Consequência

Capítulo 10

Escrita por Blanxe

Revisada por Andréia Kennen


Como eu posso ver, através de seus olhos, o meu destino?

Eu caio aos pedaços, você sangra por mim

Como eu posso ver, através de seus olhos, nossos mundos colidirem?

Abra seu coração para selar nossa grande separação…

Our Great Divide – Tarja


Hoshi sentiu o tremor e apoiou-se em uma parede para manter o equilíbrio.

— Não… — balbuciou, amedrontado, sua voz escalando ao nível de sua negação. — Não, não, não!

Correu com tudo o que podia na direção do ruído estrondoso, sem se importar com o que iria encontrar adiante, o perigo distante de suas preocupações. Não estava longe. Entretanto, o surgimento abrupto da criatura alaranjada o fez paralisar.

Houve um momento em que em meio ao reconhecimento mútuo, seus olhos negros marejaram ante a imagem de Naruto dominado pelo demônio e seus joelhos fraquejaram. Era real, agora. A certeza de que fracassara estava, enfim, bem diante de si.

— O primeiro filhote… — sorriu, em um esgar, a raposa. — Reunião familiar no momento errado, pirralho.

Ele tentou passar pelo adolescente, mas Hoshi engoliu em seco e bloqueou a passagem, abrindo os braços em sinal de que não tinha intenção de permitir sua fuga.

— Saia da frente — sibilou Kyuubi, o fogo ao redor dele crescendo para reforçar a ameaça, próximo o suficiente para que Hoshi sentisse as chamas esquentarem perigosamente sua face.

— Me deixa falar com o meu pai — forçou-se a falar, não movendo um músculo de onde estava.

Kyuubi, por uma fração de segundos, fez uma careta de raiva, mas no instante seguinte voltou a sorrir; duas caudas agora balançavam em movimentos quase fantasmagóricos atrás dele.

— Ele não quer falar com o filhote bastardo.

Foco, Hoshi, você já passou por isso antes — determinou-se o adolescente.

— Ho-chan! — Ouviu seu nome ser gritado e instintivamente olhou para trás.

Era seu irmão e Kiseki, ambos vindo do final do corredor. Mesmo naquela situação alarmante, seu coração se contraiu ante a visão dos dois juntos. Obrigando-se a ignorar o sentimento, voltou-se para a criatura alaranjada, ativando seu dom ocular.

— Se não vai deixar por bem, vai ser pelo jeito mais prático — Hoshi anunciou, a tonalidade vermelha de seus olhos causando espanto ao bijuu.

Parecia que, quanto mais usava o poder dos seus olhos, mais habituado ficava à sua capacidade, como algo instintivo. Sua dificuldade, entretanto, não foi de prender a raposa com seu olhar, mas ultrapassar a barreira que fora erguida mentalmente contra sua invasão. Não havia sido tão difícil da primeira vez, mas a realidade naquele momento era outra.

Kyuubi parecia… mais forte.

Talvez fosse devido aos anos que vivera com seu hospedeiro ou ainda fosse algo que Orochimaru fizera.

Havia símbolos girando em espiral pelas galerias que eram a mente de Naruto, sinais que não saberia compreender, mas que ofuscavam, dificultando o reconhecimento do ambiente. Tão opressores que causavam uma dor aguda na cabeça. A força que aquele jutsu emanava ameaçava a cada segundo jogá-lo para trás, para fora da mente do pai. Entretanto, Hoshi trincou os dentes e prosseguiu com os olhos semicerrados, tentando reconhecer o caminho com a parca memória que restava de uma época que já se esfarelava em suas lembranças.

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— Hoshi! — gritou Kiseki ao não ver mais qualquer reação do amigo, bem como a criatura produzida por aquele chakra virulento.

Do outro lado, tanto ela quanto Tsuki, viram Itachi chegar por trás do ser e demonstrar surpresa e preocupação por encontrá-lo ali.

— Ho-chan! — Tsuki se precipitou com a mão estendida para alcançar o irmão.

Seu chamado fez Hoshi sobressaltar e, como se o ar deslocando entre ele e Kyuubi tivesse ganhado vida própria, foi arremessado para trás.

