Um homem, de longas barbas e cabelos ruivos, olhava da proa de seu navio para a imensidão do mar a sua frente.

Era grande e de ombros largos, suas vestes eram de pele de animais e armadura por baixo. No cinto estava preso um machado, em seu pescoço um grande medalhão dourado de sua família e em sua cabeça um elmo de forma cônica.

Os olhos cinza transmitiam terror, tanto a amigos quanto inimigos, e eram envoltos por tinta negra, como para a guerra.

Seu sorriso mostrava deboche.

- Capitão, estamos a dois dias do nosso destino. E o tempo está a nosso favor. – um homem de roupas semelhantes ao chamado Capitão, olhava hesitante, como que com medo de que fosse atacado a qualquer momento por não terem chegado ainda.

- Ótimo. – respondeu, sem lhe dirigir o olhar. A voz era grossa e baixa.

Caminhou lentamente até a parte mais alta de seu navio, que mais parecia um grande barco. Possuía uma terrível carranca na frente, e algo semelhante a um rabo na parte traseira.

De repente um tremor no mar, fez o barco perder a estabilidade e os marinheiros se assustarem.

Fez-se um silêncio perturbador para logo em seguida um baque quase virou-o.

- O que é isso? – o Capitão andou depressa até estibordo olhando para as águas escuras.

- Algo se chocou com o navio, senhor! Pode ser uma baleia ou...

Antes, porém, que pudesse terminar, um enorme rosto saiu da superfície da água.

Parecia com um dragão gigante, ou até um absurdo crocodilo. Escamas cobriam seu corpo e dentes afiados saíam de sua imensa boca.

Os homens começaram a gritar e correr pelo convés.

- É o Leviatã! É o Leviatã!

O Capitão surpreso, mas não apavorado, olhava o monstro.

Histórias sobre aquele...mito...já tinham sido contadas. Descreviam-no como um réptil crocodiliano gigante...

Mas não era um crocodilo, ou dragão.

Era uma cobra de tamanhos absurdos e desproporcionais.

Tinha certeza disso pois ele podia escutá-la.

Compreendia o que o animal pensava. E não eram pensamentos agradáveis.

Vou matar todos. Estava com saudades de ter marinheiros frescos para o jantar.

E preparou-se para atacar.

Apanhou alguns homens e os estraçalhou. Em seguida arrancou a gárgula da frente do barco.

O Capitão sorriu e continuou a encarar o Leviatã.

- Curioso. Aquele homem não está correndo.

- Isso porque não tenho medo de você. E quer fazer o favor de parar de destruir meu navio? – respondeu. Não em dinamarquês, sua língua pátria, mas em uma linguagem ininteligível para qualquer um que não fosse uma cobra. Sibilos sinistros saiam de sua boca, mas seus subordinados não notaram. Estavam mais preocupados em salvarem suas vidas.

- Você...consegue me entender?

Parecia surpreso e instantaneamente cessou seu trabalho.

- Sim. Consigo. E se não parar de atacar meu navio, serei obrigado a matá-lo.

O Monstro soltou um guincho terrível que fez todos chorarem apavorados, mas o Capitão notou ser uma gargalhada.

- Você? Matar-me? Nenhum homem pode me matar. Gosto de sua audácia. Mas isso não salvará sua tripulação.

- Não me importo com minha tripulação. Por mim pode comê-los. Só quero meu navio inteiro.

O Leviatã riu novamente.

- Qual seu nome, destemido e cruel Capitão?

- Sou Slytherin. Salazar Slytherin. – ele disse retirando algo de dentro de suas vestes, que se assemelhava a uma varinha.

- Muito prazer, Salazar Slytherin.


A floresta estava repleta de sons.

Sons de animais, de árvores e de pessoas.

Não era comum pessoas irem festejar no meio da floresta, a noite na Irlanda.

Mas aquelas não eram pessoas comuns e era um dia para grandes comemorações.

E não havia perigo de ninguém ouvi-los.

- Merlin! Estamos muito felizes de ter finalmente resolvido dar um alô para seus companheiros da Irlanda. – um rapaz de barba e cabelos curtos e loiros sorriu.

- Sim. Deixou um pouco de lado sua doce Britânia e veio para nós. – um outro riu-se também.

- Apenas por duas noites meus queridos. Apenas por duas noites. – disse sorrindo, Merlin.

Merlin, um senhor de aparência idosa, com barbas e cabelos prateados que competiam para ver quem arrastava primeiro no chão, ajeitava sua manta negra para sentar em uma pedra.

