The First Day

Por Little0bird

Traduzida por Serena Bluemoon

Tradução autorizada pela autora!

Disclaimer: A Autora, Little0bird, não possui Harry Potter, apenas o plot desta fanfiction. A tradutora, Serena Bluemoon, não possui nem o plot, nem Harry Potter, apenas o trabalho de traduzir. Nenhuma das supracitadas ganha qualquer coisa além de satisfação pessoal e comentários.

Avisos:

1) Vou tentar manter a maioria das traduções dos livros, mas uma coisa ou outra eu vou manter no original. Qualquer dúvida quanto aos termos originais, só perguntar.

2) Nomes mantidos no original, por que é o tipo de coisa que não se traduz. Não souber quem é pelo nome original, só perguntar.

3) Essa fic tem várias partes que não dependem, necessariamente, da outra. Se quiser manter a ordem, esta é a primeira parte.

4) Essa fanfic se passa no primeiro ano após a batalha final, então esperem bastante drama. O que eu mais gosto dessa série, é que a autora mantém as coisas no seu ritmo natural e não apressa nada. Tenham em mente que os personagens acabaram de sair de uma guerra. Eles não vão ser um poço de felicidade e despreocupação o resto da vida deles, mas principalmente nesse primeiro ano.

Espero que gostem, e comentem.

Capítulo Um

And So It Begins

(E Assim Começa)

Harry chegou ao pé da escada que levava ao escritório do diretor. Diretora, ele pensou, percebendo que agora era o novo escritório da Professora McGonagall. Ele se cobriu com a capa de invisibilidade.

- Para que você fez isso? – Ron perguntou.

- Eu só quero ir para o dormitório, e dormir. – Harry respondeu. – Sem tumultos. Nós temos que passar pelo Salão Principal. Eu estou mais do que cansado. – ele ouviu Hermione bufar suavemente e a viu pelo canto dos olhos, olhando feio para Ron. Ele começou a andar para a Torre da Grifinória, entre Ron e Hermione, um ato tão natural agora quanto respirar.

Ele chegou à entrada do Salão Principal e ficou parado ali por um momento, absorvendo tudo. De algum modo, a luz do sol parecia mais clara e brilhante. Ele viu a luz brilhar no cabelo de Ginny, que estava apoiada em Molly. De vez em quando, ela esfregava o rosto no ombro da camiseta, secando-o. Harry queria ir até ela, mas estava muito cansado. Ele sabia que seria praticamente inútil para ela, tão cansado quanto estava. Virando-se, começou a andar na direção da escada que o levaria até o retrato da Mulher Gorda.

- É melhor vocês voltarem. – falou.

- Tem certeza? – Hermione perguntou gentilmente.

- Sim. Eu só quero ficar um pouco sozinho. – Harry começou a subir as escadas. – Ei, vocês podem avisar à senhora Weasley onde eu vou estar? Para que ela não se preocupe.

- Eu aviso. – Ron se voluntariou. – Eu vou tentar não deixar ela subir por um tempo.

Harry sentiu seus lábios se curvarem em um pequeno sorriso.

- Boa sorte com isso, cara.

- Durma bem, Harry. – Hermione falou suavemente.

Harry parou e se virou.

- Sabe... Eu provavelmente vou. Eu nem me lembro da última que eu... – ele balançou a cabeça e continuou a subir as escadas, finalmente parando em frente ao retrato da Mulher Gorda, que estava celebrando com sua amiga Violeta. Harry tirou a capa de invisibilidade, se mostrando para ela. – Olá. – falou. – Eu não suponho que você me deixaria entrar para dormir em uma cama de verdade, deixaria?

A Mulher Gorda o olhou por um momento, então o quadro abriu. Harry olhou a pintura.

- Obrigado. – ele falou sinceramente.

- De nada. – ela respondeu.

Harry passou pelo buraco do retrato e parou no centro do Salão Comunal, inalando a familiar fragrância de pergaminho, tinta, fumaça de madeira e alguma fragrância não identificada, que lhe disse que ele estava em casa. Passou os dedos pelo sofá que tinha sido o lugar favorito dele e de Ginny para estudar. Às vezes, eles esperavam até o Salão Comunal se esvaziar, e se deitavam lá nos braços do outro, conversando ou dormindo.

Uma onda de tontura o acertou ao pensar em Ginny em seus braços, seu nariz enterrado no cabelo dela. Seus dedos apertaram o tecido gasto do encosto do sofá, uma imagem dela se contorcendo sob ele invadindo sua mente. Harry não pensava nisso há meses. Ele sabia exatamente como Ginny era nua. Durante o natal de seu sexto ano, ele tinha entrado no banheiro d'A Toca, enquanto ela estava tomando banho. A tranca da porta estava um pouco solta, e nem sempre Ginny se garantia de que estava trancada. Havia uma pequena fresta entre a parede e a cortina do box e Harry ficou parado em choque, incapaz de respirar, enquanto a observava tirar o xampu do cabelo. Um estalo no andar superior o fez fechar a porta cuidadosamente e rapidamente voltar para o andar inferior.

