- Katekyo Hitman Reborn® e seus personagens pertencem à Amano Akira.
- Essa é uma fanfic yaoi-lemon, ou seja, contém relacionamento homossexual entre os personagens. Se você não gosta ou sente-se ofendido com esse tipo de conteúdo sugiro que vá ler shoujo.
8059 – Hanabi
Yes or no, in or out, up or down...live or die, hero or coward, fight or give in. I'll say it again to make sure you hear me. A human life is made up of choices, live or die, that's the important choice and it's not always in our hands. ¹
Prólogo
"As luzes desapareceram.
Gokudera estava preparado para isso. O que ele não esperava era que a iluminação não havia sido cortada. Todas as lâmpadas que estavam penduradas no teto explodiram uma após a outra, em uma seqüência absurdamente perfeita. As pernas do rapaz de cabelos prateados moviam-se incrivelmente rápidas. Ele podia sentir suas chaves pulando no bolso de sua calça, assim como as dinamites que ele tinha dentro do casaco. Sua respiração estava alta e por um breve momento, a visão do largo corredor tornou-se embaçada. Aquele definitivamente não era o melhor momento para lágrimas.
O escuro corredor terminou em uma curva, e então Gokudera parou.
Sua atenção fora roubada por um zunido incrivelmente alto, e o Guardião da Tempestade só teve tempo de se virar e proteger o corpo. As janelas que cercavam o corredor explodiram, assim como as lâmpadas O barulho era ensurdecedor, e Gokudera sentiu estilhaços de vidro tocarem suas costas, alguns o arranhavam, mas a grande maioria simplesmente o usou como obstáculo. As janelas quebradas trouxeram a luz que vinha de fora, iluminando novamente o caminho do braço direito de Tsuna. Entretanto, assim como trouxe luz, também trouxe a visão da realidade. Ao encarar o corredor que teria de percorrer, os olhos verdes de Gokudera se arregalaram, e um grito morreu em sua garganta. Havia uma espada jogada a poucos metros de seus pés, completamente destruída e ensangüentada.
Ele conhecia aquela espada."
Capítulo 01
Aquele mês de dezembro não seria como os anteriores, e ele sabia disso. O clima estava diferente, o inverno já estava à espreita, aguardando pacientemente por um deslize do outono para então aparecer com toda a sua glória, frio e consequentemente neve. Entretanto, o Sr. Outono não parecia disposto a deixá-lo surgir antes do dia em que obrigatoriamente teria de permitir que ele tomasse conta do tempo no Japão. Contra todas as previsões, contra todas as possibilidades, o começo de dezembro daquele ano estava incrivelmente agradável. O céu estava azul, a temperatura ideal - nem muito quente, nem muito frio. O humor dos alunos havia sido relativamente afetado pelo estranho tempo, e pelos corredores do Colégio Namimori circulavam alunos sorridentes, satisfeitos com a possibilidade de deixarem por mais algum tempo os casacos de inverno dentro do guarda-roupa.
Gokudera Hayato era uma exceção entre esses alunos.
Enquanto a grande maioria distribuía sorrisos por onde passava, o garoto, não, Gokudera não era mais um garoto. Aos dezessete anos, o rapaz de cabelos prateados número um da classe 3B havia deixado de ser um garoto há alguns anos. Sua altura havia mudado, assim como seus traços, voz, modo de andar, falar... eram tantas as pequenas mudanças que aconteceram desde que ele chegara ao Japão pela primeira vez que era realmente difícil de contá-las. Porém, as mudanças não foram somente físicas. O rapaz de cabelos prateados que acendia um cigarro com certa destreza, colocando-o jeitosamente nos lábios, para em seguida aspirá-lo com vigor não era o mesmo de um, dois, três, quatro anos atrás. Gokudera jamais pensou que estaria dando os passos necessários para cruzar o pátio em direção ao campo de baseball atrás do Colégio. Gokudera jamais pensou que encostaria na grade externa do mesmo campo de baseball e ficaria ali, imóvel, com exceção dos movimentos que seus lábios faziam para manter o cigarro firme. Gokudera jamais pensou que seus olhos procurariam apenas um aluno, entre as centenas do Colégio (Jyuudaime não é um aluno, ele é o aluno!), muito menos entre os jogadores.
