Desembrulhando

As embalagens foram só o impulso inicial.

A primeira coisa que chamou a atenção, claro, foi a altura, quase dois metros, e depois as costeletas. Aqueles cabelos fulvos num tom meio alaranjado penteados para trás num topete digno do Rei do Rock, os óculos escuros de aviador, camiseta branca e jeans. Completamente singular na aglomeração daquela festa. Mais tarde escutou aquela voz baixa e grave, e viu de perto os olhos quase da mesma cor dos cabelos. A postura séria – mas não sisuda – e tranqüila contrastava violentamente com a tatuagem de coração flamejante no braço esquerdo. Se chamava Juugo (Naruto) e não gostava de multidões. Por que estava ali então, justo naquele dia, nenhum dos dois pôde explicar depois, por que a vida (e o amor) tem dessas coisas. Mas ainda era cedo demais. Ou nem tanto. A conversa foi fluindo devagar; sem pausas, sem pressas. E talvez por que ele gostasse do céu (facilmente ao alcance nos olhos oceânicos de Naruto) ou este tenha sentido o sangue correndo pelo seu corpo com um pouco mais de velocidade, eles resolveram se encontrar novamente – o que teria acontecido de qualquer maneira, por que eles tinham conhecidos em comum. Como não se conheceram antes, então? A vida (e o amor) tem dessas coisas.

E de pouco em pouco um foi descobrindo o outro. O Rockabilly que amava pássaros e bosques, e era introspectivo e tinha medo de ficar louco – mas quem na vida não é? E o hiperativo e suas alpercatas, camisas de cores berrantes e estampas de espirais (Uzumaki, dattebayo.) e sapos e raamen instantâneo. E quem diria que ele fazia truques de mágica? Quem os conhecia achava estranho, inusitado. E mais inusitado foi que eles seguiram dando certo naquela convivência crescente, e um incentivou o outro a crescer. Juugo parou de se procurar em manuais, coturnos, jaquetas e acessórios, e começou a olhar pra dentro. Juugo com seu clima de montanha, que mostrou o caminho da temperança pra quem tinha o espírito inquieto e birrento e o temperamento flamejante. E a importância de se alimentar corretamente.

Era Juugo, pólos norte e sul nos ossos. Era Naruto, sol no sorriso e olhos de mar. Sem rótulos, sem subterfúgios. Um pro outro.

E foi muito depois, numa daquelas manhãs preguiçosas em que a vontade vence todas as coisas, desabotoando sua calça e puxando o cós da bermuda de Naruto, que Juugo de repente descobriu duas coisas. Só ficava louco quem queria ou se perdia. E Naruto, com seu ar matreiro e alma de menino, usava ceroulas. Com estampas. E parado no ato de se despir, Juugo riu. Naruto olhou pra baixo, mordeu o lábio e inferior e logo começou a rir também. E ainda riam quando Juugo caiu na cama e puxou Naruto para um beijo, e outro, e outro, e outro, e muitos outros. Naquele momento, Juugo teve certeza de que jamais se perderia.


N/A: Essa história surgiu de um minúsculo ato falho cerebral, mas a graça se perde quando se conta. Pra que estou contando, então? Para deixá-los curiosos, rá. E nem ia ser essa coisa bonitinha, que me agradou mais do que eu esperava. E é pra você.