Problemas Reais
Dormir...Ele ainda tinha esta doce ilusão de que isso seria possível. Bem, até seria se Edmund não tivesse de dividir a cama com uma mulher. Veja bem, não qualquer mulher, mas a única que estava destinada a ele e, por ironia do destino, a única que ele não podia encostar!
Isso já seria problema o bastante para ele, mas Lucy parecia determinada a tornar tudo mais difícil. Por maior que fosse a cama, ela parecia ser atraída até ele de alguma forma. Quando Edmund se deu conta, Lucy estava com a perna sobre a dele. A barra da camisola havia sido suspensa pelos movimentos estabanados dela, dando ao rei uma idéia bem clara do que havia por debaixo das camadas de pano.
Pra não mencionar a forma como os seios dela subiam e desciam com a respiração profunda, característica do sono. Ele se pegou acompanhando o movimento das curvas suaves dos seios, tentando não tocá-los. E ainda queriam que ele acreditasse que ela era uma criança. Aquilo era uma piada.
Onde ele estava com a cabeça quando sugeriu que ela passasse a noite com ele? E só pra não melhorar a situação, Lucy repetiria aquela nova rotina pelo menos três vezes por semana.
As coisas estavam se tornando cada vez mais urgentes. Resolver a condição dela não era mais apenas um assunto de Estado. Estava se tornando pessoal!
Ele custou a dormir daquele jeito, mas após longas horas tentando pensar em situações desestimulantes ele finalmente dormiu. Não foi exatamente um sono agradável, mas dadas as condições foi o melhor possível, até ele sonhar que a estava beijando outra vez e acordar dando de cara com uma Lucy bem desperta.
Ao contrario do que poderiam esperar, Lucy não gritou. Assim que se deu conta da situação em que estavam ela manteve em mente que se fizesse um escândalo a farsa seria desmascarada e então ela seria mandada de volta a Nárnia no mesmo instante. Tudo o que ela fez foi ficar constrangida e correr para fora da cama o mais rápido possível, enquanto Edmund pensava em alguma coisa para dizer a ela.
- Acho melhor... – ela começou sem jeito – Acho que seria melhor se eu dormisse no divã da próxima vez. – Lucy sugeriu.
Edmund arqueou uma sobrancelha e então deixou a cama e caminhou até ela. Ele a encarava de uma forma estranha, como se não acreditasse em seus ouvidos, ou se recusasse a crer numa sugestão como aquela.
- Como é? – ele perguntou ainda encarando-a daquela maneira.
- É só que...- ela gaguejou por um momento – Não é apropriado. Já que nada vai acontecer entre nós, seria melhor que eu dormisse no divã. Assim teremos mais privacidade. – ele se deteve por um momento.
- Talvez tenha razão. – ele disse de uma forma comedida – Mas eventualmente estas encenações acabaram e então será imperativo que divida a cama comigo.
- Não me sinto confortável nesta situação. – ela murmurou e agora Edmund se sentia inexplicavelmente rejeitado. Ele respirou fundo e passou a mão pelos cabelos desarrumados.
- É melhor ir se acostumando com ela. – ele disse sério – Não deve tardar muito a acontecer.
- Como pode saber? – ela se afastou dois passos dele – Não há como prever isso.
- Tem de ser logo. Não tardará até que sejamos descobertos. – ele disse com expressão grave – Tudo isso é apenas para ganharmos tempo.
- Está bravo comigo. – ela constatou e Edmundo notou o quanto ela ainda parecia uma garota inocente, mesmo que todo corpo e seu temperamento cativante o convencessem do contrário.
- Não. – ele se virou e fixou seu olhar em qualquer ponto aleatório do quarto – Não estou bravo.
- Então por que está falando deste jeito? Como se eu o tivesse insultado? – ela questionou confusa.
- Talvez porque eu não esperava ser rejeitado por minha esposa antes mesmo de poder tocá-la. – e aquele foi um comentário infeliz que ele deixou escapar de um jeito ranzinza.
- Eu não tive a intenção. – Lucy disse tímida.
