Título: Memórias Esquecidas

Autoria: FireKai

Género: Yaoi, não gosta, não leia.

Casal: Seto Kaiba e Joey Wheeler

Número Total de Capítulos: 3

Aviso: Yu-gi-oh e as suas personagens não me pertencem

Aviso 2: Seto Kaiba está OOC nesta história, devido à perda de memória

Sumário: Yaoi, Seto x Joey. Seto perde a memória. Joey acaba por passar bastante tempo com Seto depois disso e acaba por descobrir um Seto bastante diferente, agora sem as suas memórias. A aproximação entre os dois desencadeará novos sentimentos para ambos.

Memórias Esquecidas

Capítulo 1: Amnésia

A notícia tinha surgido no jornal diário e depois na televisão. A princípio, quem conhecia Seto Kaiba pessoalmente, duvidou da veracidade da mesma. Afinal, não seria a primeira vez que noticias falsas sobre Seto Kaiba surgiam na imprensa. Mas desta vez, era verdade. Seto Kaiba, presidente da poderosa empresa Kaiba Corporation, tinha realmente perdido a memória. A empresa quase tinha mergulhado no caos, já que o vice-presidente era apenas uma criança. Felizmente, a Kaiba Corporation tinha bons profissionais e Mokuba deu-lhes plenos poderes para tomarem comando da empresa enquanto Seto estivesse a recuperar.

As teorias do que acontecera variavam de pessoa para pessoa, pois uma pessoa contava de uma maneira e depois outra acrescentava algo. Em unanimidade tinham a indicação de que Seto Kaiba batera com a cabeça com muita força e, quando recuperara os sentidos, não se lembrava de nada da sua vida. O incidente tinha acontecido há três dias e depois de ter passado dois deles no hospital, Mokuba decidiu levar o irmão de volta à mansão de ambos.

Nesse dia em particular, Yugi, Téa, Tristan e Joey tinham sido convidados por Mokuba para irem visitar Seto à mansão. A principio, todos tinham hesitado, mas acabaram por concordar, por Mokuba e não propriamente por Seto, que nunca tinha sido muito simpático para nenhum deles, principalmente para Joey. Depois de passarem pelo portão de alta segurança, o grupo caminhou até à porta da frente da mansão.

"Como é que estará o Kaiba?" perguntou Yugi. "Ter perdido a memória não deve ser nada fácil."

"Um Kaiba amnésico sempre é capaz de ser melhor do que um Kaiba com memória." disse Joey. "Vamos visitá-lo, mas temos de demorar pouco tempo. Não estou para o aturar com os seus insultos."

"Joey, o Kaiba perdeu a memória. Não há-de lembrar-se de ti, nem de nenhum de nós, portanto, não te há-de insultar." disse Téa.

"Hum… tens razão." disse Joey, sorrindo de seguida. "Ah, assim até é capaz de ser interessante…"

Joey pensava nesse momento que, já que Seto Kaiba perdera a memória, talvez fosse divertido dizer-lhe mentiras, para o confundir. Seria uma espécie de vingança pessoal pela maneira como Kaiba o tratava na maioria das situações. Ao chegarem à porta da mansão, ela abriu-se, revelando um mordomo aperaltado, que mandou o grupo entrar. Depois de fechar a porta, pediu-lhes para o seguirem. O grupo, que não estivera ainda na mansão dos irmãos Kaiba, olhou à sua volta, enquanto caminhavam.

A mansão, como já esperavam, apresentava decoração bastante cara. Móveis, quadros, vasos e todo o tipo de decorações preenchiam o corredor por onde caminhavam, seguindo o mordomo. Joey pensou que provavelmente qualquer um daqueles vasos valeria mais do que o salário anual de um trabalhador comum. Pouco depois, o mordomo abriu uma porta à esquerda e todos entraram na sala de estar, que era espaçosa e bem iluminada, com uma grande lareira e sofás aconchegantes.

"Menino Mokuba, senhor Kaiba, chegaram os convidados de quem estavam à espera." anunciou o mordomo.

"Obrigado Travers. Podes retirar-te." disse Mokuba.

O mordomo acenou afirmativamente e saiu da sala, fechando a porta atrás de si. Mokuba e Seto estavam sentados no sofá da sala. Os outros aproximaram-se, sem saberem exactamente o que dizer a Seto. Seto, apesar da sua aparência exterior ser a mesma, o mesmo cabelo, os mesmos olhos, emanava uma energia muito diferente da habitual. O seu ar ameaçador e autoritário tinha desaparecido e os seus olhos não transmitiam qualquer tipo de frieza. Parecia apenas confuso. Afinal, quem eram aquelas pessoas que apareciam agora? Mokuba tinha-lhe dito que eram uns amigos, mas não reconhecia qualquer um deles.

