O que deve acontecer?

"Oferecem-me uma missão."

"Ah, agora as coisas começam a ficar interessantes..." Disse Ares, sorrindo maleficamente. Poseidon revirou os olhos para o deus, bebendo mais um pouco de sua taça de néctar. Hefesto, "apenas para poder começar a leitura!", deu um choque de leve em Ares, que pulou de susto e olhou em volta ameaçadoramente, fazendo todos os outros rirem. Menos Aphrodite, claro, que bateu com a bolsa na cabeça de seu marido, estressada.

Massageando a cabeça onde a bolsa bateu, o deus dos ferreiros começou a ler, não sem antes murmurar algo como "foi apenas uma brincadeirinha, oras...".

Na manhã seguinte, Quíron me mudou para o chalé 3.

Não tive de compartilhá-lo com ninguém. Tinha espaço à vontade para todas as minhas coisas: o chifre do Minotauro, um conjunto de roupas de reserva e uma sacola de artigos de toalete. Ia me sentar à minha própria mesa de jantar, escolhia todas as minhas atividades, determinava o apagar das luzes sempre que tinha vontade e não ouvia mais ninguém.

E me sentia totalmente infeliz.

"Owwwn, coitadiiinho!" As garotas fizeram coro. Na privacidade de suas mentes, os meninos resmungaram 'Melosas.' E em seguida 'Até Athena e Ártemis! Caramba, é o fim do mundo chegando, só pode...'

Athena, com os lábios apertados em uma linha, foi até Poseidon e meteu um tapa em sua testa.

"Seu tosco sem coração! Como faz isso com o próprio filho? Deixá-lo sozinho assim, que tipo de pai faz isso?!"

"Ai!" Exclamou Poseidon, esfregando sua testa. "As moças estão agressivas hoje, hein?"

De um momento ao outro, todas as 'moças' em questão gritaram indignadas e correram até o trono do deus dos mares, enchendo-lhe de tapas. Suas exclamações de dor e risadas eram abafadas quase que por completo pelos outros, que riam de rolar no chão (literalmente, no caso de Dionísio).

Depois de algum tempo, os ânimos se acalmaram e todas as meninas se encaminharam a seus tronos, e apenas Hermes e Apolo perceberam alguma movimentação no trono do deus dos mares.

"Ora, Atheninha" Ouviram a voz de Poseidon. "Acha que devo ter mais filhos? Bom, já que sugeriu, pode me ajudar com isso, que tal?"

A sala explodiu em risadas, enquanto Poseidon dava graças por seu abrigo ser a prova de deusas da sabedoria raivosas.

Bem quando começava a me sentir aceito, a sentir que tinha um lar no chalé 11 e poderia ser um garoto normal - ou tão normal quanto é possível quando se é um meio-sangue -, fui separado como se tivesse alguma doença rara.

"Pô, doença? Hashtag xatiado, boladíssimo com essa situação." Disse Poseidon, preguiçosamente, fazendo os deuses rirem e revirarem os olhos pela idiotice. Athena permanecia emburrada em seu trono, secretamente traçando um plano infalível contra aquele maldito peixe.

Ninguém mencionou o cão infernal, mas tive a sensação de que estavam todos falando sobre isso pelas minhas costas. O ataque assustara todo mundo. Ele mandou duas mensagens: a primeira, que eu era filho do deus do mar; a segunda, que os monstros não mediriam esforços para me matar. Podiam até invadir um acampamento que sempre foi considerado seguro.

Secretamente, todos pensaram na impossibilidade daquele fato. Era óbvio que nem um cão infernal seria capaz de invadir a proteção do acampamento... Eles não puderam deixar de imaginar: "Quem invocou o cão?"

Os outros campistas mantinham distância de mim na medida do possível. O chalé 11 estava agitado demais para receber aula de esgrima junto comigo depois do que eu fizera com o pessoal de Ares no bosque, e assim minhas aulas com Luke passaram a ser particulares. Ele me exigia mais do que nunca, e não tinha medo de me machucar.

Hermes sentiu mais uma vez aquela pontada de nervosismo relacionada ao seu filho, como sempre. Algo o afligia de um modo intenso. Ele estava extremamente desconfiado do que era... E definitivamente não o deixava feliz.

- Você vai precisar de todo o treinamento que puder obter - prometeu, enquanto trabalhávamos com espadas e tochas flamejantes. - Agora vamos tentar de novo aquele golpe de decapitar víboras. Mais cinquenta repetições.

Annabeth ainda me ensinava grego pela manhã, mas aprecia distraída. A cada vez que eu dizia alguma coisa, ela fechava a cara, como se eu tivesse acabado de lhe dar um soco.

Depois das aulas, ela ia embora resmungando consigo mesma:

- Missão... Poseidon?... Grande porcaria... Preciso de um plano...

"Esse negócio deve ser de família, suponho?" disse Apolo, fazendo uma cara séria.

"O que?" Perguntou Athena, distraidamente.

"Isso de resmungar. É alguma doença?"

Uma almofada surgiu do além e atingiu fortemente a cabeça do deus, fazendo as risadas já existentes aumentarem. "Caramba." Pensou Apolo, passando a mão onde a almofada havia batido. "Como ela fez essa almofadinha ficar tão pesada?"

Até Clarisse mantinha distância, embora os olhares venenosos deixassem claro que queria me matar por ter quebrado sua lança mágica. Queria que ela simplesmente gritasse, me desse um soco ou coisa assim. Era melhor me meter em brigar todos os dias a ser ignorado.

"Ela com certeza iria quebrá-lo todo." Disse Ares, com um sorriso orgulhoso e cruel. Poseidon olhou para ele calmamente, a ameaça explícita em seus olhos, que pareciam tempestuosos. Inconcientemente, Ares se encolheu e não disse mais nada.

Soube que alguém no acampamento andava ressentido comigo, porque uma noite entrei no meu chalé e achei um jornal horrível jogado porta adentro, um exemplar do New York Daily News, aberto na página Metrópole. Levei quase uma hora para ler a matéria, porque quanto mais ficava zangado mais as palavras pareciam flutuar na página.

Todos sentiram uma espécie de arrepio correr pela coluna após a leitura da última frase. Não entendiam exatamente o porque, mas uma chama, bem fundo em cada um, começou a prepará-los para o que vinha em seguida.

MENINO E SUA MÃE AINDA DESAPARECIDOS DEPOIS DE ESTRANHO ACIDENTE DE CARRO

Por Ellen Smythe

Sally Jackson e seu filho Percy ainda não foram encontrados uma semana depois de seu misterioso desaparecimento. O carro da família, um Camaro 1978, totalmente queimado, foi descoberto no último sábado em uma estrada ao norte de Long Island com o teto arrancado e o eixo dianteiro quebrado. O carro havia capotado e derrapado por várias centenas de metros antes de explodir.

Mãe e filho tinham ido passar um fim de semana em Montauk, mas saíram às pressas, sob circunstâncias misteriosas. Pequenos sinais de sangue foram encontrados no carro e perto da cena do desastre, mas não havia outros indícios dos Jackson desaparecidos. Residentes da área rural declararam não ter visto nada de inusitado por volta da hora do acidente.

O marido da sra. Jackson, Gabe Ugliano, alega que o enteado, Percy Jackson, é uma criança problemática que foi expulsa de inúmeros internatos e demonstrou tendências violentas no passado.

A polícia não diz se o filho Percy é suspeito do desaparecimento da mãe, porém não descarta a hipótese de crime. Abaixo estão fotografias recentes de Sally Jackson e Percy. A polícia solicita a qualquer pessoa que tenha alguma informação que ligue gratuitamente para o disque-denúncia de crimes, a seguir.

O número do telefone estava circulado com marcador preto.

Amarrotei o jornal e joguei fora, depois me joguei em meu beliche no meio do chalé vazio.

Apagar das luzes, disse para mim mesmo, arrasado.

