Nota da autora: Ainda não sei quantos capítulos essa fic vai ter, mas garanto mais de cinco ;) Vou cuidar para atualizar com frequência! Fazia tempo que que eu queria um plot assim, de romance/humor, com a vida de casado dos dois, e a Bela me "vendeu" o dela lá na seção R/Hr do fórum 6V. Obrigada, Bela! Espero que gostem!


Os problemas


O silêncio parecia reverberar nas paredes de madeira que compunham a casa dos Weasleys. Desde o alto do segundo andar até o térreo, nada fazia barulho. Lá fora, um sol quente e reconfortante de início de primavera fazia com que as flores crescessem e os pássaros cantassem mais alto. Mas, ali dentro, não se ouvia nada. Ou quase nada.

O som delicado, baixo e quase surdo de uma página sendo virada. Hermione lia, pela décima vez, O Retrato de Dorian Gray, do autor trouxa Oscar Wilde. Ela já sabia a maior parte da narrativa de cor e suas partes favoritas estavam marcadas com papel adesivo colorido, em um cantinho da página, para não estragar. Ela passou quase a tarde toda lendo, aproveitando que nesse fim de semana não tinha nenhum trabalho para fazer.

Seus olhos estavam um pouco cansados. Levantou devagar, os pés tocando o tapete fofo da sala, e foi até a cozinha pegar um copo de água. Recostou-se no balcão para bebê-lo e olhou pela janela. Estava um dia muito bonito. As flores no jardim já estavam grandes, mas via-se de longe que ele precisava de uma desgnomização. Ervas daninhas cresciam em volta de seu canteiro. Tinha que dar um jeito nisso, também. Depois de ler aquele livro. E os outros dois que ela comprara na última visita a Floreios e Borrões.

Hermione lavou o copo com um feitiço e colocou-o de volta no armário. A casa continuava silenciosa.

Tão silenciosa que ela deu um grito de susto quando uma coruja entrou voando e largou no chão um envelope. A coruja alta e parda saiu voando logo depois, como se ainda precisasse entregar muitas coisas. Hermione reparou que era uma coruja de Hogwarts e, então, se apressou em apanhar a carta no chão.

"Mamãe, papai

Tudo bom? Está tudo bem, por aqui! Estou estudando bastante para os próximos exames e também estou tentando entrar para o time de quadribol! Esse ano é o nosso primeiro passeio à Hogsmeade com a escola. Eu posso ir? Digam sim! Estou mandando a autorização. Todos os meus amigos vão!

Rose mandou um beijo, também. (preciso falar sobre ela com vocês)

Hugo."

Hermione sorriu enquanto fechava a carta. Depois, tinha que responder, com a autorização assinada. Hugo era um menino esforçado, merecia sair para se divertir com os amigos. Ela ficou um pouco aflita com o que ele tinha a falar sobre Rose, mas depois lembrou que Hugo herdara do pai a mania de ser bastante exagerado. Talvez ela só estivesse relaxando um pouco nos estudos, ou gastando demais a mesada que eles lhe davam. Lembrou-se que, na resposta, tinha que perguntar se ele não tinha dúvida em nenhuma matéria. Poderia mandar uma coruja para Neville e perguntar como os filhos estavam se saindo nas aulas de Herbologia. Foi a menor nota de Hugo no segundo ano e, agora, que ele tinha ainda mais matérias...

A morena releu o que o filho tinha dito sobre quadribol antes de suspirar alto. Ele queria entrar para o time. Ela sabia, claro, que ele sempre quisera entrar no time da Gryffindor, desde que Rose entrara para o time da Ravenclaw. Ele disse, durante as férias, que daria uma dura nela se os dois se enfrentassem em campo. Mas Hermione ainda ficava preocupada. Hugo era muito pequeno. E era muito fraco. Talvez... Conversaria com Ron, mais tarde.

Foi então que Hermione percebeu: Ron não estava em casa. Ron havia saído, em algum momento naquela manhã. Ela não se lembrava quando. Ela não lembrava por que. Ela sequer sabia onde ele havia ido. Tentou puxar pela memória, mas não conseguiu. Só o que se lembrava daquela manhã era ter lido até a hora do almoço, então comer o resto de macarrão que havia sobrado e voltado a ler. Não lembrava de Ron estar nesse caminho.

Ela fechou os olhos, pressionando-os de leve com a ponta dos dedos, e voltou a ler.


Um vendedor baixinho e com a pele queimada de sol tirou de dentro da sua bolsa uma garrafa de água, que Harry pegou depois de entregar-lhe algumas moedas. Ele e Ron estavam sentados, esperando o jogo começar. O Chudley Cannons se preparava para entra em capo e, do outro lado, o Tornados de Tutshill já cantava a vitória. Os meninos também não acreditavam muito no time laranja, mas nunca perderiam um jogo. Ou melhor: Ron nunca perderia um jogo. Harry já havia perdido vários, preferindo ficar em casa com as crianças e Ginny, ou fazendo hora extra no trabalho. Já Ron vinha acompanhando o time até nos treinos. Todos já o conheciam.

O estádio barulhento só se acalmaria quando o juiz anunciasse o início da partida. Ron e Harry compartilharam a garrafa de água, sentados com seus chapéus laranja sobre a cabeça. Harry se recostou na arquibancada para logo depois abrir os olhos, encarar o amigo e perguntar.

