Capítulo 18 – O Primeiro Sacrifício: Parte 1.

"Afaste-se dele!" Mandou uma voz em sua cabeça. Hermione pensou realmente em obedecer. Era sua consciência afinal. Sua consciência sempre se mostrara lúcida, determinada e certa nas diversas situações. Ás vezes, essa tal consciência falava tanto com ela que parecia uma outra pessoa. Como se fosse uma segunda Hermione.

Hermione piscou os olhos, apenas por piscar. Ela desviou os olhos para a janela da Sala de Astronomia, sendo capaz de ver a lua e sua forma dali onde estava. O ambiente estava escuro, sendo a única luz proveniente da lua prateada.

'Não sei se está sabendo. Professor Slughorn projetou um baile de Halloween no Dia das Bruxas para comemorar o nosso último ano. Somente os alunos do sétimo ano estarão presentes.' Ele disse segurando firme o próprio diário entre as mãos.

Ela obviamente estava sabendo. Malfoy havia comentado com ela. Pedira até que ela fosse com Riddle para o baile. Rose também dissera a mesma coisa. E uma coisa que Hermione não queria era isso. Era ir a uma festa com Tom. E uma coisa que Hermione não entendia era ele tê-la chamado para ser seu par. Riddle não era desse tipo de garoto.

'E você quer ir comigo...?' Ela indagou sem qualquer reação, inata. Ela estava se sentindo vazia por dentro. Estava oca, sem estímulo, sem força, sem pulso. Parecia um contêiner. Aquela época sombria realmente era diferente da sua época dourada dos anos 90. Um espasmo de um sorriso apareceu no rosto de Hermione. '... Curioso, curioso.'

'O quê?' Tom indagou interessado.

'Você querer me matar e estar me chamando para o baile.'

'Não quero te matar.' Ele respondeu simplista. Hermione desviou os olhos para os negros de Riddle. 'Se bem me lembro, na verdade, é você que tem intenção assassina para comigo.' Ele disse sorrindo.

Os olhos de Hermione brilharam por alguns segundos. 'Ah, é. Sou eu que deveria fazer isso.' Ela disse. 'Ainda assim não deixa de ser curioso.'

'Você não precisa aceitar.' Ele comentou levantando os ombros. 'Na verdade, me desculpe por isso. Foi só um pensamento errado que tive.' Desculpou-se logo.

'Por quê?'

'Porque foi.

'Por quê?'

'É um baile idiota. Eu não estou interessado em ir nesse baile idiot-...'

'Por quê está me chamando para ir ao baile?' Ela o interrompeu de forma um pouco severa. Tom piscou os olhos apreensivo. Acabou por engolir um pouco de saliva também por não saber o que dizer.

'Você já tem com quem ir?' Ele perguntou abaixando os olhos negros.

'Está fugindo da resposta.' Hermione comentou séria. Suas sobrancelhas se franziram. 'Por que está fugindo da resposta?'

'Não estou fugindo de nada. Perguntei se queria ir comigo, é óbvio que não. Então se esqueça disso.'

'Não foi isso que lhe perguntei.' Hermione respondeu mais arisca. Tom piscou os olhos confuso. 'Por que quer ir ao baile?'

Ele entendeu.

Não era sobre ele pedir a ela para ser seu par, era sobre ele querer ir ao baile. Tom Riddle nunca fora o tipo de cara que se interessava por esses assuntos. Ele iria ignorar o baile como qualquer evento sem importância que já teve em vários anos em Hogwarts. Mas ali, agora, se mostrava interessado em participar de algo tão banal quanto um baile de Halloween , e isso obviamente não era do feitio dele. Mudblood estava desconfiada. Estava achando que ele estava tramando alguma coisa. E chamar ela pra ficar com ele por aquela noite era apenas mais uma 'aparência' de algum plano dele. Parecia que ele queria tirá-la do caminho.

Mesmo com uma conversa tão fútil quanto aquela, a menina conseguia pensar em naquelas situações. Riddle realmente não estava acostumado com garotas daquele tipo.

Então ele realmente pensou sobre aquilo. Ele nunca realmente dera muita atenção a coisas banais. Como a palavra já dizia, eram banais. Sem importância. Então por que ele queria ir ao baile com aquela menina? Por que ele queria ir ao baile idiota? E por que com aquela menina?

Ele não sabia a resposta.

Ele pensava e pensava, mas não conseguia pensar numa resposta plausível. Não existia resposta plausível. Ele apenas queria ir. Ir com ela. Não era o suficiente?

Não. Não era.

Ele tinha que ter um motivo pra querer ir. Querer ir não era um motivo. Não para Riddle.