"Que... Cara... Filho da mãe." disse Hermes, com os olhos arregalados em ultrage e claramente se segurando para não dizer coisa pior. Os outros também sentiam a a mesma coisa.

"Esse cara não é digno de Sally." Disseram Poseidon e Afrodite, o primeiro corando um pouco pelo olhar maléfico que a segunda lhe lançou.

Naquela noite, tive meu pior pesadelo até então.

Eu corria pela praia no meio de uma tempestade. Dessa vez, havia uma cidade atrás de mim. Não Nova York. O panorama era diferente: os edifícios eram mais afastados uns dos outros, havia palmeiras e colinas baixas a distância.

Cem metros adiante, na arrebentação, dois homens estavam brigando. Pareciam lutadores de tevê, musculosos, com barbas e cabelos compridos. Ambos usavam túnicas gregas esvoaçantes, uma guarnecida de azul, a outra, de verde. Atracavam-se, lutavam, chutavam e davam cabeçadas, e a cada vez que tocavam, caíam raios, o céu escurecia e ventos sopravam.

"Zeus, Poseidon..." Disse Hera, ameaçadoramente delicada. "O QUE DIABOS ESTÃO FAZENDO?!"

Ambos arregalaram os olhos e engoliram em seco, sumindo para debaixo de seus tronos em questão de segundos. Em seguida ouviu-se:

"Eu não fiz nada, a culpa é dele!" Disse Poseidon, a voz abafada como sempre acontecia quando ele entrava em seu abrigo.

"Cale a boca, seu cabeça de algas estúpido!" Disse Zeus, de seu mais novo abrigo.

"Como podem ser tão infantis?" Pergutou Deméter, bebendo um chá de camomila. "Parecem Apolo e Hermes discutindo."

Duas cabeças surgiram nos tronos de Poseidon e Zeus e imediatamente as quatro vozes exclamaram um indignado "EI!"

Eu precisava detê-los. Não sabia por quê. Mas, quanto mais eu corria, mais o vento me empurrava de volta, até eu correr sem sair do lugar, os calcanhares se enterrando inutilmente na areia.

Por cima do rugido da tempestade, pude ouvir o de túnica azul gritando para o de túnica verde: Devolva! Devolva! Era como se uma criança do jardim-de-infância estivesse brigando por causa de um brinquedo.

"Percy concorda comigo..." Comentou a deusa da agricultura, tensamente.

As ondas ficaram maiores, arrebentando na praia e me borrifando com sal.

Eu gritei: Parem com isso! Parem de brigar!

O chão estremeceu. Risadas vieram de algum lugar embaixo da terra, e uma voz profunda e maligna me gelou o sangue.

Venha para baixo, pequeno herói, a voz sussurrou. Venha para baixo!

Mais uma vez a cabeça de Poseidon saiu do abrigo. Porém, dessa vez havia uma espécie de aura esverdeada em volta de todo o seu ser. Seus olhos estavam definitivamente raivosos, e Hades ergueu as sobrancelhas. Era preciso muito para deixá-lo daquela forma. Seria de fato possível que o amor por Percy, o garoto que ele sequer conhecia, o deixaria tão furioso quanto aparentava no momento?

A areia se abriu embaixo de mim numa fenda que ia direto ao centro da Terra. Meus pés escorregaram e as trevas me engoliram.

Acordei, certo de que estava caindo.

Ainda estava na cama, no chalé 3. Meu corpo me dizia que já era manhã, mas estava escuro lá fora e o trovão ribombava pelas colinas. Uma tempestade estava se formando. Isso eu não havia sonhado.

Ouvi um som oco à porta, o som de um casco batendo na soleira.

- Entre.

Grover trotou para dentro, parecendo preocupado.

- O sr. D quer vê-lo.

O deus ergueu as sobrancelhas, apresentando uma surpresa indiferente. Não costumava chamar muitos campistas à Casa, a não ser que fosse para dar-lhe uma bronca, coisa que só acontecia no caso de Quíron estar muito ocupado ou fora, ou quando o semideus fosse receber uma missão.

- Por quê?

- Ele quer matar... quer dizer, é melhor deixar que ele conte.

Eu me vesti, agitado, e fui, certo de que estava em uma grande encrenca.

A tensão se desfez de um jeito que ninguém dali supôs ser possível. O simples comentário do garoto já fez com que os deuses soltassem risadinhas e conseguiu a façanha de retirar de cada um o peso incômodo e inconscienrte que havia se instalado após a leitura do sonho do garoto.

Havia dias eu estava esperando uma convocação para a Casa Grande. Agora que tinha sido declarado filho de Poseidon, um dos Três Grandes deuses que não deveriam ter filhos, imaginei que o simples fato de estar vivo já fosse um crime. Os outros deuses provavelmente haviam debatido sobre o melhor jeito de me punir por existir, e agora o sr. D estava pronto para dar seu veredicto.

"Putz! Eu nunca pensei que alguém poderia ser tão pessimista." Disse Apolo, franzindo o cenho.

"Será que faríamos isso? Ainda mais considerando o show que o tio Poseids fez depois que descobrimos Thalia..." Disse Hermes, coçando o queixo distraidamente. Distração essa que lhe rendeu uma concha bem jogada na cabeça.

Acima do estreito de Long Island, o céu parecia uma sopa de tinta em ponto de fervura. Uma cortina brumosa de chuva vinha em nossa direção. Perguntei a Grover se precisávamos de um guarda-chuva.

- Não - disse ele. - Aqui nunca chove, a não ser que queiramos.

Apontei a tempestade.

- Então o que diabo é aquilo?

Ele olhou, preocupado, para o céu.

- Vai passar em volta de nós. O mau tempo sempre faz isso.

Percebi que ele estava certo. Fazia uma semana que estava ali e nunca vira o tempo fechado. As poucas nuvens de chuva que tinha notado contornavam os limites do vale.

Mas aquela tempestade... aquela era imensa.

Todos olharam receosos para Poseidon e Zeus, que coçavam a cabeça parecendo preocupados. Algo muito sério estava acontecendo.

Na arena de vôlei as crianças do chalé de Apolo jogavam uma partida matinal contra os sátiros. Os gêmeos de Dionisio caminhavam em volta dos campos de morangos fazendo as plantas crescerem. Todos estavam cuidando de suas tarefas normais, mas pareciam tensos. Estavam de olho na tempestade.

Grover e eu caminhamos até a varanda da frente da Casa Grande. Dionísio estava sentado à mesa de pinoche com sua Diet Coke, usando a camisa havaiana com listras de tigre, exatamente como no meu primeiro dia. Quíron estava do outro lado da mesa em sua falsa cadeira de rodas. Jogavam contra oponentes invisíveis - duas mãos de cartas flutuavam no ar.

"Impossível não rir de um deus dos vinhos bebendo Diet Coke!" Exclamou Ares, rindo, e imediatamente sendo seguido por Hermes, Apolo, Hefesto e Poseidon, enquando os demais soltavam risadinhas. Dionisio, emburrado, pareceu ter vontade de conjurar uma garrafa de vinho, mas mais uma vez ficou frustrado ao ver a garrafa de 1l e meio de seu "refrigerante favorito". Fato que, obviamente, gerou mais e mais risadas escandalosas.

- Bem, bem - disse o sr. D sem erguer os olhos. - Nossa pequena celebridade.

Eu aguardei.

- Chegue mais perto - disse o sr. D. - E não espere que eu me prostre diante de você, mortal, só porque o velho Barbas de Craca é seu pai.

"Como é, Dio?" Disse Poseidon, sorrindo de forma assustadoramente doce. As risadas, que já haviam voltado a sonorizar o ambiente, aumentaram depois que Dionisio deu de ombros e bebericou sua coca, como se não estivesse nem prestando atenção.

Uma rede de raios brilhou através das nuvens. Um trovão fez tremerem as janelas da casa.

- Blablablá - disse Dionisio.