Mas ali estava ele. Parado na lateral do campo. Os dedos apoiados em dois buracos na grade, o cigarro dançando em seus lábios enquanto seus olhos verdes procuravam por algo.
Ele estava ali, próximo ao banco de reservas, conversando com outros jogadores. Assim como Gokudera, o tempo também havia passado para Yamamoto, e todas as mudanças físicas aconteceram com o moreno, acentuando ainda mais características que ele já possuía. O mesmo sorriso, a mesma maneira descontraída de levar a vida, o mesmo otimismo...
O Guardião da Chuva coçou a cabeça para um comentário feito por um kouhai do time. Seus olhos correram através do campo, parando em um ponto em especial. Gokudera manteve-se junto a grade, sem tirar os olhos do rapaz que se aproximava. Conforme a distância entre eles diminuía, os lábios de Yamamoto se alargavam em um enorme sorriso. Quando só a grade estava entre eles, o Guardião da Tempestade sentiu as mãos do moreno sobre as deles. O contato durou um segundo, tempo suficiente para que o rapaz de cabelos prateados levasse uma mão até o cigarro em seus lábios, enquanto a outra era enfiada em um dos bolsos.
- Então você tem treino, hm? - Gokudera deu uma profunda tragada no cigarro - Eu disse para avisar quando isso acontecesse, idiota. Você tem idéia de quanto tempo o Jyuudaime ficou esperando por você?
- Hahaha desculpe, desculpe - Yamamoto coçou o rosto, ficando levemente corado - Mas o tempo está excelente e achei uma boa idéia dar uma aquecida nos rapazes.
- Acho que eu não me fiz compreender - O rapaz de cabelos prateados segurou charmosamente o cigarro com o dedo - Você fez o Juudaime esperar - as palavras dançavam em seus lábios, enquanto o cigarro dançava entre seus dedos no ar, como se Gokudera fosse um condutor em uma orquestra - Ninguém faz o Jyuudaime esperar!
- Eu prometo que vou me desculpar com o Tsuna depois - O moreno riu, olhando por cima do ombro o restante do time retornar as suas antigas posições - Mas agora eu preciso voltar.
Aquela situação não era nova para nenhum dos dois, mas a sensação que Gokudera tinha todas as vezes em que ouvia a frase que sairia da boca de Yamamoto nos segundos seguintes jamais deixou de levar um arrepio para todo seu corpo.
- Assim que o treino terminar eu vou direto para sua casa, Hayato - a voz do Guardião da Chuva estava séria, mas seus olhos pareciam sorrir. Aquele era um hábito, um encontro silencioso que ambos tinham todas as sextas-feiras - Então espere por mim, ok?
O Guardião da Tempestade lançou um olhar para Yamamoto, meneando discretamente a cabeça. Em seguida, virou-se e acenou levemente com a mão, afastando-se do campo. Aquele era o sinal para o moreno retornar ao treino, com um sorriso ainda mais largo. Aquele era o sim de Gokudera, a afirmação de que eles ficariam juntos no fim de semana, como ficavam pelos últimos anos. Aquele era o "Eu amo você, e mal posso esperar para ficarmos juntos" dito sem palavras.
Gokudera deixou o Colégio Namimori e seguiu direto para casa.
Tsuna havia sido arrastado por Reborn, e o Guardião da Tempestade sabia bem que atrapalharia menos não estando envolvido. Mesmo assim, a primeira coisa que o rapaz de cabelos prateados fez ao chegar em casa foi ligar para Tsuna, ficando mais tranqüilo ao ouvir que o Décimo estava são e salvo em casa. Ao desligar o telefone, Gokudera se viu novamente no cenário que ocupava suas tardes de sextas-feiras: um enorme e solitário apartamento.
Como um ritual, o Guardião da Tempestade seguiu até a cozinha e se pôs a preparar um pouco de café. Os preparativos durariam poucos minutos, ele arrumaria os ingredientes enquanto a água estava fervendo, e fiscalizaria a geladeira, para garantir que haveria comida para o fim de semana. Quando tudo estivesse checado, Gokudera se serviria de uma xícara de café e caminharia até a sala, onde revisaria seu dever enquanto degustava sua agradável bebida.