Tsuki utilizou o próprio corpo para amortecer a colisão do irmão contra uma das paredes. Arfou ante a dor do impacto em suas costas. Deslizou para o chão abraçado ao irmão enquanto Kiseki, com uma fúria pungente no semblante, atacou o demônio.

Kyuubi balançou a cabeça como se tentasse se livrar de um transe quando recebeu o primeiro golpe da kunoichi.

Itachi, sem nada a dizer e apenas concentrado no grande problema adiante, moveu as mãos nos sinais corretos. Seu intento era usar um selo para bloquear o fluxo de chakra do demônio por um curto período de tempo, o suficiente para que a consciência de Naruto reassumisse o comando do próprio corpo.

Foi interrompido ao notar que receberia um ataque traiçoeiro pelas costas, obrigando-o a virar-se e se defender de duas grandes cobras brancas que armavam um bote contra si.

— Ho-chan! — Tsuki sacudiu o irmão querendo devolver-lhe a consciência. — Você está bem?

Havia sangue escorrendo do nariz afilado de Hoshi, mas o olhar dele continuava vidrado na direção de Kyuubi e o que mais assustou Tsuki foi ver o vermelho feroz que tingia os olhos antes negros de seu irmão, bem como os dentes trincados. Não se tratava do poder ocular de sua família, mas de algo totalmente diferente, que nunca vira em seus anos como ninja.

— Fala comigo, niisan! — suplicou, sacudindo seus ombros com mais força, mas nada conseguiu.

Um rugido reverberou pelas paredes do esconderijo e uma projeção de chakra expandiu em uma explosão de calor. A esfera foi grande o suficiente para percorrer boa parte do espaço útil do corredor. Kiseki foi ágil em usar as paredes para saltar em movimento côncavo onde suas costas passaram a centímetros de serem tocadas pelo ataque.

Tsuki soube que só conseguiria desviar da esfera de chakra sozinho, Hoshi não respondia aos seus apelos e seria impossível de fugir com ele a tempo. Determinado, se levantou, adiantando-se alguns passos, encarando aquela massa de energia pronta para arrebatá-lo. Calculou o risco dos danos que receberia, esperando estar correto.

Puxou agilmente um pergaminho, executando-o.

— Suiton: SuijinHeki!

Apesar do suiton não ser seu elemento, Tsuki era capaz de executá-lo com um pergaminho. Não era uma técnica que realizava com frequência, muito menos tinha grande controle, mas acreditava que seria o suficiente para contra-atacar. Assim, a parede protetora de água ergueu-se a sua frente, chocando-se com o chakra flamejante que fora lançando contra eles, criando um chiado e fumaça devido ao atrito da água contra o fogo.

Desconcentrou-se, porém, quando uma sombra passou correndo ao seu lado. Para seu espanto, identificou ser o irmão mais velho.

— Niisan! — gritou, alarmado.

Hoshi tinha ao redor do corpo um fluxo de chakra ameaçador, como o que vira na criatura que os atacava: a nebulosa força alaranjada. Com assombro viu o irmão furar a parede de água e atravessá-la, sem nenhum dano sofrer.

Sem se importar se era seguro ou não, Tsuki interrompeu o suijinheki. A fumaça intensa que se espalhava veio em sua direção, deixando praticamente às cegas no meio do corredor.

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Hoshi se lançara de modo selvagem contra Kyuubi, derrubando-o no chão.

Em meio à fumaça, nada se podia divisar, Hoshi só sentia aquele ódio intenso que constringia seu âmago e fazia seu coração bombear de forma frenética. Com o rosto próximo ao daquele formado de pura energia de Kyuubi, ele rosnou, dando vazão a um lado seu que sequer sabia existir.

— Desfaça esse lacre que colocou na mente do meu pai! — urgiu.

Kyuubi riu e usando o cotovelo, golpeou a face de Hoshi, jogando-o de cima de si.

— Filhote arrogante, este é o resultado do poder que Madara transferiu pra você?