- Como estão as crianças? As minhas mandam poucas cartas...

- Estão ótimas! – Ron exclamou, sem pensar. – Rose está arrebentando no time da Ravenclaw! Acredita que, no último jogo, ela defendeu todos os gols que a Slytherin tentou fazer? – narrou, emocionado. – Essa é a minha Rose!

Harry riu, balançando a cabeça.

- Ela torce para os Cannons também, não é? – perguntou.

- Ela e Hugo! – o ruivo respondeu, sorrindo e bebendo mais um gole de sua água. – Eu andei conversando com ele. Ele tem muito talento, precisa entrar para o quadribol também...

- E a Hermione, o que acha disso? – Harry perguntou despretensioso.

Ron pensou por um instante, tentando lembrar o que a esposa tinha dito sobre os filhos no time de quadribol. Não lembrou.

- Ela não tem nada contra, sabe? – disse, dando de ombros. – Tem medo, claro, mas ela mesma já enfrentou coisas piores...

Harry riu, concordando, e então se lembrou:

- E o trabalho? Ela apresentou aquela proposta sobre o salário dos elfos para Kingsley?

Ron ficou em silêncio, encarando-o. Não sabia de que prosposta Harry estava falando. Algo em sua mente lhe dizia que aquilo não era novo e que já tinha ouvido a esposa falar sobre a proposta. Talvez durante um jantar. Talvez em um jantar a casa de Ginny. Tavez enquanto ele lia a tabela de jogos desse campeonato no Profeta Diário. Ron não conseguia lembrar o que ela havia dito.

Mas perguntaria quando chegasse em casa. O juiz deu início a partida. Os jogadores se posicionaram em campo. Era hora do show.


- Grande jogo! – Harry exclamou, batendo nas costas do amigo. – Vai ao próximo, então?

- Claro! – Ron exclamou, seu sorriso indo de orelha a orelha. – Prometi a Rose que a levaria na semifinal e na final se os Cannons chegassem lá!

Os dois se despediram a aparataram para suas casas, exaustos, mas contentes. Os Cannons tinham vencido a partida e vencido com louvor. Ron sentia que todo seu esforço para acompanhar o time estava sendo recompensado. Ron sentia que tinha parte nessa vitória.

Entrou em casa e percebeu que a luz da sala ainda estava ligada, mesmo que todo o resto já estivesse no breu. Tirou seus calçados e foi subir a escada, pé ante pé, até perceber que não era a toa que a luz estava acesa: Hermione ainda estava ali. O corpo deitado no sofá, os olhos fechados, a morena ressonava baixo. Em seu colo estava largado um livro, aberto no que parecia ser o último capítulo. Ron pegou-o delicadamente e fechou, imaginando porque a esposa estava lendo aquilo de novo. Ele mesmo já sabia a história de cor, apesar de não lembrar dela agora. Guardou-o na estante e subiu para o quarto.

Depois que arrumou a cama, desceu novamente para pegar Hermione. Ela devia estar bem cansada por causa do trabalho. Lembrou-se que tinha que perguntar algo sobre o trabalho dela, mas esqueceu o que era. No dia seguinte, perguntaria a Harry. Aproximou-se da esposa, querendo pega-la no colo, mas ouviu primeiro um barulho baixo e olhou para a janela. Quando reconheceu aquela coruja, abriu um sorriso.

Era a coruja que tinha dado a Rose quando ela entrou para o time de quadribol. Abriu a janela sem fazer barulho e, depois de dar um pouco de comida para a coruja, pegou a carta e leu:

"Papai,

Nós ganhamos! Fiquei tão feliz quando soube da notícia! Vamos ao próximo jogo juntos, não é? Você prometeu que iria me levar! Vai ser muito legal se a mamãe for também! Aliás, por que ela não responde mais as nossas cartas? É sempre você...

Quando nos encontrarmos, quero falar sobre Hugo. Acho que ele vai enlouquecer!

Te amo,

Rosie"

Ele sorriu, pensando no dia que ele e a filha iriam juntos no jogo. Era sempre divertido sair com ela, mas quase nunca tinham tempo. Ele podia convidar Hermione, também. Passou o olho pela carta novamente e viu o que ela tinha falado sobre Hugo. Claro que Hugo iria enlouquecer: estava sempre estudando! Ele nunca parava de estudar. Era ainda pior que Hermione...

Hermione. Hermione não estava respondendo as cartas dos filhos. Ela tinha algo importante para fazer no trabalho, mas Ron não conseguia lembrar o que era. Era importante o suficiente para que ela não respondesse as cartas? E por que ela estava relendo aquele livro? De repente, o silêncio da casa ficou alto demais. Tinha algo muito errado ali. Ron tentava lembrar o que Harry tinha dito que a morena precisava fazer, mas não conseguia. Tinha que perguntar o que estava acontecendo, mas não conseguia formular a frase.

- Ron? – ela chamou, sentando no sofá e virando-se para ele. – Ron, onde você...

Antes que ela terminasse de falar, Ron a encarou com uma expressão assustada no rosto. Era simplesmente como se não vivessem juntos. Era como se não fossem casados.

Era como se nunca tivessem se conhecido.