Lilian Evans era uma boa menina. Inteligente, carinhosa e muito bonita. Ela era também a filha de um homem muito importante em Londres, e é por isso que eu ganho para seguir a menina ruiva, com o máximo cuidado para que ela não descubra.

Esse era um trabalho tanto quanto estranho, já que não via problemas que ela soubesse que eu era seu guarda gostas, assim como não via razão em segui-la durante todo o dia na universidade de Londres, e andar atrás dela até seu pequeno apartamento. Lilian Evans não ia para baladas, passava a maior parte do tempo estudando em sua quitinete, exceto quando decidia ir ao mercado ou até mesmo caminhar em volta do parque municipal. Um trabalho muito tranquilo.

Lembro-me até hoje do dia em que fui contratado por seu pai. Eu tinha acabado de pôr os pés no aeroporto, voltando de uma viagem muito longa que fiz enquanto militar. Eu sou um ex-oficial do exército da Grã-Bretanha. Fui dispensado do serviço por complicações de saúde. Uma mulher me esperava no aeroporto, olhou diretamente para mim assim que sai do desembarque, e pediu que eu a acompanhasse. Então ela me levou para um grande edifício comercial e foi lá que Adam Evans me passou todas as instruções. Eu teria uma transferência forjada, e para todos os alunos, eu seria um aluno qualquer que veio de Birmigham. Me manteria em uma posição que não chamasse atenção e ganharia muito bem por isso. Então aceitei.

Minha vida seguia normalmente. Desde então, venho caminhando pelas ruas de Londres, tomando meu café e escutando minhas musicas, enquanto observo a linda menina ruiva atravessar as ruas, comprar seu jornal e se sentar no campus. Ou até mesmo observa-la mergulhando em meio a livros e mais livros sobre direito penal e código civil. Mas sempre acontece alguma coisa pra atrapalhar a calmaria. Somente 3 pessoas sabiam que minha matricula era falsa, que eu não era um verdadeiro aluno e que eu era um guarda costas de uma menina. Adam Evans, Reitor Dumbledore, e eu mesmo. Sempre recebia o gabarito dos testes, e os trabalhos, sempre individuais, eram feitos por alguns outros funcionários do senhor Evans. Só me restava ficar nas aulas. O grande problema foi que, já que o professor de Direito Penal não sabia de minha condição, fui designado a trabalhar com Lilian Evans. Transformar meu estado de invisível para seu companheiro.

Até aí tudo bem. Ela me daria as coisas que precisaria pesquisar, eu mandaria ao Dr. Evans e depois entregaria a parte que eu supostamente fiz a ela. Mas não. Ela tem que ser a cdf certinha.

- Com licença, você é James Potter não? – ela me perguntou timidamente enquanto saia da sala de aula

- Sim. E você é ...? – quem paga meu aluguel.

- Lilian Evans. Lily. O Sr. Rosa me designou para fazer o trabalho junto com você

- Ah, sim. Decida quais serão os tópicos e me mande a parte que tenho que fazer. Te entrego tudo pronto em dois dias – falei já dando as costas para ela

- Não. Espere. Não faço os trabalhos assim! – ela disse impacientemente

- Mas é assim que eu faço! – respondi continuando meu caminho. Eu sempre a esperava no estacionamento, porque era lá que ela colocava os fones de ouvido e se desligava do mundo. Assim eu sempre passava despercebido.

Não sei se meu trabalho incluía grosseria, mas vi em seus olhos que ela ficou surpresa e ao mesmo tempo chateada com meu modo de falar. Abaixou o olhar e andou rapidamente. Foi meio idiotice, mas acabei correndo atrás dela.

- Lilian, ei! Lily – gritei enquanto ela atravessava a rua rapidamente. Mas ela já estava com os fones de ouvido, no volume mais alto e desligada de tudo. Precisei correr mais um pouco e pegar em seu braço.

- O que você quer? – ela disse olhando-me com os olhos raivosos.

- Me desculpe, não quis ser rude – falei enquanto ela tirava o fone dos ouvidos – é que fui acostumado a fazer tudo sozinho.

- Percebi – ela disse – me passe seu telefone, assim eu te ligo para mantê-lo informado.

