de mel e bochechas coradas. O louro tentou não sorrir ao recordar-se, mas foi difícil. O relatório retornou a sua mão e ele voltou a se focar no trabalho. Ainda havia longas horas até que ele pudesse se permitir sonhar novamente.
Naquela noite o Guardião da Nuvem chegou à mansão da Família Cavallone embaixo de muita neve. Seu carro mal conseguiu passar pela entrada, e assim que pisou no hall, seu amante o recebeu com um grosso casaco e um apertado abraço. Francesco descia as escadas ao lado de Giuseppe, e o garoto abraçou suas pernas enquanto o rapaz louro meneou a cabeça e corou como sempre acontecia. O corpo do Inspetor de polícia pedia uma refeição quente, e esse desejo foi prontamente atendido. Alaudi jantou uma deliciosa sopa de vegetais, sentindo-se incrivelmente satisfeito quando seguiu na direção do quarto de Ivan. Com o estômago satisfeito, só havia um desejo que ele gostaria que fosse saciado, e o moreno pareceu compartilhar daquele mesmo pensamento. Eles fizeram amor na frente da lareira naquela noite. O tapete cor creme era incrivelmente macio, e por causa da claridade do fogo Alaudi pôde ver basicamente tudo enquanto o calor da lareira misturou-se ao calor de seus corpos. Os gemidos foram mais contidos, mas os três orgasmos que o louro teve naquela primeira parte da noite tiveram a mesma intensidade.
Após algumas horas de muito suor, os dois amantes permaneceram deitados por um longo tempo, nus e abraçados um ao outro. O louro tinha a cabeça apoiada no ombro de Ivan, ouvindo a animação de seu amante com relação ao dia seguinte. Ele mesmo estava animado, mas não demonstrava. A conversa durou alguns minutos, porém, seria impossível continuar apenas conversando naquela situação. O Guardião da Nuvem sentou-se sobre o baixo ventre do Chefe dos Cavallone e então tudo recomeçou. A última coisa que o Inspetor de polícia lembrou-se daquela noite foi o orgasmo que teve enquanto estava deitado sobre a mesa do quarto. Eles haviam deixado o tapete e passaram para o sofá, terminando na mesa. Alaudi perdeu a consciência e acordou na manhã seguinte, deitado na larga e confortável cama do moreno.
O sábado estava nublado, mas não nevava. O relógio marcava pouco mais de nove horas quando os dois amantes desceram para o hall. Eles teriam decido muito mais cedo se o Chefe dos Cavallone não tivesse sugerido que eles perdessem alguns minutinhos no chuveiro. O Guardião da Nuvem ainda tentou lutar contra, mas era muito difícil persuadir alguém como Ivan Cavallone. Milagrosamente Francesco já estava na sala de jantar, e o garoto anunciou orgulhosamente que mal havia dormido tamanha a excitação por conhecer sua irmã.
Catarina Vianello - agora Catarina Cavallone - chegou depois das onze da manhã. O Inspetor de polícia sentiu o estômago dar voltas enquanto esperava no hall ao lado do moreno, Francesco e Giuseppe. A porta da mansão foi aberta e Mário entrou, fazendo o estômago de Alaudi tornar-se pior. O ruivo carregava algo nos braços e logo atrás vinha Giulio. Os olhos azuis do louro foram momentaneamente para Ivan, e o sorriso de felicidade no rosto de seu amante o fez revirar os olhos. O moreno e Giulio haviam se tornado amigos instantaneamente. Cinco minutos no escritório e o Chefe dos Cavallone afirmava para quem quisesse ouvir que aprovava o homem que o ruivo havia escolhido. Seria mais fácil se ele visse o que eu vejo. Todos estão cegos.
Mário tinha o rosto corado por causa do frio, e assim que se aproximou seus lábios se repuxaram em um largo sorriso. Ivan foi encontrar o amigo no caminho e suas mãos tremiam de ansiedade.
"Como foi a viagem?" O moreno olhava do embrulho para seu amigo.
"Longa, muito longa." Mário respondeu e suspirou. Sua mão livre abriu um pouco a manta que estava ao redor do bebê para que os presentes pudessem vê-la.
Os cabelos não eram negros, mas castanhos avermelhados. Os olhos não eram cor de mel, mas azuis, entretanto as bochechas de Catarina estavam rosadas, como duas pequenas maçãs. Os olhinhos pareciam perguntar quem eram todos aqueles homens, e se aquele com a expressão idiota seria seu novo pai. O Chefe dos Cavallone fez menção de pegá-la, mas o ruivo deu um passo para trás.
"Aviso que tome cuidado. Quando ela começa a chorar, simplesmente não para. É infernal, Ivan. O risco é todo seu." O braço direito estava sério e pela expressão em seu rosto ele falava a verdade.
"A única pessoa que conseguiu fazê-la ficar quieta foi Mário." Giulio entregou as malas para os subordinados e se aproximou. "Eu tentei segurá-la, mas ela chorou e estava chorando o tempo todo na casa dos tios, mas foi Mário entrar no quarto e ela se calou."