Era dessa maneira que o rapaz de cabelos prateados passava suas sextas-feiras quando Yamamoto tinha treino. Colégio, revisão, e às vezes um cochilo se não houvesse nada que precisasse ser lido ou relido. Naquela tarde, o Guardião da Tempestade permitiu-se recostar-se no sofá e dormir por algumas horas, acordando quando o céu já estava escuro e suas costas doíam pela má posição. O relógio marcava 18hs e seu corpo pedia um banho, que acabou sendo mais longo do que Gokudera inicialmente pensou. Ao deixar o banheiro, o rapaz de cabelos prateados cobriu o rosto corado com a toalha que estava em seu pescoço, tentando a todo custo esquecer o que acabara de fazer. Aquilo estava se tornando um hábito, e mesmo sendo totalmente normal e humano, para o orgulhoso Guardião da Tempestade, tocar-se ao pensar em Yamamoto durante o banho era extremamente embaraçoso, mesmo sendo impossível não senti-lo naquele apartamento. Em pouco tempo, dia após dia, o lugar que Gokudera chamava de lar tornara-se duplo. Duas xícaras para o café, o dobro de talheres, o lado do guarda-roupa que ele nunca usara agora tinha algumas peças de roupa de Yamamoto, a geladeira tinha duas vezes (ok, três vezes) mais comida. A vida que o Guardião da Tempestade conhecia como "minha" havia se transformado em "nossa", e estranhamente ele estava bem com isso.
Só havia uma coisa nessa história toda que conseguia estragar a felicidade que Gokudera sentia, e era impossível para ele não pensar nisso quando tudo naquele apartamento refletia o seu novo eu. Yamamoto era uma das principais influências na vida do rapaz de cabelos prateados, e conforme o tempo passava, o laço entre eles tornava-se mais estreito a ponto do Guardião da Tempestade temer o que o futuro poderia trazer para ambos.
Da mesma forma como seu rosto instantaneamente tornou-se corado ao sair do banheiro, conforme Gokudera entrava no quarto, a expressão mudou. Aqueles pensamentos estavam novamente em sua mente. O futuro, a Família, Yamamoto...
Seus braços se arrepiaram, assim como a raiz de seus cabelos. A temperatura estava agradável. Não era de frio, mas sim medo. Um medo que fazia com que seu coração batesse em um ritmo difícil de ser acompanhado por sua respiração, fazendo com que ele tivesse que sentar-se na cama para poder manter-se lúcido. Novamente aquela terrível sensação de perda que ele não sabia de onde vinha parecia tomar conta de cada milímetro de seu corpo.
- Hayato?
Os olhos verdes de Gokudera se entreabriram, encarando um par de olhos castanhos há sua frente. Por alguns segundos o rapaz de cabelos prateados não sabia o que estava acontecendo. Por que Yamamoto estava na sua frente? Por que suas mãos - quentes e tão conhecidas - estavam em seu rosto? Gokudera não sabia. Não sabia que havia se deixado perder em pensamentos, a ponto de não notar que Yamamoto havia chegado e estava ajoelhado à sua frente já fazia algum tempo, tentando a todo custo fazê-lo acordar do transe em que estava. O olhar do moreno era sério e preocupado, o Guardião da Tempestade podia ver claramente nos olhos castanhos. E inevitavelmente a pergunta que viria em seguida era uma das últimas coisas que Gokudera gostaria de responder.
- Hayato, você está bem?
- Não o ouvi chegar - O rapaz de cabelos prateados retirou a toalha do pescoço, ficando de pé - Eu estava pensando no teste da semana que vem.
- Ow... - Yamamoto coçou a cabeça. Ele havia esquecido totalmente - Hahaha eu acabei esquecendo.
- Eu sabia - Gokudera abriu uma das gavetas do guarda-roupa, pegando a primeira blusa que encontrou - Como foi o treino?
- Proveitoso. Os rapazes estão animados com o jogo no Natal, vai ser incrível!
O sorriso nos lábios do Guardião da Chuva era impossível de passar despercebido. A maneira como seus olhos ficavam pequeninos quando ele sorria, e o fato de que ao fazer isso todo o mundo parecia parar e fazer parte daquele momento. A alegria e animação de Yamamoto eram capazes de iluminar qualquer local. Iluminava totalmente o mundo de Gokudera.
