III. Keep walking

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Não era o maior fã do sol, nunca foi. Mas naquela manhã, definitivamente, o Guardião da Nuvem achou aquela luz amarela no seu quarto simplesmente infernal.

Ouviu o barulho de água vindo no seu banheiro. Alguém estava tomando banho... Grunhiu alguma coisa sentindo, se encolhendo nas cobertas. Sempre soube que amnésia pós álcool era um mito, mas bem que podia ser um mito verdadeiro. Ajudaria muito naquela manhã, em que Hibari realmente desejou ser uma nuvem e que pudesse simplesmente desaparecer debaixo daquele sol.

Sentou-se na cama, sentindo-se levemente atordoado. Fechou os olhos, fazendo uma análise geral. Nada de dor de cabeça, nem garganta ou estômago muito diferentes do normal.

Hum, sou melhor nisso que o Cavallone.

É claro que seu balanço positivo não tinha nada a ver com os cuidados que Dino passara a noite toda tendo com ele. Absolutamente.

O Bronco. Ele havia chegado no final da tarde, quando Hibari já começa se sentir meio zonzo. Mas ainda lembrava da discussão que tiveram... Por que diabos Dino o tratava sempre como criança? Ele sabia se cuidar. E se aquele cavalo maldito podia beber até cair e falar aquelas... coisas... ele também podia.

Falei demais. É melhor lembrar de nunca mais beber na frente de ninguém..

Hibari tinha um plano lógico, e totalmente irracional. Não havia entendido as atitudes do italiano. Dino sempre o entendia, não era? Dino o havia aceitado como ele era, não tinha? Como ele podia... como ele desistia, assim, simplesmente?

O Guardião da Nuvem, em seus áureos vinte anos, nunca tinha tomado um porre. Achou que era culpa do whisky tudo aquilo que Dino havia dito. Hibari pensou nisso. Por horas e horas. E finalmente achou, às quatro da tarde, mais de quinze horas sem o Bronco dar qualquer notícia, que ele entenderia se estivesse no lugar do cavalo selvagem.

Então pediu a Kusakabe uma garrafa, igual ao do Bronco. Bebeu até Dino chegar. E continuou a beber, depois. Beberam juntos por mais alguns minutos em silêncio. E não demorou até que Hibari se sentisse realmente mal.

Afinal, era sua primeira vez com uma bebida mais forte.

De repente, se lembrou da mão de Dino segurando seu peito. Não era nada romântico, uma vez que Cavallone estava tentando afastá-lo da mesa. Hibari detestaria sujar aquela mesa.

Aquele idiota sabe até isso.

A seqüência foi clichê, como era esperado: mais vômito, um banho frio, Dino o colocando em roupas limpas. O loiro pediu alguma comida à Kusakabe, uma sopa, mas que Kyouya só comeu depois de muito esforço do italiano.

Lembrava agora, que tudo que ele queria era dormir. E Dino segurava seu rosto, lhe dando a sopa goela abaixo. Depois café, alguma pílula, seus travesseiros macios, o sono. O bendito sono.

Hibari abriu os olhos com força, notando que o barulho do chuveiro havia parado. Não era um herbívoro covarde, e não ia se esconder para sempre debaixo daquele edredom. Mas não fez menção alguma de se mover de onde estava, quando seus olhos encontraram os de Dino na porta do banheiro.

"Do jeito que você enxuga os cabelos molha todo o quarto."

"Ah, me desculpe por isso!"

Dino sorriu, colocando a toalha molhada na beira da cama – o que irritava profundamente o japonês – e sentou ao seu lado. Aquele olhar vazio de algumas horas atrás havia desaparecido por completo, deixando aquele Cavallone sorridente e preocupado no lugar de sempre.

"Você está se sentindo bem, Kyouya?"

No lugar de quem cuidava de uma nuvem muito, muito carregada.

"Não."

Que zunia quando devia dar lugar ao pouquinho mais de sol, por mais difícil que fosse.

"É melhor você comer alguma coisa, eu sempre acordo com muita fome quando..."

"Você nunca vai parar com isso?"

Que olhava com raiva, ao invés de dizer "eu te amo".

"Kyouya, eu..."

"Eu sei que você... que eu cansei você. Eu não sou idiota, Dino... mas... o que é que eu faço com isso?"

Que ao contrário de toda nuvem, simplesmente não sabe passar.

Não daquele céu loiro e tão desajeitado.

"Então, não me canse mais. Tente também um pouco, Kyouya." O italiano recostou sua cabeça sobre a sua, respirando fundo. "Eu não estou cansado de você, e eu nunca vou estar. Eu só estou cansado de tentar sozinho."

"Eu não sei fazer isso."

"Continue tentando."

"Da última vez que eu tentei agradar você, Cavallone, paramos no meio de um hotel na beira da estrada em algum lugar da Rússia... no meio do gelo e do nada. E você me fez questão de lembrar o quanto odeia o frio."

"Continue tentando, Kyouya."

"Você ficou doente por duas semanas depois, seu cavalo."

"Mas eu continuei tentando."

"Eu... não vou naquelas festas idiotas que você gosta."

"Bom, isso você não pode me culpar por tentar sempre!"

"Estou falando sério! Quando você cansar de novo eu..."

"Você vai estar na minha frente, tentando."

Dino sorriu um daqueles sorrisos largos e ensolarados, fazendo Hibari resmungar novamente. A batida na porta anunciava que Kusakabe e Romário já haviam providenciado um café da manhã. Estava com fome mesmo, decidiu se levantar e vestiu o roupão sobre o pijama.

Enquanto o italiano saía do quarto para conversar com os dois subordinados, Hibari olhou para a mesa do quarto. A garrafa vazia, o copo com gelo transformado em água. Ele pensou, que talvez fosse tempo de colocar um segundo copo no quarto.

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OWARI

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uma insônia pela metade e dois caps num strike só. ahn... ok.

have fun, RR, go go. XD

T.K. 21/12/2010