"Obrigado por terem vindo." disse Mokuba, sorrindo ao grupo. "O Seto não vos reconhecerá agora, mas eu apresento-vos."

"Eles são nossos amigos, não é Mokuba?" perguntou Seto, olhando para o irmão.

"Quer dizer, amigos não é bem a palavra correcta." começou Joey por dizer. "Amigos de Seto Kaiba não é mesmo a expressão correcta."

"Joey, pára com isso." disse Téa, dando-lhe um encontrão.

"O que foi? Kaiba, olha, eles não são propriamente teus amigos. Conhecidos, vá lá. Mas eu é que sou mesmo teu amigo. Aliás, o teu melhor amigo. Somos super chegados." mentiu Joey, aproximando-se e sentando-se no sofá ao lado de Seto e Mokuba.

"Joey…" começou Mokuba, mas Joey não o deixou falar.

"Claro que não te deves lembrar de mim, mas o companheirismo que tínhamos há-de ressurgir, com certeza." disse Joey, continuando a sorrir. "E hás-de lembrar-te de tudo. Toda a gente espera que isso aconteça, porque toda a gente te adora. És super popular. O cúmulo da simpatia, digo eu."

"A sério?" perguntou Seto, confuso. "Hum… pois, não me lembro de nada, mas fico contente por ser uma pessoa simpática, ao que parece."

Téa, Yugi e Mokuba fulminaram Joey com o olhar. Tristan escondeu um sorriso, perante o que o amigo estava a fazer. Joey continuou a sorrir, seguindo com a sua ideia. Agora tinha convencido o poderoso Seto Kaiba, neste momento sem memória, de que era o seu melhor amigo e de que Seto era uma pessoa simpática. Joey pensou que a experiência estava a ser engraçada. Seto gostava de manipular os outros. Agora era Joey que o poderia manipular e divertir-se um pouco.

"O Mokuba tem-me dito pouco de como eu era." disse Seto. "Nem sabia que era irmão dele até ele me dizer e mostrar fotografias. Considerando que fisicamente somos totalmente diferentes, nunca teria adivinhado."

"Lá isso é verdade." concordou Tristan.

"Como é que eu era exactamente?" perguntou Seto, olhando para Joey. "Disseste que eu era simpático e que mais?"

"Oh, há tanta coisa para dizer…" começou Joey.

"Pois, mas o Seto deve lembrar-se por si próprio." disse Mokuba, levantando-se e aproximando-se de Joey. Lançou-lhe um olhar frio. "Mas nem fiz as apresentações. Seto, aquele é o Yugi, a Téa e o Tristan. Este é o Joey…"

"Joey Wheeler. O teu melhor amigo." disse Joey, sorrindo a Seto. "Somos inseparáveis."

"Fico feliz de ter um amigo com quem me dê muito bem. Seria muito constrangedor se descobrisse que eu era uma pessoa fria e sem amigos nenhuns."

A sala mergulhou num súbito silêncio. Nem mesmo Joey disse nada. A verdade é que Seto era mesmo uma pessoa fria sem qualquer amigo. Felizmente, não se lembrava do facto.

"Porque é que ninguém diz nada?" perguntou Seto.

"Ah, estávamos só a pensar que ainda bem que não é como estás a dizer." disse Mokuba. "Tens aqui o Joey como teu melhor amigo e o Yugi e os outros também são teus… mais ou menos amigos."

Joey lançou um olhar a Mokuba e ele retribuiu o olhar. Pouco depois, Mokuba fez sinal a Joey para o seguir para fora da sala, enquanto os outros se sentavam junto de Seto, tentando ter uma conversa, mas sem revelar grande coisa sobre o passado de Seto, pois percebiam que isso teria um impacto negativo nele.

"Joey, tu não devias ter dito ao Seto que eras amigo dele. Mentiste-lhe descaradamente." disse Mokuba, já fora da sala e com a porta fechada atrás dele e de Joey.

"O Kaiba merece que eu goze um pouco com ele, quando também tenta manipular toda a gente. Agora, estive eu a enganá-lo. Mas tu aproveitaste o que eu disse, para dizeres ao Kaiba que tinha amigos. Também lhe estás a mentir."

"É verdade, mas para o proteger. Eu tenho tentado dizer pouca coisa ao Seto, primeiro porque os médicos acham que ele deve recuperar por si próprio, mas também porque, se lhe disser que a maioria das pessoas não gostava dele e que não tem amigos, ele ficará bastante triste." disse Mokuba.

"Seto Kaiba, triste por não ter amigos. Enfim, sem a memória, penso que é possível. Se tivesse a sua memória de volta, não se importaria minimamente."

