Um Minuto
Por Mili Black
Estavam lá, apenas os dois.
Podia-se ouvir o barulho que a máquina que mantinha aquela pessoa com vida.
Eram bips incensáveis que agonizava o rapaz do fundo da sua alma. Era um som tão frio, opaco, sem vida... Parecia querer o dar desesperança, desilusão, intimidá-lo a jogar a si mesmo fora e desistir de tudo. E não somente, mas, principalmente pelo fato dela estar ali... o olhando com tanta emoção.
- Ichigo... - Uma mulher se pronunciou.
Ela era belíssima, aos cansados olhos dele. Cabelos negros curtos, do qual uma franja caía levemente entre os olhos. Pele clara, e olhos que eram tão azuis quanto o céu da noite. Seu nome era Rukia.
Sorria-lhe, tentando o confortar, mas ele já sabia o que iria acontecer, e mesmo que com medo e entristecido, estava conformado.
Afinal, não podia fazer muita coisa deitado, com vários fios enfiados em suas veias.
Mas na verdade, isso não importava tanto, quando ele a via sorrir. Era um sorriso tão genuíno, tão puro e meigo, como o mesmo sorriso de cinqüenta anos atrás... Ele nunca esquecera, de fato, lábios tão bonitos e macios feitos os dela.
Ela mesmo com esse sorriso que demonstrava tanta alegria, seus olhos demonstram ao contrário, talvez pela circunstância irônica que se encontravam.
Rukia lhe prometeu que nunca mais o veria. Uma promessa silenciosa, mas que ao mesmo tempo, os dois consentiram. Apenas um até mais nunca, nunca significaria que eles logo se veriam.
Primeiramente, dezessete meses... Preferira contar assim, parecia menos tempo. Depois, trinta meses... E os meses foram passando, e se tornaram anos... E aqui está.
Ele não gostava desse corpo. Velho, sem funcionalidade alguma... Daria tudo para ter o corpo de vários anos atrás, para poder abraçá-la e dizer que a amava, pois agora de seu orgulho só lhe restavam amarguras, por não ter dado o braço a torcer e tê-la conseguido para si.
A morena o olhava dessa vez, com os olhos marejados, e ele só podia observar... Porque nem forças para falar, tinha.
Ela não deve estar acreditando em como envelheci, pensou ele com ironia. E de fato, nem ele acreditara. Cinqüenta anos para ele eram alguns meses para ela...
- Me desculpe. – Escutara-a falar.
Mas agora, o que lhe restava a dizer? O que ele podia dizer...?
Como dizer, já que não conseguia falar?
- Eu devia ter tentado por nós dois, não é? Mas agora...
... Agora já era tarde. Mesmo que parecesse tudo a mesma coisa vendo-a dessa forma, com as mesmas vestes negras de sempre, com a zampakutou embainhada na lateral de seu corpo, infelizmente, não era a mesma coisa.
Viu lágrimas caírem dos olhos azuis... Nunca vira águas mais cristalinas.
Ele estava tão casado agora... Cansado dessa situação... Cansado de tentar mudar algo que não podia.
Só precisava de um minuto para descansar.
Fechou os olhos castanhos pela última vez.
Os bips que a máquina dava foram substituídos por apenas um. Uniforme, constante.
Rukia observou tudo, estática, sem nem chegar perto, nem fazer nada.
Ela podia, naquela hora, em vez de virar de costas e partir, dar-lo a mão e caminhar junto a ele.
Mas agora... Depois de tantos anos...
A sala fora invadida de médicos e enfermeiros, desesperados, que começaram a tentar reanimar o coração parado do pobre velho que estava deitado na maca.
O que ela podia fazer?
N/A: E aí, o que acharam? OMG, faz tanto tempo, tanto tempo memso que não escrevo algo IchiRuki... Estava até comentando com a Agatha que estava com saudades, mas agora eu tentei algo e está aí. É baseado no final do capítulo 423. Espero que tenham gostado de verdade. Não foi revisado nem betado.
Comentários, Pls! Beijos.