AVISO: Meus direitos autorais sobre o conteúdo dessa fanfic estão protegidos perante a lei (ART. 18, LEI Nº 9.610/98). Não copie, não plagie, não poste em outros sites sem meu consentimento. Twilight não me pertence, mas todo o enredo daqui sim. Respeitem!
N/A: Olá a todos!
Essa short-fic é parte de uma brincadeira que eu e mais 9 autores fizemos para comemorar o Natal e também o final do ano de 2010. Se trata de um amigo secreto, onde foi feito um sorteio e como presente escreveríamos o que a pessoa que tiramos quisesse. Os plots foram sugeridos por nós com temas natalinos ou de Ano Novo. Nós, os autores, gostaríamos que vocês lessem cada uma das histórias e comentassem, expressando o que acharam destes nossos devaneios!
As outras fics podem ser encontradas na comunidade: community/Amigo_Oculto_de_Natal_Ano_Novo_2010/8812
O link também está no profile na parte de Communities.
Obrigada à Tod, que foi super fofa em aceitar betar a fic de última hora, e à Nath, por ter sido outra fofa por ler e comentar de antemão. Agredeço também à Giuly Cerceau, que me salvou e fez uma linda capa pra fic, confiram no meu profile!
Minha mãe sempre foi um pouco avoada, embora ela insistisse em dizer que era apenas "concentrada demais em pensamentos, em mantras internos, Edward". Eu achava tudo isso uma besteira. Talvez Esme pudesse ser considerada uma verdadeira hippie eterna, que havia deixado sua mente jogada em alguma moita de Woodstock – mesmo que ela tivesse apenas dez anos quando fora carregada por seus pais para o tal festival. Aprendi a lidar com esse seu "jeitinho" desde pequeno.
Era sexta série do fundamental, quase o início das férias. Todos se preparavam para a festinha da menina mais linda da escola, por quem eu, por grande sacanagem do destino, era completamente apaixonado: Tanya Denali. Pois é, aos doze anos eu já sentia, doía, e vivia todos os sentimentos mais complexos de um ser humano. O que posso fazer se eu sempre fui assim... profundo demais?
A festa tinha sido na casa dela, em sua piscina, o que de cara já demandava dos pais alguns cuidados a mais, como por exemplo, tratar de comprar roupas de banho novas para os filhos que haviam crescido de um verão para o outro. E o que tinha que acontecer comigo,justamente com esse que vos fala? Esme não somente esqueceu-se de comprar meu calção novo de banho, como também, para compensar a gafe, pegou emprestado e me deu o de meu irmão mais velho, Emmett – que nada mais era do que alguns muitos 15 centímetros mais alto do que eu.
O resto vocês já podem imaginar. Para minha humilhação e vergonha total, no primeiro mergulho o calção sumiu, puff, desapareceu como mágica. Achei a roupa apenas na segunda-feira seguinte, embolado dentro do meu escaninho da escola. Ainda podia ouvir as risadas dos imbecis da classe e estremecia toda vez com a recordação.
E por essas e outras, nesse momento eu me encontrava sentado em meu carro, com o aquecedor ligado quase em potência máxima por conta dos -5ºC que faziam lá fora. Sem contar a neve, que teimava em começar a cair, mesmo que fina. Era loucura pegar uma estrada em uma condição de tempo como essa, disso eu tinha plena consciência, mas qualquer coisa era melhor do que continuar na casa da minha mãe aturando aquele verdadeiro inferno na Terra. Inferno natalino seria uma melhor descrição.
Hoje, 24 de dezembro, véspera de Natal. Se eu jogasse no Google, tenho certeza que apareceria "Você quis dizer: o pior dia do ano". Pior, mais chato, mais perturbador, mais tedioso, e pura e simplesmente o mais insuportável. Para encurtar a história: eu não gostava de Natais, e ai de quem me julgasse por isso.
Tudo bem, eu entendia todo o fascínio por trás da fábula, de quando você é criança e espera ansiosamente seu presente. Quando você dorme só pensando nisso e desejando intensamente que aquela figura mítica chegasse logo em sua casa – totalmente compreensível, afinal, ele era o seu elo mais próximo com o mundo da fantasia; era o mais perto das princesas da Disney, ou dos Power Rangers que você um dia iria chegar "em carne e osso", mesmo que nunca visse o Papai Noel de fato.
Não era do Bom Velhinho que eu tinha raiva – não, o cara um dia foi um bom moço de verdade, fazia o bem sem olhar a quem, era gente fina. Não era nem de Jesus, aquele muleque sortudo que mesmo nem sendo seu aniversário real, tinha uma data só sua onde era comemorado e adorado em todo mundo. Certeza que ele se divertia demais vendo tudo isso aqui em baixo.
Veja bem, eu não era uma má pessoa. Era amante dos animais, gostava muito de gatos. Nunca xingava ninguém, com raríssimas exceções, e estava sempre tentando colocar um sorriso no rosto do meu sobrinho Matt, filho de Emmett e Rosalie, sua esposa. Eu apenas não conseguia suportar essa festa onde todos se reuniam para uma comilança sem fim, uma troca de presentes que nem sempre significavam algo verdadeiro e palavras que eram menos honestas que alguns políticos corruptos de Washington. E as brigas? Ah, as famosas brigas da família Cullen... Melhor nem começar a contá-las, pois tenho certeza que as desse ano estavam para estourar a qualquer momento. Tomara que aconteçam enquanto eu ainda estivesse aqui nesse supermercado de merda, procurando por uma bendita torta de maçãcongelada.
Esme havia esquecido a única torta no forno mais cedo, queimando-a por inteiro e destruindo a tradicional sobremesa da nossa ceia em família. Não havíamos nem começado a refeição, mas eu me oferecera prontamente para ir buscar uma torta e salvar o Natal de todos. Estava à procura de qualquer desculpa para me livrar, pelo menos por alguns minutos, de toda aquela confusão. Minha cabeça já latejava levemente.
Estacionando o Volvo no vazio pátio do único supermercado aberto em Forks, desci do carro correndo, apertando o casaco contra o corpo para evitar a corrente de ar frio. Tomei o máximo de cuidado para não escorregar ou tropeçar; uma concussão na cabeça não era exatamente minha ideia preferida de mais uma recordação infeliz nessa bendita data.
Eram dez da noite e era de se esperar que não houvesse mais do que cinco pessoas dentro do recinto, como eu percebi. Um jovem com cara de entediado batia nas teclas de um computador por trás do caixa.
- Feliz Natal. Esperamos que encontre tudo o que procura em nossa loja. – a voz monótona do atendente me cumprimentou. Ele sequer lançou um olhar para mim.
Situado atrás do caixa, estava um aparelho de som que transmitia as melodias suaves de músicas de jazz com temas natalinos para diversos alto-falantes espalhados pelo local. Uma senhora idosa carregava um carrinho de compras de pano perto dos enlatados; um casal suspeito vagava pelo corredor dos itens de farmácia; e um homem que era, literalmente, a cara da depressão, arrastava suas botas em direção ao caixa. Coitado.
Antes de ir em direção às geladeiras, resolvi matar um pouco mais de tempo e fui escolher alguns M&M's para mim e para Matt. Ele adorava brincar comigo de jogar os confeitos no ar e pegá-los com a boca – e é claro, sua mãe odiava a nossa brincadeira. Na minha opinião, o garoto já estava crescido o bastante para saber ter o cuidado de não engasgar. Afinal, aos seis anos de idade eu já era capaz de soprar uma bola de três chicletes duas vezes maior que meu rosto; portanto, com essa mesma idade Matt poderia ser perfeitamente capaz de controlar a respiração dele. Era mole.
Enquanto pegava três pacotes, quase derrubei metade das embalagens coloridas ao redor quando repentinamente um estrondo horroroso soou do lado de fora, invadindo a calmaria reconfortante do pequeno supermercado. Alarmado, andei para ter visão da porta de vidro do estabelecimento e, para meu alívio, avistei apenas uma caminhonete vermelha, rodeada de fumaça, estacionada em frente à entrada. Não havia fogo, era um bom sinal. Havia sido apenas o bufar ridículo do motor velho daquele veículo, sem dúvidas.