- Não se incomode comigo. – ele disse sentindo-se terrivelmente cansado pela noite mal dormida – É culpa minha, não é mesmo? Por ter me esquecido de que não sou exatamente o que esperava para esposo.
- Agora eu não estou entendendo. – Lucy realmente não estava assimilando uma única palavra do que Edmund estava dizendo. Pra começo de conversa, eles não estavam naquela situação por vontade própria, mas por conveniências diversas que envolviam Nárnia e Telmar. Lucy também nunca esperou que ele tivesse qualquer afeição por ela e acreditava que a recíproca era verdadeira, mas agora tudo estava muito fora do lugar para ser compreendido.
- Você age como se estivesse aliviada por não ter que dividir a cama comigo e da maneira como fala é como se desejasse que isso nunca acontecesse. – ele disse sério – Como, eu disse. Me ignore. Não costumo fazer muito sentido pela manhã.
- Nota-se. – ela disse tão confusa quanto antes – Eu tinha a impressão de que minha presença também não era do seu agrado, agora não estou entendendo aonde quer chegar com esta conversa.
- Bem, talvez eu só desejasse não ser rejeitado. – ele resmungou.
- Mas não o rejeitei!
- Então qual é o maldito problema de dormir na mesma cama que eu? – Lucy custou a acreditar que aquele era realmente o motivo da discussão. Na verdade, era tudo tão absurdo que ela começou a rir.
- Sinto muito... – ela mal conseguia respirar de tanto rir – Não foi minha intenção ofender, eu só...Acho que dormiríamos melhor sem esbarrar um no outro.
- Preciso saber uma coisa. – ele disse tão sério que ela se viu obrigada a segurar o riso – Sentiu tanta repulsa assim quando eu a beijei?
E aquilo pegaria qualquer um de surpresa. Lucy o encarou boquiaberta por uma fração de segundos, tentando processar o que acabara de ouvir. Não, ela não havia sentido repulsa, ousava dizer que havia gostado daquele momento estranho, mas o que não fazia sentido era a repentina ausência de confiança que o rei Edmund demonstrava.
- Eu ainda não vejo aonde quer chegar com essa história. – Lucy respondeu enquanto levava a mão à têmpora. Edmund deu um passo em direção a ela e por um momento ela achou que ele parecia aflito.
- É muito simples. – ele disse encarando-a – Eu me recuso a ser feito de idiota, como seu irmão está sendo feito. O Grande Rei caiu na tolice de dar a minha irmã uma chance de escapar do casamento e agora ele está sendo ridicularizado por isso. Mesmo acreditando que esta situação foge ao seu controle, não posso deixar de notar que há uma certa similaridade aqui.
- E o que espera que eu faça? – ela perguntou aflita – Já estou me sujeitando a todo tipo de constrangimento graças a isso. O que mais deseja de mim?
- Apenas me diga... – ele a encarou de uma forma severa – Há outra pessoa? Alguém por quem tenha sentimentos, ou apenas não se sente satisfeita com a perspectiva de ser a esposa do rei de Telmar? – isso fazia tanto sentido quanto o resto da neurose dele, mas a verdade é que Edmund conseguia ser muito inseguro às vezes. Morria de medo de ser taxado como fraco, ou ser alvo de chacota e, nos últimos dias, a idéia de que talvez Lucy tivesse o desejo se estar com outra pessoa passou a incomodá-lo bem mais do que deveria.
- Não diria sentimentos, mas eu tinha uma idéia bem tola. – ela disse encolhendo os ombros – Todos diziam que eu acabaria me casando com Corin, da Arquelândia. Eu estava acostumada com a idéia. Me pegava fantasiando a respeito, mas não estava nas minhas mãos decidir, não é mesmo?
Edmund não esperava ouvir a verdade, ou pelo menos não esperava que ela confirmasse seu medo infantil. Ele tentou se recordar rapidamente de como era Corin da Arquelândia. O filho mais novo de Lune era um jovem pouco mais novo do que o rei de Telmar, era conhecido por ser imprudente, pavio curto e ao mesmo tempo carismático e de boa índole. Era quase como imaginar um novo Peter e Edmund tinha pouco, ou nada em comum com aquele estereótipo.
