...

Audácia

"Ela ousava amar de verdade… Ele estava decidido a duelar com o destino…"


Adaptação da obra de Candace Camp.

Disclaimer: Todos os personagens desta história (funga) não me pertencem. E, infelizmente, (limpa as lágrimas do canto dos olhos) Kishimoto-sensei não quis me dar nenhum deles de aniversário.


Capítulo 8.

Quando Sasuke recuperou as forças, o médico o autorizou a ir to dos os dias ao jardim para sentar-se por várias horas, pois ele inquietava-se em permanecer trancado no quarto. Melhorava sensivelmente, embora o braço ainda doesse. Sakura ficava com ele, lendo.

Uma tarde em que estavam sentados no jardim, ouviram o baralho das rodas da Carruagem na estrada de cascalho e poucos minutos depois uma mulher magra como um palito, num vestido escuro bastante simples, mas visivelmente bem cortado e costu rado, foi conduzida pelo mordomo da casa ao jardim. Acompa nhava-a um homem baixo tão redondo quanto ela era magra. Ele carregava uma bolsa de viagem de pano numa das mãos e vários livros grandes debaixo do outro braço. Sakura e Sasuke olharam o estranho casal se aproximar com curiosidade.

- Sra. Hester - anunciou o mordomo com gravidade. - E seu assistente. A senhora estava à sua espera, milady.

As sobrancelhas de Sakura arquearam-se.

- Estava? Perdoe... minha falta de memória... - Sakura olhou para a mulher com um olhar de interrogação.

- Eu os estava esperando - disse Sasuke, intervindo. - Lamen to, Sra. Hester. Lamento que os recentes acontecimentos tenham apagado completamente de minha cabeça a data de nossa reu nião. Esqueci de informar minha esposa.

- Perfeitamente compreensível - disse a mulher, educadamen te. - Fui informada do acidente lamentável que o senhor sofreu.

- Sim. Mas tudo já está bem e sua visita não poderia ter sido num dia melhor. Acredito que minha esposa e eu estávamos fi cando um pouco entediados.

Sakura, voltando o penetrante olhar para Sasuke, perguntou nu ma voz admoestante:

- Esqueceu de me avisar o quê?

- Da visita da Sra. Hester, é claro. Entrei em contato com ela há alguns dias, ou melhor, pedi a Gaara para fazê-lo. A Sra. Hester é uma costureira de York e concordou em vir aqui tirar suas me didas... para evitar o trabalho de irmos a York.

- Uma costureira? - Sakura o fitou, atônita. - Está falando sério? Trouxe uma costureira até aqui para fazer roupas novas para mim?

- Sim.

- Mas eu tenho roupas. Não preciso de outras.

Sasuke ergueu uma sobrancelha, olhando incrédulo seu sóbrio vestido marrom, mais simples que o da costureira. Sakura ruborizou-se ligeiramente.

- Quero dizer, não precisa... eu saio muito pouco. Raramen te recebemos visitas. Eu, mamãe e vovó vivemos muito isola das.

- Ah, mas com certeza isto mudará agora que está casada -respondeu Sasuke.

- Mas não vale a pena gastar dinheiro nisso.

- Vestir minha esposa no estilo condizente com sua posição? Eu diria que, definitivamente, vale a pena.

- Se milady se dispusesse a olhar. - A Sra. Hester fez um gesto na direção do homenzinho, que deu um passo adiante, se gurando um dos grandes volumes, e o abriu para Sakura. Era um livro de moda, cheio de desenhos de todo tipo de vestidos, desde os simples, de viagem, aos elegantes vestidos de festa.

- São lindos - admitiu Sakura, começando a folhear as pági nas. Não podia negar a beleza das roupas nas páginas à sua fren te. No passado usara tecidos finos e de cores vibrantes. Mesmo em todos os anos passados com Sai, embora sua vida fosse um inferno, as roupas eram elegantes. Deixara tudo para trás, entretanto, quando fugira de Sai e depois, tinha até mesmo queimado as roupas usadas durante a fuga. Em Haruno mantivera seu vestuário ao mínimo indispensável e se certificara de que todos os vestidos fossem modelos simples em cores escuras. A última coisa que desejava era atrair atenção sobre si mesma. Ainda assim, não podia evitar reagir à beleza dos desenhos dian te de seus olhos.

- Também trouxe várias amostras de tecidos - prosseguiu a Sra. Hester. - O Sr. Sabaku escreveu que a senhora tinha vários vestidos em mente.

- Bem, ah, eu...

- Sim - respondeu Sasuke por ela. - Vários vestidos para o dia-a-dia e alguns para a noite, é claro.

- Mas, Sasuke, nunca recebemos ninguém.

- Bem, você vai precisar receber, minha querida. Todos es peram algum tipo de baile, agora que nos casamos.

Ele estava certo, embora Sakura tivesse conseguido ignorar a situação até o momento. Folheou as páginas com algum temor.

- Não um guarda-roupa completo, é claro - prosseguiu Sasuke. - Imagino que vá comprar mais vestidos quando formos a Lon dres, pois preciso viajar a negócios dentro de algumas semanas. Mas, enquanto isso, precisa de alguns vestidos para usar aqui.

- Sasuke, não tenho certeza...

Entretanto, ele desconsiderou suas objeções e hesitações e Sakura se pegou folheando os livros e verificando as amostras de te cido cada vez com mais interesse. Sentiu um desejo quase físico diante da visão de um veludo verde-esmeralda, e uma seda azul-pavão a deslumbrou também. Sasuke, percebendo seu interesse, in sistiu para que ela comprasse os dois, e por sua conta escolheu um cetim dourado que, tinha certeza, jamais teria ocasião de vestir. Quando finalmente terminaram, ela escolhera tantas coisas que se sentiu culpada por aceitar todas. A Sra. Hester, entretanto, não lhe deu tempo para preocupações. Pelo contrário, apressou-se em lhe tirar as medidas com a colaboração de Ino.