- Bom. Você veio com um propósito é claro. – suspirou uma moça gorda de olhar maternal. Servia em uma taça, grandes goles de vinho a Merlin. Mas servia de uma forma diferente. Com um objeto comprido e fino. Com ele fazia parecer que a cumbuca de vinho flutuava. – E não apenas para se embebedar de álcool. – riu.

- Hum...mas isso também é bom. – gargalhou. – Mas vocês têm razão. Estou procurando uma jovem. Tive uma...profecia.

Calaram-se todos olhando para o homem.

Todos eles tinham certo poder. Não era tão incomum quanto pensavam.

Apesar disso Merlin era o único que eles conheciam que tinham esses tais poderes e além disso previa o futuro.

- E com quem deseja falar? – o rapaz que primeiro se dirigira a ele, falou com expectativa. Todos ali sentiam a mesma coisa.

- Ah...ela ainda não está aqui. – ele olhou em volta de forma zombeteira. – Tenho tempo para mais um pouco de vinho.

- Ela? Então é uma mulher. Hum...- disse esperançosa enquanto servia o vinho.

- Mas não está aqui, Magda. Ele acabou de dizer isso. Pode perder as esperanças. – riu um homem gordo.

- Eu não quis dizer isso...- emburrou-se. – Apenas...

Uma menina em seus 18 anos, entrou correndo pela clareira. Brincava com seus amigos e fazia grande algazarra.

Tinha longos cabelos negros e olhos azuis profundos. Usava uma bela tiara de pedras brilhantes que não condizia com o restante das roupas simples que vestia.

Todos que a conheciam falavam de sua imensa beleza, apesar de ela parecer não notar isso.

Corria como um menino e fazia o fogo aumentar e mudar de cor com suas mãos.

- Rowena! Pare com isso! – a moça dos vinhos falou irritada. – Vai chamar atenção dos Não-Mágicos.

- Desculpe, Magda. – e os olhos da menina dirigiram-se para o homem sentado na pedra. – MERLIN! – ela correu e o abraçou sorrindo.

- Minha doce Rowena. Continua fazendo travessuras.

- Ah...é. – ela disse vermelha. – Mas ando estudando bastante como sugeriu que fizéssemos da última vez em que esteve aqui. Roubo os livros da cidade e ensino pros menores.

- Você sabe que roubar não é certo. – Merlin tentou parecer rígido, mas seus olhos brilhavam de forma brincalhona.

- Eu sei disso. Mas que de outra forma podemos estudar magia sem que saibam?

- Na prática. – disse Magda ainda rabugenta.

- Praticar é muito bom, minha cara. Mas a teoria também é importante. Já lhes disse isso. – Merlin voltou a atenção para Rowena. – Tive uma visão.

Rowena ficou mais pálida do que já era.

- Sobre quem?

- Você.

Novamente todos no local silenciaram.

- Preciso levá-la comigo até a Britânia.

- Britânia? Mas...por que? – ela falou confusa, sem saber se gritava de felicidade ou se escondia de medo. – soube que já faz tempo que os bárbaros estão atacando Britânia.

- Anda bem informada. Mas não os chame de bárbaros. Vocês também são chamados assim, sabiam hibérnis?

A menina cruzou os braços irritada.

- Mas não atacamos ninguém como aqueles...brutos dos vikings.

- Bem. O dia está clareando e vamos demorar para chegar ao nosso destino. Ao SEU destino. Você vem?

- Tenho escolha? – ela disse suplicante.

- Você sabe que sim. Mas se vier, estará seguindo o destino que as estrelas formaram para você.

- Tudo bem. – ela suspirou. – Eu vou.


- Esses germanos estão preocupando a todos, senhor.

- O que posso fazer? Trabalham como todos os outros e me dão lucros. E não me causam problema algum.

- Mas senhor... – o homem falou nervoso. – os outros camponeses têm medo deles.

- Medo? – um homem de cabelos escuros e de cavanhaque, olhou confuso para seu interlocutor.

- Sim. Eles dizem que..são estranhos. Coisas estranhas acontecem naquela casa. Panelas funcionam sozinhas, luzes de diversas cores saem da chaminé e uma vez uma criança caiu dentro do rio por perturbar a filha do casal.

- Estranho.

- Sim. E estão começando a pedir que o senhor os expulse, ou não trabalham mais na colheita. Suas plantações vão morrer.

- Hunf...e eles também. Se alimentam disso. – o soberano disse irritado e levantando-se.

- Mas será ruim para o senhor mesmo. – disse hesitante.