Quíron fingiu interesse em suas cartas de pinoche. Grover se encolheu junto ao gradil, os cascos batendo para a frente e para trás.

- Se as coisas fossem do meu jeito - disse Dionisio -, eu faria suas moléculas irromperem em chamas. Nós varreríamos as cinzas e estaríamos livres de um monte de problemas. Mas Quíron parece achar que isso seria contra a minha missão neste acampamento maldito: manter vocês, moleques, a salvo do mal.

"Se as coisas fossem do meu jeito, Dionisio..." Começou Poseidon, sendo interrompido por um soco de Hera, que lançou um olhar capaz de fazer até um titã tremer nas tamancas.

"Pelo visto Percy tinha uma razão para seu pessimismo." Disse Apolo, surpreso. Com um diretor daqueles, estava claro como água o tamanho da sorte que os campistas tinham

- Combustão espontânea é uma forma de mal, sr. D - interveio Quíron.

- Bobagem - disse Dionisio. - O menino não sentiria nada. No entanto, eu concordei em me conter. Estou pensando em transformar você em um golfinho em vez disso, e mandá-lo de volta para seu pai.

- Sr. D... - advertiu Quíron.

- Ora, está bem - cedeu Dionisio. - Há mais uma opção. Mas é uma insensatez descomunal. - Dionsio levantou-se, e as cartas dos jogadores invisíveis caíram sobre a mesa. - Estou indo ao Olimpo para uma reunião de emergência. Se o menino ainda estiver aqui quando eu voltar, vou transformá-lo em um nariz-de-garrafa do Atlântico. Entendeu? E Perseu Jackson, se você for mesmo esperto, verá que se trata de uma escolha muito mais sensata do que aquela que Quíron imagina.

"Bom, vemos imediatamente o que acontecerá." Disse Hermes, entrelaçando os dedos e apoiando os cotovelos nos joelhos, fingindo uma expressão inteligente.

"E o que é?" Perguntou Hefesto, curioso.

"Ora, nobre amigo." Disse Apolo pomposamente, como sempre entrando no jogo do meio irmão. "Existe algo que todo filho de Poseidon tem, cientificamente falando. Algo que eles definitivamente puxaram do pai."

"E o que é?" Disse Ártemis, já sorrindo.

"A tendência à lerdeza." Completou Hermes, gesticulando como se completasse a explicação de uma teoria perfeita para a exploração de rochas na Lua.

As risadas que já estavam altas, se tornaram mais uma vez escandalosas quando ouviu-se, de um Poseidon muito confuso:

"Qual foi a piada?"

Dionísio pegou uma carta, torceu-a e ela se transformou em um retângulo de plástico. Cartão de crédito?

Não. Um passe de segurança.

Ele estalou os dedos.

O ar pareceu se dobrar e se curvar em volta dele. Ele transformou-se em um holograma, depois em um vento e depois desapareceu, deixando para trás apenas o cheiro de uvas recém-prensadas.

"Ah, uvas..." Disse Dionisio, aleatoriamente e com um sorriso de deleite.

"Imaginem se Zeus o tivesse proibido não só do vinho, mas das uvas também?" Comentou Hades, pensativo.

Algumas risadinhas não foram capazes de impedir os deuses de ver o leve tremor que correu pelo corpo do deus dos vinhos, o que as fez se tornarem exageradamente maiores.

Quíron sorriu para mim, mas parecia cansado e tenso.

- Sente-se, Percy, por favor. Grover também.

Nós obedecemos.

Quíron ypôs suas cartas na mesa. A mão vencedora que ele não chegara a usar.

- Diga-me, Percy - disse ele. - O que você fez com o cão infernal?

Só de ouvir o nome, eu estremeci.

Quíron provavelmente queria que eu dissesse: Ora, aquilo não foi nada. Costumo comer cães infernais no café-da-manhã. Mas eu não estava com vontade de mentir.

Pouco se importando com a tensão que lentamente voltava a se instalar e para a surpresa geral, quem puxou as risadas pós comentário padrão de filhos de Ares foi Athena, fato que as tornou ainda mais entusiamadas.

- Ele me apavorou - falei. - Se vocês não o tivessem acertado, eu estaria morto.

- Você vai enfrentar coisas piores, Percy. Muito piores, antes de terminar.

- Terminar... o quê?

- Sua missão, é claro. Você vai aceitá-la?

"Poxa, normalzão, Quíron: 'Obviamente estou falando da sua missão' 'Que missão?' 'Não interessa, apenas aceite!'" Disse Héstia, modificando sua voz de forma ridiculamente engraçada para o semi-diálogo.

Dei uma olhada para Grover, que estava cruzando os dedos.

- Ahn, senhor, ainda não me contou qual será.

Quíron fez uma careta.

- Bem, essa é a parte difícil, os detalhes.

"Ah, que frango!" Disse Ares, rindo e batendo no peito. "Se fosse filho meu já teria aceitado. Quem precisa de detalhes? Eles só atrapalham!"

"E você ainda se pergunta porque sempre perde para mim." Suspirou Athena, fazendo o deus da guerra formar uma carranca (a qual Aphrodite se mostrou pronta para desfazer, deixando Hefesto irritado e emburrado) e os demais soltarem risadinhas.

Um trovão irrompeu pelo vale. As nuvens de tempestade haviam agora chegado ao limite da praia. Até onde eu podia ver, o céu e o mar estavam fervendo juntos.

- Poseidon e Zeus - disse eu. - Eles estão lutando por algo valioso... algo que foi roubado, não estão?

Todos congelaram, encarando-se com caras idênticas de choque absoluto. Então era isso. Esse era o problema. Mas quem ousaria roubar algo assim?

Quíron e Grover trocaram olhares.

Quíron inclinou-se para frente em sua cadeira de rodas.

- Como você sabe disso?

Senti o rosto quente. Desejei não ter aberto meu bocão.

"É, é desse jeito. No Acampamento não existem segredos!" Disse Hefesto.

- Desde o Natal o tempo está esquisito, como se o mar e o céu estivessem brigando. Então falei com Annabeth, e ela tinha ouvido alguma coisa sobre um roubo. E... também andei sonhando umas coisas.

- Eu sabia - disse Grover.

- Quieto, sátiro - ordenou Quíron.

"Parece bullying pra mim." Disse Dionísio, olhando em direção ao livro.

- Mas essa é a missão dele! - Os olhos de Grover estavam brilhantes de excitação. - Tem de ser!

- Só o Oráculo pode determinar. - Quíron alisou a barba eriçada. - No entanto, Percy, você está correto. Seu pai e Zeus estão tendo sua pior disputa em séculos. Estão lutando por uma coisa valiosa que foi roubada. Para ser preciso: um relâmpago.

"O QUÊ?!" Exclamaram todos, horrorizados. Poderia Quíron estar falando sobre o raio mestre? Não... Não seria possível. Ou seria?

Eu ri nervoso.

- Um o quê?

- Não brinque com isso - advertiu Quíron. - Não estou falando de um ziguezague recoberto de papel-alumínio como você vê em peças da escola. Estou falando de um cilindro de bronze celestial de alto grau, com sessenta centímetros de comprimento, arrematado em ambos os lados com explosivos de nível deífico.

"Não." Todos disseram, de olhos arregalados. Não podiam acreditar, de forma alguma, que alguém havia roubado o objeto mais poderoso do Olimpo.

- Ah.

- O raio-mestre de Zeus - disse Quíron, agora ficando emocionado. - O símbolo de seu poder, conforme o qual todos os outros raios são moldados. A primeira arma feita pelos Ciclopes para a guerra contra os Titãs, que decepou o cume do Monte Etna e arremessou Cronos para fora do seu trono; o raio-mestre, que acumula potência suficiente para fazer as bombas de hidrogênio dos mortais parecerem fogos de artifícios.

- E ele desapareceu?

- Roubaram - disse Quíron.

- Quem roubaram?

"Quem roubou." Corrigiu Athena, tensa de forma que mostrava o quão inconsciente havia sido sua frase.