Foi excitante, embora um pouco assustador, tirar as medidas pa ra roupas lindas mais uma vez. E quando Sakura apresentou-se para o jantar naquela noite, havia um brilho estranho nos olhos e um leve rubor no rosto. Era -a primeira vez que Sasuke deixaria o quarto para uma refeição e o olhar dele repousou no rosto de Sakura, apreciando o que via. A refeição transcorreu de modo agradável, a conversa, leve e divertida. Sasuke retornou para o quarto um pouco relutante.

Mais tarde, Sakura voltou para o quarto e sentou-se diante da penteadeira, soltando os cabelos. Sasuke apareceu na porta que li gava os quartos e ficou parado, apoiado no umbral da porta, admirando-a. Enquanto estivera cuidando dele, Sakura se acostumara a deixar a porta de conexão entre os quartos aberta para poder ouvir se ele precisasse de algo durante a noite. Mesmo ele tendo se recuperado e não precisando de cuidados durante a noite, ela não voltara a fechar e trancar a porta.

- Sasuke! - Surpreendeu-se ao vê-lo ali e deixou cair os gram pos da mão. Voltou-se para fitá-lo. - Precisa de algo?

Ele meneou a cabeça.

- Não. Estou ótimo. Melhor do que me sentia há dias. - Sakura sorriu, tímida. Então, por que estava ali? O que que ria? Sentiu um nó na garganta.

- Prossiga. - Ele fez sinal para o espelho da penteadeira. -Termine o que estava fazendo. Não quero interrompê-la.

Ela voltou-se e começou a tirar os grampos restantes dos ca belos, curvando a cabeça à frente para não poder ver Sasuke pelo espelho. Mas não podia manter a cabeça inclinada para sempre, e quando havia tirado todos os grampos e os cabelos caídos em ondas, precisou levantar o rosto, jogando a cascata de cabelos para trás. Os olhos encontraram os de Sasuke no espelho. Ele a olhava com uma intensidade iluminada. A boca de Sakura ficou seca, crispou a mão. Rapidamente pegou a escova e começou a pentear-se, escovando os cachos rebeldes que só pareciam enro lar ainda mais, embora escovasse com força os cabelos. Ela re cuou quando a escova machucou seu couro cabeludo.

- Ei, espere. Calma - disse Sasuke, aproximando-se e tirando-lhe a escova da mão. - Você é muito impaciente.

- Odeio o modo como meus cabelos ficam encaracolados -respondeu mecanicamente, tensa devido à proximidade dele.

- Então deixe a tarefa para alguém que a aprecie - disse, sor rindo. Suspendeu a massa pesada de cabelos e começou lenta e cuidadosamente a penteá-los. Não tinha pressa e desembaraçava os cabelos gentilmente, da raiz às pontas. Sakura se perguntou que outros cabelos femininos ele penteara para saber fazê-lo tão bem.

- Você é um especialista - comentou com sarcasmo.

O sorriso de Sasuke tornou-se maldoso e os olhos se encontra ram no espelho.

- Com ciúme?

- Claro que não. - Mas Sakura percebeu, apavorada, estar com pelo menos um pouco. Ela o amara com todas as forças de seu ser, e ele correspondera. Odiava pensar na possibilidade de ele dar esse amor a outra mulher.

- Costumava pentear minha mãe quando era pequeno. Ela fi cava muito cansada de costurar o dia inteiro, até de madrugada, tentando ganhar o suficiente para nos manter. Ela sentava-se cur vada sob a luz da lamparina de óleo e quando ia para a cama tinha rugas na testa, o pescoço e os ombros tensos e uma horrível dor de cabeça. Ela costumava gostar que eu lhe massageasse os ombros e penteasse os cabelos. Isso acabava com a dor de cabeça.

- Quanta gentileza sua. - Ele deu de ombros.

- Eu sabia que ela trabalhava para nos manter vivos. Parecia bem pouco comparado ao que ela fazia.

O movimento da escova em seus cabelos era ritmado e con fortante, entretanto Sakura não podia relaxar e aproveitar a sen sação. Era muito íntimo, muito sensual. Permaneceu tensa, pro curando algo na mente para dizer.

- Como era seu pai? - perguntou a seguir. - Não me lembro de você falar dele.

O rosto de Sasuke contraiu-se e, sem querer, ele forçou a escova ligeiramente, atingindo seu couro cabeludo.

- Eu não o conheci.

- O que aconteceu com ele?

- Não sei. - Sakura o encarou.

- Você não sabe?

Ele sacudiu a cabeça, desviando o olhar para os cabelos.

- Não, não sei nada sobre ele.

- Como pode? Sua mãe nunca lhe contou nada? Você nunca perguntou sobre ele? Não teve curiosidade?

Ele deixou escapar uma risada curta e rápida.

- Sim, tinha curiosidade. Perguntei várias vezes quando era criança, mas ela nunca respondeu. Dizia ser melhor eu não saber. Quando fiquei mais velho, notei o quanto lhe doía falar sobre ele e então, finalmente, desisti de perguntar. Não sei quem ele era, onde morava ou, bem, nada. - Fez uma pausa e acrescentou, nu ma voz inflexível: - É um dos motivos de eu me julgar filho ile gítimo.

- O quê? -Sakura voltou-se para ele, estarrecida, e a escova puxou-lhe os cabelos mais uma vez.

Sasuke lhe devolveu a escova.

- Tome. Talvez seja melhor você terminar. Pareço não estar muito eficiente hoje à noite. - Voltou-se e caminhou para a cama.

- Sasuke... - Sakura colocou a escova de lado e virou-se, seguindo-o com os olhos. - O que quer dizer?