Sem prestar mais atenção a perturbação, voltei e fui em direção à torta de maçã, que para minha sorte era a última colocada à mostra. Antes de chegar à geladeira, parei para pegar uma cesta de compras – sem chances que eu iria carregar aquela coisa congelada, mesmo de luvas.
Estava quase chegando à última geladeira do corredor, e então eu a avistei. Uma jovem moça marchava com passos firmes demais para sua baixa estatura, um olhar de pura determinação no rosto, de onde seus olhos encontravam-se fixados em apenas um ponto. Nos poucos segundos antes que me aproximasse dela, segui seu olhar e foi com muito desgosto que constatei o que já desconfiava: ela se dirigia com toda ferocidade cega para a geladeira, onde o único objeto dentro era aquela benditatorta de maçã congelada. Que sorte a minha, não?
Eu ri baixo, sem humor. Era claro que justamente hoje eu teria que lutar por um pedaço de comida congelada barata, com risco de causar uma decepção geral em toda a família nessamaravilhosaconfraternização que era a ceia de Natal, caso perdesse a batalha para a garota que se aproximava.
Chegando perto dela, nós dois paramos ao mesmo tempo e ficamos a nos encarar. Tenho certeza que qualquer um que visse a cena de fora, a acharia incrivelmente tosca, porém eu podia jurar que esperava que a garota tirasse de seus bolsos uma pistola e a rodasse no ar; já podia até ouvir aquele prelúdio da música de um duelo de bang bang. Ela estava decidida demais, eu tinha que formular um plano, e rápido. Vejamos...
Plano A: Barganhar. Haviam vários outros doces, batatas fritas e diversos outros alimentos congelados nas outras prateleiras. É claro que ela iria abrir uma exceção uma vez que eu explicasse minhas motivações.
Plano B: Bem, sempre vi isso nos filmes, e acho coerente que tenhamos sempre uma alternativa em casos extremos. Nessa situação, eu usaria de algo que apesar de possuir em grande quantidade, preferia não ostentar – dinheiro. Suborno, para ser mais exato.
Por alguns segundos, ficamos nos entreolhando, alternando entre olhar para o outro e para onde se encontrava a embalagem da torta. A rotina se repetia. Olhos nos olhos, olhos na torta, olhos nos olhos, olhos na torta. Olhos nos olhos - bonitos olhos, por falar nisso – e foda-se, claro que eu tinha que dar um jeito nessa ceninha patética.
Nós dois falamos ao mesmo tempo. Obviamente.
- Eu preciso dessa torta, é urgente. – expliquei, exasperado.
- Vou levar a torta, é caso de vida ou morte. – ela disse. O olhar que me deu quase me deixou com medo. Quase.
Pausamos para esperar a reação do outro, mas acabamos falando novamente juntos.
- Eu cheguei primeiro. – falei.
- Eu a vi primeiro. – ela argumentou.
Balancei a cabeça porque já previa um padrão nessa conversa, e sempre iríamos acabar atropelando a fala do outro. Era o momento perfeito para colocar o plano A em ação.
- Olhe, eu sei que você "viu" essa porcaria de torta primeiro. – falei, fazendo questão de frisar com aspas de dedos no ar, perfeito para caracterizar o babaca irritante que eu estava sendo no momento. – Mas eu cheguei aqui antes, e realmente preciso levá-la. Minha família toda espera por isso, será a nossa única sobremesa.
Seus olhos passaram por mim de cima a baixo, com um leve tom de desdém, sem que ela sequer mexesse algo além dos olhos. Estava começando a achá-la realmente ameaçadora.
- Rapaz, preste atenção. Está óbvio que essa torta é tão importante pra mim quanto é pra você. Mas não vai dar não, ela já é minha. – declarou ela, e sem cerimônias voou para cima da porta da geladeira e a abriu.
Antes que ela pudesse colocar as pequenas mãos na embalagem, eu me taquei para frente, a afastando com um empurrão com meu torso, dos ombros ao quadril. Ela perdeu o equilíbrio com o ataque espontâneo e teria tombado para o lado se eu não tivesse segurado sua cintura. A cesta de compras em meu antebraço prendeu-se entre nós, machucando a ambos.
- Ai! Mas que merda! Você está maluco? – ela berrou, esfregando o local que doía.
- Me... desculpe. – eu estava sem reação. Embaraçado e envergonhado por ter machucado uma desconhecida, e pior, uma mulher.
Ela me empurrou para longe, tirando minhas mãos de sua cintura e, me afastando com uma cotovelada, pegou a torta de maçã, segurando-a firme nas mãos. Seu longo cabelo escuro chicoteou em meu rosto quando virou-se bruscamente para ir embora, e então ela saiu marchando nos mesmos passos firmes de quando havia chegado, porém mais furiosos.
- Espere! – eu chamei, indo atrás dela, vendo que seguia para o caixa. Olhei rapidamente para o rapaz do caixa e vi que ele mal nos notou, apenas levantando os olhos por um segundo da tela do computador.
Ela se virou e falou, rispidamente. – Olhe, eu não sei quem você é, ou o que você quer. Mas se for algum tipo de tarado, fique sabendo que meu pai é o chefe de polícia dessa cidadezinha aqui e você pode se ferrar muito feio.
Ótimo. Agora ela achava que eu era um estuprador, o Maníaco do Supermercado que curtia atacar jovens indefesas na calada da noite da véspera de Natal.
- Não é nada do que você está pensando. Por favor, me escute. – implorei, minha voz estava em um tom de súplica tão ridículo até mesmo para meus próprios ouvidos, que nem eu consegui entender por quê ainda insistia tanto nessa merda de torta.
Ela deve ter ouvido ou visto alguma coisa em meu rosto, pois sua expressão suavizou-se por um ínfimo instante antes de voltar à máscara de raiva. Tomei isso como um incentivo.
- Eu vim aqui a pedido da minha mãe. Ela deixou uma torta caseira queimar, e agora essa seria a substituta. Por favor, não posso deixar minha família toda na mão. Meus tios, meus primos, meu sobrinho...
Ela não dizia nada, apenas me olhava, como se estivesse analisando o que eu disse. Aproveitei mais a brecha.
- Posso até oferecer para pagar por outros doces ou bolos pra você, mas me deixe ficar comesse? – pronto, havia jogado todas as cartas que tinha na manga. Plano indo ambos por água abaixo.
Ela riu irônica. - Você está realmente tentando me subornar com doces? Amador... – a última parte tinha sido murmurada, porém eu consegui ler em seus lábios.
Hmm, lábios! Como não pensei nisso antes? Já que nem A nem B estavam funcionando, tinha que admitir a derrota e a perda de qualquer resquício de dignidade que possuía neste corpo de homem, e partir para a última saída. O Plano C: o Charme.
Cheguei mais perto da moça, perto suficiente para sentir seu perfume levemente floral e bastante agradável, tinha que admitir. Me inclinei em direção ao seu rosto, tombando o meu de lado ligeiramente. E usei minha arma mais antiga, 23 anos de pontaria infalível, o indefectível Sorriso Torto.
- Vamos lá, querida. Me entregue essa torta, e eu te dou o que você quiser em troca. Que tal, hm? – falei, minha voz mais enrouquecida, baixa. E o sorriso a postos, bem na altura dos olhos dela.
Eu pude ver o conflito passar por seu rosto. Ela piscou uma vez, duas, na terceira abriu a boca e a fechou rapidamente. É claro que ela estava sem palavras. Dei um tempo para a pobrezinha pensar melhor.
Talvez há quem diga que isso era um belo de um golpe baixo, jogo sujo, mas em minha defesa, esclareço que não é como se eu usasse esse truque a cada esquina. Para falar a verdade, isso quase nunca me levava muito além de duas ou três noites de diversão, mas, para ser honesto, a culpa era mesmo minha por não conseguir levar adiante nenhum relacionamento com as mulheres que se interessavam por mim. Não tinha culpa se todas pareciam chatas e vazias demais depois da décima trepada.