"Pois, mas não tem. Agora, como tu te estás a fazer passar pelo melhor amigo dele, então comporta-te como tal. Preciso da tua ajuda. É melhor o Seto ficar na mansão e não sair para a rua. Sabe-se lá o que as pessoas diriam se se aproximassem dele ou as manchetes dos jornais… não, terá de ficar aqui, pelo menos por agora, sem sair da mansão." disse Mokuba. "Portanto, preciso da tua ajuda. Tens de o vir visitar e comportar-te como o seu melhor amigo."

"O quê? Estás doido? Eu, a comportar-me como o melhor amigo do Kaiba? Isso é ridículo. Apenas disse aquilo para me divertir um pouco. Não estava a falar a sério."

"Pois, mas disseste que eras o melhor amigo dele. Agora, o Seto acredita que isso é verdade e ficou contente. Joey, por favor, eu preciso de ajuda. Até o meu irmão recuperar, não queria que ele ficasse só e percebesse logo que não tem amigos." disse Mokuba. "Eu sei que ele foi mau para ti no passado, antes de perder a memória, mas tu não és igual a ele, não é verdade? Não és capaz de ser generoso e dares-lhe uma oportunidade agora, por favor?"

"Hum… Mokuba, estás a pedir demasiado. E se ele recupera logo a memória? Vai ficar aborrecido de me ter tido por perto. Já sabes bem como é o teu irmão."

"Talvez haja a possibilidade de vocês ficarem mesmo amigos. Imagina que se tornam próximos e quando ele recuperar a memória, não se há-de esquecer do que aconteceu. Até pode ser que o meu irmão se torne melhor pessoa…"

"Mokuba, podes ir sonhando, mas não se vai tornar verdade. Mas pronto, eu estou disposto, por ti e não pelo Kaiba, que não merece, a fazer-me passar por amigo dele. Isto, uma vez. Se correr tudo bem, pensarei na hipótese de aparecer mais vezes por aqui. Mas isto se correr bem. Se, mesmo sem memória, o Kaiba se lembrar de ter um ataque de mau génio, deixo de fazer esforços para o aturar."

"Obrigado por ires fazer isto, Joey. Vais ver que vai correr tudo bem."

Memórias Esquecidas

No dia seguinte, Joey foi visitar a mansão à tarde. Felizmente estava nas férias de Verão, pelo que não teria de se preocupar com a escola, nem com os estudos e tinha bastante tempo livre. O mordomo abriu-lhe a porta e conduziu Joey até à biblioteca, onde Seto se encontrava, a ver alguns livros.

"Olá Joey, ainda bem que vieste." disse Seto, sorrindo. "Estava a sentir-me um pouco só."

Para Joey, era bastante estranho ver Seto a sorrir. Apesar de tudo, não era uma visão nada desagradável. Seto ficava muito melhor a sorrir do que se estivesse sério. Os seus gostos de vestuário também estavam mais simples, já que agora não usava o seu longo casaco. Por fim, Joey também estranhava o facto de Seto o estar a tratar pelo primeiro nome, mas afinal, ele pensava que eles eram próximos, pelo que fazia sentido.

"O que estás a fazer?" perguntou Joey, aproximando-se de Seto.

"Estava a ver alguns livros. Aparentemente, eu gostava de ler, pelo que o Mokuba disse. Mas olho para os livros e penso, será que já os li a todos? Saberia alguma história de cor? Agora não me lembro de nada." disse Seto. "A minha cabeça é um vazio enorme e isso deixa-me angustiado. E se eu nunca mais recuperar a memória? Só restará sempre o vazio?"

"Ei, calma Kaiba. Não entres em desespero. Perdeste a memória há muito pouco tempo, mas hás-de recuperá-la, de certeza. Até lá, não vale a pena estares para aí a lamentar-te, porque não ajuda em nada." disse Joey, tentando soar positivo.

"Talvez tenhas razão, mas isto de perder a memória e o Mokuba não me deixar usar o computador, nem sair da mansão, não ajuda muito. O que é que eu hei-de fazer aqui? E porque é que me estás a tratar pelo meu último nome? Devias tratar-me por Seto, já que somos os melhores amigos, não é verdade?"

"Ah, sim, claro… hum, Seto."

Também era bastante estranho estar a tratar Seto pelo seu primeiro nome. Apenas Mokuba faria isso. No entanto, logo após o ter chamado pelo primeiro nome, Seto sorriu e Joey não conseguiu evitar sorrir de volta. Era bastante melhor ter um Seto sorridente do que um que o insultava.