- Acho que sou bastardo. - Ele retribuiu-lhe o olhar, um leve sorriso nos cantos da boca. - Embora muitas pessoas tenham me chamado de bastardo, falando de modo figurativo. Mas eu quero dizer literalmente.

- Mas por quê? Quero dizer, você só disse não saber nada sobre seu pai.

Ele aquiesceu.

- Acho que a reticência de minha mãe só vem provar o que disse. Se não houvesse algo vergonhoso ligado a meu nascimen to, ela teria falado sobre meu pai e a vida deles.

- Mas pode significar outras coisas também - protestou Sakura, sentindo necessidade de defendê-lo das próprias acusações.

- Por exemplo...

- Por exemplo, sua mãe podia estar muito apaixonada por ele e... e ele morreu e era muito doloroso falar sobre sua morte. Ou talvez ela acreditasse que você era muito jovem para saber.

Sasuke deu de ombros.

- E possível. Mas há outras coisas suspeitas, como o fato de não termos parentes.

- Nenhum parente? Como pode não ter parentes? Não é pos sível.

- Quer dizer, nunca conheci nenhum. Não há ninguém na al deia com a qual tenhamos ligações familiares. Nem avós, tias, tios ou primos. Nos mudamos para cá de algum outro lugar quando eu era muito pequeno para me lembrar. E minha mãe nunca me disse de onde viemos. Quando lhe perguntei sobre sua família, ela só respon deu que estavam todos mortos e que só tínhamos um ao outro. Nun ca recebeu carta de ninguém... ou enviou, tampouco. Quase nunca falava de sua infância, e nunca dizia onde nascera. Ela nunca me disse os nomes de meus avós. Como se estivéssemos totalmente desligados do resto do mundo. Acho que ela devia ser solteira, e ao engravidar a família a mandou embora.

Sakura levantou-se e se aproximou dele.

- Bem, talvez tenham todos morrido. Talvez sua família in teira, incluindo seu pai, tenha... tenham morrido num incêndio, por exemplo, e você e sua mãe foram os únicos sobreviventes. E as lembranças eram tão dolorosas que ela se mudou para um lu gar totalmente diferente e não quis comentar a respeito. Ou tal vez a família dela não aprovasse o marido. Talvez tivessem fugi do ou algo assim e ele morreu, mas ela não voltou para a família, por terem sido contrários ao casamento.

Sasuke riu.

- Você não desiste, não é? Por que está tão ansiosa em pro var que estou errado? O fato de ter nascido fora do casamento a incomoda tanto? Você já me disse que nós dois somos socialmen te incompatíveis. Como isso pode tornar tudo ainda pior?

- Não é isso. Acho... bem, não importa realmente, a não ser que o faça infeliz. - Parou ao seu lado, olhando-o no rosto. - Vo cê soa amargo.

- Talvez seja amargo. É o único ponto sobre o qual eu e minha mãe discordávamos. Ela sempre guardou esse enorme segredo, es sa certeza de que nunca me contaria. Eu não sabia nada sobre mim e ficava ressentido. Quando cresci o suficiente para argumentar, percebi que devia ser ilegítimo e por este motivo ela nada me dizia. Posso compreender por que ela manteve o fato escondido de mim. Como dizer ao filho que ele é um bastardo? Mesmo assim, eu fica va zangado por não saber. Ficava zangado também, imagino, por ela ter deixado acontecer.

- Se ela não tivesse deixado, você não existiria - argumen tou ela, racional.

Ele fez um muxoxo.

- Suponho que seja verdade. Mesmo assim, queria saber... Mexi nas coisas de mamãe quando ela morreu, esperando encon trar alguma evidência, alguma prova que me revelasse quem eu sou e como vim ao mundo, mas não havia nada.

- Por que não perguntou quando ela foi morar na América com você? Quando já era adulto? Ela não teria lhe contado?

- Não sei. Talvez. Mas eu estava muito ocupado... e não sei, gostava de imaginar que não me importava. Eu era muito forte, pensava, muito velho, para precisar saber essas coisas... que só uma criança deseja saber. Eu era quem era, e que importava quem fosse meu pai? Depois que ela ficou doente, deixei de me impor tar. Me dei conta de que quando ela morresse eu não teria mais família, jamais conseguiria saber a verdade sobre mim mesmo. Então lhe perguntei, mas ela ficou terrivelmente aborrecida. - Ele hesitou diante da lembrança. - Eu não suportava causar-lhe sofri mento. Se a tivesse visto, compreenderia. Ela ficou magra e páli da, e enfrentava dores constantes. Eu simplesmente não podia causar-lhe mais sofrimento.

- Claro que não. - Sakura ficou em silêncio por um momen to, a sobrancelha franzida, pensativa. - Deve existir um meio de descobrir tudo isso sozinho.

- Como? Não faço a menor idéia de onde ela veio. Bem, não, não é verdade. Mamãe tinha sotaque.

- É verdade. - Sakura animou-se. - Ela não falava como as outras pessoas. Tinha sotaque escocês.

- E Uchiha é um nome escocês também. Mas, mesmo as sim, a Escócia é uma área muito grande para procurar, especial mente quando não se tem idéia do que se busca.

- Eu tenho! - Sakura colocou a mão no braço dele, de tão animada. - A Sra. Yamanaka! A mãe de Ino. Ela foi sua vizinha anos a fio.

- É verdade. Ela e mamãe eram amigas.

- Se existe uma pessoa que podia extrair um segredo de al guém, é a Sra. Yamanaka. Ela sabe tudo sobre todos naquela aldeia. Sua mãe pode ter escondido de você, mas não posso imaginar que ela pudesse esconder tudo dela. Posso jurar que ela sabe algo sobre você ou Mitoko que possa ao menos dar início às buscas.