- Oh, Ginny... – murmurou.

Se ela estivesse ali naquele momento, Harry daria qualquer coisa para puxá-la até o dormitório, trancar a porta e...

Harry se inclinou e deixou seu rosto descansar no encosto do sofá, grato por estar sozinho.

Ele respirou fundo lentamente várias vezes, e foi para as escadas que levavam para o dormitório masculino. A adrenalina que o movimentara pelas últimas horas estava perdendo o efeito, e os vários focos de dor estavam chamando sua atenção. Pareceu que demorou horas para chegar ao dormitório do sétimo ano, e abrir a porta exigiu tudo o que ele ainda tinha de energia.

O quarto circular estava silencioso e deserto, as cinco camas o cercando, perfeitamente arrumadas, o cheiro de sabão impregnado no quarto. Piscando para afastar as lágrimas, Harry percebeu que os elfos mantiveram sua cama, assim como a de Ron e a de Dean, arrumadas e prontas para eles, na esperança de que Harry teria sucesso. Ele tropeçou até a cama que fora dele por seis anos e caiu pesadamente no colchão. Ajeitou o travesseiro, pensando que precisava tirar o tênis, e, então, não pensou em mais nada.

-x-

Ginny olhou para a mesa. Arthur estava sentado ao lado de um George chocado, que parecia mais perdido e confuso, do que triste. Ela supôs que isso era apenas natural, já que Fred e George foram bastante unidos desde o nascimento. Seria como um dos outros perder um braço ou uma perna. Percy estava sentado do outro lado de George, cutucando distraidamente um prato de ovos e salsichas. Bill segurava Fleur em seu colo, o rosto escondido no cabelo platinado dela. Por um momento, Ginny se perguntou como Fleur conseguia duelar e não ficar nem com um fio de cabelo fora do lugar. Charlie estava sentado um pouco longe da família, um lápis em sua mão de dedos firmes, seu caderno de esboços à sua frente na mesa. De vez em quando, uma lágrima escorria por seu rosto sardento e pousava com um leve plop no papel. Ginny se lembrava de que ele e Tonks tinham sido bons amigos, se não melhores amigos ainda na escola, e continuaram assim até quando ele largou a escola e foi para a Romênia. Ron não estava em lugar nenhum. Ele e Hermione tinham se esgueirado para fora do Salão Principal há algum tempo e ainda não tinham voltado. Ginny soltou um suspiro trêmulo, e se inclinou ainda mais contra Molly, que acariciou o cabelo de Ginny com uma mão gentil. Ginny fungou alto e piscou, tentando não deixar as lágrimas nos cantos de seus olhos rolarem, mas elas escaparam e escorreram por seu rosto. Inclinou a cabeça e usou o tecido de sua camisa para secar o rosto.

Um lampejo de cor a fez erguer os olhos. Ron e Hermione estavam parados sob as sombras da entrada, um grande espaço entre eles. Ginny sabia que era Harry, sob a capa da invisibilidade. Ela piscou e eles sumiram. Depois de alguns minutos, Ron e Hermione se juntaram a eles à mesa. Ron se sentou ao lado de Hermione e passou um braço ao redor a cintura dela. Ginny sentiu uma pontada ao ver isso.

- Mãe? – Ron chamou suavemente. – Ele foi dormir no dormitório. – falou, enfatizando o 'ele'. Molly assentiu.

Ginny olhou para o céu limpo e azul pelo teto encantado e deixou seus olhos se fecharem. A preocupação tinha acabado, mas havia tanto mais para se fazer.

- Ginny, querida? Por que você não vai se deitar? – Molly sugeriu.

- Certo... – Ginny se levantou, e saiu lentamente do Salão Principal, parando brevemente para abraçar Neville apertadamente. – Você nos orgulhou muito, Nev. – murmurou. – Especialmente sua mãe e seu pai.

O rosto redondo de Neville se iluminou, mais brilhante que os raios de sol que entravam pelas janelas.

- Obrigado. – ele se inclinou para mais perto de Ginny. – Eu vou contar a eles. – confessou. – Tudo. Assim que nós formos para Londres. Eu espero que de algum modo, lá no fundo, eles entendam.

Ginny deixou sua mão descansar no ombro de Neville por um momento.

- Eles vão entender. – falou.

Ajeitando-se, ela foi até a entrada da Torre de Grifinória, atrás do retrato da Mulher Gorda.