- Você não me esperou - Yamamoto abraçou a cintura do rapaz a sua frente, passando a ponta do nariz pelos finos fios prateados.
- Nós não teríamos tomado banho se eu tivesse esperado - Gokudera corou. Ele sempre foi péssimo com insinuações.
- Mas nós podemos tomar outro banho, não?
A voz convidativa do Guardião da Chuva fez os olhos de Gokudera se fecharem. As mãos em sua cintura se apertaram e ele pôde sentir os lábios do moreno traçando um caminho em seu pescoço. Depois de todos os treinos, Yamamoto voltava extremamente ativo, e se o Guardião da Tempestava lembrava bem, era preciso ter um incrível autocontrole naquele instante ou ele acabaria sucumbindo ao charme do moreno.
- Não, não podemos!
Gokudera virou-se e cobriu o rosto de Yamamoto com a toalha. Seus olhos se fecharam momentaneamente, tentando a todo custo se focar em qualquer coisa que não fosse o simples fato de que eles estavam sozinhos no quarto. O rapaz de cabelos prateados não esquecera do momento de completa abstração que tivera minutos antes, e mesmo que não demonstrasse, ele tinha certeza de que Yamamoto também não.
- Eu trouxe sushi do restaurante, está na cozinha - O Guardião da Chuva tirou a toalha do rosto, deixando um sorriso aparecer em seus lábios.
- Eu vou levar até a sala enquanto você toma banho... sozinho.
Yamamoto soltou um muxoxo, mas seguiu resignado em direção ao banheiro.
Ao ver-se sozinho no quarto, Gokudera respirou fundo tentando manter o controle sobre si mesmo. Cada parte de seu corpo havia respondido ao toque do moreno, mas ele sabia que precisava se manter atento para não se deixar envolver, não até a hora de dormir.
O sushi estava na cozinha como Yamamoto dissera. Havia uma quantidade absurda de comida, mas Gokudera sabia que aquilo era provavelmente suficiente para um Yamamoto-pós-treino.
O apartamento do Guardião da Tempestade era vagamente espaçoso. Um quarto, uma cozinha, um banheiro e uma larga sala de jantar que acabou se fundindo com a de estar tornando-se uma coisa só. Nos últimos meses Gokudera começou a sentir falta de ter uma mesa de jantar, principalmente quando sentia vontade de cozinhar. Não era muito cômodo comer spaghetti sentado na mesinha de centro. Aquele pensamento cruzou a mente do rapaz de cabelos prateados, seguido por um meio sorriso. Além de desejar uma mesa de jantar, Gokudera ás vezes se permitia sonhar um pouco mais além de um simples móvel. O som do chuveiro, a presença de Yamamoto que era tão fácil de perceber na casa o fazia pensar na vida pós-Colégio. Nos últimos anos eles passavam os fins de semana no apartamento de Gokudera. Esse hábito tornou-se extremamente natural, a ponto de Yamamoto ter uma cópia da chave e seu próprio lado do guarda-roupa. Quando as segundas-feiras chegavam, era impossível para o Guardião da Tempestade não sentir uma certa solidão quando retornava para o apartamento vazio. A idéia de se mudarem permanentemente juntos cruzou a mente do rapaz de cabelos prateados várias vezes, e em todas essas vezes seu rosto ficava vermelho, e ele precisava balançar a cabeça para levar aquele pensamento para longe. Era ridículo. Ele, Gokudera Hayato - Guardião da Tempestade - braço direito do Jyuudaime... ele, pensando em viver ao lado da pessoa que ele não suporta. Correção, não suportava.
O rosto do rapaz de cabelos prateados estava em chamas.
Ele sentia as bochechas ardendo, enquanto ajeitava a mesinha de centro - em frente ao sofá e entre a tv - para que ele e Yamamoto pudessem jantar. Aquela tarefa já era um hábito. Dois pratos, dois pares de hashis. Dois copos. Dois...