- Sem dúvida você tem razão. - Ele sorriu e tocou-lhe a fa ce, acariciando-a suavemente com os nós dos dedos. - Vamos precisar fazer uma visita à Sra. Yamanaka um dia desses.

- Quer que eu o acompanhe? - perguntou, insegura. Não sa bia como corresponder, seja às palavras ou ao gesto afetuoso. Queria afastar-se dele, eliminar a possibilidade dele tocá-la. Ain da assim, não conseguia obedecer a seus instintos. Lembrou-se da outra noite em que o beijara; desde então, ela se perguntava se ele também se lembrava. Sakura sabia que não queria outro beijo; aquele a havia perturbado, assustado. Mesmo assim, não conse guia esquecer a sensação que a impelira a beijá-lo, nem tampouco a saudade do passado a invadi-la.

Sasuke abriu a mão e espalmou-a em sua face, os dedos mexen do nos cabelos de Sakura. O movimento era sereno e lento. Ain da assim, Sakura retesou-se involuntariamente. Ele inclinou-se. Sakura olhou dentro de seus olhos, hipnotizada como um animal selvagem diante da súbita luz de uma lanterna. Ele chegou mais perto, e depois os lábios encostaram-se nos dela, primeiro tocando-os de leve e depois aprofundando o beijo.

O gosto da boca era assustadoramente familiar, como na ou tra noite, e o toque aveludado de seus lábios lhe causou um arre pio. Ela não tinha certeza do que sentia, apenas que era intenso, uma profunda mistura de lembranças, sensações e desconforto. Sasuke fez um suave som de desejo e moveu-se, mudando o ângulo da boca e envolvendo-a com os braços. Tão logo os braços a en volveram, Sakura ficou tensa. A confusão desapareceu, substitu ída pela profunda punhalada de medo.

Afastou-se abruptamente e surpreendeu-se quando os braços a soltaram. Sentiu-se um tanto tola, mas recuou outro passo a fim de se manter ainda mais afastada. Ele a viu afastar-se silenciosa mente.

- Foi esse o motivo de trazer a costureira aqui? - perguntou, tensa. - Bem, pode cancelar o pedido. Não quero os vestidos.

- O quê? - Sasuke pareceu surpreso, depois as sobrancelhas se uniram. - Você pensa... Está dizendo que eu... que tentei comprar favores? Que comprei roupas para você me deixar beijá-la?

- Mais do que isso. Acho que não ia parar nos beijos. - Sakura tremia, mas se forçou a enfrentá-lo. Este era, afinal, seu quarto, e não tinha para onde correr. Uma desesperançada parte dela dizia que jamais ganharia, jamais poderia ganhar. Que se Sasuke a desejasse, ele a tomaria, e o que ela dissesse ou fizesse não teria a menor importância. Mas outra parte, a força de vonta de que a fizera sair das profundezas do desespero e deixar Sai, que criara raízes e crescera dentro dela desde que o deixara, essa parte lhe dizia que não podia recuar, não importava o resul tado.

- Sou tão repugnante para você? - murmurou ele, os olhos es curos soltando faíscas. - Meu toque plebeu é tão baixo que a suja? No passado, você contava os minutos para estar em meus braços.

Sakura contraiu os lábios e afastou o olhar. Não gostava que ele pensasse que ela o rejeitara por não ter nascido em berço de ouro. Mas também não podia contar-lhe a verdade. Era preferível seu desprezo a tê-lo em sua cama, disse a si mesma, mas quando os olhos dele a percorreram, ela já não tinha tanta certeza.

- Você prometeu - foi tudo que disse.

- Sim, prometi que não a forçaria. Não cobraria meus direi tos como marido. Achei que você poderia... me desejar, como no passado. Que quando você se acostumasse com a idéia de nosso casamento, quando passasse o ressentimento por eu ter imposto minha presença à sua família, começaria a me desejar de novo. Que se eu a beijasse, você corresponderia.

Os olhos de Sakura faiscaram.

- Então você se casou comigo sob falsos pretextos, plane jando me seduzir, ou me subornar ou me vencer pela insistência a aceitá-lo em minha cama?

- Não! Céus, como você distorce todas as minhas palavras! Não tentei vencê-la pela insistência. Você acha que eu ia querer que uma mulher se deitasse comigo por estar cansada e derrotada para fazer outra coisa? Especialmente a mulher que eu... - Ele se calou abruptamente, depois continuou, numa voz mais moderada: -... a mulher que escolhi para ser minha esposa? Não tentei subor ná-la. Não trouxe a Sra. Hester aqui como pagamento por serviços "a serem prestados". Eu a trouxe aqui porque queria vê-la vestir-se como acho que deve. Não queria vê-la vestida como uma gover nanta. Você é minha esposa. Você é a dona da casa.

- Não exatamente. A dona é Temari, esposa de Shikamaru.

- Não tente se esquivar. - Fez uma pausa e disse: - E não vim aqui hoje pensando que você me aceitaria porque lhe com prei uns vestidos hoje à tarde. Não pensei mesmo. Vim simples mente porque você estava tão linda hoje à noite no jantar, quase feliz... e do jeito como costumava ser. Eu queria ficar com você. Foi por isso que vim e foi por isso que a beijei. E, sim, eu espe rava que um dia pudesse seduzi-la, pudesse fazê-la me desejar de novo. É um pecado tão grande tentar?

- Você não me tenta! - gritou Sakura. As palavras dele a haviam emocionado e de certo modo assustado mais do que os beijos e as carícias. Queria que ele parasse; não queria sentir. Não queria voltar a ser magoada. - Não compreende? Eu não quero você! Quero que me deixe em paz!

Sasuke contraiu os lábios. Os olhos tornaram-se frios e vazios. Ele fez uma reverência formal.

- Então peço desculpas. Vou evitar incomodá-la no futuro. Boa-noite, milady.