Eu tinha descoberto o poder do Sorriso logo cedo, quando conseguia fazer com que as professoras da escola deixassem que eu ficasse na sala de aula para ler durante o recreio. Era só eu pedir com jeitinho e abrir um sorriso para que elas olhassem com brilho nos olhos e passassem a mão na minha cabeça, bagunçando os cabelos. Para mim, não era nada mais do que uma ação reflexiva, meus lábios subiam de tal forma e somente ficavam homogêneos quando eu gargalhava inteiramente. Minha mãe sempre costumava dizer que qualquer mulher que conseguisse arrancar um sorriso de mim iria ter sérios problemas em manter "a cinta no lugar". Só passei a entender essa frase tempos depois da puberdade, antes achava apenas cômica.
A moça à minha frente aproveitava alguns segundos para ponderar. Ponderou, ponderou, ponderou até os segundos completarem um minuto inteiro. De canto de olho, percebi que o atendente no caixa tinha, finalmente, voltado sua atenção para nós dois. Eu já estava ficando impaciente. Já eram quase onze e meia da noite e perigava de não chegar a tempo do início da ceia. E desde quando eu me importo com isso, não é mesmo?
- Vai mesmo me dar qualquer coisa que eu quiser em troca? – sua voz alta me assustou ligeiramente.
- Qualquer coisa. – rapidamente reafirmei. Esse, meus caros, era o retrato de um homem desesperado. Mas, porra, e se ela decidisse pedir alguma coisa absurda como recompensa? – Qualquer coisa... de dentro desse mercado.
- Ok. – ela cedeu, mais fácil do que eu pensava, e saiu andando, torta de maçã na mão e tudo. Já vi que me deixar falando sozinho era algo que ela adorava.
- Vem comigo, cara. – ela me chamou quando eu apenas continuei parado no lugar, observando-a.
Ela parou para pegar um carrinho e eu a segui para onde me levava, em direção às prateleiras repletas de produtos para animais de estimação. Estranho.
- Desculpe se fui grosso mais cedo. Edward Cullen, muito prazer. – falei, tirando a luva de minha mão e a estendendo para ela. Sempre ouvi meu pai dizer como era rude cumprimentar alguém enluvado ou com a cabeça coberta. Aquela velha história de boa etiqueta, vai entender.
Ela virou a cabeça para o lado para me olhar, franzindo os olhos, e sem parar de andar estendeu sua mão enluvada. Bem, ela não tinha Carlisle como pai, o que mais eu esperava, não é?
- Eu conheço esse nome de algum lugar. Sou Bella Swan. – seu aperto de mão era surpreendentemente forte para o de uma mulher.
- Cullen? Provavelmente. Minha mãe tem uma loja de produtos exotéricos na rua principal. É a única da cidade. – expliquei. Pois é, Esme Cullen: muambeira profissional.
- Hmm. Bom saber. Mas não é de lá. Outro parente famoso na cidade? – ela inquiriu, enquanto parávamos em frente a prateleira de comida de gato. Bella pegou cinco sacos grandes de Whiskas, e os jogou no carrinho. Cinco sacos. Confesso que comecei a ter um pouco de medo dela; sei lá se ela era algum tipo de Maluca dos Gatos. Se ela fosse velha e feia, a essa hora eu já estaria recuando.
- Meu pai é cirurgião no hospital daqui. – falei. Ela parou por um momento, alguma expressão estranha passando por seu rosto, e em seguida assentiu a cabeça.
- Entendi. Vamos? – ela disse, mudando o assunto, e puxando o carrinho de volta aos doces. Eu ri um pouco, baixo. É claro que ela iria aceitar o suborno de doces.
Bella encheu o carro com guloseimas coloridas que certamente fariam mal até a próxima geração, chocolates em barra, um saco de chocolate em pó e um de pequenos marshmellows. Parecendo satisfeita, ela sorriu e declarou que havia encerrado suas escolhas.
Voltamos para o caixa, e vi que o relógio já marcava onze e trinta e cinco. Bom, que se danem, e que começassem a cear sem mim. Eu estava levando a sobremesa, cacete.
Coloquei os conteúdos da minha cesta e os do carrinho dela sobre a bancada, e uma Bella muito contrariada entregou-me a infame torta de maçã congelada. Paguei toda a compra rapidamente, e colocamos de volta as compras embaladas no carrinho. Ao chegar à porta vi que, por sorte, já não nevava mais.
- Bem, me mostre qual é o seu carro, eu te ajudo a colocar isso lá. Espere aí, você veio de carro, certo? – falei, duvidoso.
- Claro que sim, Edward. Acha que eu seria louca de andar a pé no meio dessa neve? – ela ralhou enquanto andava para seu carro e eu a seguia.
Dessa vez eu ri alto quando paramos. É claro que seu automóvel tinha que ser aquele pedaço de lixo vermelho que fizera tanto escândalo mais cedo.
- Qual é a graça? – Bella perguntou, abrindo a porta da cabine.
- Nada não. – tentei disfarçar, dando de ombros. Vi que ela havia pegado um saco de Whiskas e o colocou sobre o banco do carona, e eu a imitei até esvaziarmos seu carrinho de compras.
- Acho que é só. Obrigada por isso e... tenha um feliz Natal com sua torta congelada, Edward. – ela sorriu levemente, subindo na cabine.
- Não tem de quê. Obrigada a você. – falei, já me afastando para andar até meu carro. Virei quando me lembrei de ser educado. – Ah! E bom Natal pra você também.
Ela acenou com a mão em resposta. Entrei no carro, rezando para que o aquecimento estivesse funcionando perfeitamente e que o motor esquentasse logo. Como meu garoto Volvo nunca me decepcionava, em um minuto eu consegui dar partida e entrar na estrada que me levaria à casa dos meus pais.
Aumentei o aquecedor do carro, e liguei o rádio para continuar a tocar o cd que ouvia antes, me preparando confortavelmente para os trinta minutos da viagem de volta. Tinha que aproveitar ao máximo os últimos momentos de paz que eu teria até as próximas doze horas ou mais. Afinal, não contentes em promover o Natal infernal, era claro que meus pais faziam questão de que todos fossem almoçar na casa deles no dia 25, aproveitando para documentar em mil e uma fotos cada passo do pobre Matt, com todos os seus novos brinquedos. Estava apenas surpreso por ninguém ter ligado até agora para o meu celular. Estão vendo quanta consideração?
Em meio à estrada coberta pela fina camada de neve que se acumulara nas últimas horas, tentei manter uma velocidade segura que funcionaria bem, apesar de que a minha vontade real era de dirigir numa velocidade menor, apenas para retardar a minha chegada. Havia sido uma ótima ideia sair praticamente refugiado para o supermercado, me poupando de sabe-se lá quais dramas ou palhaçadas o pessoal aprontava nesse momento em casa. E o bônus tinha sido aquele encontro mais do que estranho com aquela menina.
Olhei pelo retrovisor para checar se sua caminhonete seguia o mesmo caminho que eu, e nada enxerguei. Dobrando uma esquina, ainda não muito longe do mercado, olhei novamente só para ter certeza – e avistei ao fundo, bem distante, o capô daquela velharia vermelha que era a Chevy da Bella.
Bella Swan. Estranho nunca ter visto essa moça antes. Ela não parecia muito mais nova do que eu, então se ela tivesse crescido em Forks, certamente teríamos nos cruzado alguma vez durante os anos da escola. Seu sobrenome também não me soava conhecido, talvez ela não tivesse uma família muito grande, ou irmãos. Ainda estava um pouco atordoado pela forma como havia acontecido aquele encontro bizarro – e de pensar que tudo aquilo foi por conta de uma porcaria de torta congelada. Balancei a cabeça, rindo com a lembrança da situação ridícula.
O som repentino do meu celular tocando interrompeu meus pensamentos, e eu procurei um acostamento para estacionar o carro e atender. Nem precisei olhar o visor para saber que Emmett me ligava.