- Corin não passa de um fanfarrão, um bruto que tem a sorte de ser filho do rei Lune e irmão mais novo de Cor. – Edmund disse com um toque de despeito – O que, em nome de Aslan, ele poderia oferecer a uma princesa de Nárnia?
- Oh! Eu não sei. – Lucy deu de ombros – Eu o achava atraente, mas era de Cor que eu gostava mais. Ele era bem educado e gentil comigo, sempre simpático. Fiquei um pouco triste quando anunciaram o noivado entre ele e Aravis Tarcaina.
- Só posso imaginar o quão decepcionante foi ser entregue a Telmar e a mim. – ele rebateu seco – Corin, ou Cor, provavelmente seriam bem mais agradáveis de ver logo pela manhã. Sim, sem dúvida. Muito mais dignos de sua companhia do que eu, não é mesmo?
- Decepção é ser acusada de mentirosa e agora meu senhor sugere que sou infiel em pensamentos. – ela disse nervosa – Chega disso! Por que se preocupar com pessoas por quem eu possa ter tido sentimentos? Não faz mais sentido quando estou casada com você.
- Claro. Por que nos preocupar com isso, não é mesmo. Aposto que minha amante ficará muito satisfeita em saber. – Edmund respondeu cínico. Não havia amante alguma, mas ver o rosto de Lucy mudar de cor de tanta raiva com certeza valia a mentira.
- Disse que não tinha amante. – ela resmungou entre dentes.
- E você nunca me disse que era apaixonada por outro! - ele retrucou – Eu sou seu esposo! É de mim que deve gostar!
- Bem difícil quando meu senhor não me dá motivo algum para isso! – Lucy quase gritou e Edmund lançou a ela um olhar indignado.
- E quanto ao beijo? – como se um simples beijo tivesse o mágico poder de fazer qualquer mulher se apaixonar. A verdade é que Edmund queria pensar que, como rei, deveria ser irresistível para qualquer uma, inclusive para Lucy.
- Foi só um beijo! E você nem mesmo queria me beijar, só fez aquilo pra calar o Conselho! – ela retrucou.
A argumentação de Lucy estava longe de ser a melhor possível. De fato, havia sido apenas um beijo, mas aos ouvidos de Edmund aquela alegação pareceu muito mais ofensiva. Ela o havia menosprezado. Um beijo, apenas um beijo, algo que aparentemente não significou nada para ela, enquanto ele estava assumindo publicamente que a desejava.
Então ele chegou à conclusão que já era hora dela entender que beijos são beijos, não brincadeiras e definitivamente não algo leviano. O beijo de um rei queria dizer muita coisa.
Antes que Lucy se desse conta, Edmund a puxou pela cintura e a calou com seus próprios lábios. Sem qualquer delicadeza, a língua dele demandou passagem entre os lábios dela, tornando aquele contato impulsivo um beijo sedento. Um pouco de vingança, um pouco de receio, um pouco de frustração e muito de algo mais...Algo que eles ainda levariam um tempo para descobrirem o que era.
De qualquer forma, a intenção dele era deixar bem claro que ela não devia andar por ai fantasiando com príncipes da Arquelândia, ou qualquer outro país, quando era a esposa do rei de Telmar. Não quando ele queria que ela gostasse da idéia.
Quando ele se afastou, lembrando-se repentinamente da necessidade de oxigênio, notou que Lucy parecia estática e de certo modo apavorada. Edmund se perguntou se algum dia ele conseguiria dar um passo certo quando o assunto era ela. Tudo o que ele fazia sempre dava errado e acabava tendo o efeito contrário ao esperado. Sentiu uma pontada de remorso por estar sendo tão infantil, mas não por tê-la beijado outra vez.
- Faça o que bem entender quando eu a chamar para este quarto. – ele disse sério e deu as costas a ela – Enquanto ainda for uma "menina" não precisa tolerar minha presença ao seu lado. Pode voltar para seus aposentos agora. Quando chegar lá, peça para Lady Jill comparecer ao meu gabinete.