Virou-se e saiu do quarto, fechando a porta entre os aposentos com um clique macio e definitivo. Sakura se atirou na cama e se entregou a uma enxurrada de lágrimas.

Poucos dias depois, quando Sasuke anunciou estar se sentindo em condições de montar a cavalo, ele e Sakura cavalgaram até a al deia para visitar a mãe de Ino. Enquanto trotavam rumo à estra da, Sakura o olhou. Era estranho estar com ele. Vinham se evi tando desde a noite em que ele fora a seu quarto.

Agora, cavalgando a seu lado, recordou-se com clareza dos dias do passado. Não podia contar o número de vezes em que os dois tinham saído da estrebaria juntos, quando ambos estavam apaixonados e mesmo antes. Era natural voltar a ficar a seu lado; ao mesmo temo, era como estar com um estranho.

Os pensamentos dele deviam seguir o mesmo rumo, pois Sasuke a fitou com um sorriso e disse:

- Bem diferente de como costumava ser, não é?

Sakura retribuiu o sorriso. Estavam acostumados a atravessar os campos para cortar caminho até a aldeia ou outro destino sem levar em conta sebes, cercas ou muros.

- Não há necessidade de sacudir o braço, mesmo que esteja quase curado - comentou Sakura.

- Estou completamente curado - retrucou. -Ainda acho que podia ultrapassar alguns muros baixos e sebes.

- Sem dúvida. Mas não tenho tanta certeza se poderia. O velho Nestor aqui não é especialista em saltar obstáculos, como Satin. - Sakura inclinou-se para acariciar o pescoço do cavalo, como se pedisse desculpas pelas palavras.

- Você tem razão. - Sasuke lançou um olhar crítico para o ca valo idoso. - Talvez Nestor ficasse mais confortável puxando uma carroça do que levando um cavaleiro.

- Ele faz isso também - admitiu Sakura, acariciando-o no vamente e tranqüilizando o animal. - Ele é um bom e velho ca valo, não é Nestor?

- Por que não ter um cavalo de montaria melhor?

- Satin morreu. E nunca tive outro. - Sakura deu de ombros. - Não cavalgo tanto quanto costumava.

- Imagino que não. Pelo menos não com esse cavalo.

- Eu não queria ser um peso para Shikamaru. Desde o divórcio, tornei-me praticamente dependente dele e a situação me incomo da, não importa o quão gentil ele seja. Sei que está mergulhado em dívidas. Um cavalo de montaria é uma despesa supérflua.

Fez-se um momento de silêncio, depois Sasuke lembrou-a:

- Você não depende dele agora.

- Não - retrucou Sakura, irônica. - Em vez disso, agora de pendo de você.

- Você é minha esposa.

Sakura não o olhou, manteve o olhar à frente. O queixo ele vou-se um pouco mais ao dizer:

- Isso não torna menos humilhante implorar dinheiro. - Sasuke trincou o maxilar.

- Você não precisa implorar. Você tem direito. - Fez uma pau sa e perguntou: - Foi isso o que pensou? Que eu quisesse que você viesse a mim e pedisse dinheiro para tudo que precisa?

Um rubor subiu à garganta de Sakura. Ela não lhe diria que havia sido sua experiência com Sai. Rapidamente aprendera que preferia ficar sem nada a suportar a humilhação de implorar. E mesmo que não tivesse que implorar a Sasuke, só pedir lhe pare cia vergonhoso.

Quando Sakura não respondeu, Sasuke murmurou:

- Sou seu marido. E tenho mais dinheiro do que jamais pre cisarei. Não importa o que pense a meu respeito, nunca foi minha intenção puni-la, Sakura. Sei que me impus no que diz respeito ao casamento. Sem dúvida, fui deselegante e estúpido, e lamento por isso. Não sou um cavalheiro. Nunca pretendi ser. Queria algo e fiz o que achei ser preciso para conseguir. Mas não quis o casa mento para poder tiranizá-la.

Eles cavalgaram em silêncio por um momento. Depois Sasuke disse, formal:

- Vou instruir Gaara para que se reúna com você e estabeleça uma cota para roupas e dinheiro para os alfinetes, quanto você de cidir. Gostaria de receber e administrar o dinheiro para manter a casa também? É certamente sua prerrogativa. No momento, Sabaku está discutindo esses detalhes com a governanta.

- Não. Não, claro que não. A governanta tem capacidade suficiente para controlar o dinheiro das despesas.

- Vou comprar uma montaria para você também. No futuro, se precisar de uma soma extra de dinheiro para alguma compra maior, informe a Sabaku o valor necessário, se prefere não pe dir a mim. Ele lhe dará. Você não precisa pedir, muito menos implorar.

Ficaram em silêncio por praticamente o resto do caminho, pois nenhum deles sabia como quebrar o constrangimento. Sakura lembrou-se de como no passado nunca faltaram palavras quando esta vam juntos. Agora, com freqüência, ficavam tão solenes e formais como estranhos, embora, vez por outra, houvesse lampejos da an tiga familiaridade, um momento de camaradagem ou divertimento compartilhado. Uma noite mesmo, na mesa de jantar, Sakura olha ra Sasuke durante uma das exaustivas críticas da avó de como as coisas mudaram desde sua juventude. Sasuke levantara uma sobran celha para Sakura, os olhos dançando divertidos, e por um instante ficaram conectados e próximos e sentira algo quente dentro de si. No momento seguinte, no entanto, desaparecera.

Eles mal tinham saltado na frente da casa da mãe de Ino quando a Sra. Yamanaka apareceu correndo na porta para recebê-los. Com o rosto corado de animação, riu para eles.

- Milady! Que bom revê-la. Foi muita gentileza de sua parte vir me visitar. Quando Ino me disse que a senhora viria, quase caí pra trás!