- Quem roubou - corrigiu Quíron. Uma vez professor, sempre professor. - Você.

Meu queixo caiu.

"E O QUÊ?!" Mais uma vez, todos exclamaram. O garoto, a pouco "tempo", sequer acreditava na existência de deuses gregos, como se infiltraria no Olimpo e roubaria o objeto símbolo do deus dos céus? Aliás, como ele saberia que tal objeto existia, ou que o Olimpo em questão estaria localizado sobre o Empire State?

- Pelo menos - Quíron ergueu uma das mãos -, é isso que Zeus pensa. Durante o solstício de inverno, na última assembléia dos deuses, Zeus e Poseidon tiveram uma discussão. As tolices de sempre: "A Mãe Reia sempre gostou mais de você", "Os desastres aéreos são mais espetaculares que os marítimos", etc. Mais tarde, Zeus se deu conta de que o seu raio-mestre havia desaparecido, levado da sala do trono bem debaixo do seu nariz. No mesmo instante culpou Poseidon. Agora, um deus não pode usurpar diretamente o símbolo de poder de outro deus - isso é proibido pela mais antiga das leis divinas. Mas Zeus acredita que seu pai convenceu um herói humano a pegá-lo.

"Zeus! Como pode dizer isso? Eu nunca demonstrei o menor interesse pelo seu bastãozinho elétrico, porque iria rouba-lo? Use a cabeça!" Brigou Poseidon. "E você sabe muito bem que Percy não sabia de nada sobre nós, como eu simplesmente o diria 'E aí, moleque, eu sou seu pai, o que você acha de roubar um negócio para mim lá no Olimpo?' Claro que não!"

Por sorte, talvez, um pingo de consciência atingiu Zeus antes que ele apelasse como sempre. E ele, que já estava levantando para fortalecer-se na discussão, sentou-se novamente, olhando fixamente e de boca aberta para algum ponto no chão.

"Não." Ele disse, ainda olhando fixamente para o chão. "Eu não sei. Não esse eu." Apontando na direção do livro, ainda sem desviar os olhos, Zeus continuou. "Nenhum de nós sabe, porque nenhum de nós leu o livro. E mesmo tendo lido, não lembraremos de nada, o que é sinônimo. Nós do livro não somos os mesmos de agora."

A fala do deus deu a cada um o que refletir. Era verdade afinal. Algo que no fundo todos simplesmente sabiam. Que a leitura não tinha nenhuma outra razão senão tirá-los do tédio de uma reunião de solstício. Nada de modificar o futuro, nem sequer um pouco. No momento, eles eram observadores apenas, de seus eus futuros.

- Mas eu não...

- Paciência, e escute, criança - disse Quíron. - Zeus tem boas razões para suspeitar. As forjas dos Ciclopes ficam embaixo do oceano, o que dá a Poseidon alguma influencia sobre os fabricantes dos raios do seu irmão. Zeus acredita que Poseidon pegou o raio-mestre e está agora mandando os Ciclopes construírem secretamente um arsenal de cópias ilegais, que poderiam ser usadas par derrubar Zeus do seu trono. A única coisa de que Zeus não tinha certeza era qual herói Poseidon usara para roubar o raio. Agora Poseidon declarou abertamente que você é filho dele. Você estava em Nova York nas férias de inverno. Poderia facilmente ter se infiltrado no Olimpo. Zeus acredita que encontrou o seu ladrão.

- Mas eu nunca estive no Olimpo! Zeus está maluco!

"Wooow!" Exclamaram Hermes e Apolo, pasmos. "O menino é cara de pau mesmo!"

Todos pareciam surpresos com a ousadia do garoto. Não que esperassem de fato que ele respeitasse o senhor dos céus como outros semideuses mais experientes mas, absolutamente, mais do que isso eles esperavam!

Quíron e Grover olharam nervosamente para o céu. As nuvens não pareciam estar se separando à nossa volta, como Grover prometera. Estavam vindo para cima do nosso vale, fechando-nos dentro dele como uma tampa de caixão.

Todos se entreolharam. A briga estava forte ao ponto que cobrir o acampamento, coisa que dificilmente acontecia. Apolo quase sentia-se deixando de iluminar o acampamento, enquanto a tempestade ocupava seu lugar.

- Ahn, Percy...? - disse Grover. - Nós não usamos essa palavra que começa com m para descrever o Senhor do Céu.

- Paranóico, quem sabe - sugeriu Quíron. - Mas, por outro lado, Poseidon já tentou derrubar Zeus antes. Acredito que essa foi a pergunta 38 da sua prova final... - Ele olhou para mim como quem realmente esperava que eu me lembrasse da pergunta 38.

"Se fosse meu filho, certamente se lembraria." Disse Athena, em meio a risadas. Poseidon parecia levemente acuado, só um pouco, enquanto comentava baixo:

"Isso foi a milênios atrás."

Zeus, porém, não ouviu seu argumento, resmungando indignado pelo "paranóico."

Como podia alguém me acusar de roubar a arma de um deus? Eu não conseguia nem furtar um pedaço de pizza da mesa de pôquer de Gabe sem ser pego.

As risadas explodiram mais uma vez, com a diferença de que agora serviam para mascarar a raiva e indignação que sentiam. Definitivamente, ninguém merecia um ser imundo como Gabe Ugliano. Como podia alguém negar pizza para o próprio enteado?

Quíron estava esperando por uma resposta.

- Alguma coisa a ver com uma rede de ouro? - adivinhei. - Poseidon, e Hera, e alguns outros deuses... eles, tipo, prenderam Zeus numa armadilha e não o deixaram sair até ele prometer ser um soberano melhor, certo?

"Eu realmente não acredito que você ainda está bolado com isso." Disse Poseidon, revirando os olhos. "Foi pelo bem maior!"

"Tudo poderia ter se resolvido com um diálogo." Disse Zeus, parecendo irritado com a memória.

"Como se eu não tivesse tentado!" Disse Hera, revirando os olhos. Poseidon assentiu solenemente, como uma criança cujo pai convenceu a mãe de algo.

- Correto - disse Quíron. - E Zeus nunca mais confiou em Poseidon desde então. Poseidon, é claro, nega ter roubado o raio-mestre. Ele se ofendeu com a acusação. Os dois vêm discutindo o tempo todo há meses, com ameaças de guerra. E agora você apareceu - a famosa gota-d'água.

"Mas ele é só uma criança..." Disse Perséfone, pela primeira vez desde o início do capítulo.

Ao mesmo tempo, do outro lado da sala, Hermes e Apolo falavam juntos:

"Literalmente!"

- Mas eu sou apenas uma criança!

- Percy - interveio Grover -, se você fosse Zeus, e já achasse que o seu irmão estava planejando derrubá-lo, e então subitamente admitisse que havia quebrado o juramento sagrado que fizera depois da Segunda Guerra Mundial e que era pai de um novo herói mortal que poderia ser usado como uma arma contra você... Isso não o deixaria com a pulga atrás da orelha?

- Mas eu não fiz nada. Poseidon - meu pai -, ele realmente não mandou roubar o raio-mestre, mandou?

"Claro que não!" disse Poseidon, balançando os punhos em sinal de frustração.

"Fazer o que, Poseids, se Zeus acha que seu recalque chega no céu e fica pairando no ambiente?" Disse Hermes, recebendo uma conchada na cabeça.

Quíron suspirou.

- A maioria dos observadores inteligentes concordaria que o roubo não faz o estilo de Poseidon. Mas o Deus do Mar é orgulhoso demais para tentar convencer Zeus disso. Zeus exigiu que Poseidon devolva o raio até o solstício de verão. Isso será em 21 de junho, dez dias a contar de agora. Poseidon quer um pedido de desculpas por ser chamado de ladrão até essa mesma data. Eu tinha esperanças de que a diplomacia prevalecesse, que Hera ou Demeter ou Héstia fariam os dois irmãos verem a razão. Mas a sua chegada inflamou o gênio de Zeus. Agora nenhum dos dois deuses quer recuar. A não ser que alguém intervenha, a não ser que o raio-mestre seja encontrado e devolvido a Zeus antes do solstício, haverá guerra. E você sabe como poderia ser uma guerra total, Percy?