"Então, Seto, eu sobre livros não sou mesmo a melhor pessoa para te dar conselhos, mas para passar o tempo, tenho algumas ideias. Podemos jogar Duel Monsters." disse Joey. "Tu eras um óptimo jogador. Um dos melhores."

"Falas a sério?" perguntou Seto.

"Sim, é completamente verdade." respondeu Joey e não estava a mentir. "Hoje não trouxe o meu deck comigo, mas amanhã irei trazê-lo e podermos jogar."

"Não me lembro das regras, mas tenho a certeza que me ensinarás."

"Claro que sim. Amanhã ensino-te tudo."

Joey ficou surpreendido por já estar a marcar algo para o dia seguinte e por estar a gostar da companhia de Seto. Daquele Seto, sem memória e que não o tratava mal.

"Então o que fazemos hoje?" perguntou Seto.

"Podemos ver um filme. De certeza que deves ter imensos na sala, afinal, és rico."

"Sim, devo ter muitos filmes na sala. Acho que há lá uma prateleira cheia deles." disse Seto, pensativo. "Mas tu devias saber isso, não? Não costumas vir aqui a casa passar algum tempo comigo?"

"Ah, sim, mas… hum… não costumamos ver muitos filmes." disse Joey, mentindo na primeira parte e dizendo a verdade sobre a segunda.

"Há quanto tempo é que somos amigos, Joey?"

"Há três anos." respondeu Joey. "Logo desde que nos conhecemos, demo-nos bem."

Seto acenou com a cabeça e Joey sugeriu que fossem até à sala. Seto acenou e ambos saíram da biblioteca. Joey suspirou. Nunca fora amigo de Seto, mas já o conhecia efectivamente há três anos, por isso não estava a dizer mentiras completas.

"Porque é que me meti nisto?" pensou Joey. "Devia ter ficado calado quando vim ver o Kaiba ontem. Mas armei-me em esperto e agora deu nisto. O Kaiba sem memória é simpático, mas não gosto de ter de lhe mentir. Que estupidez! Ainda ontem achei engraçado mentir-lhe e hoje já acho mal…"

Chegados à sala, os dois rapazes encontraram vários filmes numa prateleira e escolherem ver uma comédia. Mokuba apareceu pouco depois e juntou-se a eles. Ficaram os três a ver o filme e a rir-se. Joey e Mokuba estavam surpreendidos, mas também contentes por ver Seto a rir. Não era nada que ele fizesse se tivesse a sua memória.

"Talvez esta perda de memória até não tenha sido má de todo." pensou Joey. "Afinal, o Kaiba está muito melhor assim. Mesmo muito."

Quando o filme terminou, Mokuba saltou do sofá.

"Vou dar indicações para nos trazerem um lanche." disse ele, saindo da sala.

"Ainda bem que vos tenho, a ti e ao Mokuba." disse Seto. "É triste não ter mais família. O Mokuba disse que os nossos pais tinham morrido e não temos qualquer familiar."

"Sim, é verdade." disse Joey, sabendo do facto. "Eu também tenho uma irmã mais nova. Chama-se Serenity. Tu conheceste-a, mas claro que agora não te lembras. Ela está a viver noutra cidade, com a minha mãe. Os meus pais estão separados."

"Lamento. Deve ser difícil para ti."

Joey engoliu em seco. Já tinha ultrapassado a separação dos pais há muito tempo, mas a sinceridade na voz de Seto fê-lo sentir-se ainda pior por o estar a enganar, dizendo que era seu amigo.

"Mas por outro lado." pensou Joey. "Eu estou a fazer-lhe um favor. Se ele soubesse que não tem amigos nenhuns, seria muito mau. Acho que ficaria afectado, coitado. Bolas, agora já tenho pena do Kaiba e tudo! O que se passa comigo?"

"Joey? Estás a ouvir-me?" perguntou Seto, passando uma mão à frente dos olhos de Joey.

"Ah, sim, desculpa. Fiquei pensativo." disse Joey, saindo dos seus pensamentos.

"Diz-me Joey, eu tenho dezoito anos, por isso provavelmente estava a estudar, certo?"

"Sim, é verdade. Agora estamos em férias de Verão."

"E eu era bom aluno?"

"Sim, muito bom. Tinhas sempre as notas máximas. Muita gente tinha inveja de ti por isso. Vou confessar que eu também." admitiu Joey.

"Não tens boas notas?"

"Não, nem por isso. São sempre ou más ou razoáveis."

"Lamento. Mas porque é que eu não te ajudei a estudar? Se eu tinha tão boas notas, deveria ajudar o meu melhor amigo, explicando-lhe o que não percebesse." disse Seto.

"Ah… tu andas sempre muito ocupado. Com a Kaiba Corporation e tudo o mais."