Um rasgo fez sangue brotar da boca do adolescente que, ao tocar o ferimento com a mão e verificar o líquido carmesim nela, sentiu a cólera que alimentava a intensidade do chakra do demônio que existia em si intensificar, fazendo Hoshi gritar de dor e de fúria.

Era como estar sendo consumido por fogo: sua pele queimava como se estivesse dentro de uma grande fogueira e, internamente, os sentimentos agravavam essa condição. Incontroláveis como chamas eles ardiam em seu interior exigindo dele uma liberação que não tinha a menor ideia de como lidar, a não ser permitisse que a gama violenta de sensações tomasse controle de quem era.

Garras e presas cresceram ao passo que perdia a ligação com seu lado racional, as vozes em sua cabeça se tornavam meramente uma cacofonia insuportável.

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Uma rajada de vento rodopiou pelo corredor dispersando a fumaça de modo efetivo. Kiseki pode ver Itachi mais adiante, a última cobra viva sendo destruída pelo poder do Uchiha. O olhar do irmão mais velho do Hokage voltou-se com rapidez na direção em que o rugido ecoava e, junto com ele, Kiseki viu, aterrorizada, uma segunda criatura coberta por aquele chakra vermelho pulsante surgir.

Mais adiante, Tsuki, que havia usado seu elemento para afastar a fumaça, via a revelação mais chocado do que poderia ser possível.

— Dois deles, mas como? — a kunoichi se indagou, sem reconhecer na segunda criatura o amigo a quem viera socorrer.

— Niisan…? — Tsuki balbuciou, entendendo finalmente o que ocorria, olhando da criatura para o tio, quase em uma pergunta muda ao seu desespero.

Itachi teve dificuldade para diferenciar qual dos dois seres era Hoshi e qual era Naruto, ambos apresentavam a mesma composição corpórea de chakra em forma de uma raposa humanóide. Ele teria de optar por deter um deles e correr o risco do outro escapar, nem Kiseki e Tsuki juntos seriam capazes de conter o outro deles.

Havia um nó em sua garganta por ter de escolher, por não saber qual deles deveria reter e, mesmo se soubesse, não teria coragem de colocar um à frente do outro em sua decisão. Jamais imaginou que teria de lidar com Hoshi dominado pela energia adormecida em seu interior, apesar de a possibilidade já ter sido estudada por ele quando o garoto, ainda em seus oito anos de idade, apresentou um pouco da aura sinistra do nove caudas. Foi quando ele teve seu estresse muito elevado por ter sido rechaçado por alguns colegas na escola. Na época, como sempre, Kiseki tivera que ajudá-lo.

Não fora à toa que estudara técnicas de contenção do chakra e como aprimorá-las. Sabia como agir a situação inesperada, no entanto, era o que dificultava sua ação.

Decidiu não esperar, era arriscado permanecer daquele jeito a cada segundo que passava.

Seu movimento foi inesperado, mas não rápido o bastante para evitar que uma das criaturas se jogasse contra a outra em um ataque de fúria. Deslocando o corpo para não ser chicoteado pelo chakra das caudas, Itachi usou seu genjutsu onde projetou uma torrente de corvos que se focaram em atacar uma das formas cobertas de chakra.

Atordoada, a criatura em forma de raposa foi agredida pela outra que a atingiu com as garras, a atirando na direção de Itachi e Kiseki.

Itachi precisava aproveitar o momento em que sua vítima estava presa na ilusão dos corvos e, com um peso no peito, foi o que fez, sem se importar com a segunda.

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Tsuki precisava entender exatamente o que estava ocorrendo, mesmo já tendo raciocinado o básico. Aqueles dois seres cobertos de uma energia destrutiva eram sua família, mas nunca vira seu chichiue apresentar nada parecido, mesmo sabendo que ele era o jinchuuriki do demônio de nove caudas. Ouvira muitas histórias, mas nada que representasse de forma tão real o que poderia acontecer se Naruto viesse a perder o controle de seu bijuu. Porém, não entendia por que Hoshi chegara aquele estado tão similar. Vira o manto de chakra que o cobria quando se lançara contra seu suiton e, antes disso, os olhos e a mandíbula trincada. Mas, como ele herdara algo que só pertencia à raposa? Nenhum dos irmãos detinha tal característica.

