Gerações

•••

Levantou os olhos e não se surpreendeu ao vê-la. Lá estava ela, bonita e sorridente. Queria ser igual a ela. Gostaria que quando crescesse tivesse a mesma elegância e o mesmo esplendor de Druella Black.

Em sua mente infantil, Bellatrix Black só queria ter a mãe. Não importava o pai, as irmãzinhas ou quem mais fosse. Queria ter atenção dela toda presa em si; queria que ela lesse para ela antes de dormir, que a ensinasse a se portar, a comer, que conversassem e andassem de mãos dadas. Druella Black era seu ídolo e a criança não se importava em adorá-lo.

Uma coisa que sempre admirou em sua mãe era a capacidade dela de permanecer sozinha, horas e horas, sem ficar agoniada ou se sentir cansada de sua própria companhia. Talvez, pensou certa vez, ela se olhasse no espelho e gostasse do que havia visto. Gostava tanto de si mesma que não se importava de ficar sozinha. Visse o quanto era perfeita.

Mas a criança não permaneceu assim para sempre. O que antes era visto como qualidades passou a ter olhos de defeitos. Bellatrix percebia inúmeros deles em sua mãe.

Era sua apatia, seu descaso, seu cansaço sem motivos. O amor que ela parecia nutrir por seu marido agora era visto como uma dependência repugnante, que ela não entendia nem fazia questão de entender.

Até que um dia já era tarde demais para perguntar "por que". Certo dia ela estava sentada na mesma cadeira de sempre, apática, os olhos fixos na parede. Não respondia aos chamados e sua pele estava fria ao toque.

Ela estava morta.


E vendo-a ali, deitada sobre o caixão que guardaria seu repouso eterno, Bellatrix sentiu-se triste de uma forma que jamais se sentiria novamente. Ela afundava por dentro.

O tempo passou novamente, e ela já não era a jovem Bellatrix. Ela já era uma adulta, e não perderia seu tempo sofrendo por alguém que já tinha morrido. Tinha coisas mais importantes a fazer. O tempo era precioso demais para ser gasto à toa. Ela tinha alguém a quem adorar agora.

E esse alguém um dia a deixou, e ela não se importou em partir para procurá-lo, sem ao menos questionar se deveria ou não fazê-lo.

Dentro da gelada Azkaban, Bellatrix pensou em sua mãe. Estava tão sozinha quanto ela, e, mesmo que não percebesse, sua solidão fora opcional.

Um dia ela saíra daquele ligar, voltou para seu lorde. Mas era como se seu esforço por ele – seus anos de devoção, presa em um lugar que tinha arrancado toda sua esperança – não valesse nada.

Mas ela continuou devota, ela continuou o amando – ou, ao menos, pensava que isso era amor.

Talvez ela não percebesse – algo comum tratando-se de Bellatrix – mas estava cometendo os mesmos erros que sua mãe. Os defeitos dela eram os seus, e Bellatrix nem ao menos se dera conta disso.

Enquanto morria por seu mestre, pensou em sua mãe. Pensou na maneira como, apesar de tudo, ela sempre havia retribuído seu amor. Talvez não com a mesma intensidade, mas aquela fora a única pessoa que a amou sem esperar nada em troca, que a amou simplesmente por ela.

E a única que recebeu o amor puro e verdadeiro de Bellatrix.


Então... um pouquinho de drama. Eu gostei um pouco da fic, gosto muito de escrever relações entre a Família Black :D

So... se você gostou, comente! Bye.