"Nóoo!" Exclamaram Hefesto, Apolo, Hermes e Ares simultaneamente. Ares, claro, com um quê exagerado de animação à menção da possibilidade de uma guerra.

Hera, Deméter e Héstia suspiraram pela constatação da falta de sucesso em impedir a briguinha de maternal dos dois irmãos.

- Ruim ? - adivinhei.

- Imagine o mundo em caos. A natureza em guerra consigo mesma. Os olimpianos forçados a escolher lados entre Zeus e Poseidon. Destruição. Carnificina. Milhões de mortos. A civilização ocidental transformada em um campo de batalha tão grande que fará a Guerra de Tróia parecer uma luta de balões d'água.

- Ruim - repeti.

Todos, exceto Ares, que quase dava saltinhos de felicidade, se entreolharam. Não podiam, definitivamente, deixar isso acontecer... Mesmo assim, o pensamento aterrorizante da possível guerra os fez apelar para a via que qualquer leitor segue ao ler uma coleção: "Ainda tem outros livros pela frente, nenhuma guerra explode no primeiro livro, Percy ainda está a salvo..."

- E você, Percy Jackson, será o primeiro a sentir a ira de Zeus.

Começou a chover. Os jogadores de vôlei interromperam o jogo e olhavam perplexo para o céu.

Eu havia trazido a tempestade para a Colina Meio-Sangue, Zeus estava punindo o acampamento inteiro por minha causa. Eu estava furioso.

"O menino está furioso." Disse Dionísio, arregalando os olhos.

"Óo, cara! Como assim?" Riu Hermes, surpreso. Um semideus, filho do maior suspeito de um roubo sério, estava furioso com o acusador, que por acaso era o deus do céu, o soberano do Olimpo. 'É cada coisa que me aparece!' Pensou, ainda rindo.

- Então eu tenho de encontrar aquele raio estúpido - disse. - E devolvê-lo a Zeus.

"Não é estúpido, seu insolente!" Disse Hera, lançando um olhar mortal para o livro.


Em algum lugar no subúrbio de Nova York, o pequeno Percy estremeceu em sua soneca, na qual sonhava com um imenso palácio submerso.


- Que melhor oferenda de paz - disse Quíron -, do que fazer filho de Poseidon devolver o que é de Zeus?

- Se não está com Poseidon, onde está essa coisa?

- Eu creio que sei. - A expressão de Quíron era soturna. - Parte da profecia que recebi anos atrás... bem, algumas frases fazem sentido para mim, agora. Mas, antes que eu possa dizer mais, você precisa aceitar oficialmente a missão. Você precisa procurar o conselho do Oráculo.

"Meu oráculo..." Disse Apolo, infeliz.

Hermes fechou os olhos lentamente, e respirou fundo. Não conseguia pensar no Oráculo sem se lembrar... E independente da hora ou lugar, sentia a pontada habitual em seu coração.

- Por que você não pode dizer de antemão onde está o raio?

- Porque, se eu fizer isso, você ficará assustado demais para aceitar o desafio.

Os deuses arregalaram os olhos. Não sabiam se se animavam com a missão, que definitivamente renderia uma vigia 24h na TV Hefesto, ou se ficavam preocupados pelo garoto.

Eu engoli em seco.

- Boa razão.

- Então você concorda?

Olhei para Grover, que assentiu encorajadoramente.

Fácil para ele. Era a mim que Zeus queria matar.

Todos riram, acostumando-se cada vez mais ao humor irônico de Percy.

- Está bem - disse eu. - É melhor do que ser transformado em um golfinho.

- Então é hora de você consultar o Oráculo - disse Quíron. - Vá para cima, Percy Jackson, para o sótão. Quando descer de novo, presumindo que ainda esteja lúcido, conversaremos mais.

"Não garanto que seja tão melhor assim..." Disse Dionísio, bebericando sua Coca Diet.

Quatro lances acima, a escada terminava embaixo de um alçapão verde.

Puxei o cordão. A porta se abriu e uma escada de madeira caiu ruidosamente no lugar.

O ar morno que vinha de cima cheirava a mofo, madeira podre e mais alguma coisa... um cheiro que me lembrou a aula de biologia. Répteis. O cheiro de serpentes.

Uma espécie de animação, tão habitual, mas que agora não parecia se encaixar, invadiu os deuses. Mais uma missão para os entreter! Porém, "conhecendo" Percy, lendo sua história desde que, e ainda antes de ele descobrir que era um semideus, era... Estranho, quase triste, vê-lo ser obrigado a sair numa missão perigosa por seu pai ter sido acusado de um roubo.

Prendi a respiração e subi.

O sótão estava atulhado de sucata de heróis gregos: suportes de armaduras cobertos de teias de aranha; escudos outrora brilhantes cheios de adesivos dizendo ÍTACA, ILHA DE CIRCE E TERRA DAS AMAZONAS. Sobre uma mesa comprida estavam amontoados potes de vidro cheios de coisas em conserva - garras peludas decepadas, enormes olhos amarelos e diversas outras partes de monstros. Um troféu empoeirado na parede parecia ser uma cabeça de serpente gigante, mas com chifres e uma arcada completa de dentes de tubarão. Uma placa dizia: CABEÇA Nº 1 DA HIDRA, WOODSTOCK, N.Y., 1969.

"Aah, eu me lembro disso." Disse Héstia, balançando a cabeça suavemente.

"Ah, sim! Eu também." Concordou Hermes, pensando na grande quantidade de entregas de conteúdo duvidoso.

Junto à janela, sentado em uma banqueta de madeira com três pernas, estava o suvenir mais pavoroso de todos: uma múmia. Não do tipo enfaixada em panos, mas um corpo humano feminino, ressecado até ficar só a casca. Usava um vestido de verão estampado em batique, com uma porção de colares de contas e uma bandana por cima de longos cabelos pretos. A pele do rosto era fina e parecia couro por cima do crânio, e os olhos eram fendas brancas vítreas, como se os olhos de verdade tivessem sido substituídos por bolas de gude; devia estar morta fazia muito, muito tempo.

"Pobrezinha... Era tão linda!" Disse Apolo, parecendo realmente chateado.

Olhar para ela me deu arrepios nas costas. E isso foi antes de ela se endireitar na banqueta e abrir a boca. Uma névoa verde jorrou da garganta da múmia, serpenteando pelo chão em anéis grossos, sibilando como vinte mil cobras. Tropecei em mim mesmo tentando chegar até o alçapão, mas ele se fechou com uma batida. Dentro da minha cabeça, ouvi uma voz, deslizando por um ouvido e se enroscando por meu cérebro: Eu sou o espírito de Delfos, porta-voz das profecias de Febo Apolo, assassino da poderosa Píton. Aproxime-se, você que busca, e pergunte.

Eu quis dizer: Não, obrigado, porta errada, só estava procurando o banheiro. Mas me forcei a respirar fundo.

Apesar da excitação mal contida pré-profecia, todos começaram a rir. Quanto mais liam, mais parecia que apenas Perseu Jackson conseguiria fazê-los rir de coisas tão idiotas.

A múmia não estava viva. Era algum tipo de receptáculo horripilante para uma outra coisa, o poder que girava em espiral à minha volta na névoa verde. Mas sua presença não parecia maligna, como a da professora demoníaca de matemática, a sra. Dodds, ou a do Minotauro. Era mais como as Três Parcas que eu tinha visto tricotando o fio de lã ao lado da banca de frutas da rodovia: antiga, poderosa e, sem duvida, não-humana. E também não parecia especialmente interessada em me matar

"Pois é, parece ser cada vez mais raro alguém não estar interessado em te matar." Disse Ares, olhando de uma forma cética que não lhe era comum para o livro.