'Foi só uma idéia precipitada que tive. Eu não quero ir ao baile.' Ele respondeu sério. Sem dizer mais, saiu da Sala de Astronomia voltando para a Sonserina caminhando de forma rápida. Hermione continuou ali na sala, ainda olhando para o mesmo ponto donde Riddle se encontrara antes. Depois de alguns minutos no completo silêncio, ela se encaminhou para fora da sala, retornando para a Grifinória.

Fazia dias que não ia para o lugar mais agradável de Hogwarts (depois da biblioteca) por conta dos eventos que ocorreram. Ter uma boa noite de sono no dormitório provavelmente seria a melhor coisa a se ter naqueles tempos.

'Você está bem, Hermione?' Perguntou Rose ao perceber Hermione acordada na sua cama. Leslie dormia na outra cama do quarto e por aquele momento parecia dormir bem, sem mostrar sinais de dedobramento de sonhos.

'Não. Não consigo dormir.' Ela respondeu sem jeito.

'Onde você foi?'

'Lugar nenhum. Vim da enfermaria para dormir aqui. Estou cansada daquele lugar. Só está me fazendo mal.' Ela respondeu piscando os olhos castanhos.

'Hum, você não parece bem.'

'Estou bem. De verdade.' Ela disse sem força. Na verdade, Hermione estava vazia, oca. Fora a estranha sensação de vazio que tinha, sentia que talvez Riddle não fosse cumprir o que dissera. Ela temia que Riddle fizesse algo a Rose. Ela não podia sossegar enquanto lembrasse daquilo. "Não foi por um motivo besta que deixei Lestrange saber de tudo. Desobedeça o que estou dizendo e deixará contar com ela a partir de amanhã". Ela entregou o diário, como prometido, mas aquilo não era garantia. Promessas nunca foram garantias de nada. E Hermione estava rapidamente sabendo disso.

'Você descobriu mais alguma coisa sobre o Riddle?'

"Descobri que ele é um safado manipulador." 'Não. '

'Você vai com ele para o baile?'

'Não.'

'Poderia ajudá-la, sabia?'

'Eu não vou para esse baile, Rose. Muito menos com ele. Esqueça isso.'

'Por quê?'

'Ele é Voldemort. É o suficiente.'

'Acho que você demoniza ele demais.' Ela disse um pouco pensativa. Hermione virou o rosto para a amiga intrigada. 'Acho que pode se surpreender em saber que ele tem qualidades.'

'Qualidades de assassino, só se for.' 'Prefiro não conhecê-las.'

'Você que sabe. Mas ainda acho que você devia olhar para as pessoas com seus próprios olhos, não com os olhos do seu amigo Harry.'

Hermione franziu a testa. 'Mas eu não o olho como Harry. O que penso dele é exatamente o que penso.'

'Hum, você passa a impressão de sempre pensar em seu amigo quando está com Riddle. E talvez seja esse o problema. Sabe, ás vezes a gente tem que fazer as coisas por nós mesmos. Sem pensar nos outros. Ser um pouco egoísta, nesse caso, não faz mal.'

'O que quer dizer?'

'Que você faz as coisas sempre pensando nos outros. E isso é uma qualidade formidável, mas acredite, acaba sendo prejudicial no seu caso. Por sempre pensar nos outros, você acaba fazendo as coisas pelo que os outros estão pensando ou o que vão achar. Daí, quando acontece algo errado, você se culpa, não por ser realmente sua culpa, mas por achar que esses outros pensam que é sua culpa. Então você acaba se culpando por algo que não foi sua culpa, mas sim, consequência de algo inevitável.'

Hermione se calou e se permitiu ficar calada por alguns instantes. Ela perguntou a sua consciência se era isso o que acontecia com ela. Mas Hermione 2 não respondeu.

'Estou em um lugar que não deveria, Rose. Estou em um tempo que não deveria estar. O que estou fazendo, o que está acontecendo, está lentamente mudando tudo que eu conheci. O paradoxo da minha existência e do futuro como conheço pertence a isso. A mim. De certa forma, tudo que gera, é conseqüencia do meu ato insensato de vir aqui achando que poderia matar Riddle. De certa forma, sim, é culpa minha. ' Fora a vez de Rose calar-se. 'Mas como você mesma disse. Posso resolver as coisas. Eu tenho que resolver as coisas. '

'Espero que não ache que poderá fazer isso sozinha.'

Hermione em princípio se sentiu ofendida com o comentário de Rose, mas depois o entendeu. Rose estava mais uma vez querendo ajudá-la. Estava dizendo que poderia contar com ela. Que Hermione não precisava esconder as coisas achando que só ela poderia fazer esse tipo de coisa. Ela precisava de ajuda. Rose sabia. E Rose estava ajudando.