Curvou o joelho numa pequena reverência para Sakura e de pois se voltou para fitar Sasuke.

- E Sasuke Uchiha. Você se transformou num homem im portante. - Sacudiu a cabeça. - Quando crescia na porta ao lado, nunca imaginei que um dia o veria voltar aqui como o dono da mansão, casado com lady Sakura e tudo mais.

Era difícil dizer, pelo tom da voz da Sra. Yamanaka, se ela jul gava o retorno e o casamento bons ou ruins. Mas Sasuke sorriu para ela e abriu os braços.

- Vamos, Sra. Yamanaka, vai ficar aí parada? Não vai me dar um abraço?

A mulher corou de prazer e atirou os braços em volta de Sasuke, dando-lhe um abraço apertado. Deu um passo atrás, explicando:

- Achei que não seria correto, já que você é tão refinado agora.

- Sou o mesmo garoto que costumava atacar sua macieira.

- Puxa, e como atacava! - A Sra. Yamanaka deu-lhe um tapinha no braço, brincalhona, obviamente nem um pouco aborreci da com as lembranças das travessuras do garoto.

Sasuke olhou para o chalé ao lado do da Sra. Yamanaka. O jardim não era mais tão arrumado como costumava ser quando ele e mãe moravam ali e o telhado parecia necessitar de obras.

- Você voltou lá? - perguntou Sakura, percebendo para on de se dirigia o olhar.

Ele sacudiu a cabeça negativamente com rapidez.

- Ela não está lá. Não faz sentido voltar.

- Mas as lembranças estão. Tenho certeza de que não se im portariam se você quisesse entrar e dar uma olhada.

- Claro que não. - A Sra. Yamanaka aderiu à conversa. - Os Anderson são pessoas gentis. A dona da casa não é boa como sua mãe era, é claro, mas são bons vizinhos.

- Um outro dia, talvez - disse, mudando de assunto. - No momento prefiro conversar com a senhora.

- Ah, estou vendo que ainda tem aquela língua afiada, garo to. Vamos, entrem. Preparei o chá para vocês.

Sakura, é óbvio, murmurou que não queria dar trabalho e a Sra. Yamanaka garantiu não ser trabalho nenhum e, portanto, tro cando as habituais gentilezas, entraram no chalé, Sasuke se curvan do a fim de poder passar pela porta baixa. Uma vez dentro, a Sra. Yamanaka os instalou no sofá e se ocupou trazendo chá e bolos da cozinha. Por um tempo comeram e discutiram o tipo de coisas que se discute em visitas sociais. Era óbvio que a Sra. Yamanaka estava ao mesmo tempo encantada e apavorada com a presença de uma Haruno em sua casa, e Sasuke suspeitava de que ela repe tiria os detalhes da visita por um bom tempo.

Finalmente Sasuke entrou no assunto que os levara ali.

- Suponho que Ino tenha lhe dito que eu gostaria de per guntar algumas coisas sobre minha mãe - começou.

- É, ela comentou - concordou a Sra. Yamanaka. - Embora, na verdade, Sasuke, eu não saiba como ajudá-lo. Não poderia conhe cer Mitoko melhor que seu próprio filho.

- Se sabe algo, então sabe mais do que eu - garantiu-lhe, demonstrando uma ponta de amargura. - Ela nunca me contou sobre sua vida antes de eu nascer.

A Sra. Yamanaka pareceu um pouco surpresa.

- Mas quem diria? Bem, Mitoko me contou algumas coisas. Disse que tinha se mudado para cá vindo da Escócia. Bem, deixe-me pensar... ela me contou de onde era? Sim, mencionou algumas vezes por acaso. Não era um lugar muito grande. Carmody? Era isso? Não. Carewick? Bem, num minuto me lembro.

- E sobre meu pai? Alguma vez lhe contou algo sobre ele? - Uma sombra cobriu o rosto da mulher e ela desviou o olhar.

- Sobre isso nunca falou, garoto. Nenhuma vez a ouvi pro nunciar o nome dele. Uma vez perguntei sobre ele. Disse algo sobre "o pai do menino", depois me lançou aquele olhar duro e disse: "O menino não tem pai." Bem, cheguei a ficar arrepiada com o tom da voz e sabia que era melhor não perguntar mais sobre ele. Ela nunca tocou no assunto.

- Eu era ilegítimo?

A Sra. Yamanaka pareceu ainda mais constrangida e se mexeu na cadeira.

- Ela nunca disse. Mas eu... bem, depois do que ela disse sobre seu pai, achei que você devia ser. Ela parecia odiar o ho mem, como ele não estava com vocês, e ela nunca falava nele...

- Deu de ombros. - Não tenho nada contra sua mãe. Ela não seria a primeira boa mulher a quem isso aconteceu. - Suspirou. - Nem será a última.

- O que ela contou sobre seu passado?

- Ela às vezes falava sobre coisas que fazia quando era criança, sobre uma feira ou alguma peça que o irmão lhe pregara.

- Ela tinha um irmão? - Sasuke inclinou-se à frente.

- É, acredito que sim. - Franziu a testa, tentando se lembrar.

- Talvez mais de um. Estou certa de que ela falava sobre ele pro vocá-la.

- Mas ela nunca recebeu cartas da família. Ninguém nunca a procurou.

- Talvez tenham morrido. Ou talvez tenha havido uma briga em família. Isso acontece. Ela nunca contou. - A Sra. Yamanaka franziu a testa, concentrada. - Deixe-me ver. Parece que uma vez ela disse o que o pai fazia. O que era? Era uma ocupação na cida de, não no campo. Importante, também, não era uma coisa co mum. Ah, lembrei! Ele era joalheiro. Um ourives.