- Eles que se atrevam a me desobedecer! Mando matar a todos! – bateu na mesa irritado.

- Seria muito mais simples arranjar mais dois trabalhadores do que quinhentos, não? Sem falar que eles podem resistir e matar alguns de seus homens.

- Tem razão. Para que problemas? – pensou. – Tudo bem. Faça o que tem que fazer.

A menina corria ligeira pelos campos da Britânia em direção a uma pobre casa nos feudos de um poderoso senhor.

Entrou como um furacão fazendo a porta bater fortemente contra a parede da casa.

- Mamãe! Papai! Olha!

A mãe saiu da cozinha nervosa.

- Helga! Pelo amor de Deus! Quer colocar a casa abaixo? E se for mais uma de suas esquisitices, por favor não faça. Os vizinhos já estão com medo de nós.

A jovem pareceu ficar triste.

- Mas...eu aprendi algo novo...

A mãe suspirou e passou a mão pelos cachos loiros da filha e sorriu tristemente.

- Eu e o seu pai sabemos que você é especial. Não entendemos porque consegue fazer essas...coisas. Mas não é todo mundo que entende.

- Mas mãe...eu não faço nada que machuque os outros.

- Eu sei. Eu sei.

Através da porta escancarada, o pai de Helga entrou assustado.

- Os homens do nosso senhor estão aí fora.

Saíram os três juntos, tremendo.

- Vocês estão expulsos das terras de Dom Miguel. – o homem que antes conversava com Dom Miguel, disse secamente.

- Mas...nós...fizemos algo que foi do desagrado dele?

- Não estão aqui para discutir as ordens dele! Ponham-se para fora.

- Bom, se fomos expulsos, então ele não é mais nosso patrão. Então podemos, sim, questionar. – Helga disse com ar petulante.

- Que menina atrevida! Quer ser presa, garota?

- Quero ver tentar. – ela disse furiosa e de repente os cavalos começaram a inclinar sobre as patas traseiras e relinchar. Todos os guardas caíram e as plantas os prenderam ao chão.

- Feitiçaria! Bruxos todos vocês.

- Helga! – a mãe falou horrorizada e a menina deixou-os fugir.

O cavaleiro ajoelhou-se perante seu senhor, quando chegou ao castelo.

- Bruxos! São bruxos senhor. Tentaram nos matar!

- Bruxos? Hum...você disse que o casal tem uma filha. É bela? Quantos anos?

O vassalo estranhou a pergunta, mas respondeu.

- Sim. É bela e deve ter uns 15 anos.

- Ótimo. Traga a família Hufflepuff até mim.

- Será seguro, senhor?

- TRAGA ATÉ MIM! – e assim que seu servo assustado afastou-se, sorriu.


Olá, gente! Espero que tenham gostado do primeiro capítulo. Antes que eu me esqueça vou dar umas explicações.

Primeiro: Eu fiquei em dúvida qual gênero colocar nessa fic. Pensei em por aventura/romance, porque mais para frente terá romance! Mas...como só é possível colocar dois personagens principais e eu escolhi Godric e Salazar, ia parecer meio...hum...gay. Rs. Então tirei o romance.

Segundo: Essa minha fic é um tanto quanto atemporal. Pesquisei MUITO para escrever pois é algo de época e a queria historicamente correta. Bem, não deu muito certo.
Eu coloquei cada fundador de uma origem diferente de acordo com suas características pessoais e quem tem a ver com a história da Inglaterra.
Salazar é um viking dinamarquês, Helga é da Germânia, Rowena uma hibérni (que são celtas da Irlanda, assim como os bretões são os da Inglaterra) e Godric (que ainda não apareceu e o único que não é dos chamados "povos bárbaros") um típico cavaleiro medieval inglês.

Porém, as épocas dessas coisas estão meio confusas, os vikings invadiram a Britânia (era como se chamava a Inglaterra) lá pelo século VIII e durou até o século XI acho, os povos germanos e celtas foram para as terras britânicas muito antes dessa época, e a parte da Santa Inquisição (que eu citei vagamente como ainda no comecinho dela) só no fim da Idade Média. Então o tempo que ocorre a fic não existe! Rsrsrs

Ah, sem falar que não faço a mínima ideia de quando Britânia passou a ser Inglaterra, então inventei uma época qualquer da fic.

Bom, acho que eram só essas explicações iniciais que eu precisava dar, caso tivesse algum leitor aficionado por história e quisesse me matar por minhas mancadas.

Divirtam-se! Até a próxima semana. Beijos.

PS: Não, essa fic não possui títulos nos capítulos.