- Que foi, Em? – falei, soando mais rude do que eu pretendia.
- Ed, onde você está, cara? A mamãe já está a ponto de ter um ataque aqui esperando por você. – Emmett disse em um tom apressado e cochichado. Ouvia barulhos ao fundo; música, risadas, e minha mãe parecendo enfurecida, erguendo a voz com alguém que certamente devia ser o meu pai.
- Estou voltando, Emmett, avise que em vinte minutos devo chegar.
- Em vinte minutos ele chega. – ouvi meu irmão falar para minha mãe.
Ao fundo, percebi que ele havia passado o telefone a ela, e encolhi os ombros, afastando o celular para longe assim que sua resposta estridente vazou pelo fone -Vinte minutos, Edward?Até lá já terá passado de meia-noite, e aí como fica a ceia que eu tive tanto trabalho...–Por sorte, Emmett tratou de pegar de volta seu celular, despedindo-se e encerrando a ligação.
Voltando para a estrada, percebi que o carro de Bella havia se aproximado nesse meio-tempo e estava logo atrás de mim. Olhei pelo retrovisor mais uma vez e vi o rosto seu rosto ser iluminado pelo reflexo da luz dos alertas, os quais ela havia piscado duas vezes para chamar minha atenção. Sorri quando notei que ela parecia estar sorrindo. Tudo bem que parecia um sorriso zombeteiro, mas mesmo assim.
Acordes de uma música que eu já havia ouvido vezes demais para suportar começaram a tocar no rádio, e imediatamente fui trocar a faixa do cd. Enquanto procurava por outra música, tudo aconteceu tão rápido e simultaneamente que me deixou tonto. Ouvi um estrondo pior do que ouvira no supermercado, um barulho alto como de um estouro, que se alongou por alguns segundos até finalmente cessar, e logo em seguida senti uma leve pancada na traseira do Volvo. Alarmado, parei imediatamente no acostamento e saltei do carro.
A Chevy de Bella estava envolta em uma fumaça densa e escura, parada no meio da estrada. Bella saltou do carro instantes depois, tossindo e levando as mãos à cabeça ao olhar o estado do motor, xingando alguns palavrões que não se escutava a cada esquina. Fui de encontro a ela.
- Bella, você está bem? Está machucada?
- Estou. Quer dizer, não, estou bem. – ela me respondeu ávida, rondando a frente da caminhonete. – Merda. Merda, puta merda! – Bella esbravejou.
- Posso ajudar em alguma coisa? – ofereci, incerto.
- A não ser que você saiba lidar com um motor de 1965, então não, acho que não pode me ajudar em nada. – ela respondeu. Suas palavras duras me incomodaram um pouco, mas levei em conta o nervosismo que a afetava no momento. Posso só imaginar como eu estaria se algo assim acontecesse com meu Volvo.
- Tudo bem. Calma. Vamos dar um jeito nisso.
Bella suspirou, parecendo inconformada. – Me desculpa. É que não é a primeira vez que isso acontece, mas acho que dessa vez foi pra valer. – Bella falou, sua voz menos áspera, e se aproximou do capô de seu agonizante carro.
- Minha pobre Ruth. Não me abandone agora, por favor... – ela falou em um sussurro na direção do carro, como se conversasse com uma criança. Quem diabos era Ruth?
- Quer o telefone de algum reboque, ou algo assim? Tenho no meu celular. – ofereci mais uma vez, já que era a única coisa em que eu poderia contribuir, aparentemente.
- Não. Obrigada, mas não acho que um reboque virá me resgatar no meio dessa estrada em plena noite de Natal, ainda mais com esse tanto de neve.
O motor parecia ter esfriado o suficiente para cessar a fumaça. Bella voltou à cabine e tentou dar a partida. Ela conseguiu tirar a caminhonete do meio da estrada, estacionando-a seguramente sob a marquise de uma loja de artigos esportivos fechada, o único comércio daquela via. O carro andou por apenas 15 metros, mas foi suficiente para que pudessem ser ouvidos algo que soava como uma correia girando, junto com o carburador tossindo e finalmente cuspindo uma gosma preta. Era o último suspiro, como eu suspeitava.
Ok, então eu já tinha sacado que essa seria a minha deixa para oferecê-la uma carona. Por favor, espírito natalino, vibrações cósmicas e toda essa baboseira que minha mãe me ensina desde criança: por favor, não me façam ter problemas com essa moça. Uma carona problemática justo nessa noite era tudo o que eu não precisava. Esperei Bella sair do carro para falar com ela. Mas ela não saiu.
Vi sua cabeça abaixar-se no volante e seus braços envolvendo-a. Seu corpo pareceu chacoalhar algumas vezes, como se estivesse chorando. Atravessei a rua para chegar mais perto, e sim, ela estava realmente chorando. E se tinha alguma coisa no mundo com a qual eu não sabia lidar direito eram mulheres chorando. Qual o problema do canal lacrimal delas? A torneirinha vivia quebrada, era isso?
Bati na janela para chamar sua atenção. Bella olhou para cima, enxugou as lágrimas e colocou de volta sua máscara de mulher durona, uma que eu já havia me familiarizado desde nosso pequeno embate no supermercado.
- Pois não? – ela falou, sem disfarçar a fungada no nariz.
- Então, vamos? – chamei. Ela apenas me olhou, confusa.
- Vamos aonde?
- Como onde? Vou te dar uma carona até a sua casa, vamos lá. – respondi à pergunta óbvia.
- Edward, não. Eu não posso deixar minha Ruth, minha Chevy aqui sozinha.
- Ruth...? – indaguei.
- É só um apelido besta pra ela. – Bella deu de ombros, passando a mão carinhosamente no painel do carro. Ah sim, então além de tudo, ela também apelidava latas-velhas.
- Ok, mas e você? Não posso deixar você aqui, sabendo que eu poderia ajudar em alguma coisa.
- Eu vou ficar por aqui até amanhecer, são só mais seis horas. – ela falou, como se não fosse nada demais.
- Bella! Garota, você é maluca? Pode voltar a nevar a qualquer momento, vai morrer congelada aí dentro! – exclamei, realmente preocupado.
- Mas e se alguém passar por aqui e roubar alguma coisa? – Bella indagou, e eu quase ri.
- Desculpe, mas você acredita mesmo que isso poderia acontecer nesse local, nesse dia, e com essecarro? – falei o mais convincente que pude. Ela parecia a ponto de voltar a chorar.Não, tudo menos isso, por favor. Por fim, Bella deu um longo suspiro e saltou do carro.
- Até que enfim, eu já estava congelando os pés aqui. – murmurei, deixando escapar meus pensamentos. Bella me lançou um olhar frio.
- Vamos antes que eu mude de ideia. – ela falou, seca, e começou a pegar algumas de suas sacolas de compras, e eu peguei o resto para levarmos até o meu carro. Antes de andar, ela passou a mão mais uma vez sobre a lataria vermelha, docemente, e virou-se para marchar até o Volvo. Para alguém que estava dependendo de uma ajuda, ela não parecia tão satisfeita. Menina mais mal-agradecida.
Entramos no carro, e por sorte eu havia deixado o aquecedor ligado. Do lado de fora, a temperatura estava começando a baixar novamente, eu tinha percebido. Só esperava que não voltasse a nevar, porque sabe-se lá que horas eu voltaria para a casa dos meus pais, nesse caso.
- Qual o destino, mademoiselle? – tentei brincar um pouco, para descontrair a nossa viagem. Esse era um tipo de coisa que sempre me prometia uma fobia iminente: aqueles momentos tensos e desconfortáveis ao ficar a sós com um semi-desconhecido ou alguém que você tinha acabado de conhecer.
Bella olhou para mim e balançou a cabeça lentamente, mas pude perceber seu humor se suavizando aos poucos. – Esquina da 8ª avenida com a rua K, ao lado direito.
Segui para a estrada que daria na casa dela, surpreso por reconhecer o endereço mesmo após anos sem morar em Forks.