Reuni coragem para perguntar:

- Qual é o meu destino?

A névoa rodopiou, mais densa, juntando-se bem na minha frente e em volta da mesa com os potes que continham partes de monstros em conserva. De repente, havia quatro homens sentados à volta da mesa, jogando cartas. Os rostos ficaram mais nítidos. Era Gabe Cheiroso e seus cupinchas.

"Tá aí uma coisa que eu nunca entendi, Apolo." Disse Hefesto, brincando com um fio de bronze celestial que rapidamente se transformava em uma arte abstrata. "Porque seu oráculo se transforma em algo da vida do semideus?"

O deus do sol sorriu misteriosamente e não respondeu, bebendo um suco de laranja.

Meus punhos se contraíram, embora eu soubesse que aquele jogo de pôquer não podia ser real. Era uma ilusão, feita de névoa.

Gabe voltou-se para mim e falou na voz rouca do Oráculo: Você irá para o oeste, e irá enfrentar o deus que se tornou desleal.

"Quem será tão especial?" Disse Hermes, ignorando a seriedade da primeira frase da profecia. Então de fato um deus foi desleal a Zeus. E não poderia ter sido Poseidon, porque um filho enfrentaria o próprio pai? Ou... Seria uma possibilidade? Poderiam sequer cogitar isso? Não queria se perder nesses pensamentos, não agora. Então, juntamente com Apolo, continuou.

"O caso aqui não é banal, precisamos de ajuda, e de verdade, teremos que chamaaaar... Os heróis da cidade!" Nesse momento, ambos fizeram poses "heroicas", que fizeram os outros revirarem os olhos.

"Ok, Hefesto, corte os canais infantis das televisões de Hermes e Apolo." Disse Hera, à qual Hefesto assentiu solenemente. A dupla, obviamente, ficou emburrada e cruzou os braços.

O cupincha da direita ergueu os olhos e disse com a mesma voz: Você irá encontrar o que foi roubado, e o verá devolvido em segurança.

"Ah, isso é bom, hein?" Disse Dionísio, balançando a cabeça.

O da esquerda colocou três fichas na mesa, depois disse: Você será traído por aquele que o chama de amigo.

Por fim Eddie, o zelador do nosso edifício, preferiu a por sentença de todas: E, no fim, irá fracassar em salvar aquilo que mais importa.

Nem a dupla dinâmica foi capaz de brincar perante as duas últimas sentenças. Os deuses trocaram olhares. De repente, a missão parecia ainda pior que antes.

As figuras começaram a se dissolver. De início fiquei atordoado demais para dizer alguma coisa, mas quando a névoa recuou, enrolando-se como uma enorme serpente verde e deslizando de volta para dentro da boca da múmia, eu gritei:

- Espere! O que quer dizer? Que amigo? O que não vou conseguir salvar?

"Não adianta." Disse Hades, pressionando os lábios. As garotas ainda tinham a boca aberta em surpresa, e os garotos caarregavam um semblante sério.

A cauda da serpente de névoa desapareceu na boca da múmia. Ela se reclinou de volta contra a parede. A boca fechou-se bem apertada, como se não tivesse sido aberta em cem anos. O sótão ficou silencioso de novo, abandonado, nada além de uma sala cheia de suvenires.

Tive a sensação de que poderia ficar lá parado até juntar teias de aranha também, e não ficaria sabendo mais nada.

Minha audiência com o Oráculo estava encerrada.

- E então? - Quíron me perguntou.

Desabei em uma cadeira à mesa de pinoche.

- Ela disse que eu devia recuperar o que foi roubado.

"Ele vai dizer tudo?" Perguntou Ártemis, de certa forma preocupada.

"Assim espero, maninha." Disse Apolo, ainda sério.

Grover se inclinou para frente, mascando animado os restos de uma lata de Diet Coke.

- Isso é ótimo!

- O que foi que o Oráculo disse exatamente? - pressionou Quíron. - Isso é importante.

"Ele... Não vai dizer." Disse Aphrodite, suspirando.

Era algo que todos sabiam, afinal. Nenhum deles diria. Não tudo.

- Ela... ela disse que eu iria para o oeste e enfrentaria um deus que se tornou desleal. Recuperaria o que foi roubado e devolveria em segurança.

- Eu sabia - disse Grover.

Quíron não pareceu satisfeito.

- Mais alguma coisa?

Eu não queria contar a ele.

Pela primeira vez, simultaneamente, os quatorze deuses suspiraram. Isso não poderia ser coisa boa.

Que amigo iria me trair? Eu não tinha tantos assim.

E a última sentença - eu fracassaria em salvar o que mais importa. Que tipo de Oráculo me mandaria em uma missão e me diria, Ah, a propósito, você vai se dar mal.

Como eu poderia confessar aquilo?

- Não - falei. - Isso é tudo.

Ele estudou meu rosto.

- Muito bem, Percy. Mas saiba disto as palavras do Oráculo freqüentemente têm duplo sentido. Não se fie demais nelas. A verdade nem sempre fica clara até que os eventos aconteçam.

Tive a sensação de que ele sabia que eu estava escondendo algo ruim, e tentava fazer com que eu me sentisse melhor.

"Ele foi seu professor preferido, afinal." Disse Héstia, pensativa. "E você seu pupilo... Faz sentido ele te conhecer, né?"

- Certo - falei, ansioso por mudar de assunto. - Então, aonde vou? Quem é esse deus no oeste?

- Ah, pense, Percy - disse Quíron. - Se Zeus e Poseidon enfraquecem um ao outro numa guerra, quem tem a ganhar com isso?

Hades ergueu uma sobrancelha ao sentir os olhares sobre ele. Seria possível eles estarem o acusando? Não que fosse totalmente injusto mas... Mesmo assim!

- Algum outro que queira tomar o poder? - adivinhei.

- Sim, exatamente. Alguém que guarda um ressentimento, alguém que está infeliz com a parte que lhe coube desde que o mundo foi dividido eras atrás, cujo reinado se tornará poderoso com a morte de milhões. Alguém que odeia os irmãos por forçá-lo a um juramento de não ter mais filhos, um juramento que ambos quebraram.

"Ah, não. Não meeesmo. Todo mundo sabe que a última coisa que eu quero é mais mortos pra povoar meu reino! Ele está populoso demais pro meu gosto." Falou Hades, gesticulando. "Depois de 1939 as coisas ficaram agitadas, e com a quantidade de desastres e epidemias o Mundo Inferior ficou lotado."

"Não pode ter sido tanta gente assim." Disse Ártemis, de olhos arregalados.

"Você sabe que sim! Mais ou menos 60 milhões na Segunda Guerra Mundial, 50.000 mortos de Hiroshima e Nagasaki, depois epidemias como a Febre Amarela, Sarampo, Malária, daí as guerras do Vietnã e do Iraque, os diversos desastres naturais, ataques terroristas... Pelo Estige, tudo menos mais gente."

Os deuses olharam surpresos para o deus dos mortos. Talvez, de fato, ele não precisasse de mais gente em seus domínios...

Pensei nos meus sonhos, na voz maligna que falara do fundo da terra.

- Hades.

Quíron assentiu.

- O Senhor dos Mortos é a única possibilidade.

Grover babou um pedaço de alumínio pelo canto da boca.

O comentário fez Hades fuzilar o livro com os olhos.

"Sátiro maldito!"

"Opa opa, que baixaria é essa?!" Disse Dionísio, imediatamente após a frase de seu tio. "Não meta o sátiro na história!"

Hefesto continuou a leitura, antes que houvesse uma mini guerra entre os dois.

- Opa, espere aí. O-o quê?

- Uma das Fúrias veio atrás de Percy - lembrou Quíron. - Ela observou o rapaz até ter certeza da sua identidade, e então tentou matá-lo. As Fúrias obedecem a um só senhor: Hades.