Passei meu numero a ela, e antes que eu pudesse resistir, dei um sorriso a ela. Achei que fosse uma menina muito chata sabe, pro pai ter que manter um homem 24horas atrás dela. Isso sem contar os porteiros de seu apartamento que tinham que me manter informado se ela saísse de casa fora da hora comum e alguns outros que ficavam em seus lugares preferidos para informar se ela havia passado por lá.

- Quer tomar um café? – eu devia ter me controlado. Meu objetivo era me manter invisível e eu já convido a menina para um café? Imprestável!

- Claro – ela disse sorrindo. Acho que descobri porque ela precisa de proteção! Essa menina mal me conhece e já aceita sair comigo. – Me conte, o que você fazia em Birmigham?

- Só estudava – afirmei. Em algum lugar da minha mente meu subconsciente dava cambalhotas por saber que ela havia prestado atenção no primeiro dia em que fui a faculdade, o dia que falei de onde vinha para todos da sala.

- Interessante.

- E você? O que fazia até agora?

- No geral, eu sempre estudei. Mas as vezes vou para o rancho cuidar de alguns cavalos.

- Jura? Sempre quis um cavalo – falei empolgado

- É muito legal. Eu tenho uma égua na verdade. Charlotte. Mas minha irmã tem o Duque e tem o dos meus pais. Letty e Cavalier. São bem inteligentes, e gostam de cavalgar juntos. Então quando tenho um tempo livre vou pra lá passar um tempo lendo e dando atenção a eles.

- Você precisa ir? – Perguntei já sabendo que era quase sete da noite, e como em toda terça feira, ela jantava com os pais as 7:30 em ponto. Ela pareceu aliviada quando eu disse isso

- Sim.

Paguei nossos cafés, com muito custo, já que ela não queria me deixar pagar por nada, e enquanto saíamos para o frio cortante, continuamos conversando. Lily era muito intrigante. As vezes falava demais, mas em outras ficava muito pensativa. Seus olhos eram de um verde intenso, e percebi que ela tinha vários sorrisos. Um quando falava dos amigos, um quando falava dos pais, um quando estava envergonhada e um quando falava de seus planos.

- E então – ela continuou – no fim das férias, pretendo fazer um curso de fotografia e...

O que ela faria em seguida eu não cheguei a saber, porque enquanto atravessávamos a rua, um carro furou o sinal vermelho e mesmo freando bruscamente, atingiu sua perna. Depois de muitas desculpas do motorista, e de eu ter me certificado que ela não tinha se ferido, achei melhor leva-la pra casa.

- Não James, não precisa! Eu não moro muito longe. Vá fazer o que você tem que fazer.

- De maneira nenhuma! Você está mancando ainda! Vem, eu te levo. – peguei em sua cintura e a conduzi para o caminho certo.

- Como você sabe onde eu moro? – ela perguntou enquanto me olhava com aqueles olhos de quem analisa tudo.

- Eu moro aqui ao lado – falei apontando para o prédio cinza que realmente ficava ao lado do dela – já te vi aqui várias vezes. Tem certeza que está bem? Eu posso ligar para uma ambulância ou alguma coisa assim.

- Não, está tudo bem. – ela disse simpaticamente.

Então entreguei sua mochila que eu vinha carregando desde a hora que saímos do café e fui para o meu caminho.


Aquela noite foi a primeira em que me peguei ao telefone, louco para conversar com ela. Quase meia noite, não conseguia dormir. Coloquei minha roupa, peguei a carteira e desci as escadas. Me sentei no meio fio, e tirei meu cigarro do bolso. Parte de mim sabia que eu estava esperando ela chegar, e a outra parte negava. E no instante que acendi o cigarro vi o carro que sempre a trazia virar a esquina.

- Oi James! – ela disse enquanto fazia uma careta de dor. Percebi que foi no momento em que ela colocou a perna machucada no chão. – você fuma? – ela perguntou surpresa e com uma cara um tanto decepcionada.

- Não – respondi. E imediatamente joguei o cigarro no chão e fui ajuda-la – você não quer mesmo ir num hospital? – perguntei enquanto a levava para a portaria e assistia o carro ir embora.