- Me desculpe por ter agido daquela forma. – a voz calma de Bella soou no carro silencioso.
- Tudo bem, eu entendo perfeitamente. – falei, com sinceridade. Bella calou-se novamente. Aproveitei para ligar de volta o rádio, e uma música mais suave começou a tocar. Música era o melhor para evitar silêncios desconfortáveis como este.
Após alguns minutos, Bella suspirou profundamente e voltou a falar. – Aquela caminhonete tem uma história. Uma longa história, e é muito importante pra mim. – assenti a cabeça, incentivando-a a continuar.
- Mesmo que ela não funcione mais, eu vou guardar. Como recordação, sabe? – ela explicou. Sem querer soar insensível, mas espere aí, guardar a porcaria de um carro inútil?
- Entendo o lado emotivo, mas se minha mãe ouvisse você falando disso, ela diria que "se apegar às coisas materiais faz mal ao espírito". Estou inclinado a concordar, seja lá o que isso significa. – falei, me segurando para não soltar uma risada.
- Não, duvido que você entenderia. – Bella falou, parecendo encerrar o assunto.
- Está começando a nevar de novo. Mas que saco. – resmunguei, olhando pelo vidro.
- Ué, não é isso que quase toda a tradição do hemisfério norte deseja? Que neve na noite de Natal?
- Não gosto de neve. Neve só traz problema.
Bella riu, incrédula. – Como assim?
- Por exemplo, não posso caminhar até o meu jardim sem correr o risco de perder algum dedo dos pés. – falei, e ela riu mais, arrancando um sorriso de mim. – Não ria, estou falando sério!
- E tem mais: onde eu moro, a neve escurece com a poluição. Depois essa porcaria derrete e fica uma imundice só nas ruas. Além disso... é fria demais.
Dessa vez ela gargalhou, e eu ri junto. – Mas, Edward, e o efeito da magia? Não diz nada a você? Flocos de neve dançantes, sininhos tocando e um coral de anjos embalando suavemente toda a delicadeza da coreografia, hein?
Olhei para ela como se fosse louca. Daqui a pouco começaria a falar sobre criaturas da mata, unicórnios coloridos e fadas que brilhavam na luz do sol.
- Não é possível que nunca tenha visto O Quebra-Nozes quando criança? – Bella indagou, parecendo admirada pela minha falta de sensibilidade poética, ou qualquer que seja essa viagem que ela estava entrando.
- Não...? – respondi como uma pergunta. Tentei me lembrar do que eu assistia quando criança. Vejamos, Rambo; Duro de Matar; Máquina Mortífera; Rocky, o Lutador; é, realmente nada disso envolvia nozes no meio.
- É a minha história de Natal favorita. – Bella comentou. Ah sim, era uma história de Natal, claro. Não era de se espantar que desde sempre fui avesso a tudo que envolvesse essa época do ano. Não era de se espantar também que o meu filme predileto de Natal fosse O Estranho Mundo de Jack. Um dos meus sonhos de criança era poder um dia realizar um legítimo Halloween em plena ceia de 24 de dezembro, como acontecia na história.
- Então, você gosta de neve? – perguntei.
- Adoro. Acho lindo, e pode parecer estranho, mas acho realmente aconchegante. Quer dizer, isso quando estou dentro de casa bem aquecida, claro. – Bella explicou, o que me fez estremecer um pouco, só de pensar na geladeira que os dormitórios da faculdade costumavam virar regularmente com essas temperaturas.
- Eu só gosto da chuva. Isso sim parece aconchegante pra mim. O som é um calmante perfeito. – falei.
- Aí é que está, eu não suporto a chuva. Acho que depois desse tempo todo vivendo nessa cidade que chove a porcaria do ano inteiro, eu fiquei um pouco marcada.
- Pode ser. Acho que eu também encheria o saco disso, se não tivesse me mudado daqui antes.
- Ah? Você não mora aqui? – Bella perguntou.
- Não, moro em Chicago. Quer dizer, vivi em Forks até os 17, até ir para a faculdade lá. Meus pais ainda moram aqui.
- E posso perguntar o que você estudava por lá? – Bella inquiriu.
- Estudo, ainda. – a corrigi. – Estou no último ano de Ciências Sociais.
- Ora, ora, será que estou de carona no carro do futuro presidente da nação? – Bella brincou.
- Não, não. – eu ri, balançando a cabeça. – Quero continuar estudando, fazendo pesquisa. Observar comportamentos humanos, como se organizam... é isso que eu curto.
- Hmm, um voyeur? Devo ficar com medo? Não é nenhum pervertido com uma câmera escondida por aqui, é? – Bella falou, tentando parecer assustada, mas percebi seu tom jocoso. Ela se revirou um pouco no banco, fingindo procurar a "câmera".
- Não, prefiro observar os humanos em grupos. – falei rindo, virando o rosto rapidamente e piscando um olho para ela. Bella arregalou os olhos levemente.
- Orgia? – ela falou, quase séria.
- Shh. Melhor não falar sobre isso, as paredes têm ouvidos. – eu praticamente sussurrei, continuando a provocação.
- Oh, sim. – Bella disse, e pôs uma mão sobre a boca. Ouvi suas risadas baixas e abafadas.
Alguns minutos depois, caímos novamente em silêncio. Bem mais leve do que antes, era verdade. Já devíamos estar perto de sua casa, porém com a volta da neve, a estrada, consequentemente, demandava mais atenção, me fazendo andar a menos de 50 quilômetros por hora. Uma nova música começou a tocar, e Bella me surpreendeu ao aumentar o volume.
- Esse cd tem de tudo, é isso mesmo? – ela indagou. Assenti a cabeça.
- Quase tudo. Uma ex-namorada gravou pra mim. Deve ter umas duzentas músicas. – esclareci. – Gosta de Beatles?
- E quem não gosta? – Bella falou. Olhei para ela, e vi que tinha fechado os olhos e balançava a cabeça e os pés ao som da música. Desse jeito ela parecia quase... como podia dizer? Fofa?
- Muita gente não gosta. Acham supervalorizado. A forma como endeusaram os caras pode até justificar essas aversões, mas as músicas são realmente boas, se a gente analisar bem.
- Não precisa nem de uma análise profunda. Quer algo mais singelo e puro do que a mensagem dessa música? Eles vão direto ao ponto, resumem todas as canções de amor do mundo: todos só querem alguém para amar eternamente, ao menos enquanto a vida dure. – ela falou.
- Será que você ainda irá precisar de mim, ainda irá me alimentar quando eu estiver com sessenta e quatro? – Bella completou, citando um trecho de When I'm Sixty Four.
- É, acho que tem razão. – concluí, deixando a música rolar.
Logo estávamos virando a esquina da rua K, e reparei nas poucas casas que haviam ali. Algumas estavam acesas, vibrando com as respectivas comemorações de Natal, outras completamente apagadas.
- Minha casa é a amarela. – Bella avisou, apontando com o dedo. Assenti a cabeça, e poucos segundos depois estacionava o Volvo em frente ao arbusto do seu jardim. A neve havia começado a cair em grandes flocos acompanhados de fortes rajadas de vento, o que dificultava a nossa caminhada até a casa, com nossos braços cheios de compras.
- Eu exijo que você entre e tome alguma coisa comigo. É o máximo que eu posso fazer para te agradecer por tudo, Edward. – ela falou, soando sincera e até que enfim parecendo agradecida. Assenti, concordando.
Cambaleando sobre a neve, conseguimos subir a varanda. Que frio do cacete que fazia aqui fora! Sentia todo o meu corpo tremer, e meu queixo bater involuntariamente, mesmo com o casaco grosso que eu vestia. Bella parecia inabalável.
- Não pode achar essa chave mais depressa? – falei, entre dentes.
- Estou tentando, Edward. – ela disse, como se fosse óbvio.
