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CAPÍTULO UM

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Kagome aterrou de cabeça na almofada fofa da sua cama. O rosto estava marcado pelas trilhas secas de lágrimas, os olhos azuis estavam inchados e vermelhos e o nariz estava congestionado. Céus! Nunca chorara tanto como naquela tarde! Até então, sua vida sempre correra bem, à excepção de algumas notas baixas a matemática ou os raspanetes da mãe por não ter arrumado o quarto, mas aquilo? Era mais do que ela podia aguentar. Era nova demais para arcar com as consequências de uma bebedeira e um jogo de cartas que ocorreram há mais de doze anos.

Quase sem forças, conseguiu levantar o rosto e procurou pelo celular, pegou nele e marcou o número de Sango, sua melhor amiga.

- Alô?

- Sango… preciso da sua ajuda, por favor… - sussurrou.

- Kagome, é você? Está chorando?

- Preciso de você, amiga…

- Aconteceu alguma coisa? Você está em casa? – Sango quase gritava em seu ouvido. – Não saia daí! Deite-se no chão e não se mexa. No caso de sentir uma tosse forte, levante um braço e inspire muitas vezes! Eu estou a caminho! Se bateu com a cabeça não adormeça, porque pode entrar em coma!

Se Kagome pudesse, estaria gargalhando da aflição da amiga, Sango estudara primeiros socorros e por isso sabia todas aquelas coisas.

Pousou o celular e rolou na cama até ficar de barriga para cima. Como sua vida tinha chegado a este ponto? Não estava preparada! Era como um sonho. Daqueles em que se está correndo feliz da vida numa pradaria verde e solarenga, e, de repente, se está pendurada num penhasco imenso e escuro.

Kagome fechou os olhos e dormitou uns minutos, antes de Sango chegar.

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- Kagome… - Sango abanava o ombro da amiga. – Kagome, acorda!

Kagome abriu um olho e depois o outro, e então Sango viu seus olhos avermelhados e inchados. – Sango, já chegou?

- Eu demorei um pouco, me desculpe. Estamos perto do Natal e há muita gente nas ruas fazendo compras. – ela se sentou na beira da cama. - Você adormeceu, até porque eu demorei uns bons vinte e cinco minutos. – Sango morava a apenas dez minutos de Kagome. – E eu cheguei aqui toda afoita, pensando no pior e você aí, dormindo! – ralhou.

Sango, tal como Kagome, tinha catorze anos, tinha cabelos castanhos compridos e lisos, geralmente apanhados num rabo-de-cavalo alto, olhos chocolate e era espevitada.

- Sango, aconteceu uma coisa horrível! – Kagome se sentou na cama e começou a chorar ainda mais.

- O quê? Seus gatos morreram? Sua cadela morreu de velhice?

- Não! Não tem nada a ver com meus animais!

- Sua mãe descobriu que andou tirando dinheiro do seu cofre para comprar romances sensuais?

- Não!

- Então?

– Eu vou-me casar!

Um silêncio tremendo abateu o quarto, as duas olhavam-se fixamente. Sango procurava algo no olhar dela que provasse que estava a mentir, e só depois, quando percebeu que era verdade, tentou assimilar as informações. Juntou todas as peças, somou dois mais dois e fez-se um 'click'.

- Você… vai… casar… - falou pausadamente. Fez mais uns minutos de silêncio e depois riu. – Agora a sério! Conte a verdade! – deu uma palmada no ombro de Kagome, que chorava mais ainda e a olhava nos olhos. – Voce só tem catorze, Kagome! Nem namorado tem! Vai, não brinca comigo!

- Mas eu estou falando a verdade, merda! Acha que eu brincaria com um assunto desses? Ele existe! Se chama Miroku Taisho e vem aqui no Natal! Minha mãe diz que é para uma 'apresentação oficial', ela quer que eu exclua das minhas desculpas a do 'Não-me-vou-casar-com-alguém-que-nunca-vi'. – Kagome fez aspas com os dedos. – Olhe! – pegou numa carta e tirou de dentro uma fotografia. – Veja como ele é!