- Sim, mas... mas Hades odeia todos os heróis - protestou Grover. - Especialmente se tiver descoberto que Percy é filho de Poseidon...

- Um cão infernal conseguiu entrar na floresta - continuou Quíron. - Eles só podem ser convocados dos Campos da Punição, e ele tinha de ser convocado por alguém de dentro do acampamento. Hades deve ter um espião aqui. Ele deve suspeitar que Poseidon tentará usar Percy para limpar seu nome. Hades gostaria muito de matar esse jovem meio-sangue antes que ele possa assumir a missão.

Perséfone apertou o braço do marido lvemente, sentindo-o tenso. Apesar de saber o quão difícil estava o Mundo Inferior, ela sabia que o discurso de Quíron fazia sentido, e era isso que irritava Hades.

- Boa - murmurei. - São dois dos deuses mais importantes querendo me matar.

Os deuses prenderam a risada. Percy tinha o dom de conseguir fazê-los riraté nos momentos "tensos" da história.

- Mas uma missão para... - Grover engoliu em seco. - Quer dizer, o raio-mestre não poderia estar em algum lugar como o Maine? O Maine é muito agradável nesta época do ano.

"De fato, é verdade. Eu adoraria Maine daqui a uns neses." Disse Dioniso, sonhador. Hades, ainda estressado pela defesa do deus ao sátiro, disse:

"Acho que vou pra lá com minha esposa, vou estar de folga... Já você vai estar preso naquele acampamento, não é?"

A cara de descontentamento de Dioniso foi mais que suficiente para fazer os deuses rirem dele.

"Isso mesmo, debochem da desgraça alheia!" Reclamou, arrancando ainda mais risadas. Ele, então, cruzou os braços, e Hefesto, meio ofegante pela risada, voltou a ler.

- Hades enviou um protegido para roubar o raio-mestre - insistiu Quíron. - Ele o escondeu no Mundo Inferior, sabendo muito bem que Zeus culparia Poseidon. Não pretendo entender perfeitamente os motivos do Senhor dos Mortos ou por que ele escolheu esta época para começar uma guerra, mas uma coisa é certa: Percy precisa ir ao Mundo Inferior, encontrar o raio-mestre e revelar a verdade.

Um fogo estranho queimou em meu estômago. O mais esquisito era que não se tratava de medo. Era expectativa. O desejo de vingança. Hades tentara me matar três vezes até agora, com a Fúria, o Minotauro e o cão infernal. Por sua culpa minha mãe desaparecera em um clarão. Agora ele tentava enquadrar eu e meu pai por um roubo que não tínhamos cometido. Eu estava pronto para enfrentá-lo. Além disso, se minha mãe estava no Mundo Inferior... Epa, rapaz!, disse a pequena parte do meu cérebro que ainda estava lúcida. Você é um garoto. Hades é um deus. Grover estava tremendo. Tinha começado a comer cartas de pinoche como se fossem batatinhas fritas.

Hades bufou. Não saberia dizer se aquele garoto estava sendo corajoso ou suicida, mas os outros à sua volta pareciam estar inclinados para a primeira opção. Parando para pensar, até fazia sentido... Um garoto de 12 anos se sentindo preparado para enfrentar o senhor do submundo sem quase nenhum treinamento, pensando muito além dele mesmo.

O pobre sujeito precisava completar uma missão comigo para obter sua licença de buscador, o que quer que fosse isso, mas como poderia lhe pedir que participasse daquilo, principalmente sabendo que o Oráculo dissera que eu ia fracassar? Era suicídio.

- Olhe, se nós sabemos que é Hades - disse a Quíron -, Zeus ou Poseidon poderiam descer ao Mundo Inferior e fazer rolar algumas cabeças.

- Suspeitar e saber não são o mesmo - disse Quíron. - Além disso, mesmo que suspeitem de Hades... imagino que Poseidon suspeite.. os outros deuses não poderiam recuperar o raio por si mesmos. Deuses não podem entrar nos territórios um do outro a não ser que sejam convidados. Essa é outra regra muito antiga. Heróis, por outro lado, têm certos privilégios. Podem ir a qualquer lugar, desafiar qualquer um, desde que sejam corajosos e fortes o bastante para fazê-lo. Nenhum deus pode ter responsabilidade pelos atos de um herói. Por que acha eu os deuses sempre agem por intermédio de seres humanos?

"Yeah, Human Rocks!" Disse Apolo, levantando os braços.

"Eles até que são úteis, eventualmente." Disse Ares, de braços cruzados, sem dar importância.

Atena revirou os olhos, mas antes que pudesse xingá-lo de ignorante e acéfalo, Hefesto continuou.

- Você está dizendo que estou sendo usado.

- Estou dizendo que não é por acaso que Poseidon o assumiu agora. É uma jogada muito arriscada, mas ele está em uma situação desesperadora. Precisa de você.

Meu pai precisa de mim. As emoções giraram dentro de mim como pedaços de vidro em um caleidoscópio. Eu não sabia se sentia ressentimento, gratidão, alegria ou raiva. Poseidon me ignorara por doze anos. Agora de repente, precisava de mim. Olhei para Quíron.

Poseidon sentiu-se como se estivesse virado ao avesso e alguém cutucasse seu coração com uma vareta pontuda. Seu eu do livro ainda nem conhecia o filho ao vivo, nunca havia trocado uma palavra sequer com ele, mas mesmo assim o forçava a carregar o peso da possibilidade de uma guerra nas costas.

- Você sabia o tempo todo que eu era filho de Poseidon, não é?

- Tinha minhas suspeitas. Como eu disse... também falei com o Oráculo.

Tive a sensação de que havia muita coisa que ele não estava me contando sobre sua profecia, mas percebi que não poderia me preocupar com aquilo naquela hora. Afinal, eu também estava sonegando informações.

"Lê-se: não importa que sua profecia diga que eu vá me ferrar, eu quero saber da minha missão." Disse Hefesto, dando de ombros.

"E agora começa a checagem." Falou Ártemis, se ajeitando na cadeira.

- Então, deixe-me entender direito - falei. - Preciso ir para o Mundo Inferior e confrontar o Senhor dos Mortos.

- Confere. - disse Quíron.

- Para encontrar a arma mais poderosa do universo.

- Confere.

- E levá-la de volta ao Olimpo antes do solstício de verão, daqui a dez dias.

- Isso mesmo. - Olhei para Grover, que engoliu o ás de copas.

- Cheguei a mencionar que o Maine é muito agradável nesta época do ano? - perguntou ele de um jeito cansado.

- Você não precisa ir - disse a ele. - Não posso lhe exigir isso.

- Ah... - Ele se balançou de um casco para o outro. - Não... é só que os sátiros, e os lugares embaixo da terra... bem... - Ele respirou fundo, depois se pôs de pé, sacudindo os pedaços de cartas e alumínio da camiseta. - Você salvou a minha vida, Percy. Se... se está falando sério em querer que eu vá junto, não vou deixá-lo na mão.

Fiquei tão aliviado que tive vontade de chorar, embora não achasse isso muito heróico. Grover era o único amigo que já tivera por mais que alguns meses. Não sabia muito bem o que um sátiro poderia fazer contra as forças dos mortos, mas me senti melhor sabendo que ele estaria comigo.

- Juntos até o fim, homem-bode. - Eu me virei para Quíron. - Então, para onde vamos? O Oráculo só disse para ir para oeste. - A entrada para o Mundo Inferior fica sempre no oeste. Muda de lugar de era em era, como o Olimpo. Atualmente, é claro, fica nos Estados Unidos.

- Onde? - Quíron pareceu surpreso.

"Não é óbvio?" Perguntaram Athena, Hades e Perséfone, revirando os olhos.

- Pensei que fosse óbvio. A entrada para o Mundo Inferior fica em Los Angeles.

- Ah - falei. - Claro. Então é só pegar um avião...