Finalmente a porcaria da porta se destrancou, e rapidamente entrei na pequena casa, quase atropelando Bella. No mesmo instante em que ela fechou a porta, um vulto acinzentado varou como uma bala de canhão na direção do colo de Bella. Levei alguns segundos para entender que se tratava de um gato. Ah, então isso explicava os sacos de Whiskas. Me perguntei quantos mais desse haviam espalhados por aqui.
- James, esse é meu amigo Edward. – ela falou com o bichano de desconfiados olhos esverdeados. – Edward, esse é James.
- Muito prazer, sr. James. – eu ri, passando uma mão sob o queixo de James. O gato apenas me olhou com desdém e virou o focinho, saltando do colo de Bella.
- Tsc. Ele é difícil com estranhos, tem que se acostumar com você. – Bella explicou.
- Claro, quase como a dona. – murmurei, mas juro que não era minha intenção que ela ouvisse.
- Ei! Eu não sou difícil. Sou até muito fácil. Estou abrindo minha casa para um estranho, não estou?
- Bom, não tenho culpa se você foi ingênua demais em acreditar no Tarado Voyeur do Supermercado que carrega câmeras escondidas no carro.
- Cala a boca, Edward. – ela falou, rindo, e em seguida andou até o aquecedor geral da casa para aumentar sua potência.
- Daqui a pouco você conhecerá Victoria. A esposa de James, sabe.
- Sim, claro. – respondi, como se um gato com uma "esposa" gata fosse a coisa mais normal do mundo.
Olhei ao meu redor, e percebi que a decoração da casa era simples, porém incrivelmente aconchegante. Ah, Bella, tenho certeza que seu aconchego vinha daqui de dentro, e não tinha nada a ver com a neve maldita lá de fora.
Havia uma grande árvore de Natal no canto da sala, iluminada e com apenas alguns poucos presentes no pé. E imediatamente reparei em outra coisa que tinha chamado minha atenção: não havia nenhum outro parente no recinto, nem na cozinha. A casa estava tão quieta que certamente não havia mais ninguém no andar de cima. Não queria perguntar para não ser indelicado, mas minha curiosidade foi maior. Quem era essa moça, assim tão jovem, e já passando natais sozinha?
- Então... a sua família, onde está?
Bella andou até a cozinha para tirar o casaco mais pesado, ficando apenas com um suéter claro que marcava seu torso e seus jeans justos colados ao corpo. E que corpo. Não era do meu feitio objetificar as mulheres que eu mal conhecia, mas não podia negar que Bella era linda. Acho que demorei até tempo demais para notar.
- Minha família? Da que se encontra em Forks, metade está aqui nesta casa, a outra metade está cumprindo um plantão do outro lado da cidade.
Pisquei os olhos duas vezes para tentar entender o que ela havia dito, enquanto andava até o cabideiro para pendurar o meu casaco. E o que eu estava fazendo mesmo? Eu tinha que voltar para casa e levar aquela bendita torta de maçã, meu subconsciente me recordou.
De repente, lembrei que os trinta minutos provavelmente já haviam passado, e havia muita gente à minha espera. Deliberei por uns instantes entre voltar para a frieza do lado de fora até o meu carro e a estrada lotada de neve, ou ficar por aqui por alguns minutos a mais, no aconchego do lar de Bella, até a neve diminuir. A segunda opção piscava tão sedutoramente para mim que não demorei nada para discar o número da casa de meus pais.
- Alô? – Emmett atendeu. Engraçado como logo hoje meu irmão, sempre inútil quando morávamos juntos, havia decidido ficar responsável pelos telefonemas da casa.
- Emmett, sou eu. Olha, aconteceu um imprevisto e acho que não vou poder chegar à tempo da ceia, nem da sobremesa.
- Imprevisto? Edward, está precisando de ajuda? Está nevando forte agora, cara. Ficou atolado em algum lugar? Precisa de um reboque? – ele soltou uma pergunta atrás da outra.
- Não, não. Emmett, eu estou bem. Estou... na casa de uma amiga que encontrei no supermercado.
- Uma amiga? Edward, eu sei que você curte essa coisa de ser o garanhão da família, mas em pleno Natal? Não podia esperar até amanhã à noite?
- Emmett. – chamei, numa voz dura. Por que ele sempre tinha que levar as coisas para o lado sexual? – Não, ela é apenas uma amiga, eu juro. Volto ainda hoje, estou apenas esperando a neve diminuir.
- Você que sabe, Edward. Não reclame da bronca da mamãe quando chegar! – Emmett ralhou, e logo em seguida bateu o telefone na minha cara, sem deixar que eu me explicasse mais ou me despedisse.
Quando desliguei o telefone, Bella me olhava com uma expressão engraçada no rosto, rindo. Eu via que ela estava zombando de mim, tendo ouvido a conversa, mas ao mesmo tempo o leve rubor em suas bochechas denunciava algo que eu pude identificar como embaraço.
- Bem, já que você resolveu não voltar logo para o seu Natal, vou preparar um chocolate quente. – Bella falou, limpando a garganta.
Minutos depois, sentei no sofá da sala de estar, onde Bella havia me pedido para acender a pequena lareira. Ela trazia as duas xícaras de chocolate, e um pacote de cookies encaixado em baixo de um braço.
- Prefiro cookies caseiros, mas esses são os melhores pré-fabricados. – ela anunciou. Assoprei o chocolate tentando esfriá-lo, enquanto Bella andava até uma estante e ligava o aparelho de som. Ela deixou em uma estação de rádio e saiu da sala.
- Só um minuto, vou lá em cima pegar meu iPod.
"Interrompemos nossa transmissão para comunicado urgente. As autoridades locais avisam que uma forte nevasca se aproxima rapidamente da Península Olímpica de La Push. O apelo é para que todos abriguem-se em suas casas, e não saiam sob qualquer circunstância, com risco de vida."
Parei a xícara no ar, paralisado por uns instantes após ouvir a notícia no rádio. Não sabia se ficava feliz ou se começava a pirar agora. Com certeza eu não poderia voltar para casa até isso passar, e claro que à essa altura já teria amanhecido o dia. Mas, merda! Meu carro estava estacionado lá fora, e com essa maldita nevasca agora. Meu coração palpitou só de pensar nos possíveis estragos que eu encontraria de manhã. Bella voltou para sala, trazendo cobertores e um iPod na mão.
- Então, acho que você está mesmo condenado a passar esse Natal comigo. – ela anunciou brincalhona, antes de ver minha expressão apavorada no rosto.
- Que foi, Edward? Está mais pálido do que nunca.
- Meu carro. Lá fora. Sozinho. E uma tempestade de neve se aproxima.
- Edward, e eu que tive que deixar minha Ruth no meio da rua? Vamos, a gente dá um jeito. Pegue seu casaco enquanto eu abro a garagem.
- Por que não me disse antes que tinha uma garagem? – falei, levantando correndo.
- Porque você não perguntou.
Em poucos instantes eu estava do lado de fora, e a neve agora caía furiosamente, uma grossa camada cobria o asfalto. Bella veio da garagem segurando uma pá, e fiquei impressionado com seu rápido trabalho de limpar ao máximo o caminho até a garagem. Sorte a dela que a neve ainda estava fofa e maleável.
Estacionei o carro na garagem e, juntos, corremos de volta para dentro da casa. O forte vento quase nos derrubou duas vezes. Ao entrarmos, ambos disparamos em direção a lareira, tentando nos esquentar de qualquer forma. Agora ela tremia.
Bella se virou para pegar os cobertores, e se enrolou em um. Ela parou ao meu lado e sentou-se no chão em seguida. Apenas a encarei.
- Edward, vai ficar em pé que nem um dois de paus aí?
- Eu... claro que não. – cedi, e me sentei, enrolando-me no cobertor sobressalente. Bella tirou as botas e esticou os pés na direção da lareira, e eu a copiei. Boa ideia.
- Não fazia ideia que haviam alertas sobre essa tempestade. Não ouvi em lugar algum. – comentei.
- Parece que demoraram a passar a informação para o rádio e TV. Eu só soube porque meu pai foi avisado no departamento, e me ligou.