Foi arrebatado por lembranças de quando era criança e que Hoshi ficou com seu tio, Itachi, por um tempo. Sem ir à escola, isolado a ponto de seus pais não deixarem que Tsuki fosse ver o mais velho. Ficar afastado de Hoshi, naquela época, fora um teste de resistência que não fora capaz de aguentar e acabara usando o exemplo ousado que crescera vendo o outro usar e furtivamente conseguira entrar no quarto onde ele estava acomodado.

Agora suspeitava que tal acontecimento do passado talvez estivesse ligado ao atual e faria tudo para descobrir o que acontecia com seu irmão.

Porém, quando Itachi atacou, soube que deveria centrar na situação primordial que tinham em mãos. O mais velho lidava com uma das criaturas presas a um genjutsu, enquanto a outra simplesmente se preparava para atacar.

Fez os selos manuais e correu; na mão, o brilho do raiton. O eco de seus passos chamou a atenção da criatura acocorada, que se virou, mas não a tempo o suficiente para evitar que Tsuki liberasse o ataque ao segurá-lo pelo o pescoço. Havia medido a intensidade do jutsu, apenas a quantidade de energia para causar um grande choque e atordoar. Mas o grito gutural de reação a dor provocou um arrependimento imediato em Tsuki, fazendo-o vacilar por um instante.

O fluxo do raiton diminuiu, dando a criatura um momento de alívio para usar as garras. Entre a decisão de soltar seu alvo e evitar ser rasgado pelo golpe, Tsuki escolheu recuar, desfazendo a pegada que mantinha.

Para sua surpresa, após um rugido de fúria, o ser coberto de chakra virou-se no corredor e disparou em uma corrida sobre as quatro patas.

Os olhos de Tsuki se arregalaram ao constatar a fuga da criatura para a outra direção do corredor — a saída. Ao mesmo tempo, um rugido de uma dor lancinante divergiu sua atenção a tempo de ver seu tio com os cinco dedos da mão esquerda embebedados por um chakra azul forte, cravados na região abdominal de seu alvo. Poderia ser um urro de dor de seu pai ou de seu irmão, pensou sentindo seu peito se apertar ante a ideia de qualquer um dos dois estar sofrendo.

— Não vai trazê-lo de volta assim, Uchiha — rosnou a criatura diante do rosto de Itachi.

Tsuki teve a certeza de que aquele era o primeiro, Kyuubi sem dúvidas, e que a outra que fugira só poderia ser…

— Ho-chan! — gritou correndo na direção contrária, por onde vira o irmão, naquela forma demoníaca, fugir.

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Itachi não se importou quando a filha dos Hyuuga partiu atrás de Hoshi. Havia uma preocupação, uma agonia por ser incapaz de lidar com duas situações ao mesmo tempo, ainda que seu peito se rasgasse por ter que ficar e não correr atrás de Hoshi para ajudá-lo, confiava que Tsuki teria chance de conter o irmão mais velho com a ajuda da amiga.

Precisava acreditar nisso porque agora estava colocando o jutsu de contenção de chakra em Naruto, e seu único foco seria no jinchuuriki.

A forma humanóide da raposa aos poucos se desfazia diante de si e com a proximidade podia ver o rosto da pessoa que tanto amava transfigurar-se de volta ao normal.

— Não posso deixar que faça isso — o demônio cuspiu, fechando a mão no pescoço do Uchiha.

— A escolha não é sua, Kyuubi — Itachi retorquiu, os olhos vermelhos ativos surpreendendo a criatura que dominava Naruto.

A barreira que encontrou ao adentrar a mente do loiro, pegou Itachi de surpresa. Não esperava colidir com um selo tão forte, mas isso não o impediu de encontrar a fonte no meio de todos aqueles símbolos que giravam pelas galerias, cada um deles colocado lá com um propósito ilusório, um atalho para enviar para fora quem quer que tentasse invadir a mente do jinchuuriki em um único golpe mental. Em todos, identificou a assinatura de chakra de Orochimaru misturado ao poder de Naruto.