"Kaiba Corporation? O que é isso?"

Joey hesitou. Já estava a falar demais. Mokuba tinha-lhe dito que não devia revelar muito a Seto sobre a sua vida, para ele se ir lembrando aos poucos.

"A Kaiba Corporation é uma empresa. Digamos que tu, sendo muito inteligente, trabalhas para essa empresa. Mas não posso dizer-te mais ou o Mokuba é capaz de me matar."

"Gostava que não fossem tão secretos comigo." disse Seto, um pouco abatido. "Só tenho vazio na minha mente e nem me lembrei de nada até agora. Nada. Nem um simples fragmento da minha memória."

"Hás-de lembrar-te. Tem paciência. Eu… vou estar aqui para te ajudar."

Seto sorriu-lhe com sinceridade.

"Obrigado pelo apoio, Joey."

Memórias Esquecidas

No dia seguinte, tal como combinado, Joey levou o seu deck consigo. Mokuba deu a Seto o seu deck e os três foram para o terraço da mansão, que era um espaço amplo, banhado pelo sol e que no momento tinha apenas uma mesa a um canto, com cadeiras e um chapéu-de-sol. Joey e Seto posicionaram-se cada um de um lado da varanda, com um disco de duelo no braço. Mokuba ficou ao meio da varanda, a observar.

Seto não se lembrava de nada, pelo que Joey lhe foi dando indicações básicas. Considerando que mesmo assim Seto tinha dificuldades, Mokuba acabou por se aproximar dele e lhe ir dando indicações mais precisas. Em pouco tempo, os pontos de vida de Joey e Seto começaram a descer, à medida que invocavam monstros e destruíam os monstros do adversário.

"Estás a sair-te bem, Seto." disse Joey, sorrindo. "Mas eu vou vencer."

"Ah, nem pensar." disse Seto, sorrindo também. "Não vou deixar."

Olhando para Seto naquele momento, era definitivamente diferente do Seto Kaiba normal. Seto estava a divertir-se no duelo, a sorrir e tudo o mais. Joey sentia-se como se estivesse a combater com algum dos seus amigos, numa disputa amigável e interessante. Não tinha de ser algo sério com este Kaiba.

"É a tua vez, Seto." disse Mokuba, olhando para o irmão.

Seto acenou afirmativamente e tirou uma carta do baralho.

"Oh. É o Blue Eyes White Dragon." disse Seto, surpreendido.

"Lembras-te dessa carta, Sero?" perguntou Mokuba.

"Eu… tenho vagamente ideia desta carta." disse Seto. "Há um quadro no meu quarto com esta figura e acho… que esta carta era importante para mim."

"Sim, é a tua carta favorita." disse Mokuba. "Só existem três no mundo e tu tens todas elas."

"Vá lá, jogas ou não?" perguntou Joey, impaciente. "Estás com medo de perder?"

Seto virou-se para Joey e sorriu de modo desafiador, o que fez que Joey se lembrasse do velho Seto. Depois de sacrificar dois dos seus monstros, Seto conseguiu invocar o Blue Eyes White Dragon para o campo. Daí a pouco tempo, o duelo terminava.

"Inacreditável." pensou Joey. "Mesmo sem memória, venceu-me na mesma."

"Espero que não tenhas ficado zangado por teres perdido." disse Seto, aproximando-se de Joey. "Gostei muito do duelo. Teremos de repetir novamente, mais tarde."

"Claro. Quando quiseres."

"Eu gostava muito de duelos, não gostava?"

"Adoravas e parece que ainda adoras, mesmo não te lembrando de todas as regras e cartas." disse Joey.

"Eu tinha mau perder?"

"Muito. Sim, mesmo muito. Mas também é verdade que não perdias muitas vezes. Eu perdia muito mais. Não estou ao teu nível."

"Não digas isso. Foi um óptimo duelo. Tu sabes jogar muito bem. Tens de ter confiança em ti. Eu tenho."

Joey não conseguiu evitar sorrir. Seto Kaiba estava a dar-lhe apoio e a elogiá-lo. Realmente, só mesmo um Seto sem memória lhe diria aquilo. Pouco depois, os dois foram sentar-se com Mokuba na mesa que havia na varanda e uma empregada veio trazer-lhes sumos de laranja frescos.

"Porque é que os outros não voltaram cá?" perguntou Seto, olhando para Joey.

"Estão ocupados. O Yugi está a ajudar o avô na loja. Têm uma loja de cartas. A Téa está a tirar um curso de dança agora no Verão. O Tristan… bom, não tem assim grande confiança contigo." disse Joey, pensando que ele próprio também não tinha confiança com Seto.