Sango pegou no papel e vislumbrou a figura de corpo inteiro de um homem bastante bonito. Tinha cabelos negros, ou castanho-escuro, não sabia, olhos azul safira e um porte atlético. – Não vejo qual é o GRANDE problema de casar com esse pão. Ele é bem bonito! Deve ter uns quê, vinte?

- Oh, eu sei, mas é que… - Kagome guardou a foto e atirou o envelope para o lixo. – Eu não quero casar, Sango. É uma responsabilidade enorme! Sabe como eu sou lamechas, quero casar por amor e não dessa maneira.

- Seu pai sabe disso?

- Foi ele quem causou isso! – gritou. Já que estavam sozinhas e estavam, sentia-se livre para gritar até explodir. O bom disso tudo é que não tinha vizinhos. – Meu pai apanhou uma porre e fez um jogo de cartas com a família Taisho. Quando ficou sem dinheiro, apostou a própria filha e perdeu! – sentou-se ao lado de Sango, sentindo a mão dela em seu ombro, e baixou a cabeça. – Eu só tinha dois anos, Sango, dois anos! Agora o chefe da família quer que eu case com um dos filhos dele.

- Que legal!

Kagome olhou para ela com cara de parva. – Você ouviu o que acabei de contar?

- Kagome, alguém tem de enfrentar isso com ânimo leve, não acha? Se você está aí, se desabado em lágrimas, eu tenho que ser forte por você!

- Não quer se casar por mim também?

- Com um homem desses eu não me importava, acredite, mas minha mãe era capaz de não gostar muito da ideia. – sorriu. – Vá, Kagome! Nunca a tinha visto assim tão em baixo! Se anime! Há coisas bem piores!

- Como o quê? – limpou as lágrimas com as costas da mão.

- A fome em África, o aquecimento global, a extinção dos ursos polares, os níveis elevados de dióxido de carbono, o meu caso secreto com o filho da mãe do Kuranosuke, sei lá… tanta coisa! – ela contava as catástrofes pelos dedos.

- Seu caso foi apenas meia dúzia de beijos, nada mais, Sango.

- Mas ele tinha namorada e nem pensou em acabar com ela para ficar comigo! – ergueu uma sobrancelha. - Estou tão arrependida! Além disso, eu dei uma murraça nele e isso me faz muito orgulhosa!

Kagome esboçou um sorriso. – Ah, Sango, você nunca me deixa ter o gostinho de me queixar, pois não?

- Não. – sorriu. – Vá, vai lavar essa cara, pegue em seu dinheiro e vamos fazer umas compras. Sua mãe não estava quando entrei, por isso não acho que se vá preocupar com isso.

Kagome foi para o banheiro e falou de lá. – Minha mãe foi fazer compras também. Ela quer que a casa esteja na perfeição quando a família Taisho chegar. Além disso, não estava com cabeça para me ouvir queixar ou chorar.

- Sua mãe concorda com o que seu pai fez? – Sango pegou num suporte de fotografias onde estava uma foto dela e de Kagome, abraçadas. Ela tinha um arco preto na cabeça e estava com um olho fechado por causa do sol, estava sentada no chão, encostada à parede de tijolos do ginásio da escola. Kagome estava abraçada a ela e tinha uma maçã verde na mão. Aquela foto tinha sido tirada no ano anterior, num dia em que tinham almoçado na cantina da escola. – Quer dizer, ela não protestou?

- Ela já sabe faz tempo. A princípio não concordou, pelo que me disse, mas depois não tinha como dar a volta. – Kagome apareceu no quarto já com o rosto lavado e com rímel nas pestanas longas e negras. Ela nunca atraíra a atenção de rapazes, nunca tivera namorado e, além disso, era daquelas que eram gozadas pelos populares da escola. Ela e Sango nunca ligaram nenhuma, apesar de, algumas vezes, se tentarem integrar no grupo, mas tinham suas boas e fiéis amigas do peito. Como era o caso de Eri, Yuka e Ayume. Aliás, Kagome tinha um pequeno problema com o peso e usava óculos. – Vamos?

