Bom, fic estranha escrita para a proposta de um challenge. Espero que vocês gostem e... comentem.


Estava frio. Frio demais para tentar fazer outra coisa que não fosse se aquecer. Frio demais para o perfume de cheiro cítrico que ela usava ser notado. Talvez por isso ela havia passado demais.

O jovem de cabelos negros se apertou ainda mais em uma moça, de cabelos da mesma cor que os seus. Tudo na vã tentativa de se aquecer. Ela abriu os lábios, pintados de vermelho, em um sorriso.

- Você tem certeza de que seu marido não vai chegar agora?

- Claro que não. Por quê, medo do que ele poderia fazer?

- Faz-me rir, Bellatrix. Só prefiro evitar confrontos diretos enquanto eu estou despreparado.

Ela abriu os lábios mais ainda, dessa vez exibindo os dentes grandes. Era melhor não provocá-lo, pois seria bem capaz que ele fosse embora. Era raro ter Sirius tão perto de si, e mesmo que jamais fosse admitir em voz alta, gostava disso.

- Então, você passou tanto perfume hoje só para eu ir embora mais cedo, ou resolveu competir com o cheiro das flores aqui fora?

Ela riu. Depois disso, ficaram um longo tempo em silêncio.

O céu que observavam tinha pouquíssimas estrelas, e Bellatrix não conseguia reconhecer nenhuma. Nunca fora boa em desvendar os pontos brilhantes no céu, não quando não tivesse outra estrela como referência.

Sirius, por outro lado, parecia saber qual era qual, como se fosse íntimo delas. Por um momento pensou nas estrelas, tão distantes uma das outras, tão sozinhas. Lembrava-lhe Sirius.

Mas ela, sinceramente, não se importava muito. Estar com ele era uma necessidade; não física nem sentimental, mas algo necessário para sentir-se melhor. Sirius, homem de poucas palavras quando perto dela, parecia notar os detalhes. Detalhes como a intensidade de seu perfume. Detalhes notados que a faziam sentir-se melhor.

Gostava de ser percebida por ele: era uma forma de aplacar a desconexão com o resto do mundo. Pensava diferente demais, queria demais. Isso a fazia se sobressair, a fazia ser diferente. E nada que destoa do resto é bem visto.

Ela sentia-se distante.

Ideais, desejos, necessidades... isso a afastava mais e mais das pessoa com que convivia.

Exceto dele.

Olhou para o rosto de Sirius. Ele tinha os olhos fechados, como se estivesse pensando.

Ela sabia que ele estava, e gostaria de saber no que ele pensava.

Seria o mesmo que ela? Ela tinha a impressão de que, mesmo estando com ele, a sensação de vazio, de não ter nada por perto – como as estrelas, isoladas no céu - permanecia.

Ela concluiu que o problema era a forma que se sentiam com o resto das pessoas. Estar perto dele deveria ser uma forma de conexão com o mundo, com alguém. Não era, não com alguém que estava sempre tão... fora de lugar.

Sirius nunca estava presente, não em espírito. Isso a fazia sentir-se ainda mais sozinha.

Espantou-se com a confusão do que sentia. O melhor a fazer seria aproveitar o tempo que tinha com ele. O tempo em que estariam próximos um do outro, de um jeito que jamais estariam se não fosse fisicamente.

Estavam fora de sintonia. Ou talvez na mesma. Talvez fossem parecidos demais. Pessoas parecidas demais não ajudam umas às outras.

- Vamos para dentro – ela chamou.

Sirius abriu os olhos lentamente, seu foco perdido em algum lugar longe dali...

- Eu gosto do seu perfume.