"Então, na verdade, só tenho mesmo um único amigo?" perguntou Seto. "Não devo ser uma pessoa muito simpática."

"Seto! Tu és simpático." disse Mokuba, abanando a cabeça. "És o melhor irmão do mundo."

"Posso ser bom irmão e não ser simpático para as outras pessoas."

"A verdade é que nem sempre és muito simpático, sim. Aliás, não eras… hum… não eras sempre simpático, mas também não eras muito antipático." disse Joey, novamente com meias verdades. "Mas não te preocupes com isso agora."

Seto abanou a cabeça e bebeu o resto do seu sumo de laranja. Depois, levantou-se e caminhou até à borda da varanda, para olhar para o enorme jardim que cercava a mansão. Mokuba virou-se para Joey.

"Não devias dizer-lhe que ele não era simpático." disse Mokuba, em tom de censura.

"Mokuba, eu disse-lhe que ele nem sempre era simpático. Até fui bonzinho, porque a verdade é que nunca é simpático com ninguém." disse Joey, baixinho, para Seto não conseguir ouvir. "Quando o teu irmão recuperar a memória, não vai ficar nada satisfeito de lhe estarmos a mentir completamente."

"Não sabes isso, Joey. Além de que não quero que o Seto fique triste ou zangado se lhe dissermos a verdade. Imagina que até volta a ser o Seto frio. Um Seto frio, com falta de memória seria péssimo, até para mim." disse Mokuba. "O Seto sempre me tratou bem, mas agora não se lembra de mim. Claro que sabe que eu sou irmão dele, porque lhe disse, mas se ficar magoado, ficará com toda a gente, inclusive comigo. Não quero isso."

"Portanto, continuamos a enganá-lo."

"Não vês que ele agora sorri? Tem prazer no que faz, apesar de não ter a sua memória, o que o incomoda. Este Seto… lembra-me o meu irmão de antes. Antes de ficar obcecado pela vitória nos duelos e pelo trabalho." disse Mokuba.

"Não digas mais. Eu vou continuar a fingir ser amigo dele porque também… não está a ser mau de todo, digamos."

Nesse momento, ambos ouviram um grito e viraram-se para Seto, que estava ali perto. Seto tinha-se desequilibrado e caído para a frente. Agarrava-se agora apenas com uma mão à balaustrada da varanda. Mokuba paralisou, ao ver o irmão, prestes a cair. Se caísse, seria o seu fim. Joey reagiu de imediato, correndo para ele. Agarrou-lhe o braço e puxou com força.

"Joey, ajuda-me." pediu Seto.

"É o que estou a fazer. Não te deixo cair." disse Joey, puxando com mais força.

Seto foi puxado um pouco para cima e conseguiu colocar a outra mão sobre a balaustrada, para se equilibrar. Joey deu mais um puxão e Seto foi puxado para dentro da varanda novamente, caindo no chão. Joey estava ofegante. Seto levantou-se com dificuldade. Mokuba aproximou-se então.

"Seto, estás bem?" perguntou Mokuba, preocupado.

"Eu… sim, estou. Inclinei-me para ver melhor o canteiro de rosas e desequilibrei-me." disse Seto.

Joey aproximou-se mais, ainda um pouco ofegante.

"O que é que tinhas na cabeça? Podias ter caído e morrido! Que irresponsabilidade, Kaiba!" exclamou Joey, aborrecido.

"Desculpa, não foi por querer." disse Seto, com os seus olhos azuis um pouco apagados.

"Tem cuidado no futuro. Posso não estar aqui para te ajudar. Não queremos que te aconteça nada de mal."

Depois de dizer estas palavras, Joey surpreendeu-se ao perceber que realmente sentia o que estava a dizer. Seto já perdera a memória. Não queria que morresse também. Por seu lado, Seto ficara muito grato a Joey por o ter salvado. Num impulso, aproximou-se de Joey e abraçou-o. Joey ficou surpreso com aquela atitude e Mokuba também. No entanto, não era mau aquele abraço. Aliás, até era bastante bom.

"Desculpa ter-te preocupado. Obrigado por me teres salvado. Não me vou esquecer do que fizeste, nem mesmo que volte a perder a memória." disse Seto.

Seto acabou por quebrar o abraço e depois Mokuba abanou a cabeça.

"Acho que é melhor irmos para dentro. Chega de estarmos na varanda por hoje."

Seto e Joey acenaram afirmativamente e caminharam até à porta que dava acesso ao corredor da mansão, que os levaria de volta às outras divisões. Mal passou a porta, Seto pareceu desequilibrar-se e Joey teve de o segurar para não cair no chão.

"O que passa contigo Kaib… quer dizer, Seto?" perguntou Joey.