- Você já sabe quando é o casamento? – falou ao pegar sua bolsa e saindo em direcção às escadas.

- A data certa ainda não está marcada, mas vai ser quando eu fizer dezanove anos, creio eu. – ela chegou à sala e deixou um recado em cima da mesa. – Acho que, até lá, posso esquecer um pouco isso, não acha?

- Vai viver ao máximo até colocar o pé no altar?

Kagome parou ao abrir a porta, para saírem, e olhou para ela. – Sim. Até aí. – ambas riram e fecharam a porta.

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A senhora Higurashi entrou em casa e pousou as chaves em cima da mesa da cozinha. Foi até ao bengaleiro da sala pousar o casaco, tirou os sapatos e calçou umas meias quentes e umas pantufas, e foi buscar uns sacos de compras de Natal para pôr na mesa grande da sala.

Ao passar, carregada de sacos, reparou que na mesinha pequena, perto dos sofás, havia um bilhetinho verde. Os bilhetinhos de Kagome. Ela pegou nele e leu: 'Mamãe, saí com a Sango. Eu sei que você disse para não contar nada para ninguém, mas eu sou nova demais para suportar isso sozinha sendo que você e papai não me apoiam o suficiente. Ela sabe de tudo. Estarei de volta daqui a três horas. Beijos. Kagome.'

A senhora Higurashi amaçou o bilhete junto ao peito e chorou. Será que algum dia você nos vai perdoar, filha?

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O Natal estava a dois dias de distância, a mãe de Kagome estava sempre atarefada a correr para cá e para lá, tratando para que tudo ficasse perfeito para quando a família Taisho chegasse. A casa grande e iluminada já tinha sido limpa incontáveis vezes de cima a baixo por ela. Kagome até se enjoava de tanto perfume, de tantas coisas peludas e perfumadas no banheiro, até em seu quarto não se sentia bem. Sua mãe o havia redecorado em tons vermelhos e beges para condizer com a época natalícia.

Kagome fechou o livro romântico que estava a ler, ao ver o pai à sua frente.

- Kagome, querida, acho melhor se levantar do sofá e ir se arrumar. – falou com voz meiga. Desde que contara a ela sobre a aposta, dirigia-se a ela com meiguice, para que o pudesse perdoar mais rapidamente.

- Porquê? – arrumou os óculos em cima do nariz mais comodamente. – Aconteceu alguma coisa?

- Daqui a uma hora, o avião particular da família Taisho vai aterrar e eu vou buscá-los. Acho que seria melhor e mais educado se você vier comigo também.

Kagome pousou o livro no colo e olhou para ele. – Eu posso levar a Sango comigo?

- Isso é um assunto de família, Kagome, não acho que deva…

- Por favor?

Talvez tenha sido o tom meigo e implorante na voz dela, que o fez ter uma pequena luz de esperança que ela o tivesse perdoado, que o fez concordar. – Certo, ligue para ela e diga que passamos na porta da casa dela daqui a um quarto de hora.

Kagome assentiu e subiu para o quarto. Pegou no celular e ligou para Sango. – Sango?

-Oi?

- É hoje!

- O quê? Eles já chegaram?

- Daqui a uma hora. – pegou numa blusa verde e se viu ao espelho com ela presa em baixo do queixo. – Acho que vou ter um troço!

- Ah, quem me dera estar aí para vê-lo!

- Melhor ainda! – atirou a blusa para a cama e, com a mão livre, tentou tirar a camisola de lã branca. – Convenci meu pai a te levar connosco ao aeroporto!

- O quê? Não acredito! – Sango parecia eufórica do outro lado da linha.

- Sango! Eles têm um avião particular!

- Não posso! Eles são assim tão ricos?

- Não sei, mas devem ser para ter um desses! Se arrume num instante que eu passo daqui a quinze minutos.

- Tá bom, estou te esperando!

Kagome desligou e vestiu uma blusa verde, umas calças pretas e colocou um pouco de perfume e rímel. Não queria chamar atenções, mas também não queria que pensassem que era desarranjada de todo. Soltou os cabelos negros abaixo dos ombros e colocou um gancho verde a prender a franja.