Sonserina, Dormitório Masculino

'Parece cansado, Tom' – Comentou Lethar Malfoy deitado na cama observando o semblante do amigo. Tom havia chegado no dormitório, mas passara minutos acordado, sem conseguir dormir, o que chamou atenção de Malfoy. Tom tinha os olhos fixados no céu negro estrelado, mas suas pupilas pareciam fora de foco, desinteressadas sobre qualquer coisa.

'Não consigo dormir.' – Respondeu cansado e sincero. Sentiu um pouco de frio pela brisa gelada que passou da janela e entrou no quarto.

'Tem a ver com Granger ou é só coincidência?' Malfoy perguntou com um sorriso sínico no rosto.

'Não existe coincidências. Realmente, parece ter a ver com a Mudblood. Por algum motivo que desconheço, não consigo parar de pensar nela.'

'Outra vez? Faz algum tempo que vocë tem pensado nela com certa frequëncia... Tome cuidado com ela. Ela é Sangue-Ruim, não é digna de confiança.'

'Eu sei. E é justamente isso que me incomoda. Eu não deveria pensar nela. Não deveria me preocupar com ela. Ainda mais sendo quem é. Mas tem algo nela que não me deixa sossegado. Ela parece está aqui apenas para me espionar. E ela já deixou claro que gostaria de matar. Eu não entendo. Não entendo porque ela tem algo contra mim. E eu não consigo saber o que é.'

Lethar esboçou um sorriso sínico maior ainda. 'Ah, sim, e você detesta isso, não é?'

'Detesto. Sinto-me desprotegido e vulnerável.' Comentou sério.

'Acho que talvez você se preocupa demais. Desde que ela chegou, você tem tido interesse nela. Acho que ela está só se defendendo. Se você a deixar em paz, tudo voltará ao normal. Como sempre fora.'

Tom piscou os olhos grafites. 'Não. Você não entende, Malfoy. Tem algo mais. Eu sei. Tem algo nela, entre nós...algo que a faz ela estar aqui por minha causa. E isso é o que está faltando. Eu não sei o que é. Não consigo descobrir.'

'Acho que está inventando coisas.'

'É como se ela soubesse o que sou capaz de fazer. Como se soubesse o que estou pensando. Ela parece estar sempre á frente de mim. Parece que estamos numa corrida. E ela parece estar á frente de mim.'

'Você é um péssimo perdedor, Tom.'

'O problema é que o perdedor será quem morrerá primeiro, Malfoy.'

Malfoy levantou os olhos azuis para o amigo na cama do lado. 'Morrerá? Quer dizer que você a matará?'

Tom apenas se limitou a entortar a boca. 'Não gosto desta visão. '

'Então a deixe em paz. Tudo voltará ao normal. Está colocando problemas aonde não existem. E daí se ela está na sua frente? Você só a está perturbando. Raptou a menina Burke, apagou a memória dos seus amigos, torturou a Lestrange e a própria Mudblood. Ela tem mais do que motivos para ficar de olho em você. Mas ela não sabe de nada sobre você. Não tem como ela saber.'

'Ela leu o meu diário.'

Malfoy abriu os olhos um pouco surpreso com o comentário. 'Como ela pegou o seu diário?'

'Da mesma forma que eu raptei Burke. Utilizando-se da poção polissuco no estoque de poções do professor Slughorn.'

'E quando foi que ela fez isso?' Ele perguntou levantando-se da cama atônito com a descoberta. 'Juro que não vi alguém suspeito por aqui esses dias.'

'Esta semana.' Ele disse sério. 'Vocês são tão idiotas que nem notaram.'

'Em quem ela se tranformou?' Perguntou Malfoy estreitando os olhos.

'Prince.' Malfoy soltou um palavrão baixinho. 'Enquanto isso, Lestrange estava como Black.'

'Você não apagou a memória dela?'

'Não. Deixei Lestrange saber o que aconteceu. Mudblood precisa de alguém para quem confiar. Alguém com que quem ela conte seu segredo...'

'E aí você poderia pegar esse segredo da Sangue-Ruim através da Lestrange.' Tom sorriu com o raciocínio de Malfoy.

'Após isso, não teria problema em apagar a memória da menina. E aí, Mudblood se veria sozinha, sem ter em quem confiar plenamente.'

'É isso que pretende fazer?'

'Não'. Negou definitivo, então sorriu satisfeito. 'Pretendo fazer de Lestrange o primeiro sacrifício.'

'Primeiro Sacrifício? Do que está falando, Riddle? Você vai matar Rose?' Malfoy perguntou completamente aturdido.