"Sinto-me tonto." respondeu Seto.

"Deve ser do choque de quase teres caído." disse Mokuba. "Tens de ir descansar. Vou levar-te até ao quarto."

"Deixa estar que eu levo-o, Mokuba." disse Joey. "Não tens força suficiente para o segurar se ele voltar a desequilibrar-se e quase cair."

Mokuba acabou por acenar afirmativamente. Ainda apoiado em Joey, Seto começou a andar pelo corredor. Joey deixou-se guiar pois não fazia ideia onde ficava o quarto de Seto. Nunca lá tinha entrado e Mokuba ficara para trás, pelo que não lhe podia pedir indicações. Os dois estavam nesse momento no primeiro piso da mansão. Subiram umas escadas para o segundo piso e dirigiram-se a uma porta no fundo do corredor.

"Acho que já podes soltar-me. Não vou cair agora." disse Seto.

Joey assim fez e Seto abriu a porta. Ambos entraram no quarto e Joey ficou surpreendido. O quarto era bastante grande, com duas enormes janelas que davam para uma varanda mais pequena. Joey lembrou-se de dizer logo a Seto para não se atrever a aproximar daquela varanda. O quarto estava decorado em vários tons de azul. Havia um quadro do Blue Eyes White Dragon numa parede e um grande guarda-fato noutra. A cama era bastante espaçosa, com lençóis e cobertores pretos e azuis. Uma porta dava directamente para uma casa de banho privativa.

"O teu quarto é um luxo." disse Joey.

"É muito bonito. Tenho bom gosto… ou pelo menos tinha antes de perder a memória." disse Seto. "Mas pareces surpreendido. Não tinhas já estado aqui?"

"Ah, sim, algumas vezes." mentiu Joey. "Bom, deves ir deitar-te e descansar."

"Sim. Obrigado. Podes ir então. Vemo-nos amanhã?"

"Não sei se posso…"

"Não? Eu gostava que viesses. Sentirei a tua falta se não apareceres."

Os olhos azuis de Seto pareceram cintilar. Joey acabou por acenar afirmativamente e dizer que viria no dia seguinte. Com aqueles olhos… olhando-o daquela maneira… não conseguia dizer que não. Quando Joey se preparava para deixar o quarto, Seto teve uma tontura e quase caiu. Joey teve de o amparar.

"Seto, tu não estás nada bem. Temos de chamar um médico." disse Joey.

"Não. Acho que ainda estou abalado por quase ter caído e dormi mal esta noite. Se descansar, fico bem."

Joey levou Seto até à cama e mandou-o sentar.

"Onde é que tens os pijamas guardados?" perguntou Joey.

Seto pensou uns segundos, lembrando-se de onde Mokuba lhe tinha dito que ficava a gaveta dos pijamas e de seguida apontou para uma gaveta no guarda-fato. Joey caminhou até à gaveta e abriu-a, tirando de lá um pijama azul claro. Estendeu-o a Seto.

"Vá, veste-o para te deitares."

Seto acenou afirmativamente e começou a tirar a sua roupa para vestir o pijama. Joey afastou o olhar.

"Era só o que me faltava, agora estar a ver o Seto… o Kaiba a mudar de roupa." pensou Joey.

Apesar de tentar desviar o olhar, Joey acabou por ver que Seto tinha a pele pálida. Precisava, definitivamente, de apanhar mais sol. Claro que, como passava imenso tempo a trabalhar ou a estudar, Seto não perdia tempo a apanhar banhos de sol. Joey pensou que isso seria algo que poderiam fazer no dia seguinte. Reparou também que Seto tinha um corpo bem definido. Não se lembrava de ter ouvido dizer que Seto fazia exercício físico, mas assim parecia.

Depois de Seto ter vestido o pijama, deitou-se na cama, por baixo dos lençóis e cobertores. Joey pendurou a roupa de Seto numa cadeira. Por essa altura, a porta do quarto abriu-se e Mokuba entrou.

"Ah, já estás deitado, Seto." disse Mokuba, aproximando-se da cama.

"Ele teve uma tontura e quase caiu outra vez." disse Joey, aproximando-se de Mokuba. "Se ele voltar a sentir-se mal, tens de chamar um médico."

"Assim farei."

"Não me vou voltar a sentir mal." protestou Seto.

"Fecha mas é os olhos e vê se dormes." disse Joey. "Vemo-nos amanhã à tarde."

"Está bem. Até amanhã Joey."

Mokuba e Joey saíram do quarto, fechando a porta atrás de si.

"Obrigado por tudo, Joey. Salvaste a vida do meu irmão. Não sei como te agradecer." disse Mokuba.