Desceu as escadas a correr e pegou um casaco preto que a fazia parecer elegante. – Papai! Já estou pronta!

O senhor Higurashi saiu do escritório com o celular no ouvido. – Sim, InuTaisho, eu e minha filha estamos a caminho…. Sim… Claro que sim… Bom, até já. – desligou e olhou Kagome. – Mas que entusiasmo! Já aceitou sua condição de noiva? Estou detectando uma paixoneta pelo Miroku?

- Seu detector está avariado. Não me apaixono por fotos. – brincou. – Eu estou no carro te esperando. – deu-lhe um beijinho estalado no rosto e saiu para a garagem.

Sakura, a mãe de Kagome, apareceu da cozinha com um enorme sorriso. – Eu não acredito no que ouvi! Tatsu, ela nem reclamou, nem fez fita! Deve estar se conformando!

- Pelos vistos… Ela não tem comentado nada com você? São mulheres, entende o quero dizer?

- Ela nunca mais falou no assunto, acho até que finge que não existe.

- Bom, mais tarde ou mais cedo ela vai aceitar… - deu um selinho na mulher e pegou nas chaves do carro. – Estaremos de volta à hora do jantar.

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Kagome e Sango pareciam duas meninas de oito anos com o rosto colado no vidro de uma montra de brinquedos. Só que o vidro era da janela do carro e a montra era o aeroporto, cheio de aviões a descolar e a aterrar.

- É a primeira vez que venho a um aeroporto! – disse Kagome com os óculos espalmados contra o vidro.

- Eu não. Venho aqui todos os verões, minha família gosta de ir a Palma de Maiorca durante duas semanas. Mas adoro ver os aviões!

Seguiram Tatsu pelos corredores apinhados de gente, bateram em meia dúzia de turistas bonitos que procuravam a saída, Kagome tropeçou em duas malas e empurrou uma mulher para cima de outro homem.

- Meu deus, que vergonha!

- Ahahahahah! – Sango ria da amiga. – Viu a cara de felicidade do homem? E o rosto corado da mulher? Tenho a certeza que já fez uma boa acção hoje! Daqui a nove meses vai nascer mais um bebé!

- Exagerada. – riu.

Tatsu parou numa janela que ocupava uma parede inteira e viu um avião a aterrar. Era mais pequeno que os restantes, óbvio, mas era muito rico e bonito. Nas laterais dizia Taisho, com letras grandes e vermelhas, o que fazia contraste com a pintura branca.

Kagome parou ao lado do pai. – O que há? É aquele avião?

- Sim. Eles vão sair e vão chegar por aquela porta. – apontou uma porta cinza a uns metros dali.

Kagome sentiu seu coração pulsar e deu a mão a Sango.

- Calma, Kagome. Vai tudo correr bem. – ela lhe disse ao ouvido.

Ambas olharam as portas do jacto se abrirem e viram um homem grande e esbelto sair. Tinha os cabelos prata presos num alto rabo-de-cavalo, olhos dourados e orelhas pontudas. O fato preto italiano de corte impecável realçava os músculos e os seus ombros largos.

- Aquele que saiu é o chefe de família, filha. Seu futuro sogro, InuTaisho. – explicou Tatsu.

- É bem bonito, para um cinquentão! – Sango morria se não fizesse um de seus comentários. – Olhe para aqueles músculos!

A seguir, saiu uma belíssima mulher de olhos azuis e longos cabelos negros, de facto, eram tão grandes que chegavam ao chão.

- Aquela é a esposa de InuTaisho e sua futura sogra, Izayoi Taisho.

Um homem de cabelos negros e olhos azuis saiu do avião e abraçou InuTaisho. Kagome e Sango o reconheceram como sendo o homem da fotografia. Aquele que seria seu esposo.

- Aquele é seu noivo, Kagome. – Tatsu pousou a mão no ombro dela. – O que acha dele?