Trincou os dentes, sentindo o peito comprimir. Não era somente um selo que estava ligado ao chakra do nukenin…

Era Naruto.

Espalhou suas próprias ilusões de corvos para enganar as armadilhas deixadas ali e encontrou o ponto de resistência do selo principal e o atacou, rasgando-o com a lâmina de uma kunai, de forma que todos os outros desapareceram no mesmo instante.

Satisfeito, viu a confusão de selos se dissiparem dando um aspecto mais reconhecível as galerias. Galerias as quais atravessou correndo, até alcançar o ponto onde sabia que encontraria a prisão do demônio de nove caudas.

— Naruto-kun? — chamou, aproximando-se da prisão.

O loiro estava sentado em um canto, imóvel, a cabeça pendida para o peito como se dormisse. Itachi queimou o selo que estava preso à grade, se valendo de que o chakra da raposa estava restrito, e se agachou perto do outro homem.

Desolado, tentou tocar seu rosto, se detendo ao ouvi-lo falar.

— Por que, bastardo?

Mesmo sem entender, o peito de Itachi se comprimiu ao escutar o tom embargado nas palavras inconformadas de Naruto. Ele estava consciente, nitidamente fraco, mas consciente.

— Foi por vingança? — ele indagou, a voz constrita. — Você queria quebrar o teme, ainda mais do que já havia feito?

— Do que está falando, Naruto-kun? — Itachi questionou, com um receio crescente.

— Qual foi o seu motivo, Itachi? — O rosto bonito se ergueu e os olhos azuis encontraram-se com os seus, marejados, perdidos e, acima de tudo, perturbados. — Não entendo porque fez aquilo. Você odiava o Sasuke tanto assim? Você me odiava tanto a ponto de… — Voltou a abaixar o rosto, segurando a cabeça entre as mãos e fechando os olhos fortemente.

O choque por estar compreendendo o que atormentava o jinchuuriki abateu Itachi.

As lembranças.

Naruto sabia o que ele tinha feito.

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Sasuke olhava para o filho, se esforçando para ver o garoto como deveria. O absurdo de Kisho ter traído a todos eles se encaixava na imagem do menino recostado na cama, olhando-o com uma frieza distante da inocência que achava que Kisho deveria apresentar. Muito embora soubesse da personalidade irascível do menor, Sasuke tentava encontrar desculpas que justificassem o que fora feito.

Era difícil encarar que a realidade daquele olhar, lembrava a mesma que vira no seu reflexo no espelho quando tudo o que pensava era em vingança.

E pensava que, talvez, a culpa fosse sua. Se reconhecesse que suas personalidades eram compatíveis, com certeza a tomaria para si. Só gostaria de entender o por quê.

— Como está o Tai? — Kisho iniciou a conversa, inesperadamente.

Como se nada mais houvesse de errado, a não ser a crise que o irmão tivera por culpa justamente dele.

— Não estou aqui para falar do Taiyou — cortou com severidade, vendo os olhos negros crisparem, mas em seguida baixarem, submissos pelo peso da autoridade que Sasuke exercia. — Está sendo acusado de traição, você tem idade para ser penalizado pelo que fez, e eu, como Hokage, terei de colocar meu próprio filho sob julgamento.

Nem mesmo a frustração em sua voz abalou o garoto, embora soubesse que podia ser um falso autocontrole de Kisho. De todo modo, era desagradável a falta de reação do filho.

— Eu te criei melhor que isso, Kisho — falou sem brandura, puxando o filho pelo braço e o colocando de pé. — Eu te criei para ter todas as chances, uma família e um futuro sem o estigma que eu vivi. — Encarando o olhar agora vacilante de Kisho, Sasuke inquiriu: — Então me dê uma razão convincente para o que você fez com seu pai.

Os olhos do garoto se estreitaram e o desgosto se apossou de sua expressão.

— Quer saber? Eu to cansado de ver o senhor achando que aquele cara é grande coisa e sofrendo por causa dele. — Sasuke recuou ante as palavras cuspidas por Kisho. — Ele não merece nos ter como família, não passa de um mentiroso traidor!