E Lucy fez o que ele disse. Estava tão constrangida e confusa que saiu de lá o mais rápido que a boa educação permitia. Sua respiração estava ofegante e o coração acelerado. Edmund a havia beijado outra vez e as coisas começavam a fugir ao controle. A princesa simplesmente já não sabia mais se devia ser indiferente a ele, ou se isso já havia se tornado algo impossível. Talvez ela estivesse começando a gostar da idéia de ser a rainha dele.
Quando chegou aos seus aposentos, ela transmitiu a mensagem à Lady Jill, que foi de encontro ao rei assim que terminou de ajudar Lucy com suas roupas.
Existem algumas coisas que precisam saber sobre a esposa de Lord Tirian. Jill era uma jovem de espírito encantador e foi amiga de infância do insuportável conselheiro Eustace. Além disso, ela era praticamente uma central de informações sobre duas pernas. Em Telmar nada passava despercebido por ela e se alguém precisava de alguma informação valiosa era à Jill que deviam recorrer. Cabe salientar que ela não era uma fofoqueira barata, a garota tinha ética e só compartilhava uma informação que julgasse de suma importância para a vida de uma pessoa querida.
Foi por isso que o rei Edmund mandou chamá-la e também um dos motivos pelo qual ele a nomeou chefe das damas de companhia da futura rainha. O objetivo era conseguir informações privilegiadas sobre os gostos de Lucy e seu temperamento. Entretanto, com Jill as chances de encontrar uma solução para a "questão de Lucy" aumentavam consideravelmente.
Assim que ela adentrou o gabinete, Edmund ofereceu assento à dama e Lady Jill aceitou prontamente. Ela notou de imediato que o rei parecia mal humorado e muito mais sério do que de costume. Isso, somado ao estado de Lucy logo pela manhã, tornaram a situação um pouco mais clara. Algo havia acontecido entre eles, ou estava caminhando pra isso.
Lady Jill não conseguiu conter um sorriso de entendimento. Bem, talvez fosse o momento ideal para contar ao rei que ela tinha uma resposta para o problema, ou pelo menos sabia quem tinha.
- Conseguiu a informação que pedi? – Edmund perguntou diretamente e Lady Jill sorriu satisfeita.
- Foi uma sorte, Majestade. – ela respondeu prontamente – Soube por fonte segura. Há uma mulher de idade, que vive em algum lugar próximo a Ettinsmoore. Dizem que ela é especialista em ajudar casais. Todo tipo de problemas de alcova. Penso que ela tem a resposta para o problema da princesa.
- Como se chama esta mulher? – Edmund perguntou enquanto massageava as têmporas.
- A chamam de Tia Polly. É uma feiticeira conhecedora de magias antigas relacionadas à ervas e raízes. Magia da natureza. – Edmund estremeceu diante daquilo. O mito da Feiticeira Branca ainda estava bem vivo na mente de todos, mas diante do problema não restava outra alternativa.
- Vá até ela e pergunte se pode me oferecer uma solução. Diga que dinheiro não é problema. Se conseguir uma solução pro problema de sua senhora, também será recompensada. – Edmund disse afobado.
Lady Jill fez uma reverência e agradeceu humildemente a generosidade do jovem rei. Quando deixou a sala não conseguiu conter o riso, tão pouco os pensamentos impróprios. Oh, a princesa poderia ser tecnicamente uma criança, mas tudo indicava que as coisas entre ela e o rei estavam fluindo muito bem. Nenhum homem ficaria tão desesperado assim por uma solução se não estivesse seriamente apaixonado por uma mulher.
Esta história é feita de obstáculos inusitados, mas naquele momento as loucuras de Susan não perturbavam tanto a cabeça do Grande Rei Peter. O rapaz estava sentado em seu escritório particular tomando uma taça de vinho enquanto passava os olhos pela pilha de papeis que devia ser analisada por ele.
Estava de excelente humor naquele dia. Havia ordenado que um enorme banquete fosse preparado para receber o Governador das Ilhas Solitárias, seu velho e bom amigo Caspian.