Kagome não respondeu, até então pensava que estava num sonho e que ia acordar rapidamente. Todo esse tempo, esteve cantando na sua pradaria verde e solarenga, mas aquele homem, Miroku, era o maldito calhau que a fazia tropeçar para o precipício.

- Acho que ainda é cedo para fazer esse tipo de perguntas, senhor H. – veio Sango, em seu auxílio. Bem, ao menos ela simbolizava aquele pequeno ramo a que se segurava com todas as forças e que a mantinha segura e a impedia de cair no vazio. Era bom ter amigos assim.

Tatsu e Sango foram andando lentamente até à porta cinza, esperando que eles chegassem, mas Kagome ficou ali especada, tentando acordar.

Foi então que o viu.

O homem mais bonito que alguma vez vira saiu do jacto de um salto, como se estivesse acostumado a fazer aquilo diariamente. O seu porte era de tirar a respiração. Apesar da camisola branca de gola alta e justa, ela conseguia seguir as linhas e os traços de cada músculo. Os cabelos prata balançavam sensualmente enquanto ele andava com aquelas pernas firmes e escondidas numas calças de ganga negras. As orelhas de cachorro no topo da cabeça estavam viradas para trás devido ao vento gélido, e então…

Ele a viu.

Ela deve ter arfado, se não o fez fisicamente, fê-lo mentalmente. Aqueles olhos vibrantes e dourados fixaram em si e ambos ficaram parados a olharem um para o outro durante o que pareceram séculos. Só deus sabe o que Kagome teria feito se Izayoi não o chamasse e ele não fosse obrigado a deixar de olhá-la para se ir embora.

Talvez teria desmaiado. E era vergonhoso demais desmaiar no meio de centenas de pessoas por causa de um olhar.

Abanou a cabeça e correu para perto do pai e de Sango, no preciso momento em que a porta cinza se abria. Aquela porta cinza era a única coisa que separava a sua antiga vida de feliz ignorância da sua nova vida de dolorosa realidade.

A porta se abriu e InuTaisho foi o primeiro a entrar, seguido de Izayoi, Miroku e… aquele estranho sexy.

- InuTaisho, amigo! – Tatsu abriu os braços e deu um forte abraço no amigo. – Há quantos anos!

InuTaisho sorriu. – Digo o mesmo, amigão! Espero que se lembre de minha esposa, Izayoi.

- Como poderia esquecer uma mulher tão formosa? – ele pegou na mão dela e a beijou.

- Não diga isso na frente de sua mulher, Tatsu, ou é provável que durma lá fora essa noite! – brincou ela. Kagome se apercebeu de como sua voz era suave e meiga. A mulher levou os olhos azuis até Kagome e a encarou. – Essa é Kagome? Kagome Higurashi?

- Sim, sou eu. – gaguejou, e sentiu-se estúpida por isso.

- Meu deus! Ela era aquele bebé rechonchudo e fofinho? Como cresceu! – Izayoi caminhou até ela e a abraçou. Pela primeira vez, sentiu um calor imenso, uma ternura que nunca sentiu quando abraçava a mãe, pelo menos as poucas vezes que o fazia. – Estou muito feliz por voltar a ver você! Onde está Sakura?

- Minha mãe não veio, senhora, ficou em casa a preparar o jantar.

- É uma pena ela não ter vindo… E não me chame de senhora. Em breve serei sua sogra, não é óptimo?

Kagome encarou o pai, depois InuTaisho e depois Miroku, todos esperavam uma resposta. Até mesmo o estranho sexy.

- Ela ainda não cabe em si de felicidade. – falou Sango, novamente em seu auxílio. – É por isso que não responde.

- Quem é a senhorita? – perguntou InuTaisho. – É irmã de Kagome?

- Não, não. – Tatsu riu. – Ela é a melhor amiga de Kagome, Sango Taijyia.

- Prazer em conhecê-los, senhores. – ela disse polidamente. Kagome sentiu vontade de rir, era imensamente raro ver Sango ser 'educada'. Se seus pais estivessem ali, estariam a fotografá-la para relembrar um momento único.

- Prazer. – disseram InuTaisho e Izayoi.