- E mesmo sabendo disso você saiu? – perguntei, impressionado pela audácia de Bella.
- Que foi? Eu precisava de um doce, oras. – Bella deu de ombros. – Doce que por acaso,você me roubou.
- Ei, você me deu a torta voluntariamente. – falei, me defendendo.
- Claro, Edward, claro.
- Então, você estava me contando sobre a sua família...? – tentei voltar ao assunto.
- Ah. Sim. Bem, meu pai, Charlie Swan, está de plantão no Departamento de Polícia de Forks. Ano passado ele conseguiu se livrar, mas esse ano ficou com pena do colega que passaria o primeiro Natal longe do filho recém-nascido. Resolveu ficar no lugar dele.
- Uau. Que gesto legal. – comentei, realmente admirado. Charlie Swan já parecia ser uma ótima pessoa.
- Sim. Acho que é o verdadeiro espírito natalino, não acha? Solidariedade, desprendimento, essas coisas. – Bella comentou.
- Sim, acho que sim.
- Bem, a minha mãe mora em Phoenix, no Arizona. Ela se mudou há uns cinco anos, quando eu fui pra faculdade na California. Coincidentemente ou não, no mesmo ano que ela se divorciou do meu pai.
- E você preferiu ficar aqui, e passar o Natal sozinha?
- Sozinha? Tenho James e Victoria comigo. – ela falou, rindo levemente. – Além disso, não preciso, necessariamente nesse dia, ficar junto com as poucas pessoas da minha família. O importante é fazer isso durante o ano todo.
O que ela falava tinha seu fundo de verdade. Eram raras as vezes que a família Cullen se reunia toda, normalmente nessas datas comemorativas, onde quase sempre alguma coisa dava errado. Eu gostava muito mais quando todos iam para a casa de Emmett e Rosalie em Seattle comemorar os aniversários de Matt. Ou quando eles viajavam para Chicago durante um fim de semana e voltávamos a ser os adolescente que um dia fomos.
- E a faculdade na California, o que você fazia lá?
- Artes. Quer dizer, estudei artes e me especializei em fotografia. Queria um trabalho que me permitisse liberdade.
- E você conseguiu? – a pergunta saiu da minha boca antes de eu pensar.
- A liberdade? Depende, é um conceito tão subjetivo. – Bella falou com um suspiro.
- Sim. Então, pra você o que é?
- Hm. Eu posso pegar um avião em qualquer final de semana pra ir visitar minha mãe no Arizona, por exemplo. Posso acordar a hora que quero, e posso trabalhar em casa, com meusfilhinhos aqui.
- Parece divertido. – falei. De fato, era de se invejar poder trabalhar em algo que se ama, praticamente ditando suas próprias regras.
- E por que decidiu voltar para Forks? Não que eu entenda muito do mercado de fotografias, mas creio que qualquer cidade da Califórnia renderia muito mais trabalhos, certo?
- Certo... mas não era o que eu queria. A maioria dos trabalhos de lá eram em empresas de mídia. – Bella falou, balançando a cabeça. – E eu amo a natureza daqui. Posso fotografar tanto a natureza quanto as festas da região, por exemplo. As festas da reserva indígena já me renderam imagens lindas.
- Entendo. Perfeitamente, até.
- E o que quer dizer com isso? – ela parecia curiosa.
- Meu pai, Carlisle, queria que eu fosse médico como ele. Preferi seguir o meu próprio rumo, fazer o que eu queria.
- Imagino como seria difícil seguir os passos dele, seu pai é um excelente médico. – ela murmurou, parecendo perdida em pensamentos, e seu rosto corou levemente.
- Você conhece o meu pai? – perguntei, surpreso.
- Bem... sim. Nós já-já nos encontramos algumas vezes. – ela respondeu, gaguejando.
- Não, agora você vai ter que me contar essa história. Por que não disse nada antes?
- É que... bem... digamos que eu curto tirar fotos selvagens, artisticamente. Algumas das minhas aventuras na mata não acabaram tão bem.
Ela começou a me contar sobre todas as vezes em que esteve em apuros, sobre quando ralou a bunda em um deslize de uma praia de La Push, sobre quando lutou contra um guaxinim por um último pedaço de pão, e o bicho acabou mordendo sua canela. Eu ri o tempo todo, principalmente enquanto ela me mostrava as pequenas cicatrizes de suas peripécias por seu corpo.
Enquanto conversávamos sobre suas histórias, e eu contava mais sobre minha vida em Chicago, percebi que havíamos chegado perto um do outro, cada um enrolado em seu confortável cobertor. Eu não era idiota de não perceber que Bella e eu estávamos nos dando bem demais. Não queria tentar nada que pudesse ultrapassar alguma linha imaginária, que invadisse o espaço dela, afinal eu estava abrigado em sua casa. Mas realmente estava difícil pensar em uma noite inteira sozinho com essa garota tão linda e completamente interessante.
- Edward, olhe. – Bella falou, apontando para janela. Segui o olhar para onde apontava, e vi que a janela parecia inteiramente coberta por neve.
- Você acha que...? – perguntei, aflito. Bella se levantou e andou até a porta, abrindo-a por um milímetro, antes que um amontoado de gelo se juntasse aos seus pés.
- Acho que estamos presos aqui. – ela anunciou. Ao invés de reclamar, eu respirei aliviado. Realmente não estava com a menor vontade de voltar para a confusão da minha casa estando aqui tão são e salvo, e em com uma companhia tão surpreendentemente agradável.
- Não tem problema. Meu Natal já tinha furado mesmo. – falei, dando de ombros. – A não ser que você tenha alguma coisa contra eu ficar por aqui até amanhã?
- Não, claro que não. Vou providenciar uns travesseiros e lençóis.
Antes de dormir – no sofá, diga-se de passagem -, mandei uma sms para o celular de Emmett avisando o que tinha acontecido. Já eram mais de duas da manhã e apenas alguns minutos após Bella desejar boa noite e subir para seu quarto, meus olhos fecharam-se pesadamente.
oOo
Abri os olhos para encontrar um pequenino par de olhos amarelados me observando atentamente, com um peso sobre meu peito impedindo que eu respirasse normalmente. Dando um sobressalto, me levantei, e somente alguns instantes depois percebi que um felino havia acabado de saltar do meu corpo. Olhei ao meu redor, estranhando o ambiente. A casa de Bella. Isso, hoje era Natal e eu havia passado uma noite trancado dentro de casa – mas fora da minha casa. Então não tinha sido um sonho louco, nem presente de Papai Noel. Se bem que podia ter sido alguma lembrancinha por eu ter sido um bom menino durante todos esses anos de provação, por todos esses Natais em família. Valeu aí, hein, velhinho.
- Parece que Victoria achou um novo hobby em assistir você enquanto dorme. Bom dia, seu dorminhoco. – a voz de Bella me cumprimentou. Ela estava parada sobre o portal da cozinha, portando um sorriso brilhante. Na luz que penetrava as janelas, sua pele parecia ainda mais alva e delicada. Como porcelana.
- Bom dia. Que horas são? – me espreguicei, levantando do sofá e entrando na cozinha.
- Quase onze. – Bella falou, me passando uma caneca. – Prefere café ou leite quente?
- Café. Desculpe ter dormido tanto. Eu simplesmente apaguei no seu sofá. – falei, rindo sem jeito.
- Sem problemas. Eu acabei de acordar também.
- Acha que já posso voltar pra casa?
- Liguei para o meu pai e pedi ajuda, ele também ficou preso por lá. Falou que vai mandar uma das máquinas que estão rondando a cidade passar por aqui o mais rápido possível pra limpar nossa rua e as fachadas.
- E seu pai não falou nada? Sobre mim? – perguntei, receoso. Bella deu de ombros.
- Ficou tudo certo quando esclareci que você era o filho do Dr. Carlisle Cullen. – ela falou, e ambos rimos.
Tomamos nosso café da manhã, calmamente, e enquanto Bella lavava as louças, fui checar quantas ligações perdidas e mensagens tinham em meu celular. Nenhuma ligação. Apenas uma mensagem de Emmett:
"Aproveite sua noite, Ed.