- Sinto muito, eu não sei a senha. – Ginny disse fracamente. – Eu não estive aqui desde o feriado de páscoa.

- Não precisa de uma hoje, querida. – a Mulher Gorda declarou. O retrato abriu e Ginny entrou. O Salão Comunal estava consideravelmente intacto, exceto por algumas janelas. Ela ficou parada, incerta, no centro do Salão, sabendo que tinha que ir para o dormitório feminino, mas querendo ir para o masculino. Ela procurou o Galeão falso da AD em seu bolso e o segurou em uma mão.

- Cara para o das garotas, coroa para o dos meninos. – murmurou, jogando a moeda para cima, pegando-a no ar. Bateu nas costas de sua mão, e a ergueu para ver.

Coroa.

Ginny colocou a moeda no bolso e foi para a escada que levava para o dormitório masculino do sétimo ano.

A porta estava levemente entreaberta e Ginny terminou de abri-la, a respiração presa em sua garganta. Harry estava deitado de atravessado na cama, os pés ainda no chão, completamente vestido. Seu rosto estava sujo de fuligem e sangue, seus óculos, em seu nariz, estavam tortos, melecados e sujos. Ela voltou para o Salão Comunal e sacou sua varinha, usando-a para levitar uma pequena poltrona até o dormitório.

Ela a colocou ao lado da cama de Harry com um suave thump, olhando-o, mas ele nem tinha se mexido. Ela colocou a varinha de volta em seu bolso, e se inclinou para colocar os pés de Harry em cima da cama. Ginny se apoiou na ponta do colchão, e cuidadosamente desamarrou os tênis dele, antes de tirá-los. Lentamente lhe tirou os óculos, colocando-os na mesa de cabeceira. Ela pensou em tentar tirar o cobertor de sob o corpo dele para cobri-lo, mas concluiu que isso poderia acordá-lo. Girou lentamente ao redor do próprio eixo, analisando a organização do dormitório. O dormitório masculino era uma imagem refletida do das garotas, que tinha um pequeno armário perto do banheiro com cobertores extras. Ela encontrou o pequeno armário e o abriu, tirando dois cobertores e os carregando até a poltrona. Ela desdobrou um sobre Harry, seus dedos traçando o rosto dele, afastando o cabelo de seus olhos.

Ela pegou o outro e o passou ao redor de si mesma, seus olhos viajando pelo rosto de Harry. O rosto dele estava esquelético e fundo. Sob seus olhos, havia marcas roxas. Ela tinha o observado falando com as pessoas no Salão Principal, os ombros tensos com o esforço de tentar se manter reto. Ginny se perguntou quanto tempo fazia desde a última vez que Harry tivera uma noite completa de sono. Anos, eu acho...

Ginny relaxou na poltrona, tirando os tênis com os próprios pés, e se encolheu contra o estofado. Ela manteve os olhos em Harry durante as longas horas do dia, acendendo uma pequena luz quando o dia começou a morrer.

Harry dormiu o tempo todo, mal se mexendo. Ginny teve que pôr a mão no peito dele mais de uma vez para ter certeza de que ainda estava se movendo para cima e para baixo.

Monstro tinha aparecido várias vezes, oferecendo comida e bebida, as quais Ginny recusou educadamente. Entretanto, ela pediu para que ele fosse até a casa de Bill e Fleur pegar algumas roupas limpas para Harry. Ron e Hermione tinham entrado no dormitório em algum ponto do dia, e se jogaram na cama de Ron. Ginny ergueu uma sobrancelha para eles, mas Hermione apenas deu de ombros e os braços de Ron passaram ao redor da cintura dela, puxando-a contra ele.

- Estava mais do que na hora. – Ginny murmurou. Ambos sorriram timidamente, antes de caírem no sono minutos mais tarde.

Ginny ficou sentada em sua poltrona, completamente acordada noite à dentro.

-x-

Harry se sentou lentamente, com dores em todos os músculos e juntas de seu corpo, até mesmo em músculos que ele não sabia que tinha. Procurou cegamente por seus óculos, colocando-os em seu nariz, as linhas borradas do dormitório entrando em foco. As outras camas estavam vazias e apenas uma – a que pertencera a Ron – mostrava sinais que alguém tinha dormido ali. O quarto estava escuro, com apenas uma pequena luz para quebrar a escuridão. Ginny estava encolhida em uma pequena poltrona, os olhos o seguindo. Harry abriu a boca para falar, mas o que saiu foi um pequeno resmungo. Um copo de água apareceu na sua frente. Ginny o ofereceu silenciosamente. Harry o pegou agradecidamente e bebeu metade em um único gole.

- Por quanto tempo eu dormi? – ele olhou para seu relógio. Marcava nove e meia. – Dez horas? Doze?