- Prazer, eu sou o Miroku. – ele se aproximou de Kagome e lhe beijou a mão. Seria fácil se casar com um homem com tão boas maneiras. Aquela família não tinha nada a ver com os grosseirões do colégio, como Kouga ou Houjo. – Ao que parece, sou seu noivo. – sorriu, charmoso. Virou-se para Sango e lhe beijou a mão. – Prazer em conhecê-la também, senhorita Sango. Me agrada poder conhecer pessoalmente uma das amigas de minha noiva.

Sango sorriu, aquele sorriso que Kagome conhecia tão bem. Sango estava cativada. Oh, que novela! Minha melhor amiga apaixonada pelo meu noivo! Papai não vai gostar disso…

O que Kagome mais temia era que Sango se zangasse com ela, não que ela lhe roubasse o noivo. Por ela, Sango poderia ter vinte filhos de Miroku, se quisesse, desde que a livrasse do casamento.

Então, aquele estranho sexy se moveu, e os olhos de Kagome se moveram precipitadamente para ele. Era como se ele lhe tivesse lançado um feitiço ao primeiro olhar. Cada movimento que ele fazia agora, Kagome via e prestava atenção.

- Tatsu. – falou InuTaisho. – Creio que já deva ter percebido que meu outro filho veio também, espero que não se importe.

- Não, de maneira nenhuma! Sesshoumaru está um pouco diferente.

InuTaisho riu. – Meu filho Sesshoumaru está tomando conta da minha casa lá, no interior de Nova Iorque, com a mulher, Rin. Esse daqui é o meu primeiro filho do meu segundo casamento. Inuyasha Taisho.

Aquele nome ficou gravado na mente de Kagome como em pedra dura. Nunca se iria esquecer de um nome tão raro e tão… viril. Assentava perfeitamente ao homem e aos seus olhos vibrantes.

- Prazer, Tatsu, como vai? – ele falou. Kagome jurou que só ouvira uma voz como aquela nos filmes de acção, com aqueles actores bonitos e charmosos, como o Brad Pitt ou Jensen Ackles. Ele dirigiu-se a ela e lhe pegou na mão para a beijar delicadamente. – Como vai, Kagome? – enquanto a beijava, olhava-a com aqueles olhos incandescentes e um meio sorriso nos lábios. Kagome sentiu um calor subir-lhe pelas faces, mas conseguiu responder.

- Bem. – Que grande resposta, não haja dúvida, Kagome! Sua burra! – Fizeram boa viajem?

- Sim, não houve nenhum contratempo. – ele sorriu e foi cumprimentar Sango.

Quando estavam todos a irem para o carro, Sango deu uma cotovelada discreta em Kagome. – Conversa longa, não? 'Como vai, Kagome?' – perguntou, imitando a voz de Inuyasha. – 'Bem'. – imitou a voz dela de uma maneira ridícula, depois estalou em risada. – Deveria ter vista a sua cara! Estava mais vermelha que um tomate! Até parecia daquela vez que Kouga te passou a mão na perna e você quase teve um ataque! Ahahahahahahah!

- Shhhh! – Kagome tapou a boca de Sango. – Quer que eles te ouçam? E eu não fiquei tão vermelha assim, daquela vez!

- Diz isso porque não se viu a si própria!

- Ah, cala a boca!

Chegaram ao estacionamento e viram uma limusina lá estacionada.

- Tatsu, eu vou colocar as malas na nossa casa de férias e iremos de seguida para sua casa. – disse InuTaisho, enquanto todos entravam no automóvel.

- Certo, estarei esperando. Ainda sabe onde fica?

- Claro que sei! Até lá. – mandou um tchau e piscou o olho para Kagome, entrou e fechou a porta.

Os três caminharam em silêncio para o carro de Tatsu. Kagome nunca pensara que a família Taisho fosse tão simpática. Nem tão rica. Uma limusina?

- Kagome, lembre a seu pai que tem que me deixar em casa. – disse Sango ao entrar no carro.

- Papai, a Sango pode ficar para jantar? Assim, enquanto eu faço companhia para Miroku… - engasgou-se um pouco. – Ela podia fazer companhia para Inuyasha, o que acha?