- Ourives? - Sasuke pareceu atônito. Um ourives era um arte são, usualmente de uma longa linhagem, alguém que tinha sido treinado vários anos para exercer a profissão. Não era o mesmo que pertencer à classe dominante, mas era bem diferente de ser um cavalariço, costureira ou lavadeira, como a mãe.

- É. Tenho certeza de que era isso. Lembrei agora, estáva mos falando uma vez sobre um colar que lady Haruno, mãe de Sakura, tinha. Um de ouro com flores delicadas, em filigrana e diamantes no centro.

- É um de seus favoritos - comentou Sakura.

- Sim, milady, é uma beleza. E sua mãe, Sasuke, comentou como era bonito e quanto trabalho devia ter dado. E disse saber por que o pai fazia jóias semelhantes. Tinha sua própria loja. Era um ourives em Carnmore. Ah! - Ela abriu um sorriso. - Pronto. Veio assim num estalar de dedos. Este era o nome da cidade onde morara quando pequena. Carnmore, Escócia. Não era um lugar grande, mas também não era um vilarejo. Aposto que devia haver um ourives lá.

- Não. Eu aposto que a senhora tem razão. Obrigado, Sra. Yamanaka, foi de grande ajuda.

- Estou feliz por ter ajudado. Mas, garoto... - Ela inclinou-se e pousou a mão em seu braço, fitando-o seriamente dentro dos olhos. - Você é um homem refinado, assim como sua mãe era uma boa mulher. Às vezes não faz bem escarafunchar o passado.

- O que quer dizer? Tudo que desejo é saber um pouco sobre mim mesmo. Quem sou, de onde venho.

- Pode acontecer de descobrir mais do que quer saber. - Sasuke franziu a testa.

- Está querendo dizer que há algo vergonhoso no passado de minha mãe que me faria pensar mal dela? Prometo à senhora: nada pode me impedir de sempre respeitar e amar sua memória. Nada irá macular sua memória.

- Não, é claro que sua mãe não fez nada de vergonhoso. Não foi o que quis dizer. Só quis dizer que, bem, talvez houvesse al gum motivo para Mitoko não lhe contar tudo sobre si mesma. Tal vez fosse para o seu bem.

- Não posso acreditar ser melhor viver na ignorância. A Sra. Yamanaka recostou-se, suspirando.

- Ah, bem, você faz o que achar melhor, meu jovem. - Ficaram ainda mais alguns minutos, falando de banalidades.

A Sra. Yamanaka revirou o cérebro para se lembrar de algo mais que Mitoko Uchiha pudesse ter sido sobre o passando, mas não conseguiu se lembrar de nada. Finalmente pediram licença e vol taram para Haruno.

Sasuke cavalgou em silêncio por muito tempo, a testa franzida, pensativo. Finalmente, ele explodiu:

- Um ourives! Por que será que ela nunca me contou? Defi nitivamente, não é algo vergonhoso. Não é como se ele tivesse sido enforcado em Tyburn por ser um salteador de estradas. E por que se mudou para cá? Uma mulher sozinha com uma criança, lutando pela sobrevivência, se tinha família? Uma família que poderia ajudá-la.

- Acho que a Sra. Yamanaka provavelmente tinha razão ao dizer que deve ter havido um atrito em família. Você sabe, quan to mais penso a respeito, mais acho que talvez ela tenha se casa do com um homem que o pai não aprovava.

- Ou não se casou, mas ficou grávida e a família a deserdou. - Ficou em silêncio por um momento. - Continuo sem saber nada sobre meu pai. E agora sei só o suficiente sobre a família de minha mãe para me atormentar. Estou mais curioso do que antes. Por que ela veio para cá? Estará meu pai ainda vivo? E, se estiver, terá co nhecimento de minha existência? Por que ela nunca voltou a entrar em contato com a família? Depois de todos esses anos, eles po diam ter mudado de opinião. A mim parece que ela deveria ter es crito para eles e tentado se reconciliar... principalmente naquele inverno em que ficou tão doente que mal podia trabalhar. Houve períodos em que não tínhamos nada para comer. Acho que tería mos morrido de fome, se não fosse pela gentileza dos vizinhos. Foi quando fui para o castelo e consegui um emprego nas estrebarias. Ela não deveria ter escrito pedindo ajuda?

- Como sabe que ela não escreveu?

- Bem, se o fez, não recebeu nenhuma resposta. E acho que estava doente demais para levar uma carta ao correio. Ela teria me pedido, e não o fez.

- Talvez fosse muito orgulhosa, mesmo tendo que encarar a fome.

- Era uma mulher orgulhosa. - Ele sacudiu a cabeça. - Há tantas perguntas sem respostas.

- Por que então não vai lá? - sugeriu Sakura.

- O quê?

- Por que não vai àquela cidade?

- Carnmore.

- Sim. Carnmore. A Sra. Yamanaka achava que era um lugar pequeno. Quantos ourives devem existir por lá? Se estiver certo e for ilegítimo, então o sobrenome deles é Uchiha. Você vai con seguir encontrá-los sem dificuldade.

- Viajar para a Escócia? Apenas para investigar minha famí lia?

Sakura deu de ombros.

- Por que não? O Sr. Sabaku pode cuidar dos negócios por um tempo sem você, com certeza. Ele demonstrou ser bastante hábil quando você estava ferido, não acha?

- Sim. - Ele a olhou sem expressão e disse, com frieza: - E isso também lhe dará a oportunidade de ficar livre de mim por alguns dias.

Sakura virou-se, surpresa.

- Não pensei nisso.

- Não? Então talvez possa me acompanhar. - Sakura arregalou os olhos.

- Ah, não, Eu... não poderia.

Sasuke ergueu uma sobrancelha, irônico.

- Como disse, você poderia se ver livre de mim por alguns dias. Sem dúvida, seria uma excelente desculpa.

Ficaram em silêncio durante o resto do percurso.