Os olhos de Gokudera então saíram do que ele fazia e se projetaram pela sala. Ele sabia que Yamamoto sempre trazia consigo sua sacola vermelha onde carregava seu taco de baseball. Em uma primeira olhada o Guardião da Tempestade não a viu. Não estava no lugar usual, ao lado da janela, encostado próximo a cortina. Os olhos verdes então percorreram a sala, e as sobrancelhas de Gokudera se juntaram ao ver a mesma sacola vermelha quase escondida atrás do porta guarda-chuvas.
Mas que lugar para guardar isso...
Com a mesinha arrumada e sem mais nada para fazer, o Guardião da Tempestade ficou de pé e caminhou até a entrada. Sua mente lhe dizia que Yamamoto provavelmente esquecera de levar a sacola, e que ele estaria fazendo um grande favor em ajudá-lo. Ao levantar a sacola, Gokudera parou. Suas pernas haviam automaticamente dado um passo a frente, pois ele sabia que conseguiria carregá-la até o outro lado da sala. O problema foi que ele não conseguiu. Suas mãos levantaram a sacola vermelha, mas ela estava estranhamente pesada.
Automaticamente os dedos delgados do rapaz de cabelos prateados abriram o zíper que fechava a sacola que mais lembrava um fechado porta tacos de golfes. Quando seus olhos viram que além do taco havia outra coisa, as pernas de Gokudera vacilaram. Suas mãos tremeram levemente, e ele podia sentir seu coração batendo mais rápido em seu peito.
Yamamoto carregava além do taco de baseball, sua katana.
Com um pouco mais de força, o Guardião da Tempestade levou a sacola até o canto da sala, deixando-a próxima a janela. A porta do banheiro abriu-se e ele pôde ouvir a voz de Yamamoto se aproximando, enquanto o moreno cantarolava alguma coisa que sinceramente, pouco importava para Gokudera. Tudo o que o rapaz de cabelos prateados pensava era em respirar manualmente, esperando que seu corpo se acalmasse. Se havia alguém que perceberia qualquer mudança, esse alguém estava entrando na sala com um largo sorriso.
- Você já arrumou as coisas, obrigado! - Yamamoto vestia um conjunto de moletom vermelho.
- Eu estava com tempo - Gokudera sentou-se em seu lado da mesinha, observando enquanto o moreno sentava à sua frente.
O sushi estava exatamente como o Guardião da Tempestade lembrava. O pai de Yamamoto não poupava esforços para agradá-los, e Gokudera tentou o máximo possível se concentrar no jantar e deixar que os maus pensamentos ficassem de lado, pelo menos durante a refeição.
Yamamoto indagou sobre sua tarde, Tsuna, Reborn e as provas que estavam se aproximando. O único momento em que o rapaz de cabelos prateados ergueu os olhos para responder foi ao falar do Décimo. Sua voz tornou-se mais alta e seus olhos verdes projetavam uma chama ardente ao relatar que ele ligara para Tsuna somente para ver se ele chegara bem em casa.
No mais, o jantar transcorreu normalmente. Yamamoto ajudou a retirar o que estava em cima da mesinha, e ambos passaram o restante do tempo juntos no sofá, assistindo a uma série. Foi Gokudera quem desligou a tv através do controle, ao perceber que o Guardião da Chuva dormia em seu ombro. Yamamoto provavelmente estava muito cansado, mas manteve-se acordado simplesmente para ser a companhia de Gokudera. O rapaz de cabelos prateados o chamou em um sussurro, apontando para o corredor quando um sonolento Yamamoto abriu os olhos.
- Mas já terminou? - Yamamoto bocejou e encarou a tv desligada - O que quer fazer? Eu estou acordado.
Um meio sorriso cruzou os lábios de Gokudera, e ele apenas meneou a cabeça em negativo.
- Eu estou cansado e estou indo para cama, você pode ir na frente.
- Tem certeza? - o moreno bocejou novamente e ficou de pé - Por que eu estou realmente acordado.
- Eu estou vendo - O Guardião da Tempestade ergueu uma sobrancelha - Mas eu estou cansado e com sono e ainda vou escovar os dentes.
- Hm... Então eu o vejo no quarto.
Yamamoto depositou um rápido beijo na testa de Gokudera, seguindo pelo corredor até o quarto.