- Claro que pode, filha. Sango, você é sempre bem-vinda na nossa casa.

- Obrigada, senhor H. – ela sorriu com vergonha. – Eu disse para o lembrar de me deixar em casa, não de me convidar para jantar na sua. – sussurrou ao ouvido de Kagome.

Mas ela não a ouvia. De facto, só pensava na maneira que aqueles olhos dourados brilharam com a luz do sol quando se fixaram nela pela primeira vez.

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Depois de chegarem em casa e de Sakura ter conversado muito com Izayoi, estavam todos à mesa circular por essa ordem, no sentido contrário aos ponteiros do relógio: InuTaisho, Izayoi, Miroku, Kagome, Inuyasha, Sango, Sakura e Tatsu.

A conversa dos mais velhos estava animada, ia desde o último grande investimento da empresa, até aos dias do colégio. As suas respectivas esposas também participavam e riam das aventuras descabidas dos seus maridos.

Mas, do outro lado da mesa, os mais novos não sabiam o que dizer, principalmente as moças.

- Então… Voce tem catorze, é isso? – perguntou Miroku, servindo mais esparguete para Kagome.

- Sim…

- E como está lidando com a notícia?

- Bem… Acho eu… - baixou os olhos e levou uma garfada à boca. Queria evitar aquele tipo de conversa, queria sair dali, principalmente da beira de Inuyasha, que bebia vinho muito calmamente. De facto, até a maneira como o fazia era sexy.

- Dê um tempo, Kagome. – falou Inuyasha, pousando o copo na mesa. – Qualquer um ficava abatido com uma coisa dessas. Casamento arranjado, feh! Estamos no século XXI, pelo amor de deus!

- Inuyasha! – disse InuTaisho. – Você veio com a gente para acompanhar seu irmão, não para desmotivar Kagome!

- Até parece que não tenho razão…

- Inuyasha! – gritou de novo.

- Vá com calma com ele, InuTaisho. – pediu Tatsu e logo retomaram a conversa.

- Eu não acho isso nada mal… - comentou Sango, levando o copo de refrigerante à boca. – Quer dizer, eu só me preocuparia na noite de núpcias.

Kagome se enrijeceu e Inuyasha e Miroku notaram.

- Noite de núpcias? – droga! Ainda não tinha pensado nisso. Era muito provável que na primeira noite como marido e mulher oficiais, Miroku quisesse reclamar seus direitos. Ela nunca tivera namorado e, por não estar habituada com homens, estava assustada. – Não tinha… pensado nisso.

- Não se preocupe, Kagome. – Miroku lhe piscou um olho. – Eu também não pensei, e se for do seu agrado, também não pensarei.

- Obrigada. – ela sorriu. Talvez pudesse encontrar em seu noivo um aliado muito melhor do que tinha esperado. – Você também não quer esse casamento? – sussurrou, para que os mais velhos não ouvissem.

Miroku baixou o rosto até estar ao nível do dela. – Aqui entre nós, eu só tenho vinte anos, não leve a mal, mas eu não quero casar… Quero apenas me divertir…

- Ainda tem cinco anos para se divertir, Miroku. – Falou Inuyasha, em voz alta, sem se preocupar se os pais o ouviam ou não. – Até lá pode ter as namoradas que quiser, os namorados que quiser…

- Opa! Está me estranhando, irmão?

- Pode ter quantas porres quiser,… tudo! – o ignorou.

- Sim! – falou Sango. – Voce até podia casar com outra mulher enquanto espera por Kagome, desde que se separasse antes de dar o nó com ela…

Kagome ouviu as palavras de Sango e as digeriu devagar. Enquanto os outros três conversavam sobre o que Miroku podia ou não fazer enquanto Kagome não fazia dezanove anos, ela elaborou em sua mente um engenhoso plano para obedecer às ordens do pai e não ter que consumar o casamento com Miroku. Óbvio que não ia contar a ninguém, mas valia a pena tentar pô-lo em prática quando se visse a caminhar para o altar.

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CONTINUA…

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