Seu humor estava tão bom naquele dia que durante o almoço com a princesa Susan, a garota passou a encará-lo com olhos suspeitos. Enquanto mastigava um pedaço de carne, Susan tentava imaginar o que estava se passando dentro daquela cabeça loira dele e não conseguiu pensar em nada. Não queria perguntar diretamente ao Grande Rei, mas a curiosidade acabou falando mais alto.
- Está com uma cara mais lerda e irritante do que o normal. – ela comentou mal humorada. O sorriso de Peter se alargou.
- Obrigado por reparar, minha senhora. – ele disse de forma jovial.
- Qual o motivo disso. Por um acaso deu de cara com faunos rebolando e usando saias de flores? – ela continuou com seu tom impertinente. Peter gargalhou.
- Oh não, mas admito que seria engraçado. – ele disse alegre – Estou apenas satisfeito com a vida hoje. Acordei e me dei conta de que sou casado com a mulher mais linda do mundo, que um dia teremos filhos maravilhosos e que minha senhora há de me amar tanto quanto a amo. Além disso recebi notícias que meu velho amigo Caspian está chegando à Cair Paravel esta tarde e poderei revê-lo. Lutamos juntos contra Jadis e já se passaram alguns anos desde a última vez que nos vimos.
- Amar o senhor é algo que só acontecerá no dia em que o sol nascer no oeste e o inferno congelar. Prefiro morrer a ter um filho seu, mas admito que a visita do seu amigo pode ser algo proveitoso. Quem sabe Sua Majestade descobre que está apaixonado por ele e me esquece de uma vez por todas.
- Dificilmente, amada minha. Eu prefiro a suavidade de seu rosto de porcelana à cara barbuda de Caspian. Que pensamento atroz. – Peter ponderou por um longo minuto – Atroz de fato. Gosto de seios, gosto muito de seios e Caspian não tem nenhum. Gosto de pernas roliças e macias, Caspian sempre pareceu um temendo varapau. Não, não, a senhora me agrada muito mais. Mas creio que minha senhora apreciará a visita, já que meu amigo está trazendo a esposa. Lady Lilliandil é uma senhora adorável, creio que se darão muito bem.
- Melhor do que me dou com o senhor, com certeza. – Susan disse mal humorada – Se me permite, toda essa conversa sobre seios e pernas me fez perder o apetite.
Susan deixou a sala de refeições e desapareceu entre os corredores do castelo, resmungando como sempre, e rogando pragas para que Peter morresse engasgado com a comida. Não, nem mesmo aquilo conseguiu deixá-lo de mal humor.
O restante do dia transcorreu sem problemas. Quando a noite caiu soaram as trombetas de Cair Paravel, anunciando a chegado do amigo do Grande Rei e de sua esposa. Peter fez questão de se apresentar aos convidados em sua melhor forma e com um sorriso vitorioso no rosto.
Quando viu o amigo, Caspian se apressou em saudá-lo e entregar-lhe presentes que havia trazido das Ilhas Solitária para o Grande Rei e sua esposa. Peter agradeceu, mas insistiu em dizer que não era necessário.
- Você não mudou nada! – Peter comentou satisfeito – Talvez tenha ganhado alguns quilos.
- Sua Majestade também não mudou nada. – Caspian comentou – Lembra-se de minha esposa?
- É uma honra reencontrá-la, madame. – Peter segurou a mão da dama e a beijou de leve. Não pode deixar de notar como ela era absurdamente bonita. De uma forma inumana, ela era a mulher mais bonita que se poderia imaginar, mas para o Grande Rei, apenas Susan merecia tal elogio. – Pedi para que chamassem minha adorada senhora para que a conheçam.
- Será um prazer, Majestade. – a esposa de Caspian disse.
- De fato, estávamos curiosos para conhecer a futura Grande Rainha de Nárnia. – Caspian completou.
Não demorou mais do que alguns segundos para que Susan se junta-se ao Grande Rei e seus convidados no salão. A futura Grande Rainha era uma mulher vaidosa e fez questão de se apresentar em suas melhores roupas e com suas jóias mais bonitas, entretanto, quando colocou os olhos sobre a belíssima esposa de Caspian, ela praticamente perdeu a fala e sentiu-se a mulher mais feia do mundo.
