Ouvira uma voz a chama-lo, era Nuno que parecia finalmente chegado, apresentava o mesmo sorriso inocente nos lábios que tinha quando Fábio o havia convidado, esperando sempre o melhor das pessoas e um final feliz para a cena.

Resolveram trocar o local de conversa, afinal o Chiclet estava sempre cheio de colegas seus, e Fábio queria tudo menos dar nas vistas, e ir à Hamburgaria que costumava estar mais vazia e melhor ambientada. Fábio estava bastante nervoso, nenhum dos seus "ensaios" parecia ter servido de nada e dera consigo a tremer, olhava cuidadosamente para Nuno que parecia bastante calmo. Este olhava-o confuso, pois o outro ainda não proferira uma única palavra desde que se sentaram e pediram os seus cafés.

- Fábio, ainda não disseste nada? Que querias falar comigo já que pediste que viesse?

- Da ultima vez que nos vimos eu fiz uma coisa que não devia ter feito, fui de extremos e sei que não te devia ter batido – Nuno acenou positivamente com a cabeça – eu não estava á espera que fizesses aquilo e agi de cabeça quente.

-Destes sinais que … esquece.

- De quê? Eu nem sequer sabia que tu… gostava de homens. – Fábio estava totalmente confuso, como assim mandara sinais.

-Já deu para perceber, mas eu não te escondi nada – Fábio tentou interromper - Simplesmente não ando com um cartaz luminoso a dizer "OLHEM SOU HOMOSSEXUAL"

Nuno tinha razão, olhando para ele, era fácil dizer que não gostava de dar nas vistas ao contrário de outros como André, o primeiro e único nome que lhe viera á cabeça naquele momento. Ficara mais surpreendido ao descobrir a homossexualidade de Nuno que a Bissexualidade de André que encaixava perfeitamente no perfil da vulgarmente chamada "bicha comum" ou como Fábio apelidava várias vezes "andorinha".

-Mas no bar tu disseste que não gostava de bichas?

- E não gosto! Não tenho interesse nenhum em tipos meios parvos cheios de tiques e todos femininos, fim.

Continuaram a falar, e Fábio questionara o amigo em diversos pontos, a descoberta da sua homossexualidade, o coming out à família e os amigo, os quais Nuno esclarecera bastante calmo. Aquelas palavras pareciam flechas que se cravavam no coração de Fábio e deixavam marca, embora esta marca seja positiva fazendo com que Fábio finalmente percebesse que tinha sido um idiota para com André.

No entanto a conversa não acabou da melhor maneira, pois Fábio estava irritado por Nuno supor que teria algum tipo de sentimentos por ele, o que para o actor não era uma ideia bem recebida e muito menos aceite pelo próprio.

Nuno levava as mãos à cabeça, tinha sido longe de um encontro perfeito, mas como bom optimista que era pensou para si mesmo que poderia correr bastante pior. Sabia no fundo o que Fábio estava a sentir, ele mesmo sentira essa dúvida apesar de nunca ter sido de uma forma tão violente como acontecera com Fábio. Sentia que no fundo havia esperança, era visível a olho nu que ele sentia algo, e Nuno queria ajuda-lo a descobrir isso.