- Tente trinta e seis. – Ginny pegou o copo de sua mão e o encheu novamente com a jarra que estava na mesa de cabeceira. – É o dia seguinte. – adicionou suavemente. – Monstro tem aparecido de hora em hora para ver se você quer algo para comer.

Harry correu uma mão pelo cabelo, fazendo uma careta para toda sujeira, sangue e fuligem presos nas mechas.

- Eu preciso de roupas. – falou.

Ginny apontou para o pé da cama. Um par de jeans e camiseta limpos estavam cuidadosamente dobrados em um canto da cama, junto com um conjunto limpo de pijama.

- Eu pedi para o Monstro ir até a casa de Bill e pegar algumas roupas limpas para você mais cedo. Ele parecia desesperado para ter algo para fazer.

- Obrigado. – ele saiu da cama duramente, e cambaleou até o banheiro. Ele tirou sua roupa imunda e coberta de sangue, tomando cuidado com os vários cortes e arranhões em seus braços e pernas. Ele derrubou sua camiseta no chão e seus olhos se arregalaram quando ele percebeu que a tinha colocado há quatro dias. Colocou seus óculos em uma pequena prateleira e abriu a porta do pequeno box.

Com uma mão na parede, Harry entrou no Box e abriu o registro da água quente o máximo possível. Ele se inclinou contra a parede e deixou a água quente relaxar seus músculos.

Harry pegou um xampu aleatório e começou a ensaboar seu cabelo. Ele voltou para debaixo do jato de água, deixando-a tirar o xampu de seu cabelo, incapaz de erguer suas mãos. Olhou ao redor do pequeno espaço, procurando pelo sabonete mais próximo, cegamente tateando as paredes até que sua mão entrou no pequeno espaço na parede, onde uma barra de sabote normalmente ficava. Seus dedos se fecharam ao redor das pontas quadradas e uma toalha de rosto flutuou para dentro do box.

- Achei que você podia precisar disso. – a voz de Ginny veio da porta. – Tem uma toalha no gancho, também.

- Obrigado. – Harry respondeu roucamente. Ele pegou a toalha de rosto, descansando na entrada do box e colocou o sabonete dentro dela. Ele esfregou até juntar bastante espuma e cuidadosamente começou a lavar seus braços, evitando esfregar com muita força as queimaduras meio curadas de Gringotes, e os arranhões e cortes do túnel da Casa dos Gritos, ou os pedaços que voaram na batalha. Havia um corte bem feio em seu joelho esquerdo, que exigiu uma grande quantidade de paciência para limpar a maior parte do sangue seco apenas encostando a toalha. Seu joelho direito estava com uma marca bem feia de queimadura do fogo que Crabbe tinha causado na Sala Precisa. Harry supôs que ele deveria ir até a Ala Hospitalar, mas o pensamento de se arrastar até lá nesse momento apenas o desgastou. Limpou a toalha antes de enchê-la de espuma de novo, passando-a nas juntas de sua mão esquerda, que tinha colocado dentro da boca no túnel para se proibir de gritar de dor. Os cortes que seus dentes causaram doeram bastante enquanto ele limpava o sangue seco e a sujeira.

Quando finalmente estava limpo, Harry fechou a água e abriu a porta do box. A toalha estava pendurada no gancho, como Ginny tinha prometido. Ele esticou o braço para pegá-la, aborrecido com o quanto sua mão estava trêmula. Ginny tinha colocado um feitiço que deixava a toalha aquecida e que deixava o cheiro do sabão levemente mais forte. Harry pressionou a toalha fofa contra seu rosto e se forçou a não chorar de alívio. Ele se secou fortemente e enrolou a toalha ao redor da cintura, colocando os óculos. Harry conseguiu voltar para o dormitório sem tropeçar nos próprios pés e parou ao pé de sua cama. Ginny tinha saído do quarto, mas uma bandeja com sanduíches e suco de abóbora fora colocada na mesa de cabeceira. Ele deixou a tolha cair ao chão, e pegou o par limpo de pijama, quase gemendo enquanto forçava seus músculos doloridos para dentro do abençoadamente limpo tecido de algodão. Harry se sentou na cama dolorosamente. A bandeja foi rejeitada. O aroma dos sanduíches chegou ao nariz de Harry, fazendo seu estômago se contorcer desconfortavelmente. Ele pegou sua varinha e fez a comida desaparecer antes que acabasse vomitando.

Ele se sentia entorpecido, como se os eventos dos últimos dias tivessem acontecido com outra pessoa. Harry sabia que, eventualmente, tudo iria passar pela neblina que o dominava. Ele apenas não sabia quando.

Ele se deitou, suspirando em alívio quando seu corpo se ajeitou contra o suave colchão.

Harry se remexeu algumas vezes e seus olhos se fecharam. Ele tinha adormecido mais uma vez.