Te esperamos pro almoço amanhã.
Feliz Natal. Em."
Uau. Tudo parecia tão surreal nas últimas vinte e quatro horas, que nem me surpreendi tanto quando Bella abriu uma cortina, deixando a luz do sol brilhar forte em meus olhos.
- Isso sim é um milagre de Natal. – Bella falou. – O sol brilhando em Forks!
- Devemos ficar aqui e esperar a neve derreter? Ah, droga, já imagino a sujeira que o Volvo vai enfrentar. Tanta lama. – resmunguei.
- Esperar? Claro que não.
- Como assim?
- Sabe, eu e meu pai temos uma tradição natalina, desde quando eu era pequena. Quer dizer, uma tradição para os natais de neve. – Bella explicou.
- E isso significa?
- Você vai ver. – ela falou, com um brilho no olhar que a fazia parecer uma criança arteira.
Bella calçou suas botas, pegou seu casaco e me mandou fazer o mesmo. Com uma pá, ela tirou um pouco da neve acumulada na porta dos fundos para podermos sair e pegou minha mão, me puxando em direção à floresta atrás da casa dela.
Olhei nossas mãos unidas, não enluvadas, e achei que caíam muito bem juntas. Ela me arrastou, a neve batendo em nossas canelas, até parar em um campo aberto alguns metros adentro da mata. Por sorte, a camada de neve ali havia diminuído, mas milagrosamente, não havia derretido ou virado água.
- E agora? – perguntei quando paramos sob uma árvore.
- Toma. – Bella me jogou algo escuro, que depois vi que eram luvas grossas de couro. Ela colocou as dela.
- Agora? Agora é melhor você começar a correr.
Levei um segundo para entender do que ela falava quando vi uma grande bola branca voando em minha direção. Me acertou em cheio no peito.
- Ei! Cuidado com isso, mocinha. – repreendi, e comecei a rodeá-la, como se ela fosse a minha presa. Bella conseguiu esquivar-se e escondeu-se atrás de um arbusto. Eu não podia deixar barato.
- Sabem o que dizem: se é guerra que você quer, é guerra que você vai ter. – falei, saindo correndo para produzir a minha própria bola de neve, pronto para atacá-la.
Bella estava brincando com fogo. Anos e anos de experiência tendo Emmett como irmão e a pestinha da Rosalie como vizinha. Eu era campeão de todas as guerras de bola de neve, sempre o mais rápido corredor entre todos.
Ambos rimos, corremos e saltamos por muitos minutos. Acertamos incontáveis bolas de neve – ou melhor, eu acertava, Bella errava a maioria. Eu já estava sem fôlego, após quase meia hora correndo na manhã gelada sob o sol que brilhava, porém frio. Tinha que admitir que eu me sentia muito bem. Talvez o primeiro Natal em muito tempo que eu me sentia tão livre e alegre dessa forma.
- Trégua! Peço trégua! – Bella anunciou, derrotada e esbaforida, saindo de trás da árvore onde se escondia.
- Admite a derrota para o incrível e mais sensacional arremessador de todos os tempos, Edward Cullen? – falei, sorrindo presunçoso.
- Ah, droga! – ela falou, choramingando como uma menininha. – Admito. Tá bom?
- Está ótimo.
- Agora vamos voltar pra casa e terminar todos aqueles chocolates que você me subornou.
Bella novamente puxou minha mão, rindo. Notei como seu cabelo longo brilhava em cores diferentes e hipnotizantes sob o sol e o vento. De repente, meus dedos coçaram para entrelaçar naqueles fios. Ô oh...
Caminhamos até a porta dos fundos, e entramos rapidamente para nos livrar das peças de roupa que agora se encontravam molhadas. Mais uma vez, fomos direto para a lareira, porém não demoramos tanto para nos aquecer. Meu subconsciente, no entanto, almejava intensamente um banho quente. Me pergunto qual seria a reação de Bella se eu oferecesse para que tomássemos um juntos.
- Edward, obrigada. – ela falou, repentinamente.
- Acho que você já me agradeceu e muito. Talvez eu que tenha que agradecer agora.
- Então ambos estamos agradecidos. – falou ela, sorrindo para mim. – Obrigada por me fazer companhia, e por seguir minha tradiçãoboba.
- Obrigada por me deixar ficar aqui. E por me proporcionar um Natal maravilhoso. Acho que o melhor que já tive. – retruquei.
Tão suavemente, e tão naturalmente como se fizéssemos isso todos os dias, Bella se inclinou e pôs seus lábios sobre os meus. Nos movemos juntos, nossas bocas em sincronia quase perfeita. Senti seu suspiro contra mim, e finalmente sucumbi ao desejo de enterrar minhas mãos em seus cabelos, provando o gosto suave de sua língua.
Bella forçou seu peso sobre mim, fazendo com que eu me deitasse no chão, bem perto da lareira. Uma mão minha se entrelaçava em seu cabelo, enquanto a outra descia por suas costas até sua cintura. O peso de seu leve corpo sobre o meu e suas delicadas mãos vagando pelo meu peito e contornando meu rosto pareciam boas demais para ser verdade. Eu não queria ir embora tão cedo.
Sem pensar duas vezes, me afastei lentamente de sua boca. Ela soltou um gemido em protesto, mas mesmo assim perguntei, arfando levemente. – Bella, quais são os seus planos pra hoje?
- Nenhum. Mas provavelmente vou ficar vendo filmes até de noite, quando meu pai chegar. Por quê?
- Eu sei que pode parecer estranho, mas você quer passar o dia na minha casa? Quer dizer, na casa dos meus pais?
- Edward... – ela começou a dizer.
- Não se sinta constrangida, eu tenho certeza que tem comida suficiente, e minha mãe adora uma casa cheia. Por favor? Não quero te deixar sozinha aqui.
- Eu... eu aceito. – Bella respondeu – Mas com uma condição.
- Qualquer uma. – respondi prontamente.
- Que a maior fatia de torta de maçã seja minha. – ela falou com sorriso malicioso, e me puxou para mais um beijo quente e molhado, deitando-me sobre a maciez do calor de seu corpo. Simplesmente aconchegante.
N/A: Quem acha que algum tempo depois eles tomaram um banho quente juntos, levanta a mão \o/
~ Links de Referências ~
Flocos de Neve, de O Quebra-Nozes - youtube(PONTO)com/watch?v=DBeUxXSNiFc
Letra de When I'm Sixty Four, dos Beatles - letras(PONTO)terra(PONTO)com(PONTO)br/the-beatles/213/traducao(PONTO)html
Pôster de O Estranho Mundo de Jack - perfectbuyz(PONTO)com/images/categories/2006-nightmare-before-christmas(PONTO)jpg
Leitores, vocês podem pular essa parte. É só um monte de baboseira semi-sentimental, eu juro.
Bom, o que posso dizer da minha amiga secreta? (sempre tem um babaca que começa descrição de amigo oculto com essa pergunta, né)
Enfim, não temos um grande contato, acho que você é ocupada demais pra ficar o dia todo no twitter como eu e mais outras ficamos (to zoando, claro que eu sou mega ocupada, mas eu tenho um negócio chamado celular com internet). Mas do pouco que conversamos, eu sei que você é uma pessoa bem alto astral, de bem com a vida e gosta muito dos amigos da fandom (alguém me bate, pq essa é a pior introdução de amigo oculto EVER); além disso, sempre vou lembrar de você por ter estado presente quando toda essa "união" nossa começou, nas nossas brincadeiras e loucuras lá no início de 2010 – eu ainda tenho guardados os históricos do msn, cuidado comigo, hein muahahah.
Óbvio que vocês, miguxos da patota, não adivinharam quem é, porque sou tosca nisso, mas quem eu tirei foi a Isa Vanzeler!
Espero que goste da one, Isa, porque nunca postei nada meu aqui, portanto é um momento "especial"! mimimi
Feliz Natal, Isa!