— Naruto nunca foi mentiroso, muito menos traidor!

— Foi! Você não sabe, mas eu sei! Ele e o tio Itachi!

As palavras soaram tão absurdas, que a expressão de Sasuke se contorceu enquanto tentava entender o sentido delas.

— Itachi?

— Ele tem lembranças de quando era mais novo. Lembranças deles juntos, da época em que Hoshi foi… — Pareceu em debate, tentando encontrar uma palavra e com o mesmo timbre execrável, concluiu ao encontrá-la: — gerado.

Por um momento Sasuke ficou estático, olhando para Kisho, esperando perceber que havia escutado errado. Mas o menino que amparava pelo o braço o olhava, seguro do que tinha dito, refutando sua insistência em querer criar uma desculpa para não acreditar que o filho era ruim a ponto de chegar a tal nível de maldade.

Um soco com as costas da mão fez o garoto cair sobre a cama, tamanha foi a indignação pela insensatez que o filho usava para justificar seu crime. Fechou os olhos, buscando conter a raiva para não fazer mais do que fizera, sabendo que depois se arrependeria e que isso comprometeria o que restava do homem que também era pai e via seu filho escapulindo por entre seus dedos.

— Eu sabia que não acreditaria em mim, por isso nunca contei nada — Kisho riu, debilmente, fazendo-o abrir os olhos e ver a criança com o lábio cortado, mas a malícia de um adulto no semblante. — Mas fique com a consciência tranquila pelo que fez, porque pode ser que nem eu seja seu filho de verdade, assim como o Hoshi não é.

Evocando toda a imparcialidade que lhe era possível no momento, Sasuke lutou contra seus instintos paternais e outros dos quais eboliam sentimentos que não faziam jus a sua qualidade de pai. Não existia razão para permanecer ali, não quando podia cometer mais uma agressão contra Kisho e os disparates que ele vomitava.

— Você está proibido de sequer citar o nome de seu pai outra vez — sibilou. — E se o que você buscava era uma punição justa, sem o meu amparo, saiba que seu desejo será atendido.

A porta bateu atrás de si oca aos seus ouvidos. Achava que todos os sons ao seu redor haviam sido abafados pelo timbre da voz de Kisho. Continuava ouvido o garoto e o que ele dissera acima de todos os outros ruídos ao seu redor.

A despedida de Kaede só foi percebida porque a adolescente, filha de Sakura e Lee, estava bem perto e ele teve de reafirmar a ordem de que ela e Moichi se revezassem na guarda de Kisho até segunda ordem.

Depois disso, nada impediu que as palavras de Kisho tomassem conta do que restava do subconsciente de Sasuke.

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Continua...


Praticamente 1 ano depois, eis que consigo voltar atualizar esta fanfic T_T Peço desculpas a quem acompanha. Espero que não fiquem muito chateados comigo. Ainda estou tentando, sempre que posso, voltar a escrever as fanfics, mas o meu tempo ainda é curto e a inspiração continua me sacaneando. Vou tentar, mesmo, fazer o próximo capítulo o mais rápido que puder.

Gostaria de aproveitar o espaço para divulgar duas coisinhas:

1º - Outro conto yaoi meu foi publicado, desta vez pela Editora Draco, na coletânea Depois do Fim. Se trata de um conto apocalíptico, trazendo alguns personagens da mitologia grega, sendo Destino o narrador desta história. Para quem tiver interesse, neste link podem encontrar um trechinho e mais sobre história e como adquirir a coletânea (retirem os espaços e substituam a palavra pelo ponto): blog ponto editoradraco ponto com/2014/10/depois-do-fim-escrevendo-passos-cegos-blanxe/

2- Nos dias 15 e 16 de novembro, a Raquel Sumeragi estará representando Entropia no Brasil Comic-Con, levando para o evento um shortcomic impresso e inédito para venda, além de marcadores de livro com artes dos personagens. Quem for de Sampa e for ao evento, faça uma visitinha a Raquel lá no Beco dos Artistas!

E obrigada pela paciência com esta escritora aqui.