"Não é preciso nada, Mokuba. Agora vou indo. Amanhã volto cá. Cuida bem do teu irmão."

Joey regressou ao seu apartamento. Não havia sinal do seu pai quando chegou. Provavelmente estava algures, a beber. Joey fez o jantar, viu um pouco de televisão e de seguida foi deitar-se. Os seus sonhos foram indistintos e quando acordou no dia seguinte, já não se lembrava de nada, mas tinha sonhado com Seto a cair e ele a salvá-lo, tal como acontecera.

Memórias Esquecidas

Joey e Seto estavam estendidos em toalhas de praia, que estavam por sua vez estendidas sobre a relva verdejante do jardim. Uma parte do jardim tinha uma grande piscina. Joey já a vira ao longe, mas era mais impressionante ao perto. Como tinha pensado no dia anterior, Joey decidira que Seto tinha de apanhar banhos de sol. E assim, os dois estavam a fazer isso mesmo. Mokuba tinha dispensado estender-se ao sol e estava a nadar na piscina. Para Joey, tinha sido estranho e até um pouco embaraçoso quando Seto lhe pedira para lhe espalhar protector solar nas costas. Mas fizera-o e Seto fizera-lhe o mesmo a ele.

"O dia está realmente agradável." disse Joey. "Temos de ir dar um mergulho na piscina depois."

"Será que eu sabia nadar?" perguntou Seto.

"É uma boa pergunta. Não sei."

"Não sabes? Então, nunca te tinha convidado para vires à minha piscina?" perguntou Seto. "Em três anos de nos conhecermos? Nunca te convidei e nunca me viste a nadar ou não?"

"Ah… bom… eu disse que não sei, porque tens um estilo muito próprio de nadar. Dás aos braços, mas és um bocadinho desajeitado." mentiu Joey. Se havia coisa que Seto Kaiba não era, pelo menos quando ainda tinha a sua memória, era desajeitado. "Portanto, não sei se se pode dizer que sabias nadar."

"Ah, estou a perceber. Por um momento pensei que afinal não eras assim tão meu amigo, se nem isso sabias."

Joey riu-se nervosamente e pensou que teria de ter mais cuidado no futuro. De qualquer maneira, não poderia dar uma resposta errada a Seto sobre a sua aptidão para nadar. E se lhe dissesse que ele era bom nadador e fosse exactamente o contrário e Seto se afogasse? Joey não queria nada disso.

Os dois ficaram mais algum tempo ao sol e Joey não conseguiu deixar de lançar olhares a Seto. Apenas vestindo uns calções de banho azuis, Seto ficava…

"Mas que raio estou eu a pensar?" pensou Joey, abanando a cabeça. "Porque é que eu estou a olhar assim para ele? Não é como se eu estivesse interessado no Kaiba. Não, que estupidez."

Pouco depois, Seto e Joey foram dar um mergulho na piscina. Seto nadava muito bem.

"Parece que fiquei a nadar melhor sem memória." disse Seto, sorrindo.

"Pois, parece que sim."

Mokuba divertiu-se a lançar água aos dois. Já Joey, deu por si a olhar para Seto, a nadar e depois a sorrir-lhe. Sentiu um nó no estômago e desviou o olhar, começando a nadar para longe.

"Estou a passar demasiado tempo com ele. É só isso, mais nada. Também olho para os meus outros amigos, o Yugi, a Téa, o Tristan… se bem que… não quando eles estão meio despidos. Ok, tenho de afastar isto da minha cabeça." pensou Joey.

Quando Joey se preparava para sair da mansão e ir embora, pensou que deveria não aparecer lá no dia seguinte. Estava realmente a passar demasiado tempo com os irmãos Kaiba, principalmente com Seto.

"Voltas amanhã? Podemos ver outro filme e fazer mais um duelo." disse Seto. "Voltas, não voltas?"

E Joey não conseguiu dizer que não. Nessa noite, quando se deitou, sonhou novamente. Porém, desta vez lembrou-se do que tinha sonhado. Ele e Seto, na piscina, a nadar e a rir. E depois, Seto a aproximar-se e a beijá-lo. Joey acordou ofegante.

"Não pode ser." pensou Joey. "Agora até estou a sonhar com ele. Mas o que é isto? Eu não posso estar seriamente interessado no Kaiba. Ele era um inimigo… bom, mais ou menos. Sempre me tratou mal… mas agora que perdeu a memória… eu estou confuso, é isso. Ver o Kaiba tão diferente deu-me a volta à cabeça, mas este não é o verdadeiro Kaiba. Tenho de me mentalizar disso."

E assim termina o primeiro capítulo desta fic. No próximo capítulo, a história continua. Até lá.