- Não gosto muito de hospitais. Pode ir, eu não estou aleijada – ela disse se soltando de mim e mancando para a porta.

- Seu prédio tem elevador? – perguntei rindo

- Não. Como você sabe?

- É meio obvio. Só tem 3 andares. Você acha que vai conseguir subir até seu apartamento sozinha? – falei rindo de novo

- Quem disse que eu moro nos andares altos? Não posso morar no primeiro?

- Não.

- Porque não?

- Porque a janela da sua cozinha é de frente para a minha, e eu sempre escuto você fazendo panquecas às 6 da manhã.

- O que mais você vê? – ela perguntou assustada

- Não muito – falei, embora eu soubesse muito bem que era mentira – não é como se eu ficasse te vigiando o tempo todo. Só te vejo de relance.

Depois de algumas risadas, ajudei a menina a subir até seu apartamento. E posso dizer... fiquei muito curioso para saber como era o resto dele, já que só conhecia a cozinha. Eu a deixei na porta e quando já estava me virando para ir embora, eu ouvi aquele som de hesitação. Me virei e a encarei. As chaves na mão, balançando, e o corpo meio dentro do apartamento e meio fora.

- Quer um café?

- Séria ótimo! – falei sorrindo e entrei rapidamente na quitinete.

Era realmente muito pequeno, mas tinha espaço para tudo. Uma pequena mesa redonda no canto da sala, um sofá de dois lugares muito bem escolhido, a tevê de plasma pregada na parede e a estante de livros. Deus, ela tinha muitos livros! O apartamento era todo decorado com fotografias. Algumas mostravam toda sua família. Outras mostrava apenas fios de um cabelo vermelho voando, sem mostrar o rosto da pessoa. Eu sabia que era Lily, e devo dizer que aquela fotografia me encantou muito.

- Cappuccino ou café preto?

- Cappuccino – falei.

Sentamos na sala alguns minutos depois com nossas xicaras soltando fumaça e ela acabou colocando um filme para assistirmos. O filme era bem interessante, falava sobre uma guerra, mas em 10 minutos ela já estava dormindo. Os pés para o alto e o pescoço tombado desconfortavelmente. Seu casaco prendia seus movimentos, e ela estava tensa, tentando não encostar em mim. Resolvi ir embora, deixa-la descansar.

Peguei a xícara tombada das mãos dela e a minha também e levei para a cozinha. Quando estava quase saindo, pensei em uma coisa.

Corri até seu quarto, muito bem organizado por sinal, e peguei um cobertor. Levei até a sala e a cobri. Consegui perceber seu corpo relaxando e então fui para casa.

Meus dias continuaram assim. Me encontrava com Lily todos os dias após as aulas para fazer o trabalho e para tomar café. Apresentei a ela meu humilde lar, com tudo que eu gostava e mais um pouco.

- Você disse que trabalha – ela falou pensativamente – mas não me falou em que.

Nesse instante eu não sabia o que responder sem parecer culpado. Talvez se eu falasse 'Sou o guarda costas que te segue todos os dias sem você nem perceber', mas acho que ela não seria muito receptiva à ideia.

- Trabalho com meu pai – respondi depois de alguns instantes – ele investe em muitas ações, e sou eu que controlo as compras.

- Isso é muito chato! – ela disse – meu pai só quer saber de ações, ações, ações. Foi por isso que eu saí de casa. Queria um lar, não um ponto de ônibus em que ele simplesmente passava por lá. E ele ainda queria por ordem em tudo! Era um tanto quanto insuportável.

- Acho que posso te entender

- Acredita que ele queria me fazer andar com um guarda costas? – ela falou indignada

- Talvez ele só queira isso para a sua proteção – justifiquei

- Proteção de quê James? Ele não deve querer que eu arrume um namorado, isso sim.

- Porque você não namora alguém? – perguntei antes mesmo que pensasse no que estava dizendo – quer dizer, você é linda. Não deve ser difícil encontrar alguém que goste de você.

- Digamos que eu sou uma pessoa difícil de se conviver.

- Eu não acho. – falei – sabe do que mais? Parecemos namorados, a única coisa que falta é o beijo.

Eu e minha mania de falar sem pensar. Lily corou na hora.