Menma.

Em tudo o que você tocou em mim, ainda existe calor.

De resto, virei sombra.

Brisa fria que corre sem incomodar, sem tocar ninguém.

Sem tocar a ninguém.

Mas corre cegamente.

Aquela criança que eu era, que você era. Aquelas crianças que juntos nós fomos , aquilo não mais existe.

Se findou.

Mas elas insistem em se manter pulsantes em mim.

Aquela inocência ainda amarga e ecoa, dentro,

ela permanece em minhas entranhas e lentamente apodrece e as putrefaz,

se espalha como um câncer, dominando-me.

Ela não me abandonou.

E eu me isolei, me tornei aquele que se esconde

do presente,

do futuro.

E você me aparece de repente, sorri, e me destrói.

Me destrói porque me lembra que se foi.

Me destrói porque me dá esperanças,

aquelas asas que pesam leves mas que nunca alçam voo, e me ferem.

Me destrói porque, Menma, eu não quero mais te ver se não for pra te ter para sempre.

Me destrói ainda mais porque por misericórdia a mim mesmo eu me permito te ver um dia a mais, como se fosse capaz de me aliviar.

Eu me dou esse grito desesperado de condolência, de quem não da conta de seguir sozinho.

Minha Meiko.

Que alegria mais estupidamente egoísta que me dilacera.

Te vejo, e só eu. Te sinto, sozinho.

Minha, eu penso,

em enorme vergonha de minha própria possessividade, ridícula.

Que me satisfaz e chaga.

Mas você nunca será, pequena. Você é de todos, de tudo.

Uma fonte de luz que deve ser partilhada, e sempre foi assim. Sem isso, você não brilha, limita-se a um pequeno pontinho tristonho de luz cinza, taciturna.

A luzinha quente que você acendeu em algum canto de mim já naquela época, é a única que ilumina o oco que me preenche.

E então, não vou lhe entregar esta carta, Menma, pois sei que dela emergirão salgadas as lagrimas que você, forte, dissipa com sorrisos. Não quero vê-las.

Eu vou te encontrar, Meiko. Em corpo, alma, calor, saudade, tristeza, ternura. Eu Vou te encontrar em amor. Mas não vou te entristecer, ah, Menma. Temo sua tristeza, e somente ela. Não temo a morte, a violência, o sofrimento ou o sentir. Eu temo a sua dor, pois em mim ela afunda e me esmaga, me esmigalha, quando sai espessa em uma lágrima tímida e guardada dentro de seus longos olhos claros, tao límpidos.

Eu sei que você sabe disso tudo, mas não vou te irrogar este peso de por em letras aquilo que se nubla em pensamentos.

O meu "eu te amo" não se conjulgará em passado. Não se tornará "eu te amei".

Eu vou te deixar feliz. Mas não vou te deixar.

Eu amo você, pequena.