'É para o bem maior.' Ele avisou em precedência.

'Bem maior? Você vai matar Rose embaixo do nariz de Dippet por causa de uma utopia?'

'Não é uma utopia.'

'Mas é claro que é. Sua finalidade é se tornar imortal, coisa completamente inantigível. E isso é apenas uma desculpa para você começar a matar pessoas. Está querendo se passar de revolucionário quando na verdade não passará de um assassino.'

Tom levantou-se da cama e se postou em frente ao loiro. Os olhos negros encarando os azuis-esverdeados do amigo. 'É isso que pensa?'

'Obviamente que sim.' Lethar respondeu levantando os ombros.

'Curioso. Achei que de todas as pessoas, você era quem estaria lá para me auxiliar. Você sempre se interessou pelas minhas idéias.'

'Me interessei por uma de suas idéias. Que não tem nada a ver com essa. Está querendo usar Lestrange, uma Sangue-Puro como sacrifício para se tornar imortal. Você sabe o que está fazendo? Ela é uma Lestrange. Por mais que ela tenha desentendimentos na própria família, ela ainda é Lestrange. Por mais que seja amiga de Traidores, ainda se faz Lestrange. Se meta com uma Lestrange, um Malfoy, um Grenuille, um Black , ou até um Stradivarius, e você verá o inferno, Riddle. Jamais se meta com famílias bruxas influentes.'

Tom piscou os olhos grafites considerando o que o amigo dissera. Na verdade, ele não tinha pensado por esse ponto. Ele estava convicto que usaria Rose como sacrifício, para testar o experimento das Horcruxes, mas também porque isso afetaria Granger completamente. Ele jamais pensou no que isso acarretaria na esfera da sociedade bruxa. E por aquele momento ele viu que aquilo era realmente idiotice. Estava se colocando num ponto de perigo sem nem mesmo saber.

'Há outras formas de chamar atenção de Granger se é isso que você quer.' Começou Malfoy estreitando os olhos. 'E mais fáceis de lidar. Esqueça essa idéia de sacrifício. E não se aproxime de Rose. Se acontecer algo a ela, terá que enfrentar a ira dos Lestrange, dos Stradivarius e a minha'.

'A sua?' Tom indagou curioso.

'Ela é minha prima. Não se esqueça disso.' Ele respondeu sério.

Riddle respirou fundo e logo se deitou novamente na cama, apoiando a cabeça sobre os braços. Lethar continuou em pé, encarando o amigo moreno.

'Obrigado por ter me lembrado disso, Malfoy.' Ele agradeceu sincero. 'Eu não vou causar mal algum a Rose Lestrange. Dou minha palavra.'

Malfoy estreitou os olhos claros, um pouco desconfiado. 'Espero que seja homem para cumprí-la.'

'Não dou desonrado. Manterei a minha palavra. Não causarei mal a ela.'

Malfoy pareceu se convencer das palavras do amigo e se deixou deitar na cama, enrolando-se com o edredom verde-prata.

"Então acho que terei que usar uma outra pessoa." Pensou Riddle abrindo um sorriso largo.


'Tome cuidado com o que diabos vai fazer, Riddle.' Alertou Malfoy quando os dois saíram do Salão Comunal da Sonserina. Tom apenas acenou com a cabeça. Ele sabia que tinha que tomar cuidado. Sentiu até tonto e um pouco burro ao lembrar-se que realmente cogitara a idéia de machucar Rose Lestrange. Não valeria a dor de cabeça que teria. Abraxas Malfoy estava certo, precisava usar alguém que chame menos atenção. Alguém menos... importante.

Não havia nada naquele momento que poderia fazê-lo voltar atrás. Havia estudado todo aquele tempo para isso: fazer as Horcruxes. Ser imortal. Ser Lorde Voldemort.

E para isso precisaria fazer sacrifícios. Seria difícil, sabia, mas estava confiante.

Só precisava de alguém disposto a cooperar com ele. Alguém que não fosse importante, alguém que não chamasse atenção, alguém que as pessoas não sentiriam falta.

"Ouvi dizer que está namorando Mystin Javert, Senhor Riddle."

Um sorriso quase demoníaco formou-se no rosto do garoto.

Mystin Javert.

Era a garota perfeita.

Só precisava enganá-la por alguns dias.

Só precisava ganhar a confiança dela novamente.

Aquilo seria fácil. Malfoy havia lhe dito que ela faria qualquer coisa para ter um relacionamento com ele. Qualquer coisa.

Estava na hora de descobrir se ela realmente gostava tanto assim dele.

Estava na hora do primeiro sacrifício.

Continua no próximo capítulo...