Impossível, Alaudi ergueu uma sobrancelha olhando o ruivo de cima.
"Eu correrei esse risco."
Ivan esticou as mãos e segurou a criança como se ela fosse a coisa mais preciosa do mundo. Porém, assim que estava firme nos braços de seu novo pai, Catarina chorou tão alto que o hall de entrada da mansão pareceu tremer. O moreno tentou por alguns segundos fazê-la ficar quieta, mas tudo foi em vão. O Guardião da Nuvem deu um passo à frente, mostrando que gostaria de tentar. Se aquele homem conseguiu, eu consigo.
Aquela foi a primeira vez que o Inspetor de polícia segurou um bebê e a experiência teria sido incrível se a menina não tivesse chorado ainda mais alto em seus braços. Francesco nem se deu ao trabalho de tentar, temendo derrubar a irmã. O garoto havia se enrolado nas pernas do pai e só observava a cena, perguntando vez ou outra porque ela ainda chorava. Alaudi virou o rosto e olhou para Giuseppe, fazendo sinal para que o rapaz a segurasse. Ele jamais entregaria a pequena para Mário, não assim... deliberadamente.
O braço direito de Francesco recuou de início. Seu rosto tornou-se vermelho, mas após um incentivo do irmão suas mãos se esticaram e ele segurou o bebê. O choro parou no mesmo instante, como um raio de sol que encontra passagem por entre as nuvens escuras e pesadas. As mãos de Catarina se esticaram e ela segurou a longa trança que Giuseppe usava ao lado do ombro. A risada que deixou seus lábios fez todos os presentes ficarem surpresos e até mesmo o Guardião da Nuvem não conseguiu omitir isso. A risada de Ivan soou alta pelo hall e ele colocou uma mão no ombro de Giuseppe, felicitando o rapaz por aquele feito.
"Parece que eu precisarei de você na mansão com mais frequência, Giuseppe." O moreno inclinou-se para ver a filha rir enquanto abraçava o cabelo do rapaz, e aquele sorriso também o fez sorrir.
O Inspetor de polícia permaneceu no mesmo lugar, admirando a felicidade que seu amante sentia naquele momento. Sua mão foi apertada após alguns minutos e ele abaixou o rosto para ver Francesco parado ao seu lado. O garoto era o único que não sorria, e se o louro tivesse dado um pouco mais de atenção para aquele simples momento teria notado que alguma coisa não estava certa. Entretanto, Alaudi estava entretido demais com a visão de toda aquela alegria, e em sua mente os sentimentos que o futuro herdeiro sentia eram normais.
Aquela foi a primeira vez que Giulio sentou-se à mesa dos Cavallone. Mário e Giuseppe também estavam presentes, e mesmo detestando o homem e multidões com todas as suas forças, o Guardião da Nuvem não poderia dizer que aquela refeição não foi agradável. Ele esteve sentado do lado direito de Ivan, como sempre. Francesco estava do lado esquerdo, e o garoto praticamente implorou para que Giuseppe sentasse ao seu lado. Giulio sentou-se ao lado de Alaudi e Mário foi fazer companhia ao seu amante. A mesa estava farta com massas, saladas, carnes e vinho. O tão amado cordeiro do garoto de cabelos castanhos foi servido e ele parecia ter ficado até mais animado com o prato.
A neve voltou a cair do lado de fora da janela, e o Chefe dos Cavallone levou Catarina para seu quarto, colocando a garota na larga cama. A pequena dormia profundamente, e ele não fez nada além de ficar ao seu lado com olhos brilhantes e suspiros aqui e ali. O louro assistia a tudo da poltrona, esboçando um meio sorriso todas as vezes que tirava os olhos de seu livro para encarar a cena, e ele poderia dizer que era com certa frequência. O Guardião da Nuvem assumiu o papel do moreno quando seu amante foi tomar banho, e pela primeira vez no dia ele pôde ficar a sós com o bebê. Catarina não chorou ao acordar, mas os únicos momentos em que ria eram quando Giuseppe aparecia. Os olhos azuis encaravam o Inspetor de polícia com curiosidade, e por alguns minutos os dois não fizeram nada além de se olharem. Alaudi imaginou a menina crescendo e o barulho que seria quando ela começasse a correr com Francis pela casa. Ele também conseguia ver claramente Ivan possesso de ciúme quando ela resolvesse dar bailes na casa, e provavelmente todos os seus pretendentes seriam enxotados da mansão sem serem ouvidos.
Aquele prospecto de futuro fez o louro sorrir, não somente porque aquela era a primeira vez que ele pensava naquelas coisas, mas também porque em todos os momentos ele se viu ao lado do moreno. O Guardião da Nuvem estaria lá quando Catarina aprendesse a falar e a andar ou quando perdesse o primeiro dente. Ele teria de ser o pulso firme quando o ciúme do Chefe dos Cavallone se tornasse ridículo, mas reconhecia que compartilharia da opinião de que nenhum pretendente seria digno da garota. A porta do banheiro foi aberta e Ivan surgiu, fechando o casaco e esboçando um largo sorriso. O moreno deu a volta na cama e se deitou, e os olhos azuis da menina foram para o pai... o outro pai, retornando em seguida para Alaudi. Catarina fez isso por mais algumas vezes até que uma alta risada ecoou de seus lábios, surpreendendo os dois homens que estavam deitados na cama. O louro sentiu o rosto corar e o coração bater mais forte, enquanto Ivan tinha os olhos cor de mel cheios de lágrimas.