O Guardião da Tempestade seguiu em direção ao banheiro e demorou mais tempo do que geralmente gastava com seus dentes. Seus olhos não encararam uma única vez seu reflexo no espelho, pelo menos até o último instante. Ao ver-se refletido, Gokudera rapidamente desviou os olhos, deixando o banheiro. Ele mentiu. Se havia alguém ali sem um pingo de sono esse alguém era Gokudera, e ele teve ainda mais certeza disso ao deitar na cama e sentir os longos braços de Yamamoto o abraçando como ele sempre fazia. A cabeça no moreno estava repousada no peito do braço direito do Décimo Vongola, e ele dormia um sono pesado.
Os olhos do Guardião da Tempestade encaravam o teto do quarto, enquanto várias imagens surgiam em sua mente. Aquele cenário estava se tornando extremamente comum, assim como aqueles pensamentos. Tudo começara três semanas atrás quando Gokudera pousou os olhos pela primeira vez em um convite que Yamamoto recebera de uma Universidade. Segundo o papel, a Direção parecia estar excitada e ansiosa por convidá-lo a se juntar ao corpo estudantil, com uma bolsa de 100% através do baseball. Não havia nenhum segredo ou surpresa nisso. O amor e vicio que o moreno tinha por baseball era praticamente de conhecimento geral, e Gokudera acima de qualquer pessoa sabia que Yamamoto receberia convites de Universidades por esse motivo. O que realmente surpreendeu o rapaz de cabelos prateados foi a resposta que recebera ao indagar sobre o papel. Yamamoto simplesmente dissera que não tinha interesse, e que não pretendia continuar a jogar quando terminasse o Ensino Médio.
Aquela resposta foi um choque para Gokudera. Ele tinha certeza absoluta que não havia nada que Yamamoto amasse mais na vida do que estar em um campo rebatendo algumas bolas. Ao questionar o motivo, o Guardião da Chuva simplesmente riu. Não houve nenhuma frase ou explicação, mas Gokudera sabia. Ele já tinha visto qual fora a escolha de Yamamoto e por qual motivo. O futuro. Byakuran. Dez anos. Yamamoto escolheria a Família e deixaria seu sonho de se tornar um jogador de baseball de lado. E o motivo? O motivo estava ali, em seus braços, encarando o teto do quarto e sentindo-se a pior pessoa da face da Terra. Yamamoto escolheria Gokudera... de novo. Não. Não escolheria. Dessa vez o Guardião da Tempestade mudaria o futuro. Não haveria mais Yamamoto e a Família. Ele faria qualquer coisa para que isso não acontecesse. O moreno merecia um futuro, merecia seus jogos e seus campeonatos, merecia seus troféus e suas comemorações. Aquelas mãos foram feitas para rebater bolas, e não cortar pessoas. Aquelas mãos foram feitas para abraçá-lo e tocar cada centímetro do corpo de Gokudera, e não ferir pessoas. Aquelas mãos foram feitas para dar esperança e não tirá-las. Se Yamamoto escolhesse os Vongola então tudo se repetiria, o rapaz de cabelos prateados tinha certeza.
Então, dessa vez ele mudaria o futuro. Ele faria as escolhas certas. Ele levaria Yamamoto para o caminho que ele realmente pertencia. Não havia outro estilo de vida para o Guardião da Tempestade, mas o idiota viciado em baseball não precisaria compartilhar essa vida.
Com essa resolução na mente e no coração, Gokudera permaneceu boa parte daquela noite acordado. Quando o cansaço, principalmente mental tomou conta de seu corpo, o rapaz de cabelos prateados emergiu em um agradável sonho em que Yamamoto sorria, confiante e extremamente feliz por ter ganhado as finais do Campeonato Nacional. Gokudera estava entre os espectadores, assim como o Jyuudaime e outros Guardiões - menos Hibari, claro.
Mal sabia ele que a realidade seria completamente diferente.
Continua...
¹ Sim ou não, entrar ou sair, subir ou descer... morrer ou viver, herói ou covarde, lutar ou desistir. Eu direi novamente para garantir que você tenha me ouvido: uma vida é feita de escolhas, viver ou morrer, essa é a escolha mais importante e nem sempre ela está em nossas mãos.