Sakura não viu Sasuke o resto do dia. Ele não compareceu ao jantar e enquanto os outros se perguntavam por que ele não estava pre sente, Sakura sabia, culpada, ter sido porque ela o ofendera. Não apenas ofendera, ela o magoara profundamente ao recusar suas carícias na outra noite. Hoje, quando não concordara em ir com ele à Escócia, acrescentara outra mágoa. Disse a si mesma não ter motivo para se sentir mal, pois deixara claro desde o início que não queria aquele tipo de relacionamento. Fora ele, afinal, quem insis tira em se casar com ela. Entretanto, não podia deixar de lamentar ter-lhe causado dor. Finalmente foi para a cama, mas encontrou dificuldade para dormir.

Ino, ao subir as escadas mais tarde, notou a luz acesa do corredor. Atravessou o corredor até a porta para apagar. Quando chegou à porta, viu que o aposento estava ocupado. Sasuke, sentado numa das pesadas poltronas, uma garrafa de uísque com a rolha ao lado na mesinha.

Ele dava a impressão de que a noite não tinha sido agradável. Os cabelos desalinhados e a camisa desabotoada na gola e nas mangas. Estava sentado largado na ampla poltrona de couro, um pequeno copo pela metade em uma das mãos, com um líquido âmbar. Olhava com tristeza para o chão, perto dos pés, como se o tapete persa pudesse conter os segredos do universo.

Ino, já tendo percebido o humor sombrio da patroa naquela noite, suspeitou que a depressão de Sasuke tivesse a mesma fonte que a de Sakura. Fez um muxoxo e atravessou o aposento. Parou diante dele, plantando as mãos, impertinente, nos quadris. Sasuke levantou o olhar e a fitou indiferente. Quando ele não falou, Ino começou:

- Bem, posso ver o que você estava fazendo em vez de ir jantar.

- Como você é perceptiva. Eu sempre soube que era uma garota inteligente. Agora vá embora. Não tenho interesse em bri gar com você esta noite.

- É uma pena. Eu tenho interesse em falar com você. - Ele levantou uma sobrancelha para ela.

- Você tem uma língua afiada, considerando que sou seu pa trão.

Ino bufou.

- Cresci na casa do lado da sua, Sasuke Uchiha. Não tenho medo de você. - Fez uma pausa e acrescentou: - De qualquer modo, trabalho para lady Sakura, não para você.

- Você seria demitida se eu assim decidisse.

- Está me ameaçando? - Ino colocou as mãos nos quadris e o olhou desafiante. - Então é mais tolo do que eu imaginava.

Ele abriu um sorriso débil, voltando a fixar o olhar no copo.

- Não vou discutir esse assunto.

- E por que está sentando bebendo neste estupor, posso saber?

- Descobri, minha querida Ino, que a vingança não é nada doce; e sim bem amarga.

- Também acho - retorquiu em tom decisivo -, quando está se vingando numa dama tão boa quanto nossa Sakura.

Sasuke deu-lhe um olhar desgostoso.

- Eu não pretendia magoar Sakura.

- Você achou que forçá-la a se casar com você o tomaria querido?

As narinas inflaram e os lábios afinaram, e por um instante Ino pensou que ele a esbofetearia. Mas ele apenas disse:

- Eu queria o que deveria ter tido 13 anos atrás. Foi por isso que voltei.

Ino apenas o fitou, até ele afinal colocar o copo com força na mesa ao lado, derrubando parte do líquido.

- Está bem! Sim, eu queria fazer aquele velho provar um pouco da amargura que experimentei. Ele não estava por perto, então só me restou me vingar em Shikamaru.

- E em Sakura.

Cerrou o maxilar e crispou a mão, fechando o punho.

- Sakura usa uma couraça contra a dor. É preciso ter coração para ser magoado.

Ino, atônita, exalou um suspiro.

- Você acha que Sakura não tem coração?

- Acho. Nenhum deles tem. Os Haruno, a nobreza. Nada - lhes importa, só seus preciosos nomes. - Retorceu a boca. – Suas linhagens de sangue. Ela nunca me amou. Ela me fez de tolo e me largou quando o avô descobriu. Agora se afasta de meu toque co mo se eu fosse um leproso... porque não sou "igual".

- Você acha que esta é a razão de ela se afastar de você?Como é tolo! Eu costumava achar que só cavalheiros eram bobos. Mas agora vejo que a tolice não é privilégio apenas da classe dominante. Todos os homens são presenteados com ela. Você acha que ela não tem coração? Acha que não o amava? Então por que ela teria feito o que fez? Por que, em nome de tudo que é mais sagrado, ela teria se casado com aquele patife do Sai... apenas para salvá-lo? Deus é testemunha de que parece não ter valido o sacrifício!

Ino girou nos calcanhares e dirigiu-se à porta.


Continua...


Yoo minna!

Gente, eu adoro a Ino, sério. Principalmente nessa fic. Agora o Sasuke vai ouvir umas verdades muito merecidas. Bom, quanto à parte da "família" do Sasuke, essa é a segunda trama da história, além da relação dele com a Saku-chan, quero dizer.

Enfim, sem muito o que falar. Esses feriados estão me fazendo viajar pra minha cidade no find, aí o único tempinho que tenho livre... Cadê? Pois é, nem estranhem se eu atrasar um pouquinho as atualizações. Agora, vamos as reviews!

A.G: Nyaah, eu não maltrato a coitada não. Não é minha culpa se aconteceu com ela o que aconteceu. Florzinha, pode me mandar seu email sim, mas hein, eu acho que seria mais legal se você criasse uma conta aqui no site. :3 Beeijos.

Lembrem-se: Reviews movem montanhas, ou melhor, capítulos.

Se o capítulo receber 10 reviews, postagem imediata. Cinco ou mais, atualização em uma semana.

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Beeijos.