Liliandil não usava nada muito ostentoso, ainda que Caspian fosse riquíssimo e enchesse sua esposa de presentes. A questão é que qualquer adorno era desnecessário quando se tem brilho próprio. A reação de Susan não passou despercebida aos olhos de Peter. O Grande Rei sorriu satisfeito ao ver que sua esposa havia perdido a fala.
- Permita-me apresentar minha amada, Susan de Telmar. – Peter fez as devidas apresentações – Minha senhora, este é Caspian X, Governador das Ilhas Solitárias e sua esposa, Lady Liliandil, Filha de Ramandu, Filha da Estrela.
Bastou que Susan ouvisse a última palavra para que seu rosto perdesse toda cor, mas ela não demonstrou nenhum outro sinal de pânico além deste. Como era uma jovem vaidosa e bem educada, ela tratou seus convidados muito bem e até simpatizou com a esposa de Caspian, entretanto, sua mente procurava desesperadamente por um novo plano para conseguir derrotar Peter.
Quando o banquete terminou, Susan se retirou para seus aposentos as pressas, mas antes que pudesse se refugiar no conforto de seu quarto Peter a interceptou, segurando-a pelo braço. Ela rangeu os dentes em resposta, enquanto sentia o estomago revirar.
- Largue o meu braço! – ela ordenou grosseira.
- Desta vez eu não trapaceei. Joguei limpo e lhe trouxe uma estrela, como pediu. – ele disse com a voz rouca. Susan estremeceu e sentiu vontade de sair correndo.
- Ainda não venceu a última etapa do desafio. – Susan argüiu em sua defesa – Não cante vitória antes do tempo.
- Então diga qual é a última etapa. – Peter falou com voz cortante.
- Estou cansada. Conversamos a respeito depois. – Susan tentou se livrar dele.
- AGORA! – o Grande Rei perdeu a paciência e Susan estremeceu diante da raiva dele.
- Está bem. – ela disse séria – Eu quero um cervo branco. – Peter não percebeu quando seu queixo caiu diante do pedido dela – Vai ter de caçar um cervo branco, mas não pode matá-lo. Deve trazê-lo vivo até mim, nem um machucado.
O cervo branco era uma velha lenda narniana. Por se tratar de um animal raríssimo dizia-se que quem conseguisse caçar o bicho teria qualquer desejo atendido. Neste contexto não precisaria ser gênio para deduzir o quão perdido Peter estava. Não se via um cervo branco em Nárnia a mais de mil anos.
Susan sorriu para ele vitoriosa, mas o Grande Rei, aquele que havia derrotado a Feiticeira Branca, não se deixaria abalar diante daquela mulher e de seus jogos. Ele teria Susan em seus braços e isso era ponto passivo.
- Muito bem. Terá seu cervo branco vivo e sem nenhum arranhão. – Peter disse sério – Mas antes disso, quero minha retribuição por ter lhe trazido uma estrela.
Com a rapidez de uma serpente que dá o bote, Peter a agarrou pela nuca, prensou o corpo de Susan contra a parede, e sem a menor cortesia sua língua demandou passagem por entre os lábios carnudos dela.
O jogo ainda não havia terminado, mas Susan agora temia ficar presa em Nárnia e casada com aquele homem desprezível para sempre.
Nota da autora: Quero ouvir os gritinhos de ALELUIA! Isso ai, terminei o capítulo, estou viva, estou escrevendo, estou bem. Meu sumiço se deve a uma série de problemas pessoais que tive de enfrentar neste início de ano, então eu não estava com cabeça para escrever, mas agora estou de volta à ativa. A camisola ainda vai dar pano pra manga XD. A discussão do Ed e da Lu foi épica e hilária, enquanto Peter e Susan começam a fazer figura decorativa na história (que culpa tenho eu se eu amo o Edmund?).
Comentários me fazem mais feliz e disposta a escrever. Se querem mais, cliquem naquele botão verde ali em baixo e deixem um recadinho pra Tia Bee XD.
Happy St. Patrick's Day pra todo mundo! Usem verde e bebam uma Guinness por mim!
Bjux
Bee