até

A vida inteira presa e liberta num suspiro. Dumbledore apoiava a testa cansada em sua mão saudável, os olhos azuis, cintilantes e penetrantes, estavam agora marejados, enquanto os oclinhos de meia-lua pendiam desajeitados sobre o longo e tortuoso nariz.

Dumbledore estava morrendo, mas ele já sabia disso. Ele soube muito antes de Harry, muito antes de Severus, muito antes de Tom, mas não com ajuda de magia. Era somente uma dessas certezas que as pessoas levam em suas vidas até o fim delas.

Em momentos como esse, sentia vontade de sorvete de limão. Precisava de algo, qualquer distração, qualquer coisa que tirasse a morte de sua cabeça e de seu espírito antes do momento combinado. Para tanto, esperou ouvir o canto de Fawkes, esperou ouvir algum comentário inconveniente e espirituoso de Phineas, esperou alguma palavra amável e encorajadora de Dilys, ou mesmo um cumprimento de Armando, Dexter, Everard. Mas nada veio.

Ergueu os olhos, procurando-os, e estavam quase todos lá - salvo Everard, que àquela altura devia estar passeando por outros de seus quadros, os demais o fitavam com pesar, com tristeza e, será possível? Isso em seus olhos seria compaixão, Phineas? A vida inteira presa e liberta num novo suspiro, uma tomada de fôlego. Além do silêncio constrangedor, nada mais veio. Nem de seus antecessores, nem de sua querida Fawkes, adormecida em seu poleiro.

Dumbledore levantou-se de sua poltrona. Tomou nos braços uma longa capa de viagem e se dirigiu à janela, contemplando os terrenos da escola. Ajeitou no rosto os oclinhos de meia-lua, e, ainda que não vissem, aos quadros de sua sala deu um dolorido sorriso, os olhos faíscando vida e juventude como em desafio ao seu destino. Ao falar, sua voz soou fraca; rouca, até! Mas grata no fim.

"Ah, meus caros amigos. Foi um enorme prazer passar esse tempo com vocês..."

Esperou.

Ouviu sua porta ser esmurrada, e então Fawkes despertar de seu sono.

Com a voz calma, respondeu "Entre" depois que Harry já se precipitara para dentro da sala.