"Aaai, que lerdeza!" Disse Aphrodite, batendo de leve no rosto. "Só podia ser filho de Poseidon."

"Oi?" Disse o deus, parecendo despertar à menção de seu nome.

O que, obviamente, arrancou risadas de toda a sala, deixando um deus do mar bastante confuso..

- Não! - gritou Grover. - Percy, o que está pensando? Alguma vez na vida já esteve em um avião?

Sacudi a cabeça, sem graça. Minha mãe nunca me levara para lugar algum de avião. Ela sempre dizia que não tínhamos dinheiro pra isso. Além disso, os pais dela tinham morrido em um desastre de avião.

- Percy, pense - disse Quíron. - Você é filho do Deus do Mar. O rival mais rancoroso do seu pai é Zeus, Senhor do Céu. Sua mãe sabia muito bem que não podia confiar você a um avião.

Agora alerta, Poseidon agradecia silenciosamente por Sally ser tão precavida.

Acima de nós, relâmpagos estalaram. O trovão ribombou.

- Certo - disse eu, determinado a não olhar para a tempestade. - Então, viajarei por terra.

- Certo - disse Quíron. - Dois parceiros poderão acompanhá-lo. Grover é um. O outro já se apresentou como voluntário, se você aceitar a ajuda dela.

- Puxa - falei, fingindo surpresa. - Quem mais seria bastante estúpido para se apresentar para uma missão como essa?

"Não chame minha filha de estúpida." Disse Athena, bebericando uma xícara de café (que sabe-se lá de onde saiu) e parecendo distraída como que comenta que o tempo está nublado. "O que foi?" Comentou, ao perceber que todos a encaravam boquiabertos. Em segundos, sua cara mudou de curiosidade para compreensão e imediatamente para tédio, revirando os olhos. Pelo visto, nem em mais alguns milênios eles seriam capazes de se acostumar com suas deduções precisas.

O ar tremulou atrás de Quíron.

Annabeth se tornou visível, enfiando o boné dos Yankees no bolso de trás.

- Eu estava esperando há muito tempo por uma missão, cabeça de alga - disse ela. - Atena não é fã de Poseidon, mas se você vai salvar o mundo, sou a melhor pessoa para impedir que estrague tudo.

- Se é você quem diz. Tem algum plano, sabidinha? As bochechas dela coraram.

Ninguém reparou no sorrisinho malicioso que Aphrodite lançou em direção ao livro. Não que eles precisassem saber, mas ela acabara por perceber seu futuro senso de romances... E ela podia ver claramente que se divertiria com Annabeth Chase.

- Você quer a minha ajuda ou não?

A verdade é que eu queria. Precisava de toda a ajuda que pudesse encontrar.

- Um trio - disse eu. - Isso vai dar certo.

- Excelente - disse Quíron. - Esta tarde podemos levar vocês no máximo até o terminal de ônibus em Manhattan. Depois disso, estarão por conta própria.

Um relâmpago. A chuva desabou sobre as campinas que jamais deveriam ver um temporal violento.

- Não há tempo a perder - disse Quíron. - Acho que todos vocês devem fazer as malas.

"É isso." Disse Hefesto, feliz por acabar aquela leitura cheia de interrupções.

"No próximo eles estarão em missão..." Comentou Hermes, animado. "Quem vai ler?"

"Eu leio." Falou Hades, ansioso para livrar-se de sua vez como leitor. Pegou o livro das mãos do deus dos ferreiros e, após sentar-se tão confortavelmente quanto possível em sua cadeira improvisada, pôs-se a ler.

"Eu destruo um ônibus."


Eu ouvi um aleluia, irmãos? Se sim, foi de mim mesma. Nunca nenhum capítulo foi enrolado como este que vos posto. As únicas coisas que posso pedir são milhares de perdões, porque eu sei o quanto é horrível quando um autor não atualiza a fic que você acompanha, e me sinto péssima por ter feito isso a vocês (considerando, é claro, que ainda existam pessoas acompanhando, mesmo depois que Aracne ocupou a fic com sua teia). Não tenho certeza se justificativas são válidas, mas contar porque da demora. Primeiramente, houve um bloqueio em relação a Percy Jackson de uma forma impossível de explicar. Falta de criatividade, falta de tempo e um pouco de preguiça foram elementos louváveis (ou não) para a falta de atualização. Houve um caso de plágio à essa fic no Nyah e eu fiquei bipolar quanto a isso porque, apesar da depressão depois de descoberta disso, meu lado positivo me fez pensar que OQDT é boa ao ponto de sofrer plágio. Tentem entender; num caso como esses, ou você fica pra baixo ou seu ego fica nas alturas. Enfim, durante esse meio tempo, entrei em contato com fanfics interativas, que são quase mágicas de tão legais. Li até "Quarta Feira Submersa" da coleção "As Chaves do Reino, que é épica mas só traduziram até "Sra. Sexta Feira" (acho que é isso o-o), então resolvi esperar até traduzirem Domingo. Aaah, sim, li todos "As Crônicas dos Kane", que eu adorei freneticamente, pra variar. E estou viciada em animes *-*. Adiantando a encheção de linguiça para muito recentemente, fui apresentada por minha linds LilyLuna ao grupo dos malucos mais perfeitos do mundo. Eles me receberam muito melhor do que eu jamais teria sonhado, e eu simplesmente já amo cada um deles. Todos são autores também, e quando comentei dessa fic e mandei o link, eles... Meio que... Me intimaram a escrever. E em cerca de duas semanas, está aqui o capítulo muito pioso pra vocês! Portanto, se tiverem vontade de agradecer a alguém, se deportem à Vic, Anne, Allie (LilyLuna) e Tii (Mago Merlin). Eeeeu agradeço freneticamente, porque se não fosse por vocês, esse capítulo ia sair no dia de são nunca. Amo muito vocês, gente, e mesmo conhecendo-os a não muito tempo (exceto Allie piosa) vocês são muito especiais pra mim!

Agora, é de suma importância meu agradecimento às lindas pessoas que me mandaram reviews no capítulo anterior, vocês são perfeitas.

Respostas às reviews:

Kessy Rods: Me desculpa Ignorei sua carinha de cachorro abandonado na mudança e demorei décadas pra atualizar D= fico muito contente que tenha gostado do último capítulo, e espero que esse também te agrade ^^ Você tinha perguntado se as coisas vão acontecendo no mundo durante a leitura. Na verdadeÇ minha visão disso seria que, como eles leem sobre Percy e, por intermédio dele, sobre eles mesmos (fez sentido? o-õ), e dessa forma eles conseguem sentir o que seus eus do livro sentem, como aconteceu com a diva da Aphro ainda nesse capítulo. Booom, é só isso Ah, e eu prometo, em nome dos meus intimadores, que o próximo capítulo sairá mais rápido! Beejos.

LilyLuna muito piosa: Allie, tomara que tu goste ~~ Quero o meu capítulo, ok? Pare de enrolar Uu Espero que tenha se divertido com nossos deuses por esse capítulo especialmente intimado por você. Beeejos.

Vanessa S: Nem preciso repetir um pedido de desculpas, né? espero que tenha gostado desse capítulo o/ Beejos.

Evellyn Lira: Ooi ^^ Muito obrigada pelo aviso sobre a fanfic plágio, se você não tivesse dito, eu nunca descobriria! Espero que goste desse capítulo, beejos.

Clenery: Essa atualização responde sua pergunta? Obrigada por sua review o/ A espero aqui mais vezes, hein? Beejos.

AnnyChase: Bem vinda =) Como eu disse à Clenery, não a abandonei, e planejo atualizá-la com muito mais frequência ^^ E eu to loooonge de ser diva tomara que continue acompanhando o/ Beeejos.

V Black: *Foge* Se você me matar, nunca mais vai ter capítulos ! Oo Gostou? Houveram dados cientificamente comprovados especiais pra você e pra Anne u-u até o skype xD Beeejos.

Então, é isso, gente ^^ até o próximo o/