Naquela noite Catarina retornou ao seu quarto, mas seus dois pais a seguiram o tempo todo. Os dois homens passaram a noite em duas poltronas que estavam no cômodo, revezando-se em turnos para dormir. Entretanto, a menina não chorou ou acordou nenhuma vez. Quando o céu tornou-se claro, o Guardião da Nuvem levantou-se da poltrona e se espreguiçou, aproximando-se do berço e sorrindo ao ver a menina acordada. Suas mãos se esticaram e ele a segurou nos braços, caminhando na direção da janela. O céu estava nublado e a neve caia fina. Alguns subordinados removiam a neve que estava sobre os caminhos, enquanto outros andavam de um lado para o outro mantendo a mansão segura.
Por alguns minutos o Inspetor permaneceu ali, explicando para a nova moradora da casa sobre como seria sua vida dali em diante. Catarina ouvia a tudo com os olhos arregalados, mas assim que um carro negro parou embaixo da janela e Mário e Giuseppe desceram, uma risada animada deixou seus lábios e Alaudi soube que havia perdido seu momento. Foi uma questão de tempo até duas leves batidas na porta serem ouvidas, e assim que viu o rapaz de cabelos louros, o Guardião da Nuvem entregou-lhe a pequena para que ele a levasse para tomar leite. Mário que esteve ao lado do irmão o tempo todo abriu um largo sorriso, e a expressão do Guardião da Nuvem tornou-se pesada.
O quarto voltou a ficar silencioso novamente. Ivan dormia pesadamente em sua poltrona, o rosto apoiado em uma das mãos e os lábios entreabertos. O Inspetor de polícia se aproximou devagar, sentando-se no chão e ao lado da poltrona, e apoiando sua cabeça nos joelhos de seu amante. Seus olhos se fecharam e ele sentiu o corpo relaxar. Seus cabelos foram tocados após alguns minutos, mas Alaudi não se moveu. As coisas seriam diferentes e eles não teriam tanto tempo um para o outro como antes, então o louro queria aproveitar o máximo possível aquele momento. Os dedos do Chefe dos Cavallone corriam por seus cabelos, deixando-o mais e mais sonolento, porém, ele não dormiria. Sua nova vida o esperava quando ele abrisse os olhos.
- FIM.
Notas da autora:
... e eu já estou com saudades dessa fanfic :( ahahahaha
Mas bem, finalmente terminei minha longfic Cavallone primo x Alaudi. Desde aquela oneshot eu pensei em escrever algo assim e posso dizer que fiquei satisfeita com o resultado. Inicialmente a história teria no máximo oito capts e seria focada totalmente no Ivan e no Alaudi. Porém, nada como se surpreender enquanto escreve, né? O Mário seria apenas "aquele cara que não gosta do Alaudi", mas ele se transformou praticamente em parte da história e eu amei isso. Eu queria ter demorado um pouco mais nos capts dele, mas acho que deu para entender como as coisas aconteceram sem parecer corrido.
Fiquei satisfeita com o resultado, e se eu fosse apenas apontar algo que senti falta foi de deixar o Giuseppe um pouco apagado. Mas hein, meio difícil falar sobre ele... ainda. Enfim, essa fanfic terá uma continuação que será postada após a longfic que estou trabalhando no momento, então os leitores que gostaram de Between you and me devem estar felizes. A continuação terá um timeskip de alguns anos, mas ainda não sei quantos, então a informação é meio vaga. De qualquer forma, Mário, Giulio e Giuseppe e Catarina também aparecerão. Alias, sobre a Catarina, ela originalmente não estava nos meus planos e apenas surgiu quando eu decidi escrever a continuação. Eu não vou dar spoiler nem nada, mas acho que deu sacar que ela será um plot device fundamental para a próxima fanfic, né?xD
Bom, eu queria agradecer novamente aos meus leitores. Sei que já fiz isso nas respostas aos reviews, mas não custa nada lembrar, certo? Obrigada por me acompanharem em mais um projeto, e por terem me dado a chance de ler suas opiniões. Foi graças a vocês que eu fiquei animada e motivada a escrever a continuação, então vejam isso como um 'presente' meu a vocês.
A partir de hoje eu entro em um mini hiatus que deve durar pelo menos até o fim de março. Usarei esse tempo para escrever a longfic, mas se a deusa da Criatividade me iluminar com ideias, eu retorno mais cedo. Sobre meu novo projeto, como já mencionei, será uma longfic D18/8059, ou seja, dois casais em uma mesma história. Fora eles eu ainda incluirei XS, e será a primeira vez que tocarei (hehehe) nesse casal, então tenham paciência comigo. xD
Sem mais delongas, obrigada pelo apoio e o carinho, e vejo vocês em breve :D